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Cadê a rebaldia

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Cadê a rebaldia
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Por  ADELI SELL* A apatia venceu a rebeldia. Mais pessoas, em Porto Alegre, não votaram do que aqueles que votaram no candidato mais votado do primeiro turno. A “cidade vermelha” das Administrações Populares, do Fórum Social Mundial, do Orçamento Participativo, da descentralização da cultura está inclinada a se omitir, apática, aplastada diante dos infortúnios locais não indo votar ou votando naquele que é o principal responsável pelo estado de abandono da cidade. As esquerdas chegam a um terço das cadeiras na Câmara, enquanto a extrema direita elege um grupo que conseguiu inspirar o eleitorado, consciente de sua condição político-ideológica, não importando sua condição sociocultural, sua vida atual. Venceu a ideologia do capital, do individualismo, dos preconceitos. A geração de 70-80 que combateu a ditadura militar nas ruas, massacrada com mortes, desaparecimentos e prisões tem dificuldades de entender que jovens não tenham mais rebeldia, trocando aquela rebeldia e a luta pelo socialismo pelo capitalismo, pelo individualismo, defendendo atitudes preconceituosas. O Iluminismo, depois de 300 anos, perde sua luz, seu brilho, sua pujança de consciência de massas para uma soma de vertentes obscurantistas, autocráticas, negacionaistas, avessas às instituições que moldaram as modernas sociedades democráticas. Morrem as democracias. Morre o ânimo popular. O discurso universal da esquerda, dos democratas, de segmentos de centro dá lugar a posições de nichos, de grupos; enquanto, do outro lado, um discurso reacionário se universaliza, indo cada vez mais para o lado extremo da direita, caindo no fascismo. O barulho das ruas dá lugar ao teclar nas redes sociais, numa perigosa repetição de chavões, da falta de reflexão político-filosófica do nosso lado; enquanto espalham-se “fake News” nos massacrando. Influenciadores ganham dinheiro e metem na cabeça dos pobres que a esquerda é culpada dos males do mundo. Cadê a rebeldia? Talvez a “rebeldia” esteja outro do outro lado, numa tomada de consciência, mesmo entre os pobres, que o certo é o individual e não o coletivo. Esta “rebeldia” se expressa pela negação da política ou a adesão a políticos populistas de direita que se travestem de povão.   *Professor, escritor e bacharel em Direito. Foto: *Professor, escritor e bacharel em Direito. Foto: Depositphotos Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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A Esquerda Desnorteada

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A Esquerda Desnorteada
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Por Carlos Águedo Paiva* Não dê ouvido à maldade alheia, e creia . Como digo sempre, é melhor ler e ouvir bobagens do que ser cego e/ou completamente surdo. Mas na semana passada, a barra pesou, e todos os gênios da análise política saíram do armário. Não sei o que seria de mim se eu não fosse tão calmo, esse verdadeiro Buda, essa reencarnação de Sidarta Gutama. Como transito no campo da esquerda, a maior parte das análises que chegaram a mim vieram daí. Boa parte dos comentários veio do PCM (Partido da Crítica Militante) e de sua tendência majoritária, a EAQIDM (Eu avisei que ia dar m...). Nem vou comentar. Não dá para dialogar com quem realmente acredita que o Brasil é fácil e que bastaria trocar os abobados que governam o país e dirigem os Partidos de Esquerda para tudo se resolver. No campo oposto, houve quem olhasse para o sol através da peneira e pretendesse estar na sombra. Essa é a turma que só vê a metade cheia do copo. Enquanto grupo, os prefiro (e muito) à turma do PCM. Até porque sem otimismo não há energia para batalhar. E eles trouxeram à luz elementos importantes. A começar pela expansão do número de votos do PT, após anos de pauladas da direita (e de uma certa “esquerda”) como o “partido mais corrupto da história do país”. Lembraram que o PT e o PSB tiveram um aumento expressivo no número de prefeituras e de vereadores. Mas deixaram de lado o crescimento assombroso do PDS (de Kassab), o retorno do MDB e a expansão acelerada do PL de Valdemar-Bolsonaro-Malafaia. Assim como o encolhimento de PSOL, PcdoB, Rede, PV e PDT. Deixaram de lado o lado ruim. Mas não dá para fazer isso. Precisamos, sim, falar sobre o voto do Kevin. Muitos tentaram. Mas, a maioria, do meu ponto de vista, ficou no superficial. Mesmo o usualmente arguto e esclarecedor Reinaldo de Azevedo foi pelo lado errado, associando  a votação aquém das expectativas com as dificuldades do Governo Lula em mostrar o que está fazendo e ampliar de forma expressiva sua taxa de aprovação. Onde está o erro? Na associação da aprovação de Lula com o voto nos municípios. Concordo com o Reinaldo que a avaliação do Lula está aquém da qualidade do governo. Mas ela não é ruim: vem girando no 1/3 para ótimo-bom, 1/3 médio e 1/3 ruim-péssimo. Esse é o perfil de um país (e de um mundo) polarizado. O problema é que a esquerda não fez 1/3 dos votos. E não faria mesmo que a avaliação do Lula fosse muito melhor. Porque as questões nacionais não são o objeto da atenção do eleitor municipal. As questões da cidade é que são seu objeto. E como ele avalia a competência e capacidade de cada candidato de responder às suas demandas. Reinaldo acerta um pouquinho mais quando fala dos problemas de comunicação do governo e da hegemonia da direita nas redes sociais. Mas não parece entender qual é o ponto crucial nesse quesito. E se mostra algo surpreso com o fato de que a direita conquiste tantos corações e mentes com tantas bobagens, sandices e fake-news. Creio que Reinaldo não leu Herbert Simon e sua