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O organograma da tortura na maior penitenciária de Minas Gerais

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O organograma da tortura na maior penitenciária de Minas Gerais
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Por LEONARDO COELHO, MATHEUS MOURA | Edição BRUNO FONSECA* Agência Pública Relatório de inteligência penal denuncia a tortura e conivência da administração do presídio. Era por volta das nove da manhã do dia 25 de julho de 2020, quando um estrondo de bomba chamou atenção de Jorge (nome fictício), um dos agentes do setor de inteligência do Complexo Penitenciário Nelson Hungria (CPNH), a maior unidade prisional de Minas Gerais, localizada em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Logo tomou ciência de que os agentes do Grupamento de Intervenção Rápida (GIR) estariam repreendendo um recebimento de maconha. Solitário naquele plantão, o policial penal tomou para si a missão de registrar o que pudesse estar acontecendo de pior: com o celular filmando escondido no colete, aproximou-se do local de origem do som e encontrou pelo menos seis agentes desse setor especializado em reação a conflitos e rebeliões – praticamente a elite policial das prisões mineiras – agredindo detentos nus ou apenas de roupa íntima. Durante aproximadamente 25 minutos, Jorge conseguiu produzir ao menos dois vídeos aos quais a Agência Pública teve acesso. Juntos, somam quase cinco minutos de imagens nas quais os agentes, armados com escopetas e encapuzados em sua maioria desferem tapas nas nucas dos detentos, sentados no chão com o tronco jogado sobre os joelhos e as mãos para trás. Na metade do primeiro vídeo, vê-se que um dos policiais penais, segurando o detento pelo pescoço, este de torso contorcido para frente, arremata-o com socos na altura do peito e termina por prendê-lo num mata-leão – forma de enforcamento comumente ensinada no Jiu-jitsu – contra a parede da região em que a cena se passa. No segundo vídeo, ao fundo, vê-se que outro agente lança chutes na costela de um detento de bruços no chão. Vídeo gravado por um dos agentes do setor de inteligência do Complexo Penitenciário Nelson Hungria mostra cenas de tortura e agressão a presidiários Vídeo gravado por um dos agentes do setor de inteligência do Complexo Penitenciário Nelson Hungria mostra cenas de tortura e agressão a presidiários Este é um dos dois casos de tortura registrados no relatório 227/2021 da Assessoria de Informação e Inteligência Prisional de Minas Gerais, documento que estava escondido do público e que retrata torturas na penitenciária Nelson Hungria, considerada de segurança máxima. Por que isso importa? A penitenciária Nelson Hungria é a maior de Minas Gerais, o segundo estado com mais presos no país, com mais de 65 mil pessoas privadas de liberdade. O local tem sido palco de denúncias de maus tratos a presos há anos, e parte da penitenciária foi interditada pela Justiça em 2024 devido à superlotação e falta de agentes. Relatório e vídeos mostram torturas na maior penitenciária de Minas Gerais, Nelson Hungria | Tiago Ciccarini/Ascom Sejusp .     O grupo dos torturadores O relatório, que também foi revelado pelo blog VainaFonte, traz a descrição de um segundo e um terceiro dia de torturas, respectivamente 16 de dezembro de 2020 e 19 de janeiro de 2021. O agente responsável pelo documento coletou depoimentos de 15 detentos que descrevem cenas muito similares. Na narrativa deles, o policial penal Paulo Henrique Vieira Boaventura Alves, à frente do GIR, comandaria as sessões de torturas. Conhecido como “01 do GIR”, “Cara limpa” ou “GIR do mal”, Alves recebeu esses apelidos porque ele seria o único agente a nunca usar balaclava, fazendo questão de expor o rosto. A Pública procurou a defesa de Paulo mas ele não retornou aos contatos Na primeira data, em dezembro de 2020, o detento Edivan Lopes, segundo depoimento seu e de colegas, foi retirado de sua cela por volta das 21h junto de outros cinco presos, sendo levado para o Centro de Observação Criminológica (COC), onde é relatada uma sessão de vinte minutos de espancamento, com ele desmaiando mais de uma vez. Segundo consta no relatório: “a crença de impunidade estaria, em tese, impregnada em tal grupamento, considerando que a prática de desmaiar presos com golpes conhecido como ‘mata-leão’, era banalizada e utilizada como ‘esporte’ no trato com os detentos. Apontam desta forma, várias oitivas de IPL’S [inquéritos policiais] que em uníssono disseram, que após acordarem dos golpes, os mesmos ainda ouviam do servidor Paulo Henrique que ‘está me devendo mais um desmaio’.” Em entrevista à Pública, Wellington Sippel, advogado de Edivan, explica que seu cliente, após a produção do relatório, foi transferido para outra unidade: “Meu cliente me chamou lá na penitenciária através