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Como É A Piauí, A Milionária Revista Que Não Tem Dono

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Como É A Piauí, A Milionária Revista Que Não Tem Dono
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Por JOSÉ ANTÔNIO VIEIRA DA CUNHA* Uma revista que não tem dono ou acionista majoritário, nem depende essencialmente de um anunciante, e que por isso se apresenta como sendo “dona do próprio nariz”. Assim é a piauí, publicação fundada em 2006 e que desde 2021 ganhou o que seria uma “garantia da perenidade”, ao passar a ser financiada quase que totalmente com recursos de um fundo patrimonial de R$ 350 milhões doado ao Instituto Artigo 220, organização sem fins lucrativos. Em uma conversa com o grupo virtual Nova Coonline, formado por jornalistas veteranos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Brasília, o diretor de Redação André Petry detalhou a operação da revista e esta forma peculiar de financiamento. Provocado a falar sobre o sucesso da publicação, explicou que a piauí atendia a uma demanda diferente da atual, pois havia um ambiente político e profissional muito diferente do atual. Ao ser criada, em 2006, “a revista tinha “um papel mais bem humorado, com a publicação de contos, ensaios e anedotas, além de jornalismo, claro. Com os anos, a situação foi se alternando, e nos últimos anos a revista muda porque o ambiente profissional também  se altera”, falou o jornalista. Lembrou que as redações vão se precarizando, a crise do modelo de negócio da imprensa reduz o tamanho das redações, que passam a ser integradas por pessoas muito mais jovens e menos experientes, a publicidade cai, as assinaturas desabam. “Com isso, a revista Piauí ocupa um espaço que não está em disputa, pois não tem ninguém fazendo reportagens longas, ninguém fazendo jornalismo narrativo…” Neste período em que está na direção, Petry considera que a publicação é hoje mais uma revista de jornalismo mais imprescindível, “não porque seja melhor que qualquer outra, mas por fazer um trabalho cada vez mais diferente e cada vez mais raro no cenário da imprensa brasileira”. Petry considera como “uma situação peculiar no Brasil e no mundo” o modelo de financiamento que possibilita que se produza uma revista como esta. O fundo patrimonial, que em 2021 era de R$ 350 milhões, é considerado suficiente para cobrir o custo anual da piauí - cerca de R$ 16 milhões por ano na época - e rentável o suficiente para sustentar a revista permanentemente dentro do tamanho que tinha. Se quiser fazer qualquer investimento adicional, a publicação precisa gerar suas próprias receitas novas. Por isso, segundo Petry, “tem a perenidade assegurada". Está entrando no terceiro ano deste tipo de financiamento, e em todos estes anos acabou com as contas equilibradas. O fundo banca algo em torno de R$ 12 milhões anuais, enquanto assinaturas, venda avulsa e anúncios garantem uma boa receita anual, de cerca de R$ 6 milhões. Petry foi enfático ao afirmar que não está no horizonte acabar com a versão impressa: “Não vamos nem discutir esta questão. Temos o entendimento de que a versão impressa é diferente da versão impressa de jornais e revistas: ela é colecionada, pois tem outro significado para nosso leitor e não vai virar papel de embrulho. A versão impressa é uma espécie de estrela guia, que dá o tom do que nós queremos, que tipo de jornalismo praticamos, qual é o tipo de jornalismo narrativo. Se isso sumir, desorienta a pequena constelação da piauí”. O profissional reconheceu que há uma certa idiossincrasia por parte da redação ao não querer fazer pesquisa para saber quem é seu leitor. Mas através dos assinantes no digital, identificou que os leitores estão na faixa etária entre 20 e 40 anos, “o que é um dado espetacular, pois todo veículo quer ter seu leitorado nesta faixa”. E não é um público abastado, com renda elevada, mas “é alto em seu interesse intelectual”, segundo Petry. O jornalista fez questão de enfatizar que a piauí não tem um dono; é bancada pelo instituto, e tem um conselho editorial composto por sete membros, presidido pelo inspirador do modelo, João Moreira Salles. A este