teoria da Economia da Atenção. A tese de Simon foi construída com base apenas no avanço da televisão e dos meios de radiodifusão. Antes da internet. E ele já dizia que o volume de informações e dados cresce de forma tão avassaladora que, cada vez mais, apenas as declarações mais ousadas receberão atenção. Haverá um momento, que só loucos, desvairados e palhaços vão conseguir ser ouvidos. Pois é; esse é o ponto. O discurso da esquerda é velho, chato, monótono, professoral, cansativo. Não é um caso universal. Há exceções. E tem gente que entende disso. Como o Deputado Federal Leonel Radde, por exemplo, que, mesmo fora da direção da campanha do PT em Porto Alegre, produziu alguns dos vídeos mais engraçados, politizados e virais das eleições de 2024. Mas o problema de comunicação é apenas a ponta do iceberg. Radde sinaliza para algo mais, ao dizer que não se trata apenas de forma, mas de comunicação, de diálogo com a população. Wilson Gomes dá um pequeno passo a mais em seu artigo publicado na Folha de São Paulo no dia 8 de outubro, cuja conclusão é: Desconfio que os progressistas de esquerda preferem continuar com hipóteses que acabam por desprezar o discernimento das massas e subestimar sua capacidade de escapar da manipulação porque receiam não gostar das respostas que obteriam se fizessem as perguntas certas. Sim. Perfeito. E quais são as perguntas certas? Vasculhe o que for no texto de Gomes e não encontrarás uma única explicação. Ele fala do crescimento contínuo da direita no Brasil. Mas esquece de dizer que o fenômeno é mundial. Na verdade, esquece que este movimento no Brasil (e na Colômbia, e no México, e em toda a América Latina) tem sido muito mais ziguezagueante e contraditório do que na Europa ou nos EUA. Quem sabe olhamos um pouco mais para esse ponto? Uma historinha edificante Apesar de ser gaúcho da gema, da clara, da gala e da casca, fui fazer Mestrado em Campinas e passei 15 anos fora dos pagos. Voltei em 1999 para trabalhar na assessoria econômica do Governo Olívio Dutra, quando passei a coordenar a produção da Estratégia de Desenvolvimento Econômico. Logo percebi uma janela de oportunidade na grande desvalorização do Real na entrada do segundo governo FHC. A abertura para o exterior da economia gaúcha sempre foi elevada e alguns dos setores mais empregadores (como a indústria calçadista, à época) dependiam fortemente do mercado externo. Após 4 anos de crise, associado ao câmbio sobrevalorizado, era hora de voltar a exportar e empregar muito. Além disso, a Economia Gaúcha conta com uma estrutura produtiva peculiar, onde o número e a participação no emprego de micro e pequenas empresas rurais e urbanas é muito superior ao padrão nacional. Por maior que fosse o potencial empregatício de um novo boom exportador, ainda haveria muita gente desempregada e ocupada informalmente, sem condições de auferir uma renda consistente com as necessidades de reprodução da família. A equipe que eu coordenava produziu, então, uma Estratégia que um querido amigo (à época, assessor-economista do Presidente do BRDE) afirmava (com alguma ironia e bom-humor) estar baseada em dois princípios: 1) Exportar é o que importa; 2) Small is beautiful. E era vero. Ia por aí. Para a minha enorme surpresa, recebi uma saraivada de críticas que impôs o adiamento do lançamento do programa por quase um ano. Ouvi de um companheiro, que se dizia luxemburguista, que o centro do desenvolvimento era o mercado interno e que era preciso garantir que haveria sapatos para os pobres gaúchos calçarem (até hoje me pergunto o que ele entendeu das teses da Rosa sobre demanda efetiva e o papel das exportações na consolidação do imperialismo). Ouvi de companheiros ligados ao MST e ao MPA – vale dizer, ligados à luta do campesinato – que eu propunha que o PT apoiasse a pequena burguesia urbana e que isso era reacionário. Como a proposta vinha associada à retomada do microcrédito e esgrimíamos as teses de Muhammad Yunus (autor de O Banqueiro dos Pobres), recebi críticas de estar defendendo o sistema financeiro e o assistencialismo. Sobre a proposta de apoio às microempresas, um Secretário de Estado acusou a equipe de estar querendo requentar o programa de FHC: “Desemprego? Não! Dê Empregos”. Com vistas a dirimir dúvidas, apelou-se para os “Universitários”: foram chamados dois economistas gaúchos que, à época, lecionavam em Campinas e tinham por foco de pesquisa o mercado de trabalho, para avaliarem “a Estratégia dos Menudos Charrua”. Ambos disseram que a Estratégia proposta era mirabolante, que só o Governo Federal pode enfrentar o problema do desemprego e que isso só se faz com programa de desenvolvimento industrial. ... Descobri, à época, que cansaço cansa, mas não mata. Apesar de tudo, a Estratégia foi lançada. Mas sua implementação deixou muito a desejar. Em 2003, Lula chegou ao Planalto. No primeiro mandato, surfa na desvalorização do real (derivada do ataque especulativo associado às projeções de sua vitória) e no boom das commodities capitaneado pelo crescimento chinês. Lulinha, exportar é o que importa. Em 2004, criou o “assistencialista” Bolsa Família. Ao final do primeiro mandato, cria o Simples Nacional. No segundo mandato, cria a figura do Microempreendedor Individual. Lulinha, versão Small is Beautiful! Lula é um cara heterodoxo e corajoso. Por quê? Primeiro, porque é inteligentíssimo e não se apega a dogmas. Segundo, porque foi pobre e sabe onde dói a miséria: na boca do estômago. Infelizmente, a coragem de Lula para sair da “zona de conforto” e seu conhecimento das dores do Zé Povinho estão muito longe de serem universais.   