de um outro advogado. Ele havia sofrido algumas agressões, principalmente no rosto e estava sendo ameaçado pelo pessoal do GIR. No mesmo dia, eu solicitei à penitenciária que passasse meu cliente pelo exame de corpo delito e disse que gostaria de representar contra essas pessoas que fizeram isso com ele”. No fim, a solução encontrada no Nelson Hungria foi, segundo o advogado, uma transferência para uma unidade prisional de Uberlândia feita de maneira completamente indevida. “Ele não tem nenhum processo nem familiar lá”, disse. Já em janeiro de 2021, Alves e a equipe teriam retirado alguns presos de suas celas nos princípio da tarde, entre 13h e 15h, levando-os para o pátio sob sol ardente. Novamente, tal como no vídeo, o documento narra que os detentos foram obrigados a ficar ou de cueca ou completamente desnudos, forçados a sentarem no chão quente, chegando a gerar escoriações nas partes íntimas. Segundo os relatos, muitos reclamaram do desconforto e da dor, mas as reclamações eram respondidas com chutes, socos, tapas mata leões e até mesmo, num caso mais grave, com um tiro de escopeta a queima roupa na perna de um dos detentos, que teria sido levado para a enfermaria após passar alguns minutos agonizando com um buraco no membro. O documento descreve que, após a sessão de espancamento sob o sol, os presos foram levados para o banheiro e para uma das “gaiolas” (nome dado para o espaço gradeado que serve de transição entre pavilhões e setores da unidade), onde a sessão de espancamento recomeçou, com presos descrevendo a perturbação dos sons de dor e desespero de seus pares. Outro detento teria recebido um disparo no corpo, neste caso nas costas, enquanto outros dois apanharam com o cano das escopetas. Nos depoimentos, é comum que os presos sejam ameaçados para que não denunciem as torturas. Dizem os detentos que Alves e companhia ameaçavam não apenas a integridade física dos presos, como também a de seus familiares e visitantes, deixando claro que, caso viessem a delatá-lo, sofreriam consequências amplas e irrestritas. Um detento reconhecido como dedo duro de um esquema de extorsão pelas agentes, afirma que ouviu dos policiais que ele “estava complicando os amigos de farda, prejudicando o corre, [os policiais ficaram] me ameaçando falando que iria me colocar no coque e que iria me degolar e pendurar na ‘TIRA’ e me levaram para o COC [Centro de Observação Criminológica]”. Segundo a reportagem apurou, “pendurar na Tira” é quando se mata um detento e cria uma cena para falar que houve um suicídio. Os vídeos e nos depoimentos indicam que a administração da penitenciária saberia e autorizaria as torturas. O agente de inteligência Jorge relatou em oitiva ao Gaeco, obtida pela Pública, que a operação que resultou na sessão de tortura captada em vídeo teria sido coordenada pelo Diretor Adjunto Marco Aurélio Francisco Júnior, que, segundo o depoimento, não estaria no local, e o agente Edmar Augusto, que estaria presente no pavilhão, mas não na cena da tortura. Nos casos de dezembro de 2020 e Janeiro de 2021, os relatos relatam que o “diretor de segurança Daniel Costa Sousa e o coordenador Charley Soares Lima” teriam assistido às sessões de tortura. alpão de trabalho na penitenciária Nelson Hungria. Unidade tem 61,3% mais presos do que a capacidade projetada | Tiago Ciccarini/Ascom Sejusp   Fabricando verdades A fim de não deixar registros das ocorrências violentas, segundo o relatório, os funcionários da GIR recorreriam a duas técnicas para maquiagem de seus atos: adulterar boletins internos sobre o que levou os detentos a apareceram escoriados e, perante os profissionais de saúde da unidade, inventar situações que explicassem o encaminhamento dos detentos para a enfermaria. Como consta no relatório: “Em consultas sistêmicas, foram localizados o Boletim de Ocorrência Interna – BOI 3031, da mesma data citada, onde o servidor Paulo Henrique [Alves] ‘01 do GIR’, narra que o detento Edivan Lopes Basílio, em tese, teria desobedecido ordem legal para sair de sua cela de posse de seus itens pessoais, para ser conduzido para COC, sendo necessário o uso de força diferenciada, cumulado com técnicas de imobilização e algemamento na ‘proporção da oposição oferecida’. Segundo o documento, há indícios de que os registros podem ter sido manipulados. Analisando a suposta planilha de controle de Boletim de Ocorrência Interna, a numeração estaria datada de 11/12/2020, ou seja, cinco dias antes da suposta agressão ao detento Edivan Lopes Basílio.  