Da REDAÇÃO DA RED
Nesta segunda-feira (9), começaram no Supremo Tribunal Federal (STF) os aguardados depoimentos do chamado “núcleo 1” da tentativa golpista de 8 de janeiro de 2023. Os interrogatórios, conduzidos pelo ministro Alexandre de Moraes, iniciaram-se com o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem.
Mauro Cid: colaboração premiada e cautela
Mauro Cid, um dos mais próximos auxiliares de Jair Bolsonaro durante sua presidência, iniciou o depoimento confirmando sua colaboração premiada, mas negando participação direta na tentativa de golpe. Cid afirmou ter conhecimento de reuniões realizadas entre militares próximos ao ex-presidente, mas reforçou que Bolsonaro “não participou nem incentivou tais atos”. Sob forte pressão do ministro Moraes, Cid admitiu contatos com oficiais militares e disse que sua atuação foi apenas no âmbito de suas funções oficiais, negando conspirações ou ações clandestinas.
Interrogatório dos réus da Ação Penal (AP) 2668 – Mauro Cezar Barbosa Cid e Adv. Cezar Roberto Bittenourt – Foto: Ton Molina/STF
Cid também esclareceu o conteúdo da minuta apreendida pela Polícia Federal, que previa a decretação de Estado de Defesa e intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Afirmou que o documento foi “apenas uma hipótese” discutida internamente e nunca implementada, destacando que nunca teve intenção ou poder para executá-la.
A estratégia da defesa de Cid concentrou-se em enfatizar a colaboração premiada como demonstração de sua disposição em esclarecer os fatos e em minimizar o alcance das ações atribuídas a ele, argumentando falta de provas concretas de participação ativa ou criminosa nos eventos de 8 de janeiro.
Alexandre Ramagem: liberdade de expressão e ausência de dolo
O deputado federal Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin, seguiu uma linha de defesa centrada na liberdade de expressão e na desqualificação das acusações de espionagem e conspiração. Ramagem negou veementemente qualquer atuação contra ministros do STF, descrevendo tais acusações como “ficção narrativa sem base factual”.
Interrogatório dos réus da Ação Penal (AP) 2668 – Alexandre Ramagem Rodrigues e Adv. Renato Garcia Silva Pinto – Foto: Fellipe Sampaio/STF
Ramagem reconheceu a autoria de documentos críticos ao sistema eleitoral brasileiro, mas destacou que eram apenas avaliações técnicas internas, desprovidas de qualquer poder decisório ou influência real sobre o governo Bolsonaro. Ao ser confrontado com as acusações de espionagem contra ministros, o ex-diretor da Abin insistiu que qualquer atividade de inteligência durante seu período no comando da agência respeitou integralmente a legislação vigente.
Sua defesa insistiu na tese de que as acusações contra ele representam uma “criminalização indevida” da liberdade de expressão e de atividades legítimas de inteligência estatal, pedindo reiteradamente que Moraes restringisse o interrogatório a fatos específicos descritos na denúncia.
Clima tenso e estratégias comuns das defesas
Ambos os depoimentos ocorreram em um clima de evidente tensão entre os advogados e o ministro Alexandre de Moraes. Moraes rechaçou repetidas tentativas das defesas de limitar o alcance dos interrogatórios e afirmou que todas as provas produzidas durante a investigação são válidas para fundamentar as perguntas.
A principal estratégia comum das defesas dos réus foi tentar demonstrar que seus clientes foram envolvidos em uma narrativa excessiva, não comprovada por evidências concretas. A defesa insistiu na tese de que haveria cerceamento no acesso integral às provas e pediu, sem sucesso, a suspensão das oitivas.
Próximos depoimentos
Os interrogatórios continuam nesta terça-feira (10), com os depoimentos dos ex-ministros Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) e Almir Garnier Santos (comandante da Marinha). Na quarta-feira (11), será a vez de Augusto Heleno (ex-ministro do GSI) e Walter Braga Netto (ex-ministro da Defesa e Casa Civil). O ex-presidente Jair Bolsonaro encerrará a rodada de depoimentos na quinta-feira (12).
A Rede Estação Democracia acompanha os depoimentos em tempo real, com cobertura completa, análises e comentários. Assista aqui à transmissão ao vivo.
Foto da capa: Interrogatórios dos réus da Ação Penal (Ap) 2668 – Crédito: Fellipe Sampaio/STF