A direita avança! Jura? É mesmo? Por que será? A principal tese de Wilson Gomes no artigo já citado é de que a direita vem avançando no país. Sim. Mas não é só no país. É no mundo todo. Vamos dar uma olhada no que ocorre na Europa para ver se temos alguma pista. Petr Bystron é deputado do Parlamento Europeu (PE) pelo Partido Alternativa pela Alemanha (AfD). O AfD é um partido nacionalista de direita que cresce aceleradamente com base em sua apologia das tradições étnicas e culturais germânicas e da defesa da deportação de imigrantes não-arianos. Mas há um pouco mais do que isso. O AfD também ousa dizer que a Alemanha e a União Europeia (UE) estão operando como instrumentos dos EUA em sua guerra (por procuração) contra a Rússia, através da Ucrânia. O AfD é contra aumentar os impostos dos cidadãos alemães, com vistas a manter o déficit fiscal sob controle, a despeito do aumento dos dispêndios militares derivados da Guerra entre Ucrânia-Russa. Petr Bystron afirma que a subserviência da Alemanha e da UE ao Tio Sam está alimentando a crise econômica no velho continente e jogando a Rússia no colo da China, do Irã e da Coreia do Norte. Pior: critica a destruição do gasoduto submarino russo (Nord Stream) e afirma que a elevação dos preços de energia está levando a Alemanha a uma crise econômica sem precedentes. Petr Bystron está sendo acusado de receber dinheiro para fazer propaganda pró Rússia. Mas vai ser difícil cassar o seu mandato. Ele está a cada dia que passa mais popular. Por que será? Será por quê? Sahra Wagenknecht é uma economista e filósofa alemã, filha de um imigrante iraniano. Nascida na Alemanha Oriental, ela passou a militar na Fração Comunista do Partido Social-Democrata (PSD) após a unificação alemã. Migrou para o “A Esquerda”, quando a Fração Comunista rompeu com o PSD. Seu trabalho de Mestrado é sobre a interpretação marxiana de Hegel. Seu doutorado é uma crítica à teoria neoclássica da relação entre poupança e investimento. Em 2023, rompeu com o “A Esquerda” e criou um novo partido. Apesar de seu nome oficial ser “Razão e Justiça”, seja pelo apelo popular e eleitoral de Sahra, seja porque seus críticos gostam de apontar o narcisismo, personalismo e autoritarismo dessa “figura desviante” (oriental, comunista, morena, filha de imigrante iraniano, economista, filósofa e mulher) a organização é mais conhecida como “Aliança Sahra Wagenknecht” (BSW). As posições de Sahra e do Razão e Justiça sobre a Guerra da Ucrânia e sobre a imigração são similares às da AfD. Apenas com um “plus a mais adicionado que se soma”: Sahra entende que o desemprego é filho das políticas econômicas ortodoxas adotadas pela União Europeia (e pela Alemanha); e que a imigração é um desdobramento das guerras imperialistas no Afeganistão, no Iraque, na Líbia, na Síria e na Ucrânia. Para ela, defender o emprego dos alemães é indissociável do rompimento com a austeridade fiscal e do imperialismo dos EUA e da EU. Sahra defende um mundo multipolar. E, por isso, também é vista como uma “agente de Putin”. Em um recente podcast, o Xadrez Verbal conversa com Henning Speck (a entrevista tem início ao final da primeira hora), diplomata alemão e conselheiro para assuntos internacionais da Democracia Cristã (CDU). Em sua análise, Speck fala do novo papel da Alemanha na segurança da Europa; argumenta que o Ocidente subestimou a sanha imperialista da Rússia, elogia as ações da OTAN na ex-Iuguslávia e em Kosovo, faz uma crítica (discreta, pero no mucho) à posição do Brasil no conflito da Ucrânia e mostra alguma preocupação com o crescimento da direita (AfD) e do populismo russófilo que se apresenta como esquerda (BSW). “Coincidentemente”, em dois artigos recentes de “El Viento Sur” (órgão de divulgação de uma das tantas frações da Quarta Internacional), faz-se uma avaliação do avanço do BSW e comemora-se as vitórias das democracias ocidentais na Guerra (“da Ucrânia”) contra a Rússia. A convergência dos textos da Quarta com a leitura do consultor da Democracia Cristã alemã chega a ser chocante. Em um de seus inúmeros (e, usualmente ótimos!) vídeos, Jeffrey Sachs faz uma pergunta crucial: o que é ser de esquerda ou de direita nos dias que correm? Como regra geral, a direita sempre foi belicista, enquanto a esquerda lutava pela paz mundial e pela superação dos nacionalismos e etnicismos. Hoje, a Ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, do Partido Verde, que participa da coalizão governamental com o PSD, é, talvez a liderança mais belicista da Europa. Enquanto o AfD defende a paz. Juntamente com o esquerdista BSW. ... Pois é. E então?   O Capitalismo Contemporâneo e o Desemprego Estrutural Em The Tecnology Trap (um livro para lá de fundamental), Benedict Frey analisa o impacto social, político e cultural da revolução tecnológica associada à robótica. A tese de Frey é simples: Marx errou ao pretender que a automação (já observável na Indústria Têxtil) se generalizaria rapidamente, levando à simplificação e negação do trabalho e, por extensão, à pauperização e lumpenização do proletariado. No século XIX, o setor mais importante da indústria de transformação – o metalmecânico, responsável pela produção de máquinas e armas – não poderia dispensar o trabalhador treinado e especializado. Até a Guerra Civil norte-americana, sequer as peças dos fuzis eram intercambiáveis: não havia standartização real das mesmas. A produção de peças intercambiáveis ainda dependia da qualificação e treinamento dos trabalhadores (taylorismo) e da uniformização dos modelos (fordismo). Com o advento da robótica, tudo mudou. A automação produtiva permite até mesmo a retomar a diversidade dos modelos produzidos com um número cada vez menor e com um treinamento e qualificação cada vez mais elementar. “Finalmente”, os prognósticos de Marx estão se realizando. Sai de cena o operário fabril e entra em cena o “batalhador precarizado”. A versão mais típica desse novo “trabalhador” é o motorista do Uber. Para