Reprodução   Na enfermaria, segundo o relatório, os agentes do GIR normalmente apresentavam os detentos justificando que eles estavam machucados devido a terem entrado em conflito por pertencerem a facções diferentes, o que estes, muitas vezes, negavam. O detento rechaçado por delatar o esquema de extorsões dos policiais penais foi levado à enfermaria com intenso sangramento, que os agentes explicaram se tratar de uma tentativa de suicídio. Em depoimento, o prisioneiro explica: “Não me envolvi em nenhuma tentativa de autoextermínio (sic). O que aconteceu é que na data de ontem, fui espancado pelo Sr. Ferreira e pelo Sr. Ramos que estavam na inspetoria ontem. O motivo das agressões físicas é uma denúncia que fiz ao serviço de inteligência sobre a corrupção que acontece na equipe que irá trabalhar amanhã. Fui levado para a enfermaria por causa dos ferimentos. Ontem à noite, fui ameaçado por eles, dizendo que iria cortar minha cabeça.” Inação e promoção  Segundo o relatório e a oitiva, Jorge repassou os vídeos ao seu superior, o assessor regional Luciano Caldeira e ao assessor-chefe Nilson Amaral, que teriam avisado o Diretor Geral, José Fábio Piazza. Segundo o relatório, um segundo agente de inteligência teria assistido aos vídeos ao lado dele. Paulo Alves, o comandante do Grupamento de Intervenção Rápida, só viria a ser afastado do cargo em fevereiro de 2021 e efetivamente exonerado em 12 de outubro de 2023, após duas promoções em 2021 e 2022, segundo consta no Diário Oficial do Estado de Minas Gerais (DOEMG). Piazza, diretor geral do presídio, passou incólume pela citação do nome no relatório, tendo inclusive alçado ao cargo de Superintendente de Segurança Prisional no Departamento Penitenciário de Minas Gerais. Procurado pela Pública, Piazza afirmou que tudo foi devidamente apurado por órgão externo e que ele não foi acusado formalmente em nenhum processo. Em áudio enviado a grupo de colegas e registrado em relatório, Alves explica que sua saída foi para poupar outros colegas, dando a entender que teria servido de bode expiatório: “Ele [agente de inteligência] tem um vídeo do dia 25/11, 25/07 do ano passado e nesse vídeo lá tá eu, Lazzari, Rubão [agentes não identificados pela reportagem], entendeu? E nesse dia especificamente eu apaguei três presos e ele filmou com câmera escondida no colete, entendeu? E essa filmagem aí velho, ele tá utilizando ela para barganhar com diretor e conseguir o que ele quer. Aí ele ameaçou o diretor, entendeu? Pediu a minha retirada e de mais quatro cara. Aí eu segurei tudo no peito dos quatro pra ninguém ser prejudicado, mas eu infelizmente tenho que sair”. O relatório interno cita essa passagem como indício que a integridade física do agente estaria comprometida. Em sua oitiva ao Gaeco, o Jorge disse temer profundamente por sua segurança. A reportagem questionou o juiz da Vara de Execução Penal responsável pela fiscalização da penitenciária, Wagner de Oliveira Cavalieri, que visitou a unidade em janeiro de 2021 e teria ouvido dos detentos denúncias sobre os agentes do GIR. Cavallieri começou perguntando para o repórter se ele residia em Niterói. Em seguida, negou que a penitenciária receba muitas reclamações e denúncias de tortura. “É importante ressaltar que a Penitenciária Nelson Hungria abriga aproximadamente 2600 presos e as reclamações de maus tratos são excepcionais”. Ainda segundo o magistrado, organizações criminosas costumam usar esse artifício para tentar obstruir o trabalho de policiais penais sérios que não permitem a entrada de ilícitos na unidade prisional ou que não pactuam com práticas proibidas. “O Ministério Público instaura procedimentos investigativos sempre que verifica mínimos indícios de ocorrência de maus tratos ou de eventual tortura. Pode-se dizer que a Nelson Hungria ainda é uma das melhores unidades prisionais do estado e as reclamações relativas ao tratamento são excepcionais e devidamente apuradas”, acrescentou. Apesar do relatório citar que Alves foi afastado do GIR em fevereiro de 2021, institucionalmente, as respostas sobre o ocorrido começaram em 20 de março, quando dez agentes foram inseridos no Processo Administrativo Disciplinar 76/2021. Alguns meses depois, o MPMG, por meio da 11ª Promotoria de Justiça de Controle Externo da Atividade Policial de Contagem e do Gaeco, deflagrou a Operação Touro de Bronze, justamente para investigar denúncias de tortura no CPNH. À época, 14 agentes foram alvos. Paulo Alves foi exonerado em outubro junto a outro agente de segurança. Luciano Caldeira e Nilson Freitas foram suspensos por 15 dias. Outros agentes pegaram suspensão de 90 dias. Em nota, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) confirmou que o processo interno teve o trâmite finalizado em outubro de 2023, reiterando que a secretaria “não compactua com desvios de conduta de seus profissionais. Todas as situações de desvio são acompanhadas com rigor, e as medidas administrativas cabíveis são adotadas no âmbito do devido processo legal, resguardando sempre o direito à ampla defesa e ao contraditório”. Em 2024, advogados dos agentes tentaram um mandado de segurança na segunda instância para anular as decisões. Em seu voto, o