Conselho o diretor de Redação se reporta em reuniões trimestrais. Na produção da revista, a redação, formada por 25 profissionais distribuídos entre Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, tem total autonomia para decidir sobre a pauta e seus rumos. Os integrantes do conselho só tomam conhecimento do que se faz ao receber a revista impressa no início de cada mês. A rekvista que, com ujma modesta tiragem de 50 mil exemplares por mês, segue sendo considerada uma das mais importantes publicações do país. No encontro com a Nova Coonline, André Petry falou mais sobre a crise atual da imprensa e do jornalismo impresso em especial, do posicionamento da revista nas redes sociais, e também da política, agora impactada pela eleição de Donald Trump no Estados Unidos. A íntegra da conversa pode ser conferida no YouTube, em https://youtu.be/EyAxC-rxVnk?si=mBJJGLaUybFRbNjf   *José Antônio Vieira da Cunha Foto de capa: Reprodução Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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O Supremo Tribunal Federal Desferiu, na Quarta-feira, um Duro Golpe no Serviço Público Brasileiro

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O Supremo Tribunal Federal Desferiu, na Quarta-feira, um Duro Golpe no Serviço Público Brasileiro
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Por LUIS FELIPE MIGUEL* A contratação pelo regime jurídico único deixa de ser obrigatória. Isto é, os novos funcionários públicos podem ser contratados pela CLT. Trata-se de (mais) um grave ataque à isonomia no serviço público, gerando profundas diferença entre trabalhadores que têm responsabilidades e competências similares. E, sobretudo, significa o fim da estabilidade no emprego. A estabilidade é o coração de um serviço público independente, capaz de resistir as pressões dos donos do poder no momento. A “flexibilização” do RJU era um dos pontos da reforma que Fernando Henrique Cardoso introduziu em 1998, numa de suas investidas pelo desmonte do Estado brasileiro. Mas estava suspensa por conta de uma ação apresentada pelo PT e por outros partidos. Agora, uma maioria de ministros do STF decidiu que não há inconstitucionalidade na medida. A bancada bolsonarista (Cássio Nunes e André Mendonça) votou a favor. O grande paladino da democracia, Alexandre de Moraes, também. Assim como os neo indicados de Lula – Cristiano Zanin e o farol progressista Flávio Dino. Só Edson Fachin, Cármen Lúcia e, vejam só, Luiz Fux votaram pela proteção do serviço público. A democracia não é corroída apenas por golpes da extrema direita. O enfraquecimento da capacidade de ação do Estado, que é o programa do neoliberalismo, também compromete a democracia.   *Luis Felipe Miguel é doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), professor titular livre do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Autor, entre outros livros, de Democracia e representação: territórios em disputa (Editora Unesp 2014), Foto de capa: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasilaulo. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Politica

Os Eleitores e o Botão do f*da-se

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Os Eleitores e o Botão do f*da-se
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Por SANDRA BITENCOURT GENRO* Quem tem filhos adolescentes sabe que cada vez que se deparam com algo incômodo, que não têm disposição para enfrentar, sentenciam: f*da-se. É como uma espécie de botão mágico que ignora condicionantes e permite seguir adiante sem a preocupação com o que molesta resolver. As disputas mais recentes e os últimos resultados eleitorais ao redor do mundo me dão a impressão de que muitos decidiram acionar esse botão. Cientes da desumanidade, das mentiras fabricadas, das violências, das contradições, das soluções mirabolantes, decidem permitir seu desconforto e sua raiva soarem mais alto e decretam: f*da-se!  