este sujeito, as palavras de ordem tradicionais da esquerda - reforma trabalhista com vistas a retomar os direitos perdidos; redução da jornada semanal de trabalho; nova política industrial baseada em inovações tecnológicas (poupadora de mão de obras!), com vistas a aumentar a produtividade e competitividade das (grandes) empresas nacionais; retomada do desenvolvimentismo e dos investimentos públicos; cotas para negros e transexuais no ensino, no funcionalismo público e nas empresas (donde ele já foi demitido); defesa do meio-ambiente e fim do desmatamento da Amazônia; criminalização do racismo, da misoginia e da homofobia; reforma agrária; apoio estatal à produção cultural; descriminalização do uso de drogas; alteração da política prisional com vistas a liberar os apenados cujo processo não transitou em julgado; defesa dos direitos dos povos originários; fim do garimpo ilegal; acolhimento de refugiados políticos venezuelanos, sírios, palestinos, líbios e ucranianos; defesa da Constituição Cidadã de 1988; defesa das instituições democráticas e do Estado de Direito – são velhas, pertencem a um mundo que já se foi, não dialogam com sua realidade cotidiana. O que fazer, então? Abandonar as palavras de ordem tradicionais? É claro que não! Não é disso que se trata. Trata-se apenas de incorporar novas palavras de ordem, que dialoguem com a realidade do trabalhador precarizado, com os desafios da contemporaneidade. Essas pessoas precisam de apoio público para auferirem renda a partir das atividades e ocupações que o mundo contemporâneo está a oferecer. E – por incrível que possa parecer àqueles que contam com nível superior em Universidades de excelência, que atuam como funcionários públicos ou como profissionais liberais – a sobrevivência desta turma em seus esforços “empreendedorísticos” é extremamente difícil. Até mesmo no plano ideológico, no plano da esperança, do “adestramento moral” para o trabalho árduo, é preciso apoio. E quem o fornece? As igrejas reformadas (em especial, as neopentecostais) com a inculcação da ética calvinista (trabalhar sempre mais, poupar tudo que for possível, não beber, não usar drogas, não cair em tentação) e da “teologia da prosperidade”. E, aqui, é preciso tomar o termo “Igreja” num sentido realmente amplo. Nem só de Assembleia de Deus (Edir Macedo) e de Vitória em Cristo (Pastor Malafaia) vive a nova teologia. Pablo Marçal não criou uma igreja propriamente, mas o que ele chama de “Quartel-General do Reino”, um misto de Igreja, Cursos de Auto-Ajuda e coaching empresarial. Evidentemente, não estou propondo que a esquerda incorpore esses projetos. Até porque, há muito de “pilantropia” nos mesmos. Edir, Malafaia e Marçal não são milionários a troco de banana. A questão é muito outra: será mesmo que a esquerda (e o Estado, nos governos de esquerda) não tem nada melhor a oferecer para este novo tipo de trabalhador que vá, efetivamente, além da Teologia Pilantrópica da Prosperidade. ... Ou será que este tema sequer se coloca como pauta efetiva para nós?   Você que olha e não vê Alguns militantes do Partido da Crítica Militante vêm criticando o anúncio de Boulos de que irá adotar propostas dos programas de Tábata Amaral e Pablo Marçal. Eu não vejo problema algum em adotar propostas de outros candidatos. Como não vejo problema da AfD e o BSW criticarem a subordinação da Alemanha aos EUA com suas guerras imperialistas. Só vejo problemas de aproximação quando as propostas são ruins. Como no caso do CDU e da Quarta Internacional. Aí, sim, para mim, é de chorar. O problema não é Boulos assumir programas como o das Escolas Olímpicas, associando esportes, educação e lazer, e reforçando a formação dos atletas e futuros “vencedores olímpicos” brasileiros Nem incorporar a propostas do Jovem Empreendedor de Tábata. A questão é muito outra. É por que estas propostas já não estavam no programa de Boulos? Posso tentar um palpite? Porque, no fundo, a esquerda não tem este público como prioridade. As duas propostas buscam apoiar o desenvolvimento de “winners”, de vitoriosos, cheios de orgulhos pelos seus méritos. E isto não está bem no diapasão da (velha, cansada e desdentada) esquerda. A gente gosta mesmo é de sindicato, de operário assalariado e de fordismo. .... Pois é. Só que ... o mundo tá dizendo, há muito, que essa época já passou. Já vejo aquele meu amigo leitor franzindo o cenho e resmungando: “Ah, Paiva, tu exageras!”. ... Sorry, people, mas não há exagero algum. Para se ter um programa de inserção de novos empreendedores de uma forma decente, como algo que vá além do discurso pilantrópico das Igrejas da Prosperidade, para que a coisa toda funcione mesmo, é preciso ter um projeto muito claro e muito detalhado sobre isso. É preciso oferecer consultoria, é preciso formar pessoas para as atividades. Não basta atitude e força de vontade. Isso, é o que dizem “eles”, que estão do outro lado do muro na luta de classes. Vou dar um exemplo muito simples. Imagine que existem 20 pessoas vendendo café e sanduíche do lado de fora da rodoviária para ganhar uns trocados. Imagine que numa gestão de esquerda fosse distribuído microcrédito para pequeno empreendedor se instalar. E que surgissem mais 20 pessoas a vender sanduíche e café na rodoviária. Pergunto: o mercado aumentou? A demanda vai ser maior? Ou será que todos vão ingressar numa guerra de preços e a renda de todos (inclusive dos lojistas que operam dentro da rodoviária) vai cair? Não vou responder. Cofio na inteligência do meu leitor. Confio muito. Então, Paiva, como se poderia fazer? ... A, isso já é outra história, outro texto, com mais algumas páginas. Vamos deixar para outro dia, certo? ... Mas uma coisa eu posso dizer: se houvesse interesse real na produção de um tal programa, seria muito fácil construí-lo. E seria eficaz. Mais: teria impacto nacional. Inclusive numa eventual política de controle de preços e combate à inflação. .... Mas, infelizmente, a esquerda não parece se preocupar muito com o tema. ... Intão, povo amado, só resta cantar. Que música combina com o momento?  Que tal, “Vai levando”? Ah, e para não dizer que não falei de flores, as eleições recentes também geraram debates excelentes. Ainda que em outro diapasão do que o que adotamos nesse texto, não poderia me despedir sem recomentar o debate entre Paulo Timm e Renato de Oliveira. Simplesmente, supimpa.   *Diretor da Paradoxo Consultoria Econômica e professor de economia. Foto: Divulgação Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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Carta ao presidente Lula