desembargador Marcílio Eustáquio Santos negou todas teses da defesa dos agentes, que questionavam as denúncias por falta de materialidade e gravação ilegal. “Os vídeos em questão foram gravados no interior da unidade prisional, em espaço coletivo (e não diretamente em uma cela habitada), local sob permanente vigilância do Estado, sendo que tudo o que ocorre no interior do referido estabelecimento que não diga respeito diretamente à intimidade do preso ou dos servidores é de interesse público”, decidiu o desembargador. Agentes do Grupamento de Intervenção Rápida (GIR), do Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG), são apontados nos registros que denunciam tortura no presídio | Bernardo Carneiro/Reprodução Agência Minas   “Um verdadeiro Barril de Pólvora” O sistema prisional de Minas Gerais vem, há anos, sendo alvo de críticas de pesquisadores e entidades que defendem os Direitos Humanos no Estado. Um relatório recente do grupo Desencarcera, uma plataforma colaborativa que recebe, filtra, cataloga e contextualiza denúncias no sistema prisional, reuniu relatos coletados no primeiro semestre de 2024. Em 6 meses, foram 278 denúncias de tortura, falta de água e comida estragada. Segundo o pesquisador Guilherme Cardoso, um dos responsáveis pelo Desencarcera,, a situação do presídio Nelson Hungria expõe um problema sistemático. “Desde o início da plataforma, em 2018, recebemos 157 denúncias relativas à penitenciária, tanto de violação de direitos das pessoas presas como de seus familiares”. O pesquisador, ligado ao Laboratório de Estudos sobre Trabalho, Cárcere e Direitos Humanos da UFMG, disse que a situação na unidade está ainda mais complicada após uma recente decisão do juiz Wagner Cavalieri de interditar parcialmente o presídio em função da superlotação e baixo efetivo. Atualmente, o local está com 61,3% mais presos do que a capacidade. Além disso, 142 servidores foram exonerados em janeiro de 2025, dificultando ainda mais o funcionamento do complexo. Em sua decisão, o magistrado afirma que os servidores já estão tendo dificuldades para as movimentações internas e externas de presos e que estão aumentando os casos de indisciplina. Em entrevista de um mês atrás ao programa Direto da Redação com Laudívio Carvalho, do portal Tempo, o presidente do Sindicato dos Policiais Penais de Minas Gerais, Jean Otoni disse que a situação tende a se deteriorar no complexo, já que 23% da força de trabalho foi exonerada. “Até o momento, o Governador [Zema] não compreendeu que a Nelson Hungria é um verdadeiro barril de pólvora. A falta de investimentos na segurança pública não impacta apenas os policiais, mas toda a sociedade, colocando todos em risco.” O próprio relatório 227, que dá origem à essa reportagem, explicita em seu final que excessos e truculências praticadas por servidores dentro das unidades prisionais podem contribuir com o fortalecimento das Organizações Criminosas e com o convencimento de mais adeptos à ideologia como forma de apoio à massa carcerária.     Reportagem originalmente publicada na Agência Pública Foto de capa: Reprodução Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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O 1º dia do fim da civilização ocidental, por Luís Nassif

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O 1º dia do fim da civilização ocidental, por Luís Nassif
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Por LUIS NASSIF* para o Jornal GGN A grande estratégia trumpiana é submeter o mundo a uma frente de oligarcas norte-americanos, usando as big techs e o mercado financeiro A máxima é “tudo para os Estados Unidos”. E o objetivo final é o “delenda, China”, apresentada como o maior risco para a hegemonia norte-americana, maior até que a União Soviética no seu auge. Com base nesses princípios, adotará políticas comerciais protecionistas. Como elas impactarão o custo de vida – já que tornará mais caros os produtos importados – a compensação virá de uma Declaração de Emergência Energética Nacional, um plano de emergência para combustíveis, permitindo a exploração de petróleo em regiões com restrições ambientais. Ao mesmo tempo, anunciou a revogação de Políticas Ambientais Anteriores. Anunciou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris e o fim de iniciativas como o Green New Deal, visando remover regulamentações que, segundo ele, limitavam a produção de energia fóssil. Finalmente, cancelou os incentivos às energias renováveis, para veículos elétricos e rescindiu contratos de arrendamento para parques eólicos, com o objetivo de direcionar investimentos para a indústria de petróleo e gás. A ideia é baratear o combustível, para contrabalançar o impacto do protecionismo comercial sobre os preços. Esses movimentos conjunturais servem apenas para preparar a grande estratégia trumpiana, que é submeter