Ele se aconselha com cachorros mortos e sugere venda de órgãos? F****, vou escolher mesmo assim porque a vida tem sido injusta comigo. Ele é misógino, racista, xenófobo, bilionário sonegador, figura repugnante? Não interessa. A inflação me incomoda, acho adequado culpar imigrantes, f*****. Figura abjeta que faz arminha até para crianças, vendedor de cloroquina que não se importa com mortes, pois não é coveiro, quatro casamentos esquisitos e discurso incongruente de defesa da família tradicional? Não faz diferença, f*****. Negacionista sanitário e climático, recordista em secretarias e órgãos com corrupção, sabujo dos ricos na entrega da cidade? F***** em dois turnos! Esse estado de ânimo e essa complacência com a corrupção de valores e princípios que antes nos eram caros, principalmente na hora de decidir o voto, tem favorecido uma extrema direita selvagem, gananciosa e com apetite insaciável para devorar tudo, desmontar sem precisar de maiores disfarces ou moderação para mandar às favas sentidos ultrapassados como humanismo, igualdade e outros quetais que influencers turbinados já sepultaram. Essa normalização do bizarro, feio, sujo e malvado tem deixado a esquerda perplexa, sem direção e sem discurso, balbuciando ofensas juvenis como “pobre de direita” na falta de outra estratégia de aproximação com as massas de trabalhadores que julgava representar. É tão distópico que nem a caracterização do que é hoje o trabalhador está assegurada. A própria carteira de trabalho virou elemento retórico para insultar com memes e cortes dignos de engajamento. Ainda temos percentuais de resistência, chamados em defesa da democracia e reações que nos permitem respirar um pouco. Mas cada vez mais frágeis e mais escassos. Nos horrorizamos. Nos perguntamos incrédulos: como toleraram o escândalo (todos são fartos em escândalos). Pois bem, estes últimos personagens ungidos pelas urnas nos distintos quadrantes das américas, não se enquadram nos critérios para caracterizar um escândalo político, já que este, tão bem conceituado por Thompson (2002), se baseia em reputação e confiança, em que revelações sórdidas abalam a imagem constituída. A sordidez, na atualidade, faz parte da biografia. Não há o que revelar, descobrir, denunciar. Os próprios se apresentam como tal, não ocultam “que pintou um clima”, não negam que são sonegadores, homofóbicos, violentos, que roubaram senhas de aposentados. Ou que trapacearam para alcançar dinheiro e fama. Estamos em um vale tudo, onde essas credenciais são vistas como aceitáveis. Ou mais. Desejáveis e, portanto, boa parte não vota apesar disso tudo, mas por motivo dessa conduta e perfil. A palavra escândalo surge por primeira vez em inglês no século XVI, com o sentido grego, de queda moral, tropeço, derivando para ações ou falas indecentes e difamatórias ou circunstâncias ignominiosas. Nada que hoje em dia afete determinadas escolhas, considerando o desejo de superar o mal-estar e construir de algum jeito um modo de estar no mundo que inclua determinados consumos, desejos e estéticas. Sobre o Discurso político, nos ensina Charaudeau (2008), que a boa escolha de valores não é suficiente. “A instância política- ou a instância cidadã em seus movimentos de reivindicação ou de revolta- deve saber apresentá-los”. Será essa maneira de apresentar os valores que os fazem adquirir sentido no espaço público. E dentre essas maneiras, convém satisfazer certas condições, de simplicidade e de argumentação. Se dirigir às massas, que é um conjunto de indivíduos heterogêneos e díspares em tudo (nível de instrução, possibilidade de informar-se, capacidade de raciocinar e experiência de vida coletiva) implica colocar em evidência, diz o autor, valores que podem ser partilhados, compreendidos pela maioria, sem os quais ficamos isolados. Que valores são estes para que o campo progressista possa disputar emoções, racionalidades alteradas e até afeto? Quando me dirijo aos trabalhadores deve ser para dizer o que? Certamente devo me lembrar que não se trata mais daquele operário do chão de fábrica. Quando quero dialogar com as mulheres, todas elas, inclusive as que vivem na periferia com filhos em profusão e pais ausentes, devo lembrá-las do patriarcado ou buscar pontos concretos de esperança, respeito e pertencimento (cada uma com a sua fé e a sua crença de estar no mundo)?  Se olho para os jovens que não sonham mais com uma CLT e um emprego fixo, devo incendiar como os seus corações? “A condição de simplicidade acarreta sempre a perda de um pouco de verdade”, nos diz Charaudeau. Mas a perda de um pouco de verdade pode ser o instrumento para fazer as pessoas- na sua vida cotidiana- descobrirem a parte da verdade que toca a sua humanidade sufocada.   *Sandra Bitencourt Genro é Doutora em comunicação e informação, jornalista, pesquisadora e professora universitária. Foto de capa: Reprodução Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Internacional