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Carta ao presidente Lula
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Por J. CARLOS DE ASSIS* Caríssimo Presidente, Conhecemo-nos décadas atrás, em São Bernardo do Campo, ABC paulista, quando ainda iniciava, na ditadura, sua trajetória espetacular de líder trabalhista, que o levaria, ao final, ao cargo mais elevado da República. O que mais impressionou em nossa longa entrevista sobre as greves então em andamento foi sua determinação em não subordinar-se a ideologias, seja de esquerda, seja de direita. Como repórter do “Jornal do Brasil”, perguntei-lhe diretamente: “O senhor é socialista, ou comunista?” “Nenhum dos dois”, respondeu. “Sou pelo  trabalhador”. É claro que o senhor era sincero. Entretanto, na medida em que se colhiam, no País, os frutos das vitoriosas greves do ABC, o senhor acabaria se tornando um ícone das esquerdas, tendo em vista a força demonstrada junto aos trabalhadores, e que estava se espalhando por todo o País. Com isso, acolheu as propostas, especialmente de um grupo de intelectuais paulistas e líderes sindicais, para a  criação do PT, que se tornaria a ponte de sua entrada no processo político brasileiro. Foi um caminho longo, mas eficaz para sua chegada à Presidência da República. Entretanto, Presidente, o senhor sabe perfeitamente que as forças políticas no Brasil de hoje são extremamente diferentes das que prevaleciam naquela época. Não estamos divididos entre esquerda socialista e direita capitalista. Estamos divididos entre os que defendem o capitalismo financeiro predatório, hipertrofiado financeiramente e concentrador de renda, e os remanescentes de uma esquerda perdida dentro de uma bolha de ideias contraditórias de política econômica. Dessa bolha, sinto dizer, mesmo seu governo não está conseguindo escapar. Ocorreu-me fazer essa reflexão depois que minha mulher voltou hoje de um supermercado carioca apavorada com a alta dos preços de alguns alimentos,  e os  indícios de desabastecimento de outros. “Pronto, pensei, vem aí mais uma rodada de alta da Selic, supostamente para controlar a ameaça de inflação, embora neste momento ela pareça controlada”. Entretanto, quando, atualmente, o mundo todo enfrenta alguma forma de inflação, devida a diferentes causas, o pior que pode acontecer é a alta dos juros (Selic), em lugar de sua queda. Invoco a condição de economista não subordinado a ideologias de esquerda ou de direita para lhe afirmar, com absoluta convicção, que a retomada da inflação que vem aí nada terá a ver com desequilíbrio fiscal ou taxa de juros baixa. Terá a ver, sim, com as condições objetivas de mercado, ou seja, com relações de oferta e procura no mundo real. Diante das guerras, dos bloqueios políticos ao comércio e dos desastres climáticos extremos, a demanda inevitavelmente vai subir, pois será necessária a reposição de perdas provocadas pelas enchentes e pelo fogo. Entretanto, não tem nenhum sentido combater a alta da demanda com aumento da Selic,  seguindo “expectativas” subjetivas do mercado financeiro, principal interessado nela, como faz o Banco Central. Se há crescimento da demanda, a saída para o governo é estimular a oferta com redução dos juros a fim de contribuir para o aumento do investimento produtivo. Com isso,  estabiliza-se  a inflação sem redução do desemprego e sem afetar interesses básicos da Sociedade. Sei muito bem que a redução dos juros impactará o mercado cambial. Haverá alguma desvalorização do real e desincentivo à entrada de capitais do exterior. Contudo,  essas, se as destinadas ao setor produtivo, não serão afetadas, uma vez garantidas por nossas altas reservas cambiais (cerca de UR$ 355 bilhões) e nosso forte comércio exterior. Além disso, Presidente, a desvalorização controlada do real será benéfica para a indústria, que luta para recompor seu parque produtivo, que foi quase completamente destruído justamente pela forte valorização do real no lançamento da nova moeda. De fato, o senhor deve lembrar-se de que essa excessiva valorização do real que ocorreu no segundo governo Fernando Henrique Cardoso, em 1990 - quando se propagava que se tornou possível ao trabalhador comprar um frango (ou uma cerveja) por um real -,o brasileiro passou a dar preferência aos bens comprados no exterior, atraído pelo dólar mais barato. Isso era justificado pelo combate à inflação. Veja agora, Presidente, quanto custa um frango ou uma cerveja! Essas reflexões são um confronto direto com as “ideologias” conservadoras. Não estou apresentando uma ideologia alternativa, mas uma proposição científica com base no funcionamento efetivo das economias atuais, divididas entre o setor produtivo na economia real, em declínio,  e o setor financeiro hipertrofiado e concentrador de renda, em plena “prosperidade”. A propósito: para atacar nosso sistema financeiro hipertrofiado é fundamental acabar com a Selic, como tenho defendido. Ela é a base da moeda remunerada, um cancro inflacionário na economia. O