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Violência

São negras 85% das crianças e adolescentes mortas por armas de fogo no país, afirma relatório
RED

O Relatório Violência e Racismo – o papel da arma de fogo na desigualdade racial, elaborado pelo Instituto Sou da Paz e divulgado hoje dá conta de que as armas de fogo permanecem como instrumento utilizado na grande maioria dos homicídios registrados no país, sendo que mais de 90% das vítimas são homens e mais de 70% são pessoas negras. Entre crianças e adolescentes de 10 a 19 anos, 85% são pessoas negras. Considerando que os homens são historicamente o grupo mais afetado pela violência armada (94% do total das vítimas em 2020) e com forte desigualdade racial (81% dos homens mortos por esse meio são negros), o relatório priorizou a análise dos homicídios na população masculina com recorte de raça nas regiões metropolitanas brasileiras. De 2012 a 2020, quase 338 mil homens negros foram assassinados no Brasil e, destes, mais de 254 mil foram vítimas de armas de fogo (75%). Essa proporção é ainda maior em Regiões Metropolitanas (cerca de 80%) do que fora delas (em torno de 71%). Nota-se que a participação da arma de fogo na morte de homens não negros diminuiu nos últimos 3 anos, especialmente nas RMs, enquanto no caso dos homens negros essa proporção voltou a crescer em 2020 em ambas as regiões. Entre 2012 e 2017 o aumento da taxa de homicídios no país decorreu sobretudo do agravamento da violência armada contra homens negros. Em 2020 os homicídios voltaram a crescer no país refletindo novamente o aumento mais acentuado da vitimização de homens negros. Nas RMs, a taxa de mortalidade por arma de fogo cresceu 10% entre os homens negros enquanto entre os não negros manteve-se a tendência de redução observada nos últimos anos. Assim, em 2020, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes foi 3,5 vezes maior para os homens negros do que para os não negros. Essa discrepância é significativa ao longo de todo período analisado e, a partir de 2016, apresentou uma tendência de recrudescimento em desfavor à população negra, a despeito da redução expressiva no número de casos após 2017. Para ter acesso ao relatório completo, acesse aqui. VIOLÊNCIA ARMADA E RACISMO O PAPEL DA ARMA DE FOGO NA DESIGUALDADE RACIAL 2ª EDIÇÃO Foto da capa: Brasil de Fato Paraná - Giorgia Prates

Internacional

Chamado de fascista por seu ex-chefe de gabinete, Donald Trump ameaça usar o aparato de Estado para perseguir e esmagar adversários políticos
RED

Por BERNARDO MELLO FRANCO* Em artigo de opinião publicado no O Globo no domingo, 03 de novembro de 2024, o jornalista Bernardo Mello Franco analisa a possibilidade de Donald Trump vencer as eleições que estão em curso hoje nos Estados Unidos. Donald Trump já avisou: se voltar à Casa Branca, vai usar o aparato do Estado para perseguir e esmagar adversários políticos. Na reta final da campanha, o republicano elevou o tom das ameaças. Disse que o “inimigo interno” ofereceria mais perigo aos Estados Unidos que a Rússia ou a China. O ex-presidente fincou sua nova candidatura numa plataforma de vingança. Quer acertar contas com políticos, militares e servidores que se opuseram a seu projeto autocrático. Nas palavras do general John Kelly, seu ex-chefe de gabinete, Trump deseja retornar com poderes de ditador. “Sem dúvida, ele se enquadra na definição geral de um fascista”, resumiu o militar da reserva. Na terça-feira, os americanos vão às urnas eleger o próximo presidente. Será uma escolha existencial, com consequências para todo o planeta. Nas últimas semanas, a democrata Kamala Harris reforçou os alertas de que a democracia está em jogo. A questão é saber se esse discurso será capaz de sensibilizar eleitores que ainda se dizem indecisos. Há seis dias, o jornal The New York Times publicou uma ampla pesquisa sobre a satisfação dos americanos com o regime democrático. O resultado mostrou um país dividido: 49% concordaram que a democracia representa bem os interesses do povo, mas 45% disseram o contrário. Os pesquisadores do Siena College também mediram o humor dos eleitores com os ocupantes do poder. Para a ampla maioria (62%), o governo só está preocupado em cuidar dos próprios interesses e proteger as elites. Apenas 33% acreditam que o sistema atenda o povo e o país. O mal-estar com a democracia cria terreno fértil para populistas com vocação autoritária. Isso ajuda a entender a força eleitoral de Trump, que se apresenta como um líder capaz de resolver problemas complexos num passe de mágica. Nos últimos dias, sua campanha martelou o mote “Trump will fix it” (“Trump vai consertar isso”). Como a propaganda não explica o que é “isso”, o eleitor pode projetar qualquer coisa que o aflija: a angústia com a inflação, o medo da guerra, o incômodo com a ascensão de negros e latinos. O comício que lotou o Madison Square Garden, domingo passado, foi marcado por cenas de racismo explícito. Um humorista definiu Porto Rico, arquipélago caribenho que exporta mão de obra para os EUA, como uma “ilha flutuante de lixo”. O âncora Tucker Carlson debochou da origem étnica de Kamala, filha de uma indiana e de um negro nascido na Jamaica. Famoso por estimular o ódio contra imigrantes, o ex-presidente voltou a prometer deportações em massa. Ele já acusou estrangeiros de aterrorizarem famílias americanas e “envenenarem o sangue” do país. Qualquer semelhança com a retórica de autocratas da décadas de 1930 não parece ser mera coincidência. Em entrevista à revista The Atlantic, John Kelly disse ter ouvido de Trump que ele gostaria de ter generais “como os de Hitler”. Publicado originalmente n'O Globo do dia 03 de novembro de 2024 Foto da capa: Donald Trump e Kamala Harris/BBC News Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