BRICS – Lula, o Cavalo do Bandido

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BRICS – Lula, o Cavalo do Bandido
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Por GIOVANNI MESQUITA* Quando soube que o Brasil vetaria a entrada da Venezuela nessa rodada dos BRICS, fiquei um pouco sem ter o que pensar. Um colega, de um grupo de waths, postou um artigo do G1 Globo, com a seguinte chamada: “Venezuela fica de fora da lista de países parceiros dos Brics; decisão coincide com o que queria o Brasil”. Vemos que os assinantes da matéria, Bianca Rothier, Ricardo Abreu, colocaram apenas a primeira letra da sigla em maiúscula. Resta saber se é apenas um erro ortográfico, devido à baixa formação cultural dos que militam na chamada imprensa “profissional”, ou um inesperado rasgo de nacionalismo, já que só o Brasil é premiado com a letra capitular. Devaneios a parte, visto que só membros de BRICS, do mesmo continente, podem fazer indicação de um país do seu continente, ficou claro para mim que, a não indicação do Brasil, equivaleu de fato a um veto. Fiquei sem saber o que pensar sobre essa postura do governo brasileiro. Em resposta ao post colocado no grupo declarei que a Venezuela “Foi vetada pelo Brasil, estou tentando entender o porquê (qual o critério) ”. O baixo interesse que esse grupo, de política, demonstra em discutir política, gerou apenas um comentário a minha pergunta: “Qual critério? Mas é submissão às classes dominantes internas e ao imperialismo EUA.”. Agradeço a resposta do companheiro, mas considero ela inconclusiva. Qual seria o maior desaforo ao imperialismo, colocar a Venezuela nos BRICS ou criar os BRICS? Os jornalistas do G1, informaram que a TV Globo apurou, sabe-se lá como, sabe-se lá com quem, que o governo brasileiro havia pressionado para que a Venezuela e a Nicarágua, ficassem de fora da lista dos membros convidados. E “fontes” ouvidas declararam que Lula estava irritado com Maduro. A tese da mágoa, de Lula com o Maduro, na realidade não seria de todo descabida. Veja as eleições Venezuelanas, o Lula, a pedido do Governo Maduro, deu a maior força para o processo eleitoral, defendendo a sua lisura. Na publicação do Brasil de Fato, de 11 de junho de 2024, lê-se que “O vice-presidente do Partido Unido Socialista da Venezuela (PSUV), Diosdado Cabello, disse nesta segunda-feira (10) que Brasil e Colômbia [...] "deveriam vir à Venezuela para ver como se faz uma eleição, para aprender como se faz uma eleição. Não é fácil aprender a fazer eleições. Alguns dizem que não têm tempo, bom, isso é um problema de cada país, mas deveriam vir para aprender com o melhor CNE (Conselho Nacional Eleitoral) do mundo", afirmou. ” O estilo madurista é pura “classe” envolta em “diplomacia” e “modéstia”. O Brasil atendeu esse chamado, e mais, defendeu o levantamento de todas as sanções contra a Venezuela. Mas, o Brasil exigiu, para reconhecer o resultado, que no final do pleito fossem apresentadas as atas eleitorais. O Governo Maduro manipulou o que deu e não apresentou as tais atas. O TJ da Venezuela, proibiu a apresentação das mesmas. Mesmo assim, Maduro exigiu, vejam só, que o Brasil reconhecesse sua vitória, arguindo soberania e dando carteirada de campeão da luta anti-imperialista. Lula e a diplomacia brasileira disseram que, sem a apresentação das atas, nada feito. Alguns membros da esquerda, mais ou menos tradicional, declararam que, o Brasil querer ver as atas para reconhecer, era uma intervenção inaceitável do Governo Lula. Breno Altman, por exemplo, declarou que “O governo @LulaOficial precisa voltar ao leito natural de sua política externa e respeitar a autodeterminação venezuelana. Assim