senhor tem criticado eventualmente as consequências do neoliberalismo. No fundo, ele não tem nada de novo, pois apenas quer conservar o status quo. É o momento de atacá-lo nas causas. Tomei a iniciativa desta carta porque espero que chegue a suas mãos algum dia, de alguma forma. O recado principal que poderia lhe dar, caso tivesse acesso ao senhor como tive décadas atrás no ABC, seria que exija de seus assessores que façam com que a produção no País (oferta no mercado) acompanhe a demanda. Para isso, é essencial eliminar a Selic inflacionária, reduzir drasticamente a taxa de juros que desestimula investimentos, produção e criação de empregos, a fim de estimular a oferta e estabilizar dinamicamente a inflação. O senhor costuma dizer que aprendeu economia com a sábia dona Lindu, sua mãe. O conselho dela era que “não se pode gastar mais do que se ganha”. Entretanto, Presidente, o equilíbrio entre o que se gasta e o que se ganha se dá de duas formas: ou reduzindo o que se gasta, ou aumentando o que se ganha. No seu caso pessoal, aparentemente o senhor seguiu a segunda alternativa, deixando Garanhuns, em Pernambuco, e procurando oportunidades de emprego e renda melhores no Sul. No caso de uma empresa ou de um país, ao que se ganha pode ser acrescentado o crédito, desde que seja barato, responsável, destinado a investimento produtivo e com retorno garantido para pagá-lo posteriormente. Entretanto insisto, senhor Presidente, que a Selic seja extinta e substituída por outra taxa de juros em operações do Bacen num mercado financeiro reformado. É que ela se tornou um indexador de quase toda a economia. Baseada em “expectativas” subjetivas de inflação, corre à frente e puxa para cima a própria inflação real medida pelo IBGE (IPCA), que ela se propõe combater.  Além disso, como indexador diário da “moeda remunerada”, que só existe no Brasil, serve para aumentar a já absurda concentração de renda no País, com as chamadas “operações compromissadas” do Bacen atualizadas monetariamente por dia. Seu Governo conseguiu reduzir a taxa de desemprego no último semestre para inéditos 6,6%  desde 2012, e aumentar gradualmente a renda média do trabalhador. O senhor acha que a diretoria do Bacen gostou disso? Leia a última ata do Copom: ela diz claramente que reduzir o desemprego e aumentar a renda do trabalhador é um risco de retomada da inflação. Portanto, devemos nos preparar para um novo aumento da Selic, a pretexto de controlar a inflação, com cortes na demanda e desestímulo ao investimento produtivo e ao aumento do emprego. Não seria melhor reduzir os juros com o objetivo oposto de estimular a produção e a oferta no mercado, atendendo à demanda crescente e  assegurando o equilíbrio inflacionário dinâmico? Essa situação não mudará quando Gabriel Galípolo assumir a presidência do Bacen no próximo ano. O problema é da institucionalidade monetária e fiscal em que, como o atual presidente do banco, Roberto Campos, estará enquadrado. Sei que o senhor encontra-se também numa posição extremamente desconfortável, pois é prisioneiro dessa mesma institucionalidade, expresssa no “arcabouço fiscal” herdado do governo “ideológico” do neoliberal FHC. Esse arcabouço teve de ser negociado politicamente pelo ministro Haddad para viabilizar o início de seu governo em face da maioria de um Congresso hostil. Felizmente, agora, para minha surpresa, o ministro Flávio Dino, do STF, teve o bom senso de abrir um caminho alternativo provisório para o senhor no campo fiscal: autorizou o Executivo, para enfrentar os desastres ambientais, a enviar para o Congresso medidas provisórias que autorizam despesas à margem do “arcabouço” e da meta fiscal. Finalmente, senhor Presidente, corremos os imensos riscos e estamos sofrendo  consequências fiscais sem precedentes de desastres climáticos extremos. Eles exigirão cada vez maiores recursos públicos e privados  para que sejam enfrentados, ou para que nos adaptemos a eles, já que são inevitáveis. O ministro Flávio Dino abriu uma janela importante para isso, provisoriamente, no campo fiscal, ao autorizar o Executivo a recorrer a medidas provisórias extraorçamentárias, à margem das metais fiscais, para que o governo enfrente os efeitos das mudanças do clima. Entretanto, o caminho tem que ser aberto, institucionalmente, também pelo lado monetário. Diante disso, ouso sugerir, a fim de ampliar a participação pública no processo decisório de uma estratégia de política econômica de longo prazo, que seja convocado um Conselho da Sociedade Civil, com participação diversificada de empresários e economistas de diferentes correntes, para debater, de forma objetiva, acima de ideologias, os rumos econômicos a tomar em nome da Segurança Nacional. Com isso, tendo em vista as forças conservadora poderosas que sustentam as atuais políticas fiscais e monetárias, talvez a Economia Política brasileira possa ser mudada de baixo para cima, mediante pressão popular, conforme aconteceu com a mobilização nacional a partir do ABC que levou ao fim a ditadura militar de 64. Com  minha grande admiração, JC.   P.S. É óbvio, senhor Presidente, que não tenho a menor pretensão de que o senhor venha a responder essa carta. Certamente nem vai lê-la. Gostaria, porém, que, seguindo a lição de Platão, para quem o conhecimento resulta da dialética, ou seja, do confronto de ideias opostas, alguém que seja contra o que  aqui se expõe me dê a oportunidade de contestá-lo, de forma civilizada e democrática.   *Jornalista, economista, doutor em Engenharia de Produção, professor aposentado de Economia Política da UEPB, e atualmente economista chefe do Grupo Videirainvest-Agroviva e editor chefe do jornal online “Tribuna da Imprensa”, a ser relançado brevemente.     Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.    