Internacional

Os Estados Unidos e a Cúpula dos BRICS, em Kazan
RED

Por Williams Gonçalves* A ordem internacional liberal construída pelos Estados Unidos em Dumbarton Oaks e Bretton Woods, ancorada na ONU, no Banco Mundial (BIRD), no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no dólar como moeda internacional, recebe, na 16ª Cúpula do BRICS, em Kazan, realizada de 22 a 24 neste mês de outubro de 2024, a mais contundente contestação em toda sua existência. Sob a liderança do anfitrião do encontro, Vladimir Putin, representantes de 36 Estados, entre membros efetivos e convidados, além de representantes de seis organizações internacionais, reuniram-se para discutir mudanças na ordem internacional, de modo a trabalhar pelo reconhecimento da multipolaridade do sistema internacional e a buscar justiça nas relações entre os Estados, em lugar de regras. O encontro, que nas palavras do chefe de Estado da Rússia, Vladimir Putin, reuniu o Sul Global e o Leste Global, representou, por assim dizer, o mais sério desafio jamais lançado contra a preponderância dos Estados Unidos nas relações internacionais. Esta não é a primeira contestação da ordem internacional que os Estados Unidos e seus aliados europeus enfrentam. Outras já foram lançadas. Em meados da década de 1970, no contexto da primeira crise do petróleo, os países do então denominado Terceiro Mundo propuseram uma Nova Ordem Econômica Internacional (NOEI). O objetivo maior do movimento era corrigir distorções do comércio internacional. Objetivamente, tratava-se de impedir o maior enriquecimento dos países ricos às expensas do empobrecimento dos países pobres. Os países do Terceiro Mundo obtiveram como resultado a criação do Sistema Geral de Preferências (SGP), pelo qual se protegia os países pobres, mediante fixação de cotas e estabelecimento de preços mínimos, da especulação que os países mais ricos promoviam com seus produtos primários. A mudança da ordem, todavia, não aconteceu. Pelo contrário. Em resposta a essa movimentação do Terceiro Mundo, os Estados Unidos e o Reino Unido, então liderados por Ronald Reagan e Margaret Thatcher, comandaram um movimento de orientação conservadora que sustou a contestação da ordem internacional e agravou a clivagem global. (Arquivo) Representantes de países das Nações Unidas se sentam em fileiras com cartazes com os nomes de seus países, como Togo, Tailândia, Suécia, Suazilândia, Sudão, Sri Lanka, Espanha e África do Sul, entre outros. Um projeto de declaração sobre o estabelecimento de uma nova ordem econômica internacional (NOEI) é adotado por um comitê ad hoc da sexta sessão especial da Assembleia Geral da ONU, em 1º de maio de 1974 (Crédito: Teddy Chen/Nações Unidas. Fonte: Foreign Policy) Uma contestação diferente das outras A contestação, a que hoje se assiste, difere significativamente das anteriores. Na atual, o processo foi deslanchado por cinco grandes países em ascensão econômica, entre os quais se destaca a China, que reúne todas as condições para, em um futuro não muito distante, tornar-se a principal economia do mundo, vanguardista em ciência e em tecnologia, bem como grande potência nuclear-militar. Os demais quatro países são o Brasil, a Rússia, a Índia e a África do Sul. A fundamental diferença em relação às contestações da ordem internacional anteriores consiste na reunião de cinco países representativos de diferentes pontos de vista: dois membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e potências nucleares (China e Rússia); dois países mais populosos do mundo (Índia e China); um país sul-americano (Brasil) e um africano (África do Sul). São cinco países representativos da diversidade étnica, religiosa e cultural da humanidade, com um passado comprometido com a luta pelo desenvolvimento econômico-social e que trabalham em favor da desconcentração do poder mundial. A posição de defensor da ordem internacional dos Estados Unidos se vê, hoje, mais fragilizada, na medida em que a proposta do grupo BRICS vem ganhando adesões de países importantes. Ao grupo original somaram-se, na última reunião, mais cinco países. São eles: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. Além desses recém incorporados, 36 Estados aguardam resposta à sua solicitação de ingresso. O enfraquecimento da posição dos Estados Unidos se deve ao fato de esses países desempenharem papel muito importante na economia mundial do petróleo. A inscrição como Estado indispensável das decisões relativas à questão da energia, base da economia industrial, é o que explica a polêmica em torno do veto brasileiro à inclusão da Venezuela no grupo, o que merece considerações à parte. Outra diferença muito importante da contestação da ordem internacional conduzida pelo BRICS, em relação ao passado, é que a atual contestação não reclama que os países do Grupo dos 7, Estados Unidos à frente, levem em consideração as reivindicações dos países em desenvolvimento e introduzam reformas na ordem de modo a atendê-las. No presente, o BRICS está se encarregando de construir a nova ordem à margem da ordem em vigor. Isto é, não está trabalhando para destruir a ordem internacional atual, tampouco para reformá-la. Todo o processo aponta na direção de tornar a ordem internacional isolada e irrelevante, até que a substituição aconteça por cooptação como algo inevitável. Esse processo de construção à margem teve início quando, por proposta da então presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, foram criados o Banco do BRICS (Novo Banco de Desenvolvimento) e o Arranjo Contingente de Reservas: o primeiro, com a função de financiar projetos dos países em desenvolvimento; e o segundo, com a missão de ser um fundo de estabilização monetária. Oficialmente criadas na 6ª Cúpula do BRICS, em Fortaleza (Ceará, Brasil), em julho de 2014, as duas instituições constituem alternativas ao Banco Mundial e ao FMI que se oferecem aos