Bolsonaro pede arrego, mas faz proselitismo, Heleno nega-se a responder e os demais depoentes desconversam – Atualizado

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Interrogatórios dos réus da Ação Penal (AP) 2668 - 10/06/2025
Interrogatórios dos réus da Ação Penal (AP) 2668

Foto: Antonio Augusto/STF

Da REDAÇÃO DA RED

Bem treinado por seus advogados, Bolsonaro comportou-se “exemplarmente” durante o depoimento de hoje, no STF. Com fala mansa e desculpando-se em diversos momentos, demonstrou-se respeitoso e educado, quase humilde, e admitiu que algumas de suas manifestações anteriores foram equivocadas.

Pediu desculpas diretamente ao ministro Alexandre de Moraes pelas críticas feitas e reconheceu que fez acusações sem provas aos ministros do STF.

Cauteloso, disse que pode ter exagerado nas críticas que fez às urnas eletrônicas e reforçou que “todos têm o direito de ter dúvidas”.

Sem ser inquirido sobre o fato, disse que não compareceu à transmissão do cargo ao presidente Lula para não ser vaiado: “Eu não ia me submeter à maior vaia da história do Brasil”.

Sobre a minuta do golpe, reafirmou que “sempre agiu dentro das quatro-linhas da Constituição”, que nunca teve acesso a nenhum documento que afrontasse a institucionalidade democrática e que “nunca foi cogitada essa hipótese de golpe no meu governo”.

Admitiu, entretanto, que “nós estudamos possibilidades outras dentro da Constituição, ou seja, jamais saindo das quatro linhas”. Declarou, ainda, que tratou com auxiliares a possibilidade de adotar instrumentos como o Estado de Sítio ou a chamada Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que mostrou a minuta (do golpe) ao comandante do Exército, mas garantiu que as medidas foram descartadas porque não havia “clima”, “oportunidade” e “base minimamente sólida para qualquer coisa” (golpe).

Interrogado pelo Procurador Geral da República, atribuiu as ameaças que fez aos ministros do STF a seu “temperamento explosivo”. Disse que tem melhorado seu linguajar, mas que está “longe, ainda, de atingir um grau civilizado”.

Em contraste com seu comportamento contido, sempre que pode, criticou seus adversários e, quase abertamente, fez proselitismo político, tentanto atenuar seus recuos e conservar a a sua base eleitoral.

Mais do que respeitoso, Bolsonaro revelou-se medroso diante de seus inquiridores.


Trechos do depoimento de Jair Bolsonaro chamaram atenção pela tentativa de se desvincular de responsabilidades: “Nunca estimulei ninguém a invadir prédio público. Isso nunca partiu de mim”, disse Bolsonaro, referindo-se ao 8 de janeiro. Em outro momento, afirmou: “Eu sou uma pessoa que tem pavio curto. Mas, mesmo assim, nunca incentivei qualquer atitude fora da legalidade.”

Sobre o documento encontrado na casa de Anderson Torres, reiterou: “Não tomei conhecimento daquela minuta. Nunca chegou até mim. Soube disso pela imprensa.” E, ao ser confrontado com declarações de Mauro Cid sobre reuniões estratégicas, respondeu: “O Cid era um auxiliar. A visão dele não representa a minha conduta.”

Em outro momento do depoimento, Bolsonaro admitiu que, após o resultado da eleição, seu entorno mais próximo estudava “possibilidades jurídicas” para contestar o resultado. “O que se buscava ali era o que poderia ser feito dentro das quatro linhas da Constituição”, disse. No entanto, voltou a negar qualquer plano concreto de golpe.

Questionado se considerava que houve fraude nas eleições, respondeu: “Eu tinha dúvidas, ministro. Mas hoje sei que não houve provas. Me excedi, talvez, e por isso estou aqui.”

Disse ainda: “Fui infeliz em algumas palavras. Fiz críticas que não se sustentavam.” Ao ser lembrado de que chegou a dizer que Alexandre de Moraes jogava fora das quatro linhas, pediu desculpas ao ministro.