Politica

Múcio, o quinta coluna

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Múcio, o quinta coluna
RED

Por FRANCISCO CELSO CALMON* O ministro Múcio, representante das forças armadas no governo, credita o golpe de 64 aos militares, assim como credita a eles o impedimento da intentona de 8 de janeiro ter realizado o seu intento. vídeo da fala do ministro: https://youtu.be/9EIcIhxv95M?si=3g60ZvTjDgDrV8Df Transcrição do vídeo: “Porque se muita gente debita as Forças Armadas o Golpe de 64, precisava ter creditado as Forças Armadas de não ter havido o golpe em 2023. Foram as Forças Armadas que preservaram e seguraram a nossa democracia.” Ou seja: Múcio coloca a democracia sob dependência das FFAA, seja para golpeá-la, seja para sua sobrevivência. (lembrar que o comandante da Marinha quis dar o golpe). Sua interpretação dos fatos é um ridículo sofisma. Ele é um negacionista da história. O golpe de 8 de janeiro de 2023 não se concretizou porque Lula não seguiu a sugestão dele de usar a GLO – Garantia da Lei e da Ordem, passando, na prática, aos militares o comando da nação. Se decretasse o GLO o golpe seria legal, era isso que eles esperavam para aderir. Diriam “o governo não tem condições de dar segurança ao povo, as forças armadas assumem essa atribuição e convocam nova eleição”, sabe-se lá para quando. Lula não embarcou nessa porque sua esposa, Janja, alertou que GLO era golpe. Esse ministro é golpista, bolsonarista, nunca foi um representante do governo junto às três armas. Onde já se viu adjetivar outros ministérios como ideológicos (de esquerda)!? As relações comerciais e políticas externas não cabe ao ministro da defesa. É o Itamarati, e em última instância à presidência da República, que orienta e decide relações com outros países. Lula já cedeu demais, não esquecemos do acordo que fez para que os 60 anos do golpe não fosse rememorado, com censura prévia aos seus subordinados e militantes lulistas. Múcio vive engabelando o Presidente, com falsidades e sutis chantagens. O que cabe ao M. da Defesa é fazer com que os militares cumpram as ordens emanadas do comandante-em-chefe de todas as armas, o Presidente da República. A causa maior disso tudo tem sido a benevolência e a morosidade da Justiça quanto a denúncia pela PGR do Bolsonaro. Por ínfimos delitos, como injúria, calúnia, difamação, ao ministro Alexandre de Mores, tem gente presa e condenada. Lula está cercado por fora e minado por dentro, e ainda não elaborou uma estratégia para romper e governar conforme suas promessas e compromissos eleitorais. Só há um caminho e força capaz de se contrapor a esse cerco e minação, o povo organizado e uma reforma urgente do seu ministério. Frouxidão, tibieza e boas maneiras com inimigos da democracia não surte efeito. Ao contrário, os fortalece. Porque os golpistas elegeram o Xandão como o inimigo principal, por causa de sua firmeza. A democracia não pode depender de um ministro da Corte Suprema! Esse cronograma político de esperar as eleições municipais e as dos EUA para indiciar e prender o Bolsonaro está errado, quanto mais demorar, mais eles afiam as garras golpistas. *Ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça; membro da Coordenação do Fórum Direito à Memória, Verdade e Justiça do Espírito Santo. Foi líder estudantil no ES e Rio de Janeiro. Participou da resistência armada à ditadura militar, sendo sequestrado e torturado. Formado em análise de sistemas, advocacia e administração de empresas. Foi gestor de empresas pública, privada e estatal. Membro da Frente Brasil Popular. Autor dos livros “Sequestro moral e o PT com isso?” e “Combates pela Democracia”, coautor dos Livros “Resistência ao Golpe de 2016” e “Uma sentença anunciada – O Processo Lula”. Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Articulista de jornais e livros, coordenador do canal Pororoca. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

Cultura

Programas, de 10 a 18 de outubro de 2024

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Programas, de 10 a 18 de outubro de 2024
RED

Por LÉA MARIA AARÃO REIS* Um ano de guerra metamorfoseada em rotina? Em programa? Podemos então descansar e pensar em outros assuntos? Como? Foi realizado nesta quinta-feira (dia 10/10) um ataque aéreo israelense a uma escola que abrigava pessoas deslocadas no centro de Gaza. Morreram pelo menos 28 pessoas, incluindo mulheres e crianças, enquanto três hospitais ao norte da região receberam avisos para retirada de pessoas do local, colocando em risco a vida dos pacientes. Informação de médicos dos hospitais. Um dia antes, disse o porta-voz de Jeremy Laurence, comissário dos Direitos Humanos da ONU, em Genebra: “Estamos vendo civis pagando o preço, hospitais fechando, um milhão de pessoas deslocadas, civis mortos, escolas impactadas”. E James Elder, porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância, a UNICEF, reforçou: “As semelhanças entre o Líbano e Gaza estão em toda parte. A ferocidade dos ataques iniciais, a linguagem que está sendo usada, o deslocamento em massa, o grande número de pessoas forçadas a se mudar. As semelhanças, infelizmente, estão aí”. Em tempo: em 12 de outubro, crianças deveriam ser festejadas. Mas os militares israelenses pedem aos residentes de Gaza, inclusive, é claro, acompanhados de crianças, que deixem uma área na qual a ONU estima que mais de 400 mil pessoas estejam presas: Jabalia, Beit Hanoun, Beit Lahiya. E até capacetes azuis da ONU são bombardeados em suas bases, ao longo da fronteira Líbano/Israel. Candidatos que se declararam quilombolas venceram as eleições para prefeito em 17 municípios, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral. A maior parte dos eleitos é de 15 homens. Duas mulheres estão no grupo. Cor declarada ao TSE no registro da candidatura: oito pessoas pretas, seis pardas e três brancas. Municípios que elegeram esses candidatos são do Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. Nenhum(a) quilombola foi eleito(a) prefeito(a) em cidades da Região Sul. Nas eleições do Legislativo, 262 homens e 72 mulheres quilombolas conseguiram uma vaga para as câmaras municipais de suas cidades. Leitura vivamente sugerida, no livro A Conspiração Lava Jato – O jogo político que comprometeu o futuro do país, Luiz Nassif, seu autor, utiliza