países em desenvolvimento para a execução de projetos de infraestrutura (BATISTA JR., 2015, 33-38). Desdolarização e multilateralismo para uma nova hegemonia Realizada no formato expandido, a Cúpula de Kazan reuniu 35 países e seis organizações internacionais sob o lema Fortalecendo o Multilateralismo para um Desenvolvimento Justo e Seguro. Numerosas reuniões em grupos e em formato bilateral foram realizadas, havendo sido as discussões concentradas em três áreas principais: política e segurança; comércio e investimento; intercâmbios culturais e humanitários. Cada um desses países tem seu próprio caminho de desenvolvimento, modelos distintos de crescimento econômico e ricas história e cultura. É, obviamente, essa diversidade civilizacional e combinação única de tradições nacionais que fundamentam a força e o enorme potencial para cooperação não apenas dentro do BRICS, mas também dentro do círculo mais amplo de países com ideias semelhantes que compartilham os objetivos e os princípios do grupo. No total, a cúpula foi formada por mais de 200 eventos, organizados em 13 cidades russas, constituídos por “reuniões de ministros setoriais, conferências, seminários e o Fórum Empresarial, além dos Jogos Esportivos”. O documento final do encontro, Declaração de Kazan, composto de 134 parágrafos, concentra os esclarecimentos sobre os três temas debatidos nas reuniões: Ampliação da Cooperação para a Estabilidade e a Segurança Global e Regional (“Enhancing Cooperation for Global and Regional Stability and Security”); Promoção da Economia e das Finanças para um Desenvolvimento Global Justo (“Fastering Economic and Financial for Just Global Development”); Fortalecimento das Trocas entre os Povos para o Desenvolvimento Social e Econômico (“Strengthening People-to-People Exchange for Social and Economic Development”). Na coletiva de imprensa, em que prestou contas à opinião pública sobre os trabalhos realizados em Kazan, o presidente V. Putin declarou que: “Cada um desses países tem seu próprio caminho de desenvolvimento, modelos distintos de crescimento econômico e uma rica história e cultura. É obviamente essa diversidade civilizacional e combinação única de tradições nacionais que fundamentam a força e o enorme potencial para cooperação não apenas dentro do BRICS, mas também dentro do círculo mais amplo de países com ideias semelhantes que compartilham os objetivos e princípios do grupo”. Entre todas as questões abordadas nas reuniões do BRICS, a que maior interesse tem despertado é a relativa à desdolarização da economia mundial. Isto porque, a propriedade da moeda de trânsito internacional constitui a pedra de toque da hegemonia desfrutada pelos Estados Unidos desde a Segunda Guerra Mundial. Ao desbancar a libra esterlina dessa condição, os Estados Unidos, mesmo depois de haver abandonado o padrão ouro em 1971, detêm o privilégio de emitir o dólar. Em vista disso, o trabalho que os financistas do BRICS vêm desenvolvendo no sentido de usar as moedas nacionais em suas negociações e a expectativa existente em torno de um acordo para a composição de uma cesta de moedas nos negócios internacionais, escapando assim do sistema de pagamentos que tem o dólar como moeda de referência, representa, na verdade, um golpe direto na preponderância dos Estados Unidos na economia mundial. Nas palavras de Putin, na mesma coletiva, “continuaremos a aprimorar a comunicação interbancária e a trabalhar na criação de mecanismos para pagamentos em moedas nacionais que sejam imunes a riscos externos”. Passo em falso do Itamaraty Na entrevista coletiva, o presidente Putin também anunciou a renovação do mandato de Dilma Rousseff na Presidência do Banco do BRICS. Essa renovação exprime o reconhecimento do trabalho que a ex-presidente do Brasil vem realizando à frente do Banco. Além de Dilma Rousseff estar muito prestigiada por Putin e Xi Jinping, aos quais agrada a maneira como vem se conduzindo na Presidência do Banco, a decisão é consistente com a Presidência que o Brasil vem exercendo do G20, bem como pelo fato de o Brasil ser o próximo país a sediar a Cúpula do BRICS. (Arquivo) Cerimônia de posse de Dilma Rousseff como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, o NBD, em 13 abr. 2023, em Xangai (Crédito: Ricardo Stuckert/PR. Fonte: CNN Brasil) Por fim, cabe assinalar que a participação do Brasil na cúpula foi cercada de muita polêmica. Isto porque o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, representando o presidente Lula, ausente por razões de saúde, vetou o ingresso da Venezuela no grupo. Desse modo, o envolvimento do Brasil na contestada eleição presidencial da Venezuela, acompanhando a posição adotada pelos Estados Unidos, foi levada para fora do continente sul-americano. O veto brasileiro causou grande constrangimento, em virtude do forte apoio que os venezuelanos vêm recebendo tanto da Rússia como da China, uma vez que seu país, grande produtor de petróleo de alta qualidade, sofre intensas pressões políticas e econômicas dos Estados Unidos com vistas a depor o governo de orientação político-ideológica chavista de Nicolás Maduro. Além disso, a posição brasileira representa a ruptura com um país que, histórica e igualmente, vê a integração regional como objetivo político de muito valor. *  Williams Gonçalves é Professor Titular de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos da Escola de Guerra Naval (PPGEM-EGN). Doutor em Sociologia, também é pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre Estados Unidos (INCT-INEU). Entre outros livros, é autor de A China e a nova ordem internacional (Editora Ayran, 2023). ** Revisão e edição: Tatiana Teixeira. Primeira versão recebida em 31 out. 2024. Foto da capa: BRICS 2024 - Fonte: Russian International Affairs Council Publicado originalmente no Observatório Político dos Estados Unidos Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.