que a corte suprema dessa nação soberana sentenciar o resultado final das eleições, só cabe reconhecê-lo de imediato, sem desvios intervencionistas. ” Só cabe reconhecê-lo de imediato? O senhor Breno Altman, está sugerindo que o Brasil se submeta aos desejos do Governo Maduro? “...sem desvios intervencionistas”? O Brasil rompeu relações diplomáticas com a Venezuela? O Brasil cessou sua relação comercial com a Venezuela? Mandou tanques para a fronteira? Não! Que conversa é essa seu Breno? Altman acredita que o Brasil deva pautar suas políticas internacionais pela submissão a Venezuela, veja essa chamada de sua entrevista ao Canal 247, no dia 31 de outubro de 2024:  "Brasil quer ser o 'xerife' da América Latina ao vetar a Venezuela no BRICS”, [...] Decisão de Lula gera tensões com Maduro e contraria tradição diplomática do PT e da esquerda brasileira, afirma analista político.” Por que? A América Latina já tem um xerife? Altman esquece que o Brasil também não reconheceu a vitória da oposição, proclamada pela OEA. A mesma OEA, que disse que Evo Morales havia fraudado as eleições bolivianas em 2019, o que abriu espaço para o golpe da falsa loura Jeanine Áñez. Curiosamente, o G1, que apresenta como verdade a atual versão da OEA, que diz ter havido fraude na última eleição na Venezuela, é o mesmo G1 que publicou o estudo sobre a “incorreção” da acusação de fraude na eleição de Morales, em 2019, apresentada pela OEA. Essa recente inconfidência, sobre o mesmíssimo tema da OEA, não motivou ao G1 nenhuma cautela... Breno, comodamente, não menciona os ataques de baixo nível político e acusações sórdidas ao Lula, seu Governo e seu Partido. Vejamos. O não reconhecimento do Brasil da suposta vitória de Maduro fez com que seu séquito, vanguardeado por ele, xingasse nosso Governo com as sete pragas. A mais recente proferida por Tarek William Saab Halabi, o PGR da Venezuela, ungido pela Assembleia Nacional da Venezuela, o que quer dizer escolhido por Maduro, já que esse tem 253 dos deputados, contra 18 da oposição (Eta, inveja!). Tarek, misturando fábula conspiracionista com tons da lógica daqueles que usam chapéu de alumínio, disse que Lula não é mais o mesmo. E essa transformação se deu quando esteve preso. No cárcere, Lula teria sido recrutado pela CIA, e depois disso até seu gestual estava demudado. Pois é... Pois é! Como diria Chaves, não o Hugo o outro. O que transparece, por baixo dos ataques de teor político de pouca aderência a realidade, é que a Venezuela busca pautar a esquerda sul-americana. Parece que não está dando certo. Não acredito que o Lula conduza a geopolítica brasileira com o fígado, apesar de que chamar de agente da CIA é que nem falar da mãe... Outra versão, pela não indicação, é que o BRICS teria que aumentar o seu tamanho numa marcha mais lenta avaliando constantemente o cenário mundial e o impacto do seu crescimento. Pelo menos é essa versão oficial do nosso governo. Em entrevista à CNN, Celso Amorim disse: “Eu não defendo a entrada da Venezuela. Acho que tem que ir devagar. Não adianta encher [o BRICS] de países, senão daqui a pouco cria-se um novo G77″. Esse cuidado do Brasil se baseia na ideia de que um aumento acelerado de membros colocaria no grupo uma heterogeneidade que dificultaria a unidade e a pronta composição de uma clara diretriz política para esse novo momento da geopolítica mundial. Ou seja, trazer o menor número de conflito de interesse e confusão política para dentro dos BRICS. E, cá para nós, fazer confusão se tornou a marca do governo Maduro. E o que ninguém disse? Não ouvi nenhum destaque para o fato do Brasil ter indicado Cuba para os BRICS. Há quem diga que, toda a arenga em torno da Venezuela, serviu como cortina de fumaça, contra a reação que tradicionalmente todas as direitas que vociferam contra Cuba, costumam fazer. E também a entrada da sofrida, e essa sim de esquerda, Bolívia. Resta finalizar com a seguinte pergunta: se, Maduro é o timoneiro da esquerda latino-americana, o que o Lula é, o cavalo do bandido?   *Giovanni Mesquita  é Historiador e Museólogo. Foto de capa: Ricardo Stuckert / PR Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.    