o mundo a uma frente de oligarcas norte-americanos, usando as big techs e o mercado financeiro. A lógica de dominação é clara: Isolamento dos Estados Unidos, com políticas protecionistas, boicote aos organismos multilaterais, expulsão de imigrantes, fim das políticas inclusivas, inclusive nas grandes corporações, fim do financiamento da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), deixando a Europa dependendo de suas próprias forças armadas. Tomada total de controle do Estado americano, colocando bilionários e aliados em todos os cargos relevantes, do procurador geral ao presidente do FED. Pressão sobre os países através de três grupos: as big techs controlando o mercado de opinião; o estímulo às criptomoedas, enfraquecendo as políticas monetária e cambial dos países; e a parceria com a ultradireita religiosa. A Europa se torna a grande incógnita desta equação. Fica à mercê das ameaças de Trump ao mesmo tempo em que os governos nacionais são acossados por uma ultradireita cada vez mais agressiva e influente. Aí se chega ao impasse final. De um lado, a China, como maior parceira comercial de mais de uma centena de países; de outro, os Estados Unidos, como a maior máquina bélica do planeta. Obviamente, haverá um movimento da parte dos países em direção aos BRICS. Mas Trump fez ameaças diretas de retaliação a qualquer país que ousar essa aproximação. Aparentemente, o mundo entrou em uma dinâmica que só será contida com uma grande tragédia, como foi nos anos 30 e 40. *Luis Nassif é jornalista econômico e editor do Jornal GGN Publicado originalmente no Jornal GGN Foto da capa: Reprodução Aqui, o discurso e o gesto de Elon Musk: https://youtu.be/y0MaCT0fewY?si=b2F88_IT5KvhSY-N

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Delenda est Selic

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Delenda est Selic
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Por J. CARLOS DE ASSIS* O senador romano Catão, o Velho, encerrava seus discursos invariavelmente com a frase:  Delenda est Carthago (Cartago deve ser destruída). Para ele, tratava-se de derrotar de forma definitiva um inimigo que desafiou Roma em duas prolongadas guerras anteriores e ainda disputava com ela o domínio do mar Mediterrâneo. A terceira guerra se travou em 146 a.C. E, como exigia o senador, Cartago foi implacavelmente aniquilada junto com todo seu poder naval e sua civilização. É o que espero que aconteça, um dia, preferivelmente no mais curto prazo possível,  com a Selic, usada como taxa de juros básica da economia e instrumento para controle da inflação dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. Essa taxa, ao contrário do que pretende ser, é um indicador subjetivo da inflação futura que estimula o processo inflacionário. Preanunciada de 45 em 45 dias pelo Bacen, avisa a todos os aplicadores financeiros e  empresários produtivos sobre o mínimo que devem esperar dos juros futuros e do aumento dos preços no mercado. Como o presidente Lula deve ter concluído, foi uma perda de tempo trocar o presidente do Banco Central no suposto de que ele contribuiria para reduzir a taxa de juros. Gabriel Galípolo não é absolutamente um único centímetro diferente, nessa matéria, do que seu antecessor Campos Neto. Ambos são igualmente escravos da Selic. E a Selic é o meio pelo qual as oligarquias financeiras dominam a política monetária do País através de uma aliança espúria com a aristocracia financeira do Governo. Vejamos o que é a Selic. Ela foi introduzida em 1979 pelo Banco Central na economia brasileira - portanto, em plena ditadura militar -,  como uma espécie de jabuticaba que só dá em nosso território. Seu objetivo era de regulação do mercado aberto com títulos públicos federais. Aos poucos começou a ganhar terreno como indexador de títulos em outras áreas financeiras e contratuais, até tornar-se, hoje, um indexador geral da economia, incluindo o mercado real. É fixada e anunciada de 45 em 45 dias pelo Bacen, numa espécie de acordo entre os diretores dessa banco e os grandes bancos e corretoras privadas, com base em expectativas subjetivas sobre a inflação futura e alguns indicadores de mercado – entre os quais, curiosamente, a própria Selic passada. A taxa é picotada ao dia pelo Bacen, para que coincida com a anunciada previamente, a fim de que sirva como correção monetária diária para aplicações no mercado financeiro oficial, com o que surge na economia a figura fantástica da “moeda remunerada”. A “moeda remunerada” é uma moeda de classe. A ela só têm acesso os grandes milionários, e também as classes médias superiores, que têm saldos diários de depósitos bancários que rendem juros e que são sacáveis a qualquer momento. Por trás disso existe um gigantesco processo de transferência de renda do conjunto da sociedade, que não tem acesso à Selic picotada ao dia, para