Economia

Ministério divulga lista de empresas beneficiadas pela renúncia fiscal

Economia

Ministério divulga lista de empresas beneficiadas pela renúncia fiscal
RED

Da REDAÇÃO da RED* Em meio à discussão sobre os cortes no orçamento do governo federal e a redução dos gastos públicos, o Ministério da Fazenda divulgou na semana passada, pela primeira vez, a lista das empresas beneficiadas pelos incentivos fiscais. Os dados foram extraídos da Declaração de Incentivos, Renúncias, Benefícios e Imunidades de Natureza Tributária (Dirbi), uma ferramenta criada pela Receita Federal. Com dados atualizados até agosto de 2024, a lista apresenta detalhes das empresas que mais deixam de pagar tributos no país. O destaque vai para as companhias ligadas ao agronegócio – setor que, sozinho, responde por 18,7% do montante da renúncia fiscal. Em números totais, são 546 bilhões de reais em benefícios fiscais, o que é três vezes superior a todo o orçamento do Bolsa Família para o ano que vem. A lista destaca as empresas que mais utilizaram benefícios fiscais, sendo que várias delas são multinacionais. No topo da lista estão: 1. Braskem S.A. - R$ 2.275.589.976,23 2. Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. - R$ 1.779.816.339,58 3. TAM Linhas Aéreas S/A - R$ 1.701.411.172,06 4. Yara Brasil Fertilizantes S/A - R$ 1.230.830.867,16 5. Azul Linhas Aéreas Brasileiras S.A. - R$ 1.046.863.685,42 6. Samsung Eletrônica da Amazônia Ltda. - R$ 1.009.513.579,70 7. OCP Fertilizantes Ltda. - R$ 975.984.375,35 8. BASF S.A. - R$ 907.616.857,83 9. Arcelor Mittal Brasil S.A. - R$ 801.996.107,86 10. Philco Eletrônicos S.A. - R$ 730.568.695,90 Esses valores correspondem a tributos federais que deixaram de ser arrecadados devido a incentivos fiscais, isenções e benefícios. Veja planilha detalhada aqui. *Com dados da Carta Capital e do JD1 Notícias Foto da capa: Reprodução Adobestock

Politica

Militares bolsonaristas que tramavam envenenar Lula, explodir Moraes e matar Alckmin antes da posse foram presos hoje pela PF

Politica

Militares bolsonaristas que tramavam envenenar Lula, explodir Moraes e matar Alckmin antes da posse foram presos hoje pela PF
RED