informações apuradas e divulgadas pelo site GGN desde 2005 até a tentativa de golpe de oito de janeiro de 2023. Nassif escreve que a Lava Jato não foi apenas “uma mera operação conduzida de forma medíocre e inescrupulosa. Trata-se de uma ação impulsionada inicialmente pelos grupos de mídia e sustentada a partir do apoio e da complacência de uma série de instituições de setores relevantes da sociedade”. A obra disseca o lavajatismo e o “interliga à revolução das comunicações, ao avanço da ultradireita e do crime organizado – estes os precursores do bolsonarismo e da crise da democracia que levaram um país a perder a visão de futuro”. Com prefácio de Carol Proner, o lançamento no Rio de Janeiro foi esta semana, na Associação Brasileira de Imprensa. Sobre A Conspiração Lava Jato escreve o jurista Lenio Streck: “Refletir sobre os dez anos passados desde o início da Operação é tentar entender como o país foi cooptado por um pequeno grupo de agentes, que – com intenções escusas e de cunho eleitoral – manipularam a opinião pública e fizeram milhões de brasileiros acreditarem que Sérgio Moro e seus asseclas ‘salvariam’ o Brasil da corrupção. Uma espécie de jus-messianismo com pés de Curupira” (Editora Contracorrente). O programa é relembrar o saudoso prefeito do Rio de Janeiro, Roberto Saturnino Braga, falecido semana passada, e conhecer dois livros de sua autoria. O primeiro, Meu querido Brasil, suas “memórias de Getúlio, JK, Lula, Dilma e outros democratas”, como ele dizia. E Joias do Rio, livro de crônicas em que desfilam treze locais escolhidos por Saturnino, carioca militante: o Jardim Botânico, a Praça Mauá, a Lagoa Rodrigo de Freitas, entre outros. Formidável: Fernanda Montenegro fazendo 95 anos no próximo dia 16. E o Canal Brasil montou uma programação de 24 horas dedicada à grande e incansável intérprete no teatro e no cinema. Na festa de Fernanda, esses filmes, entre outros, estão na maratona: Central do Brasil, Casa de Areia, Infância, A hora da Estrela. Título do volume O pobre de direita – A vingança dos bastardos, de Jessé de Souza, é outra leitura sugerida para esses dias que correm depois dos inquietantes resultados do primeiro turno das eleições municipais. Temas e observações de O pobre de direita com questões como essas: o que explica a adesão dos ressentidos à extrema direita? O fenômeno recente desde 2018 mudou completamente o panorama das corridas eleitorais no Brasil (Editora Civilização Brasileira). Mais uma vez, o diretor Sergio Machado está no Festival de Cinema do Rio, Mostra Première. Com o documentário 3 Obás de Xangô, o relato da amizade entre Jorge Amado, Dorival Caymmi e Caribe e da conexão cultural que existiu entre os três amigos, construindo uma identidade baiana que vai além da geração dos três obás. Filme interessante, uma coprodução Colômbia/Brasil, Alma do Deserto, de Mônica Taboada, também estreou na Première Latina do festival carioca. O tema, sensacional: Georgina, uma mulher trans da etnia Wayúu, luta para obter o direito básico de obter uma identidade reconhecida após perder seus documentos em um incêndio criminoso provocado pelos próprios vizinhos que rejeitavam sua presença. Georgina queria o documento para poder votar nas eleições colombianas. Filme com estreia ainda este ano nas telonas dos cinemas. Plataforma bretz filmes, até 30 de novembro: Paul Singer – uma utopia militante, de Ugo Giorgetti, que comenta sobre o seu filme: “Se você não achar que inteligência é beleza, sai fora desse documentário. Porque ele é só isso: um homem pensando.” O filme perpassa a infância de Paul Singer em Viena, onde nasceu, e a chegada ao Brasil, em 1940, escapando da Segunda Guerra Mundial. Mostra os movimentos sindicais aos quais se engajou, sua trajetória como professor, a USP, e sua militância como discípulo de Paulo Freire. Mês cinematográfico com certeza. Mais ainda com a 19ª Mostra Mundo Árabe de Cinema replicada pela Cinemateca Brasileira de São Paulo, mas apenas até hoje, 11/10. Estão sendo exibidos filmes considerados joias do cinema oriental. O Poeta Rei, Lyd, Beirut Holde’m e À Beira do Vulcão. Curador, Arthur Jafet. Sessões gratuitas, que por sinal deveriam ser prolongadas por mais dias, com ingressos adquiridos uma hora antes do início da projeção. Exposição Constituinte do Brasil Possível, com vinte artistas negros(as) de sete estados, é um bom programa do Centro Cultural dos Correios do Rio de Janeiro. Desta semana até 30 de novembro. “Um país possível, mais inclusivo” é o slogan da mostra com fotografias, pinturas, colagens, desenhos, objetos de cerâmica etc. Sugestão: assistir o curta-metragem de 19 minutos filmado pelo grupo do MST da Bahia. Chama-se Produção de cacau, foi realizado no assentamento Terra Vista, em Arataca, e demonstra como alimentos saudáveis podem ser cultivados e comercializados com respeito ao meio ambiente e proteção da natureza. (Na plataforma do Brasil de Fato). Lançado Céu Branco, da escritora, editora de livros e tradutora Maria José Silveira, onde integridade, ganância, sordidez, traições, um assassinato, covardia da imprensa e tentativa de corrupção se sucedem e se interligam no cenário da cidade de Brasília. Tramoias e fake news nada edificantes, mas também esperança, determinação e coragem dos personagens. Maria José também é autora de Aqui Neste Lugar, de 2022, e Farejador de Águas, de 2023 (Editora FariaeSilva). O cérebro leitor é outra leitura adequada aos dias de hoje. De autoria da neurocientista estadunidense da Universidade da Califórnia, Maryanne Wolf, o trabalho trata da importância do ato de ler, das leituras que moldam cérebro e cultura, e do processo que ajuda a preservá-los nesse mundo cada vez mais digital. A professora Wolf é também autora de O Cérebro no Mundo Digital. Pré-venda da Editora Contexto. Dia 01 de novembro, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador, show de comemoração dos 50 anos do grupo Ilê Aiyê, primeiro bloco afro a desfilar no carnaval. Escritora da Coreia do Sul, Han Kang, 53 anos, autora de O Livro Branco, A Vegetariana e Atos Humanos, acaba de ser premiada com o Nobel de Literatura. Os três volumes são da Editora Todavia. *Jornalista Ilustração: Marcos Diniz Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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