aqueles que mantêm depósitos nos bancos em qualquer prazo, inclusive de um dia para o outro, sempre com plena liquidez. Além dessas distorções, a Selic, na prática, funciona como uma força estrutural para colocar toda a economia num patamar de preços acima do que seria razoável em relação com o resto do mundo. Quando tomam conhecimento prévio dessa taxa anunciada pelo Bacen, os empresários, não apenas os financeiros, mas também os do setor produtivo, tratam de adaptar seus custos a ela, e imediatamente os repassam aos preços Isso muda profundamente o caráter da exploração e do sistema de acumulação de lucros do Capital. Nos primórdios dele, a acumulação de lucros se baseava principalmente na exploração do Trabalho, às vezes de forma extrema. Posteriormente, na medida em que o trabalho se expandia na esteira da expansão do próprio sistema produtivo capitalista, o número de trabalhadores aumentou e, com ele, sua força social, que lhe permitiu  extrapolar sua área específica de atuação e se tornar uma espécie de vanguarda de toda a  sociedade. Viu-se isso, entre nós, na Constituição brasileira de 1988, com seus amplos direitos sociais inspirados pelas instituições dos trabalhadores, ainda fortes. Mas começou a desaparecer pouco depois com a destruição dos direitos sociais constitucionais engolidos pela ascensão do conservadorismo e do neoliberalismo, com as reformas previdenciária e trabalhista dos governos Fernando Henrique, Temer e Bolsonaro. Isso não aconteceu por acaso. Na medida em que o Capital mudou sua natureza, o Trabalho também mudou. O Capital produtivo, que está absorvendo cada vez mais tecnologia, dispensa milhões de trabalhadores, reduzindo o número de sindicalizados e sua força social (são apenas 8% dos empregado pela CLT).   Por outro lado, ele reforça sua aliança com o Estado, de forma “invisível”, através das política fiscal e monetária (de forma similar à aliança do Capital com o Estado nos primórdios do capitalismo, usando a polícia em nome da estabilidade social). Dessa forma, não há mais uma vanguarda social organizada para enfrentar o Capital, inclusive na questão vital da proteção do meio ambiente contra suas forças predatórias. A acumulação de lucros segue seu curso normal, ao ritmo da Selic ou acima dela, tendo os efeitos colaterais da explosão da Dívida Pública, que impõe ao País um serviço anual em juros, correção monetária e amortização da ordem de R$ 1 trilhão. É nesse sentido que o conflito social básico no Brasil já não é entre Capital e Trabalho – que perdeu sua significação enquanto poder de pressão a seu favor contra o Estado -, mas entre Capital e o conjunto da Sociedade, que, porém, já não tem uma vanguarda organizada que a proteja. Ficaremos ao sabor das oligarquias econômicas em associação com a mídia corporativa e aristocracia pública, exercendo uma tremenda influência nas políticas econômicas centrais, enquanto o Estado Social é esmagado progressivamente com os chamados cortes anuais do orçamento primário. Diante disso, vou insistir:  “Delenda est Selic!”     Publicado originalmente na “Tribuna da Imprensa” online.0 *J. Carlos de Assis é jornalista, economista, doutor em Engenharia de Produção, professor aposentado de Economia Política da UEPB, e atualmente economista chefe do Grupo Videirainvest-Agroviva e editor chefe do jornal online “Tribuna da Imprensa”, a ser relançado brevemente. Foto de capa: Reprodução Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Ensaios à esquerda envolvem Camilo Santana

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Ensaios à esquerda envolvem Camilo Santana
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Por RUDOLFO LAGO* do Correio da Manhã Há uma situação que hoje é ponto de concordância para a maioria dos analistas políticos. Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por alguma razão, não for candidato à reeleição, o quadro da sucessão em 2026 ficará completamente aberto. A inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro tem feito surgirem diversos ensaios de candidatura à direita, hoje fragmentada. Mas o cientista político Isaac Jordão enxerga ensaios semelhantes também à esquerda. Mais discretos, porque ninguém ousa confrontar Lula. Ao Correio Político, Isaac Jordão sugere que, nesse sentido, se preste atenção nos movimentos do ministro da Educação, Camilo Santana. Para o cientista político, Camilo trabalha para se colocar como opção, dentro da disputa interna.   Disputa No caso, essa disputa interna se dá no PT entre os grupos do Sul, especialmente os paulistas, e os nordestinos. De um modo geral, os nordestinos são mais pragmáticos, mais abertos a alianças. E têm obtido resultados melhores que o PT do Sul, especialmente de São Paulo.   