Da REDAÇÃO, com informações de O Globo, Folha de São Paulo e Correio Brasiliense Segundo noticiado pelo O Globo, a Polícia Federal prendeu nesta terça-feira quatro militares e um policial federal em uma operação que apura um suposto plano dos "kids pretos" do Exército para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro na eleição de 2022. As medidas de hoje foram cumpridas como parte do inquérito que apura se houve uma tentativa de golpe de Estado após o resultado da eleição. A operação mira os “kids pretos”, formado por militares das Forças Especiais. Ao todo, foram expedidos cinco mandados de prisão preventiva, três mandados de busca e apreensão e 15 medidas como a proibição de contato entre os investigados, a entrega de passaportes em 24 horas e a suspensão do exercício de funções públicas. A operação tem como alvos militares, um deles hoje assessor do deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ), e um policial federal. Um dos alvos é o general da reserva Mário Fernandes, que foi secretário-executivo, segundo posto mais importante, da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro e hoje é assessor no gabinete de Pazuello, ex-ministro da Saúde. Ele chegou a assumir o cargo de ministro interinamente. Outros alvos são os militares Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira, Rodrigo Bezerra de Azevedo, integrantes dos “Kids pretos”, e o policial federal Wladimir Matos Soares, policial federal. Fernandes fazia parte do grupo de elite do Exército. A PF investiga mensagens que ele enviou ao então comandante do Exército, general Freire Gomes, pedindo adesão ao plano golpista, o que foi rechaçado por Freire Gomes. A PF aponta ainda que foi identificado um plano denominado “Punhal Verde e Amarelo”, que previa, para o dia 15 de dezembro de 2022, o homicídio dos candidatos eleitos à Presidência e Vice-Presidência da República. Além disso, a ação incluía a prisão e execução do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que estava sendo monitorado como parte da trama golpista. O plano golpista também previa a criação de um “Gabinete Institucional de Gestão de Crise”, que seria integrado pelos próprios envolvidos, para gerir os conflitos decorrentes das operações. [caption id="attachment_16539" align="alignnone" width="300"] Print da capa de O Globo digital de 19/11/2024 às 11:35[/caption] De acordo com a Folha de São Paulo, a investigação da Polícia Federal que deu origem à operação deflagrada nesta terça-feira (19) descobriu que as cinco pessoas presas (quatro militares e um policial federal) conversavam em 2022 em um aplicativo de mensagens sobre um plano para matar o então presidente eleito, Lula (PT), o vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Superior Tribunal Federal). Documento juntado aos autos pela PF descreve a possibilidade de envenenamento para assassinar o petista. Segundo as investigações que respaldaram o aval de Moraes à operação, os suspeitos se conectavam pelo aplicativo Signal em um grupo nomeado Copa 2022. Cada um utilizava como codinome o nome de um país (Alemanha, Áustria, Brasil, Argentina, Japão e Gana), de forma a não serem identificados. Copa 2022 também é o nome de um documento que o suspeito Rafael Martins Oliveira enviou por WhatsApp ao também militar Mauro Cid, na época ajudante de ordens de Bolsonaro. Já em um HD externo vinculado a Mário Fernandes, general que atuou no gabinete do deputado federal Eduardo Pazuello (PL), foi encontrado um documento de Word que, segundo a PF, continha "um verdadeiro planejamento com características terroristas, no qual constam descritos todos os dados necessários para a execução de uma operação de alto risco". "O documento, descrito pela Polícia Federal, traz em formato de tópicos o planejamento de uma operação clandestina, com demandas de reconhecimento operacional a serem realizadas, demandas para preparação e condução da ação, com indicação dos recursos necessários, demandas de pessoal a ser utilizado e condições de execução", informa Moraes em sua decisão. Entre os itens necessários para a operação estavam seis celular descartáveis com chip da TIM. A ação, de acordo com a decisão do ministro do STF, de fato empregou seis celulares com chips da TIM, todos habilitados em nomes de terceiros e associados a países para a "anonimização da ação criminosa". Ainda que o plano principal, citado na decisão de Moraes, fosse seu próprio assassinato, documento juntado aos autos pela Polícia Federal indica a possibilidade de ações para o assassinato de Lula e Alckmin, "com o objetivo de extinguir a chapa presidencial vencedora do pleito de 2022". Os suspeitos utilizavam o codinome Jeca que, de acordo com os investigadores, fazia alusão a Lula, enquanto Alckmin era chamado de Joca. "O texto cita que ‘sua neutralização abalaria toda a chapa vencedora, colocando-a, dependendo da interpretação da Lei Eleitoral, ou da manobra conduzida pelos 3 Poderes, sob a tutela principal do PSDB’", diz a denúncia da PF. PSDB é o antigo partido de Alckmin. "Para execução do presidente Lula, o documento descreve, considerando sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais, a possibilidade de utilização de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico", continua o texto, citando que os militares consideravam "neutralizar" também Alckmin para "extinguir a chapa vencedora". A decisão de Moraes cita ainda um quarto alvo, chamado de Juca, citado como "iminência parda do 01 e das lideranças do futuro gov", de modo que sua neutralização desarticularia os planos da "esquerda mais radical". Mas a Polícia Federal não conseguiu elementos para precisar quem seria o alvo. O agente de Polícia Federal Wladimir Matos Soares, também alvo de mandado de prisão, é citado na denúncia como suspeito de ter praticado conduta que, em tese, relaciona-se com a segurança de Lula, auxiliando no planejamento operacional do plano de assassinato. [caption id="attachment_16541" align="alignnone" width="300"] Capa da Folha de São Paulo Digital do dia dia 19 de novembro de 2024, às 11:34[/caption] O Correio Brasiliense informa que em um HD externo vinculado a Mário Fernandes, general que atuou no gabinete do deputado federal Eduardo Pazuello (PL), foi encontrado um documento de Word que, segundo a PF, continha "um verdadeiro planejamento com características terroristas, no qual constam descritos todos os dados necessários para a execução de uma operação de alto risco". "O documento, descrito pela Polícia Federal, traz em formato de tópicos o planejamento de uma operação clandestina, com demandas de reconhecimento operacional a serem realizadas, demandas para preparação e condução da ação, com indicação dos recursos necessários, demandas de pessoal a ser utilizado e condições de execução", informa Moraes em sua decisão. Entre os itens necessários para a operação estavam seis celular descartáveis com chip da TIM. A ação, de acordo com a decisão do ministro do STF, de fato empregou seis celulares com chips da TIM, todos habilitados em nomes de terceiros e associados a países para a "anonimização da ação criminosa". Ainda que o plano principal, citado na decisão de Moraes, fosse seu próprio assassinato, documento juntado aos autos pela Polícia Federal indica a possibilidade de ações para o assassinato de Lula e Alckmin, "com o objetivo de extinguir a chapa presidencial vencedora do pleito de 2022". Os suspeitos utilizavam o codinome Jeca que, de acordo com os investigadores, fazia alusão a Lula, enquanto Alckmin era chamado de Joca. "O texto cita que ‘sua neutralização abalaria toda a chapa vencedora, colocando-a, dependendo da interpretação da Lei Eleitoral, ou da manobra conduzida pelos 3 Poderes, sob a tutela principal do PSDB’", diz a denúncia da PF. PSDB é o antigo partido de Alckmin. "Para execução do presidente Lula, o documento descreve, considerando sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais, a possibilidade de utilização de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico", continua o texto, citando que os militares consideravam "neutralizar" também Alckmin para "extinguir a chapa vencedora". A decisão de Moraes cita ainda um quarto alvo, chamado de Juca, citado como "iminência parda do 01 e das lideranças do futuro gov", de modo que sua neutralização desarticularia os planos da "esquerda mais radical". Mas a Polícia Federal não conseguiu elementos para precisar quem seria o alvo. [caption id="attachment_16542" align="alignnone" width="300"] Página do Correio Brasiliense digital em 19 de novembro de 2024, às 12:00[/caption] O agente de Polícia Federal Wladimir Matos Soares, também alvo de mandado de prisão, é citado na denúncia como suspeito de ter praticado conduta que, em tese, relaciona-se com a segurança de Lula, auxiliando no planejamento operacional do plano de assassinato.  Entre as ações, estaria a ida até Brasília de militares de batalhões do Exército de Goiânia e do Rio de Janeiro. "Após a reunião, no dia 14 de novembro de 2022, o Major Rafael Martis de Oliveira (‘Joe’), pergunta para Mauro Cid se haveria alguma novidade, possivelmente se referindo ao assunto tratado na reunião ocorrida no dia 12/11/2022. Diz: ‘Alguma novidade??’. Mauro Cid responde: ‘Eu que pergunto’. Joe diz: ‘Vibração máxima! Recurso zero!!’. Na sequência, Mauro Cid pergunta: ‘Qual a estimativa de gastos? Falei pra deixar comigo.’ Joe diz que vai ligar para Mauro Cid. No entanto, Mauro Cid insiste para que Joe informe uma estimativa de gastos relacionados a hotel, alimentação, material. E sugere a quantia de ‘100 mil’. Diz: ‘Só uma estimativa com hotel. Alimentação. Material. 100 mil?’, destaca um trecho do relatório da investigação. "Major Rafael Martins de Oliveira diz: ‘Ok!! Entorno disso. Vou te mandar’. Pelo que se infere, a troca de mensagens entre Mauro Cid e o Major Rafael Martins evidencia a existência de um planejamento, o qual necessitaria de ‘hotel’, ‘alimentação’ e ‘material’, com custo estimados em R$ 100.000,00 (cem mil reais). Além disso, os interlocutores indicam que estariam arregimentando mais pessoas do Rio de janeiro para apoiar a execução dos atos", completa o documento. O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, prestará depoimento à Polícia Federal na tarde de hoje, em Brasília, de acordo com fontes ouvidas na corporação pelo Correio. Os investigadores querem saber se ele mentiu e descumpriu termos do acordo de delação premiada. Com informações de O Globo, Folha de São Paulo e Correio Brasiliense Foto da capa: Bolsonaro e Braga Netto - Reprodução/Evaristo Sa/AFP