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Golpistas do 8 de Janeiro monitoravam segurança de Lula e planejavam raptar presidente, revela o Estadão

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Golpistas do 8 de Janeiro monitoravam segurança de Lula e planejavam raptar presidente, revela o Estadão
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Por RAYANDERSON GUERRA*, no ESTADÃO** A Polícia Federal recuperou arquivos eletrônicos apagados do celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro (PL), que revelam o levantamento dos nomes, das rotinas e do armamento usado pelos responsáveis pela segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo o portal UOL. As evidências e provas da tentativa de golpe que acarretaram no ataque do 8 de Janeiro, escondidas nas nuvens da internet, foram restauradas com a utilização de um software israelense, como adiantou a colunista do Estadão Eliane Cantanhêde. O conteúdo das mensagens revela ainda que os seguranças do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), também foram monitorados. De acordo com o UOL, o planejamento do golpe de Estado previa a abordagem e captura de Lula e de Moraes pelos golpistas. O grupo se preparava para a eventualidade de um confronto armado com os seguranças do presidente e do ministro. Após as novas descobertas, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, deu mais 60 dias para as investigações da PF, que depois serão analisadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e devem parar no Supremo em 2025.   O ex-ajudante de ordens do ex-presidente da República tenente-coronel Mauro Cid ao deixar presídio Foto: Wilton Junior/Estadão Inquérito ‘em via de conclusão’ De acordo com a PGR, a investigação sobre a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro em um plano de golpe para se manter no poder “encontra-se em via de conclusão”. A informação está em parecer enviado ao STF. Agora, a PGR deverá aguardar os novos desdobramentos dos conteúdos encontrados no celular de Cid para levar o caso adiante. Até o momento, há dois indícios que complicam a situação de Bolsonaro. O primeiro é um áudio enviado por Mauro Cid que sugere que o ex-presidente ajudou a redigir e editar uma minuta de golpe. O segundo é o depoimento do general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, que atribui a Bolsonaro a articulação de reuniões com comandantes das Forças Armadas para discutir “hipóteses de utilização de institutos jurídicos como GLO (Garantia da Lei e da Ordem), estado de defesa e sítio em relação ao processo eleitoral”. O ex-presidente foi intimado, mas ficou em silêncio no depoimento. A PF marcou audiências simultâneas, para evitar a combinação de versões e pegar eventuais contradições nas respostas. Quando a força-tarefa de delegados ficou frente a frente com os investigados, 15 deles decidiram não responder às perguntas. *Rayanderson Guerra é jornalista **Notícia originalmente publicada no site do Estadão no dia 08/11/2024 Foto da capa: O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens - Imagem: Dida Sampaio/Estadão Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Cultura

Lados da Tecnomagia

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Lados da Tecnomagia
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Por SÍLVIA MARCUZZO* As incertezas, as inseguranças e o rumo da humanidade inquietam aqueles que estão tentando entender as transformações do mundo. Por que o avanço da extrema direita? Por que tantos candidatos que têm feito um péssimo serviço se elegeram? Como explicar o inexplicável sob o ponto de vista da racionalidade? Depois que ouvi Vincenzo Susca, pesquisador no Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre o Real e os Imaginários Sociais (Leiris), professor de Sociologia do Imaginário na Universidade Paul Valéry, em Montpellier 3, na França, consegui juntar peças – até então desconexas – para compreender um pouco mais o contexto em que estamos mergulhados. Ele lançou na 70a Feira do Livro de Porto Alegre “Tecnomagia: êxtase, totem e encantamento na cultura digital” (Editora Sulina), traduzido por Luana Chinazzo. Tive o privilégio de assistir à sua palestra em uma aula do mestrado na PUCRS. Susca é italiano e já lançou diversos livros no Brasil. Ele argumenta que hoje a tecnologia está nos controlando. Aquele humanismo, que antes regia a centralidade da civilização, onde o diálogo e a racionalidade deviam imperar, está sendo substituído pela emoção. Isso quer dizer muita coisa. A começar pelo nosso próprio comportamento. As telas, em especial as dos smartphones, nos comandam. Mandam e desmandam. E o pior: não aspiramos sair desse circuito de escravidão. Já no prefácio do livro, ele anuncia: “As luzes do nosso tempo cintilam na escuridão. Ao longo da época moderna, acariciamos o mito de que o progresso, enquadrado