Prefeito No ano passado, Camilo Santana elegeu o único prefeito de capital do PT, Evandro Leitão, em Fortaleza. Sobressaiu-se, assim, junto a outros petistas nordestinos fortes, como o ministro Wellington Dias, no Piauí, ou a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra.   Educação pode ser área mais fácil que Fazenda Crise do Pix desgastou Fernando Haddad | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil     A crise do Pix envolve diretamente o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que saiu desgastado. Na reunião ministerial na segunda-feira (20), Lula acabou puxando indiretamente a orelha de Haddad. Com temas complicados como inflação, taxa de juros, dólar, arcabouço fiscal, novos desgastes podem atrapalhar Haddad. A educação, área de Camilo, pode se tornar seara mais fácil. Jordão observa que o ministro talvez tenha assumido uma das pastas com situação inicial mais precária, pelo desmonte que houve no governo Bolsonaro. Mas tem conseguido avanços. O programa Pé de Meia é, talvez, a entrega mais vistosa do atual governo   Pé de Meia O Tribunal de Contas da União (TCU) apontou no ano passado irregularidades com o Pé de Meia, porque repasses teriam sido feitos sem previsão orçamentária. Para Isaac Jordão, não seriam problemas insanáveis. O programa ainda pode virar um bom ativo.   Lula Claro, Camilo Santana não irá se mexer de forma explícita porque a precedência sempre será de Lula. Mas, no fundo, é uma situação semelhante à que enfrenta a direita. Nomes do campo têm se mexido de forma mais explícita, mas dependem do aval de Jair Bolsonaro.   Bolsonaro Para Isaac Jordão, Bolsonaro tentará em 2026 usar a mesma estratégia usada por Lula em 2018, quando permaneceu enquanto pôde na disputa só abrindo mão para Fernando Haddad no último momento. "Creio que ele só se define em meados de 2026", acha.   Centro E o centro, nesse quadro de indefinição, também pode fazer seus próprios ensaios? Isaac Jordão considera mais improvável. "O centro não costuma lançar candidatos", observa. Opta por vender seus apoios. Uma forma, de "ser governo sem ter a responsabilidade".     *Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade Publicado originalmente no Correio da Manhã Foto de capa: Camilo: opção discreta a Lula em 2026? | Ricardo Stuckert/PR Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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Os pilares da estratégia de Lula para 2026

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Os pilares da estratégia de Lula para 2026
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Por CARLOS EDUARDO BELLINI BORENSTEIN* Na reunião ministerial ocorrida nesta segunda-feira (20) o presidente Lula (PT) deu a largada para a sucessão do próximo ano ao afirmar que “2026 já começou”. No discurso de Lula foi possível perceber três pilares da estratégia eleitoral do governo: 1) a defesa da democracia e o combate à extrema-direita; 2) a redução da inflação, principalmente dos alimentos; e 3) a conexão com a nova realidade do mercado de trabalho. Ao recordar a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, o presidente sinalizou que a defesa da democracia e o combate à extrema-direita serão um pilar central da estratégia eleitoral do governo para 2026. Em seu discurso, Lula afirmou que “precisamos dizer em alto e bom som, queremos eleger governo para continuar processo democrático do país, não queremos entregar esse país de volta ao neofascismo, neonazismo, autoritarismo”. Um dos desafios de Lula é reeditar a pluralidade de forças políticas que garantiu sua vitória nas eleições de 2022. Apesar da presença de partidos como o Republicanos, PP, União Brasil, MDB e PSD na Esplanada dos Ministérios, a frente ampla em defesa da democracia de 2022 teve curta duração no governo Lula 3 em função do enraizamento da polarização na sociedade brasileira. As últimas pesquisas de avaliação do governo mostram uma divisão entre aprovação e desaprovação há mais de um ano. A atração do centro e de parte da direita democrática será decisiva em 2026, pois é a reconstrução da frente ampla que garantirá o isolamento da extrema-direita. Mesmo derrotado em 2022, o bolsonarismo permanece forte na sociedade, sendo um forte adversário. Entretanto, somente a defesa da democracia parece ser insuficiente para garantir a reeleição do presidente Lula. Não por acaso, na reunião ministerial desta semana, Lula cobrou uma redução do preço dos alimentos. Lula inclusive ensaiou um slogan para a segunda metade do governo: “se a gente trabalhou união e reconstrução, agora a gente vai ter que trabalhar outra coisa importante: reconstrução, união e comida barata na mesa do trabalhador, porque os alimentos estão caros na mesa do trabalhador”. Dados divulgados no início de janeiro pelo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontaram que a inflação de alimentos atingiu 8,23% no ano passado.  