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Golpistas do 8 de Janeiro monitoravam segurança de Lula e planejavam raptar presidente, revela o Estadão

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Golpistas do 8 de Janeiro monitoravam segurança de Lula e planejavam raptar presidente, revela o Estadão
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Por RAYANDERSON GUERRA*, no ESTADÃO** A Polícia Federal recuperou arquivos eletrônicos apagados do celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro (PL), que revelam o levantamento dos nomes, das rotinas e do armamento usado pelos responsáveis pela segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo o portal UOL. As evidências e provas da tentativa de golpe que acarretaram no ataque do 8 de Janeiro, escondidas nas nuvens da internet, foram restauradas com a utilização de um software israelense, como adiantou a colunista do Estadão Eliane Cantanhêde. O conteúdo das mensagens revela ainda que os seguranças do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), também foram monitorados. De acordo com o UOL, o planejamento do golpe de Estado previa a abordagem e captura de Lula e de Moraes pelos golpistas. O grupo se preparava para a eventualidade de um confronto armado com os seguranças do presidente e do ministro. Após as novas descobertas, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, deu mais 60 dias para as investigações da PF, que depois serão analisadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e devem parar no Supremo em 2025.   O ex-ajudante de ordens do ex-presidente da República tenente-coronel Mauro Cid ao deixar presídio Foto: Wilton Junior/Estadão Inquérito ‘em via de conclusão’ De acordo com a PGR, a investigação sobre a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro em um plano de golpe para se manter no poder “encontra-se em via de conclusão”. A informação está em parecer enviado ao STF. Agora, a PGR deverá aguardar os novos desdobramentos dos conteúdos encontrados no celular de Cid para levar o caso adiante. Até o momento, há dois indícios que complicam a situação de Bolsonaro. O primeiro é um áudio enviado por Mauro Cid que sugere que o ex-presidente ajudou a redigir e editar uma minuta de golpe. O segundo é o depoimento do general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, que atribui a Bolsonaro a articulação de reuniões com comandantes das Forças Armadas para discutir “hipóteses de utilização de institutos jurídicos como GLO (Garantia da Lei e da Ordem), estado de defesa e sítio em relação ao processo eleitoral”. O ex-presidente foi intimado, mas ficou em silêncio no depoimento. A PF marcou audiências simultâneas, para evitar a combinação de versões e pegar eventuais contradições nas respostas. Quando a força-tarefa de delegados ficou frente a frente com os investigados, 15 deles decidiram não responder às perguntas. *Rayanderson Guerra é jornalista **Notícia originalmente publicada no site do Estadão no dia 08/11/2024 Foto da capa: O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens - Imagem: Dida Sampaio/Estadão Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Entrevista: Boulos paga o preço da ‘esquerda legal’ que discute gênero e raça e deixou pobres na direita, diz Jessé Souza