por um plano racional, conceder-nos-ia a emancipação de todo tipo de escravidão, bem como bem-estar e felicidade. No entanto, séculos de produção, acumulação e consumo desenfreados nos lançaram em um presente sombrio, no qual a alienação e a depressão reinam soberanas, com o fogo de palha do sucesso e os simulacros do entretenimento como corolários. Enredados nas malhas das redes digitais, dominados pela inteligência artificial e algoritmos, submersos por crises sanitárias, catástrofes ambientais e guerras brutais e sem precedentes, estamos aprisionados por vontade própria a correntes sem fio que não podemos e não queremos mais romper”. Só esse trecho já dá para ter uma ideia por onde transita o pensamento de Vincenzo Susca. E ele comentou que na França os seus alunos também fogem da leitura (quem convive com jovens sabe bem disso). Há uma dificuldade em abstrair ideias. Há uma crise de abstração onde a empatia se coloca acima de tudo. E isso vem sendo aproveitado por quem já captou como conquistar corações. E eleitores. Um dos exemplos que traduzem essa realidade são as estratégias adotadas pela campanha presidencial do candidato republicano nos EUA. Para Susca, quando Trump coloca música e começa a dançar em pleno comício por 39 minutos, fica explícito o quanto estamos deixando para trás a era da racionalidade. Esse aspecto evidencia o quanto os partidos mais à esquerda estão perdendo o bonde da história na hora de se comunicar com o público. Vincenzo Susca argumenta que os intelectuais, os tomadores de decisão de partidos mais preocupados com o social, ainda estão apegados à tradição da racionalidade. E nós agimos conforme nossas emoções, muito antes de pensar. E aí entra o jogo sujo, que beira o ridículo, mas que boa parte dos simples mortais cai como patinhos. Até pouco tempo atrás, se achava que a tecnologia estaria a serviço dos seres humanos. Ledo engano. Hoje, a ideologia da tecnologia desmorona construções que levaram milhares de anos para serem edificadas. E tudo muito rápido. Ele remete à síntese de Jean Baudrillard: somos criaturas da nossa própria criação. Tudo isso faz parte do que ele chama de tecnomagia. Nós hoje nos colocamos a serviço da tecnologia. Desde quando se joga um Candy Crush, quando se posta um reels no Instagram, quando damos um like ou comentamos algo no Facebook, quando acabamos de acordar e conferimos as mensagens de WhatsApp. Tudo que fazemos é computado, gera $$ e alimenta os bancos de dados dessas grandes companhias, as tais big techs. Elas sabem mais de nós do que nós mesmos. Recebemos os anúncios de que temos interesse. Somos rastreados e o capitalismo de vigilância segue expandindo trilhas de todos os tipos. E ele vai além: “As redes sociais são formas de masturbação e de suicídio coletivo”. Ele embasa sua declaração contando casos que circulam no TikTok e no YouTube. Há anúncios explícitos do quanto a vida está dessacralizada. Adolescentes socializam comportamentos que jamais imaginaríamos. Vincenzo Susca alerta que estamos vivendo sob o domínio de um inconsciente digital, com coleiras eletrônicas. Escravidão contemporânea A tecnologia proporciona vários tipos de escravidão. Para se ter uma ideia, Susca cita o quanto recebe um trabalhador em Bangladesh por uma jornada de 13 horas por dia: dois euros (cerca de 13 reais). O valor é pago para alimentar os metadados de inteligência artificial. Vincenzo Susca acredita que vivemos em um estado de mutação antropológica. E isso significa que precisamos estar prontos para o fim do indivíduo moderno, onde a techomagia nos envelopa. O imaginário neoliberal repercute e trabalha de várias formas o quanto todos somos empreendedores. Será que todos temos condições de ser isso? O que fazer diante desse contexto? Quais são as consequências da busca incessante pela satisfação, pelo prazer imediato? Como ampliar a percepção dos riscos que nos cercam em meio às tantas complexidades que rodam a emergência climática? Pois Susca considera que tudo isso faz parte de uma dança. Na verdade, nós somos “dançados”, não dançamos exatamente no estilo que queremos. No ritmo alucinante do nosso tempo, damos passos para trás e para frente. Com avanços e retrocessos. Ele acredita que o Brasil tem alta capacidade de buscar prazer e liberdade. Para finalizar, Vincenzo Susca diz que precisamos aceitar o fim de um mundo, mas “que não é o fim do mundo”. Para mim, ficou claro que devemos estar atentos às pistas (não só dos caminhos, mas as de dança) que esse futuro nos leva. Trocar passos e coreografias nos andamentos Allegrissimo, Andante e Prestissimo requer serenidade, discernimento e muita disposição. Publicado originalmente em  Sler. *Sílvia Marcuzzo é Jornalista e artivista. Foto de capa: Vicenzo Susca em Porto Alegre Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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