Assim, para que a bandeira da defesa da democracia tenha apelo eleitoral, é necessária uma redução da inflação, principalmente dos alimentos. Os preços elevados impactam negativamente não apenas a base social lulista, composta majoritariamente por segmentos da população com renda mensal de até dois salários mínimos, mas também as classes médias – com renda de mais de dois a cinco salários. Sobre a importância da inflação para a percepção da população em relação à situação da economia, vale menção a recente análise do cientista político Steven Levitsky, da Universidade de Harvard. Em entrevista concedida à BBC, o autor do clássico “Como as democracias morrem” afirmou que nas eleições norte-americanas de 2024 os eleitores decidiram que "o preço dos ovos importa mais do que a invasão do Capitólio", optaram por mudança e votaram contra o governo. Assim, caso os preços dos alimentos permaneçam elevados nos dois próximos anos, a narrativa da defesa da democracia e do enfrentamento à extrema-direita, assim como ocorreu na eleição norte-americana do ano passado, pode ser insuficiente. Outro pilar da estratégia lulista – talvez o mais complexo deles – envolve a compreensão, principalmente por parte dos setores mais ortodoxos de esquerda, em relação às transformações que estão ocorrendo no mercado de trabalho. Na reunião ministerial, Lula alertou que “é importante que a gente compreenda que o povo com que estamos trabalhando hoje não é o povo dos anos 1980, que queria ter emprego em fábrica com carteira assinada. É um povo que está virando empreendedor e precisamos aprender a trabalhar com essa nova formação do povo brasileiro”. A defesa da democracia, que envolve a reconstrução da frente ampla para isolar a extrema-direita, a redução da inflação e a conexão com o “novo” mundo do trabalho são três pilares que necessitam andar juntos.     *Carlos Eduardo Bellini Borenstein Doutorando em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Bacharel em Ciência política (ULBRA-RS). Especialista em Ciência Política (UFRGS). Tem MBA em Marketing Político (Universidade Cândido Mendes). Foto de capa:  Valter Campanato/Agência Brasil Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democraca.  

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Manhã de sol no Pontal

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Manhã de sol no Pontal
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Por ADELI SELL* Era primavera. Domingo. Convite para sair e tomar um sol aceito.  A tradição era caminhar pela Riachuelo rumo ao Setor 1 da Orla, Orla Moacir Scliar. Mas desta vez seria no Parque do Pontal. Foi minha primeira vez. Até porque o lixo do trajeto é impeditivo. Poucos conhecem este parque, nem se tocaram que há um parque público, fruto de compensação pela construção do Shopping Pontal. Sempre que passo pela Avenida Padre Cacique me lembro dos embates na sociedade e na Câmara para liberar o tipo de construção. Um “plebiscito” com 2% da população optou por liberar apenas para atividade comercial. Eu me opus, pois este enclausuramento segmentado afronta o urbanismo de convivência como nos ensinou Jane Jacobs com seu “Morte e Vida das Grandes Cidades” de 1961. Era a primeira década de 2000. E a Câmara seguiu na mesma toada: aprovou que só poderia haver atividade comercial. Mas o mundo dá voltas. Foi feito um grande hotel, o “Double Tree” by Hilton. Comercial? Sim, o fito é comercial, mas pessoas moram ali, param um dia ou vários dias no local. Ou seja, agora tem vida a noite toda. A vida venceu a norma. No caminho, motoristas fazem manobras malucas, enquanto curto o Guaíba ao largo, calmo, sereno, nada de sua fúria da enchente de maio. No Parque há pouca sombra, mas o suficiente para me deitar e continuar a leitura do “Romance Antigo”, de Darcy Azambuja. Exatamente o capítulo da sessão do Senado da Câmara local, lá por 1814. Minha sobrinha neta de três anos me arranca da leitura para brincar. O céu de brigadeiro, o sol, a brisa me levam a olhar a minha volta: maioria branca, sarada, vestida com coisas de marca, classe média aquinhoada. Negros/as só uma babá, uma atendente do bar, alguns ciclistas passando. Dou-me conta que Porto Alegre é uma cidade muito segmentada. Ali, o espaço é de uma classe, maioria jovem. E aí me pergunto, onde estão as pessoas idosas? Porto Alegre, a capital da longevidade, do maior numera de idosas, não estava naquele Parque elitista, apenas três ou quatro me faziam companhia aos 71. Ao sairmos já temos outras pessoas, muitos ciclistas já mostrando outra classe. No restaurante em Ipanema, o quadro de comensais é de adultos e mais ou menos 50% de idosos. Também um local elitizado. Logo, segmentado como é a nossa capital.     *Adeli Sell é professor, bacharel em Direito. Foto de capa: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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