Procurador Geral da República Paulo Gonet e Ministro do STF Alexandre de Moraes – Crédito: Antônio Augusto/STF

Resenha dos depoimentos do dia 10/06/2025

Na terça-feira (10), também prestaram depoimento os demais integrantes do núcleo militar citados na Ação Penas 2668, da tentativa de golpe militar, os ex-ministros Paulo Sérgio Nogueira, Almir Garnier Santos, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Braga Neto.

Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, seguiu estratégia cautelosa. Afirmou que não participou de reuniões com teor golpista, negou ter pressionado comandantes militares a aderirem a qualquer plano ilegal e reafirmou que sua atuação como ministro esteve limitada às “atribuições legais da pasta”. Indagado sobre sua participação em encontros no Palácio da Alvorada e no Ministério da Defesa nos dias que antecederam o 8 de janeiro, desconversou, dizendo não se recordar do conteúdo debatido. Também minimizou o impacto da “minuta do golpe”, afirmando que não teve conhecimento direto do documento.

Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha, adotou postura mais direta, mas igualmente evasiva. Disse que não ofereceu apoio militar a qualquer tentativa de ruptura institucional. Quando confrontado com declarações de outros depoentes que o citam como um dos principais articuladores das tratativas com setores das Forças Armadas, negou enfaticamente. Declarou que “jamais houve disposição da Marinha para participar de qualquer ilegalidade” e que os encontros com Jair Bolsonaro foram “estritamente protocolares”.

Augusto Heleno, ex-ministro do GSI, compareceu ao STF, mas exerceu seu direito constitucional ao silêncio. Durante a sessão, recusou-se a responder às perguntas do ministro Alexandre de Moraes e do Procurador-Geral da República, limitando-se a responder apenas aos questionamentos feitos por seu advogado. A estratégia, visivelmente articulada com sua defesa, visou evitar qualquer exposição a contradições ou a revelações comprometedores.

Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, afirmou ao STF que alertou Bolsonaro sobre a gravidade de adotar medidas como estado de defesa ou estado de sítio. Segundo ele, tratava-se de “assunto de enorme gravidade”, e ele deixou claro ao então presidente que tais atos teriam “consequências severas para a democracia”. Nogueira também disse que, quando soube da existência da chamada “minuta do golpe”, teria feito uma advertência ao presidente: “Aquilo era um absurdo”. Apesar disso, negou ter presenciado qualquer reunião para planejar ações contra o resultado das eleições. Disse que, dentro do Ministério da Defesa, nunca houve discussão sobre medidas de exceção ou ruptura institucional.

Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, que depôs da prisão, por vídeo-conferência, minimizou a existência de articulações golpistas. Afirmou que “nunca participou de reunião que tivesse por objetivo discutir estado de sítio ou golpe de Estado” e declarou que a minuta era “inócua” e que “nunca foi levada a sério por ninguém”. Braga Netto disse que sempre agiu dentro da legalidade e que a proposta nunca foi formalizada. “Nunca ouvi o presidente Bolsonaro dar qualquer ordem nesse sentido”, afirmou. Além disso, afirmou que as mensagens de conteúdo golpista encontradas em seu celular foram retiradas de contexto e negou que algumas delas fossem de sua autoria, chegando a afirmar que muitas vezes copiava, colava e repassava mensagens que recebia de terceiros.


A tônica dos depoimentos foi a mesma para todos os depoentes: recuos, contradições disfarçadas de esquecimentos e negação da existência de um plano golpista, mesmo diante de farta documentação colhida pela Polícia Federal e pelas delações anteriores.


Um aspecto que chamou atenção ao longo dos dois primeiros dias dos depoimentos foi o tom de algumas perguntas feitas pelo ministro Luiz Fux, que, segundo observadores, se assemelhavam mais às perguntas dos advogados de defesa dos depoentes do que a uma busca por esclarecimentos. Nas redes sociais, bolsonaristas elogiaram a postura do ministro.


Veja a galeria de fotos dos depoimentos diretamente no site do STF.


Fotos da capa e do corpo da matéria: Interrogatórios dos réus da Ação Penal (AP) 2668 – 10/06/2025 – Foto: Antonio Augusto/STF

Para acompanhar os depoimentos, acesse: STF houve hoje generais envolvidos na trama golpista de Bolsonaro

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