Bolsonaro presta depoimento ao STF: entre a negação do golpe e a admissão de articulações militares

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Bolsonaro com a Constituição Federal nas mãos diante do STF, sob o olhar de Alexandre de Moraes e o brasão da República ao fundo. Imagem gerada por IA - ChatGPT

Por Redação RED

Na terça-feira, 10 de junho, o ex-presidente Jair Bolsonaro prestou depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, no âmbito do inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura a tentativa de golpe de Estado articulada após sua derrota nas eleições de 2022. O interrogatório, que durou mais de duas horas, trouxe revelações, contradições e trechos emblemáticos — incluindo a forma como Bolsonaro minimizou os atos de 8 de janeiro de 2023, qualificando-os como “coisa de malucos”.


O inquérito e os alvos do STF

Bolsonaro é um dos principais investigados na Ação Penal (AP) 2668, que mira o “núcleo decisório” da suposta trama golpista. A Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República indicam que ele liderou ou autorizou articulações com militares para invalidar as eleições, inclusive por meio da minuta de decreto de estado de defesa, que previa a prisão de ministros do STF e intervenção no TSE.


Os pontos centrais do depoimento

  1. Admissão de articulações militares “dentro da Constituição”

“Tratamos de GLO […] estudamos possibilidades, todas dentro da Constituição.”

Bolsonaro negou qualquer plano de golpe, mas confirmou ter discutido com militares medidas de exceção, como estado de sítio:

“Um golpe é abominável. O golpe até seria fácil começar. O ‘after day’ é imprevisível e danoso. E não foi sequer cogitado essa hipótese.”


  1. A minuta do golpe e os “acabamentos”

O ex-presidente tentou se distanciar do conteúdo da minuta, apesar de reconhecer que teve acesso ao texto:

“Vi esse documento, vi de relance. Não participei da edição, não dei acabamento, não imprimi, não levei pra casa, não mandei guardar.”

Essa fala contradiz a delação do tenente-coronel Mauro Cid, que disse que Bolsonaro pediu para “enxugar o texto”:

“O presidente pediu que eu tirasse os trechos mais agressivos.”


  1. Atos do 8 de janeiro: minimização e omissão

Bolsonaro tentou se eximir de qualquer responsabilidade sobre os ataques golpistas às sedes dos Três Poderes:

“Nunca convoquei ninguém. Nunca incentivei depredação. Não tive participação.”

Mas o trecho mais marcante sobre o tema veio quando o ex-presidente classificou os invasores como extremistas sem juízo:

“Aquilo foi coisa de maluco. Não tem cabimento quebrar o Palácio do Planalto, o Supremo. É coisa de maluco.”

A declaração visa isolar os atos do dia 8 como produto de fanáticos, buscando afastar-se de uma cadeia de incitação que vinha sendo construída desde 2022. Contudo, relatórios da PF mostram que Bolsonaro fez postagens nas redes incentivando desconfiança no processo eleitoral mesmo após deixar o país em 30 de dezembro de 2022.


  1. Pedidos de desculpa e momento de descontração

Num tom moderado, Bolsonaro pediu desculpas ao ministro Moraes:

“Me desculpe… não tinha essa intenção de acusar de qualquer desvio de conduta.”

E ainda tentou descontrair:

“Quer ser meu vice?”
Moraes respondeu: “Eu declino.”

O tom foi lido por analistas como uma tentativa de reduzir tensões e suavizar sua imagem institucional, especialmente às vésperas do julgamento que poderá levá-lo à condenação criminal.


Avaliação política e jurídica

O depoimento mostrou um Bolsonaro tático. Negou, relativizou, suavizou e usou humor. Mas também fez revelações: confirmou discussões com militares e reconheceu ter lido a minuta. Ao classificar os atos de 8 de janeiro como “coisa de maluco”, tenta proteger-se da acusação de liderança, jogando a responsabilidade sobre radicais de extrema direita isolados, mas que constituem, na verdade, sua base social. Com esta alegação, Bolsonaro repete seu comportamento usual, de abandonar seus mais fiéis seguidores.

Não obstante os esforços de Bolsonaro, a sequência de eventos entre novembro de 2022 e janeiro de 2023 — marcada por estímulo à desconfiança eleitoral, reuniões com comandos militares e a manutenção de acampamentos golpistas — desmonta a narrativa da inocência passiva.


O que esperar

O julgamento do núcleo do golpe está previsto para o segundo semestre de 2025.

Bolsonaro já está inelegível, mas uma condenação poderá acarretar prisão e impedimentos adicionais para aliados próximos.

A defesa ainda aposta em manobras políticas e em recursos que podem adiar ou fragmentar o processo.


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Ilustração da capa: Bolsonaro com a Constituição Federal nas mãos diante do STF, sob o olhar de Alexandre de Moraes e tendo o brasão da República ao fundo. Imagem gerada por IA ChatGPT

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