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Entrevista: Boulos paga o preço da ‘esquerda legal’ que discute gênero e raça e deixou pobres na direita, diz Jessé Souza
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Crítico do protagonismo das pautas identitárias, sociólogo diz que campo progressista terá que lutar para reconquistar o eleitor pobre, que se sente valorizado pelo bolsonarismo Por EDUARDO GRAÇA no O Globo A entrevista com o sociólogo Jessé Souza, publicada pelo O GLOBO, traz uma análise crítica sobre o papel da esquerda nas eleições municipais e o crescimento do "pobre de direita". Jessé, conhecido por suas obras como "A Elite do Atraso" e "A Ralé Brasileira", destaca que os mais pobres foram seduzidos pela narrativa neoliberal e religiosa das igrejas evangélicas e pela "Teologia da Prosperidade", que oferece aos indivíduos uma esperança de ascensão pessoal, ao invés de discutir as questões estruturais da desigualdade. Ele critica a esquerda por não conseguir se comunicar com esse eleitorado, deixando de disputar o campo político e social nas periferias, principalmente em áreas com forte presença evangélica. Para Jessé, essa inação deixou um vácuo que foi preenchido pela direita, que construiu uma relação de identificação e pertencimento com os eleitores mais pobres, em particular nas regiões Sul e Sudeste. Segundo ele, o bolsonarismo e, mais recentemente, figuras como Pablo Marçal, capitalizam o ressentimento, a raiva e a busca por reconhecimento social de uma massa de eleitores que antes se sentia desvalorizada. Além disso, o sociólogo identifica um erro na priorização das pautas identitárias pela esquerda. Embora sejam fundamentais, ele argumenta que essas discussões não são suficientes para reconquistar os eleitores pobres, que se sentem desamparados diante da desigualdade material e da falta de políticas públicas eficazes que toquem diretamente suas vidas. Jessé sugere que a esquerda deveria aprender com Getúlio Vargas, que validou as classes trabalhadoras e criou um senso de pertencimento, algo que a direita tem feito, mesmo de maneira distorcida. Ele conclui que, se a esquerda não voltar a disputar o voto dos pobres, explicando de forma clara as injustiças sociais e estruturais, corre o risco de perder relevância, assim como aconteceu com o PSDB. O sociólogo enfatiza que o eleitorado pobre não se mobiliza apenas por questões econômicas, mas também por uma necessidade de valorização moral e social, algo que a direita tem conseguido oferecer, enquanto a esquerda fica restrita a um discurso "legal" e desconectado das reais angústias das classes populares. Leia, abaixo, a íntegra da matéria de O Globo. Em “O pobre de direita — a vingança dos bastardos”, o sociólogo Jessé Souza, 64 anos, autor de, entre outros, “A elite do atraso”, “A ralé brasileira” e “A classe média no espelho”, defende ser impossível entender o apelo do bolsonarismo aos menos privilegiados sem levar em conta dois fatores: de um lado, o racismo regional no país, com a enorme identificação “dos pobres brancos do sul e de São Paulo” com o ex-presidente Jair Bolsonaro; de outro, a inação da esquerda, “que nem mais tenta disputar áreas periféricas com grande presença das igrejas evangélicas”. Eleições 2024: Número de prefeituras da esquerda despenca em 12 anos e desafia partidos Prévias da direita: Governadores a herdeiros de Bolsonaro testam seus cacifes no segundo turno Voz destacada da esquerda na academia e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no governo Dilma Rousseff (PT), Souza critica o protagonismo dado pelos partidos de esquerda às pautas identitárias. Para o professor da Universidade Federal do ABC, este foi um “erro completo” e uma das razões pelas quais Guilherme Boulos (PSOL) teve muito menos votos no domingo do que a soma do prefeito Ricardo Nunes (MDB), dono da máquina municipal, e de Pablo Marçal (PRTB), em franjas da cidade nas zonas Sul (Paralheiros, Grajaú), Norte (Brasilândia, Lauzane Paulista), Leste (Sapopemba e Vila Prudente) e até Oeste (Lapa). Veja a seguir os principais trechos da entrevista com o GLOBO: Nunes e Marçal chegaram na frente em áreas periféricas nas zonas Sul, Norte e Leste em São Paulo. Foi o voto do “pobre de direita”? Sem dúvida. Passamos por um processo de idiotização das pessoas e de inação dos que deveriam fazer um trabalho de base de qualidade. Quando comecei a entrevistar, para o livro, há alguns anos, pessoas das periferias de São Paulo, me desesperei. O quadro já era o de “tá dominado” pela Teologia da Prosperidade, neoliberal e reacionária. O Datafolha mostra que 84% dos eleitores de Marçal devem migrar para Nunes no segundo turno. O quão ideológico é esse voto? O pastor evangélico é uma espécie de coach e Marçal escancarou a faceta neoliberal do neopentecostalismo, com a ética da prosperidade e o culto vazio à capacidade do indivíduo. A esquerda até pode reconquistar esse eleitor, mas, para isso, precisará mostrar a ele que as limitações estruturais do empreendedorismo popular estão ligadas à retenção do capital na Faria Lima. Marçal é um “Coringa” (referência ao personagem dos quadrinhos), mimetiza os anseios do pobre remediado que sonha com o apagamento mágico, por ele prometido, da pobreza. É um “político Bets”, que soube interpretar anseios dos pobres de direita. Esses eleitores identificaram nele a raiva e o ressentimento, mesmo sem que lhes fosse dada explicação alguma sobre as razões dessa injustiça social. Candidatos similares a Marçal se multiplicarão? Marçal se tornou referência nacional e me chamou atenção a irmandade de sua visão de mundo com a da Faria Lima, uma aliança extremamente perigosa ao unir muito dinheiro a muita penetração popular. Ele será a cara do Brasil em um futuro próximo se nada for feito institucionalmente para garantir o cumprimento das regras democráticas. Marçal precisa ser considerado inelegível após o que fez. Isso não evitará que outros candidatos sigam sua cartilha, mas eles precisarão serem mais cuidadosos, menos ameaçadores. E, com sorte, comunicadores com menos domínio do público. A esquerda foi incapaz de conversar com o “pobre de direita” nas eleições municipais? Foi. A esquerda errou, e muito. Não procurou, com louváveis exceções, conquistar os corações e as mentes dos mais pobres. Se você não apresenta nada minimamente organizado e sequer tenta ir às periferias urbanas e rurais, o trabalho das igrejas evangélicas, marcado pelo anti-esquerdismo, ganha sentido político ainda mais explícito. No vazio que foi criado pela falta de mobilização e disputa de narrativas, a esquerda perdeu campo. Não estou otimista, creio que isso se aprofundará mais. Nesse sentido, o senhor escreve que se criou um eleitorado cativo entre os pobres que, apesar de não conseguirem nenhuma mudança econômica prática com seu voto, vivem a violência da extrema direita como expressão de suas angústias e ressentimentos… A chave, para a direita, é a de fazer com que o pobre se acredite valorizado, respeitado, quando antes era permanentemente humilhado, vinte e quatro horas por dia. Muitas vezes, literalmente, sem nem o nome do pai na certidão de nascimento. Ele aceita assim como possibilidade de salvação ser celebrado e reconhecido por ser honesto, “de bem”, poder vencer por conta própria. No balanço, é uma reação muito mais moral do que econômica, ainda que passe pelo material. As igrejas evangélicas ofereceram a doutrina, montaram a solidariedade interna e a base social para se enfrentar a injustiça social. Porém, e aí está a chave para a esquerda, repito: jamais é objeto de discussão os porquês da injustiça. A meritocracia dos coaches responde que é culpa de sua própria incompetência… Como se viu com Marçal. Uma explicação que não é real, mas de fácil entendimento. Em nenhum estrato sócio-econômico a meritocracia é tão entranhada quanto entre os mais pobres. A aposta na direita passa pela aceitação da culpabilidade da vítima. Esquece-se a falta de acesso à Educação e à Saúde, e, tão ou mais importante, a herança da escravização. O senhor identifica componente racial regional no voto do pobre de direita, que teria sido fértil para o bolsonarismo… O pobre de direita de São Paulo ao Rio Grande do Sul vê no ex-presidente Jair Bolsonaro um semelhante. Nestes estados, a maioria das pessoas se identifica como branca. Já no restante do país, com maioria de pobres mestiços e pretos, a identificação não é tão direta. Bolsonaro consegue expressar o sentimento social do branco que trabalha duro e crê estar bancando o outro pobre, o do norte, o menos branco, com assistencialismo, com o Bolsa Família. No caso dos pobres de direita negros e evangélicos do Sudeste e do Sul, há o imenso desejo de embranquecer. Sem exceção, nas entrevistas com os pobres de direita, me deparei com o racismo entranhado. Eu, que sou potiguar, ouvi seguidamente que “nordestino é preguiçoso”. Bolsonaro é traduzido no livro como a expressão atual deste pobre de direita. Mas o avanço de Marçal não sinaliza fratura no bolsonarismo neste estrato? Não. O racismo reprimido seguirá guiando este voto para o bolsonarismo, com sua arminha voltada para o jovem preto, a partir da pauta da segurança, tão cara a esses eleitores. Os pobres são os que mais sofrem com os preconceitos que a elite criou para oprimi-los. Ele acredita que é um incapaz. E aí ou ele usa essa "faca envenenada” nele mesmo ou no “outro pobre”. Esse “outro pobre” é o maconheiro, o macumbeiro, o LGBTQUIA+, o nordestino, o que vota no PT, o bandido, cabe tudo naquele que é percebido como transgressor. O lulismo ainda consegue tocar o eleitorado pobre acima de São Paulo, mais mestiço, que foi crucial para derrotar Bolsonaro em 2022. Mas esse voto passa por um processo de criminalização. De que modo? Esse eleitor sofre, desde a Lava-Jato, com a pecha de ser cúmplice da corrupção. E o pobre prefere morrer a ser corrupto. O voto na esquerda teria sido uma burrice, mais uma prova da incapacidade do andar de baixo. Isso está entranhado em muitos pobres de direita hoje. O senhor critica o protagonismo das pautas ditas identitárias pela esquerda. Isso a teria distanciado ainda mais dos eleitores mais pobres? Sim. Foi um erro completo. E Boulos está pagando o preço desse equívoco agora em São Paulo. Não basta essa esquerda “legal”, que discute gênero e raça. Ainda importa contar ao eleitor por que um cidadão ganha R$ 100 mil enquanto outro R$ 100, porque há pessoas tão diferentemente aparelhadas para a competição social, para além das diferenças de gênero e raça. Se não perceber isso logo, a esquerda deixar este pobre na direita. O identitarismo ecoa na classe média e na elite, não no pobre, jogado na lata de lixo pelo preconceito racial e agora vítima de racismo cultural. Não se ganha eleição no Brasil sem o voto da maioria pobre e a esquerda precisa pelo menos tentar voltar a disputar este voto. Sei que vou levar cacetada, mas está na hora de o PT aprender com Getúlio Vargas. O senhor defende um encontro do PT com o varguismo? Sim. Validar esse pobre é importante. É o que Getúlio fez, inclusive do ponto de vista racial. Para redimir o humilhado, é preciso celebrar suas virtudes, afirmar que eles não são lixo, o que a direita faz hoje, ainda que de modo enviesado. O PT nasceu dando de ombros para a herança getulista, opondo o sindicato livre ao peleguismo trabalhista. Tudo bem. Mas, sendo simplista, PT e PSDB são mais parecidos do que imaginamos, nascidos de braços diversos da mesma elite paulista com pendores social-democratas. Quem ofereceu a face popular ao PT foi o Lula. Depois dele, o PT pode estar destinado à mesma — pouca — relevância do PSDB hoje. A não ser que volte a conversar com os pobres. E não só pela ótica econômica. Como assim? É ilusão o governo Lula achar que as pessoas irão espontaneamente, em 2024, identificar no aumento real do salário-mínimo um projeto do PT. Não é assim que funciona a cabeça humana na sociedade contemporânea, e muito menos a transmissão de ideias e de informação. A esquerda precisa fazer o que fiz ao escrever este livro: ir à periferia e se desesperar. O Bolsa Família foi importantíssimo, mas a esquerda não ofereceu o escape da humilhação que é estar na posição de delinquente no mundo de hoje. O pobre que ganha R$ 4 mil criminaliza o “nordestino miserável que mama no Bolsa Família” e crê de fato que o sustenta. Friso, só há um jeito de se sair da armadilha do pobre de direita e disputar de verdade seu voto: explicar a ele as razões das injustiças sociais e de sua escolha momentânea equivocada por um moralismo repressor. Artigo publicado originalmente em O Globo. Foto da capa: Fórum Nacional/INAE- Instituto de Altos Estudos Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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