Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Quem imaginava sessões tensas nos depoimentos dos réus do “núcleo crucial” da tentativa de golpe, até agora se enganou. O relator da ação penal, Alexandre de Moraes, que conduz os inquéritos, tem usado um tom cordial e dado aos réus a chance de falar sem interrupção. E nenhuma das testemunhas, da mesma forma, adotou qualquer viés desrespeitoso. Inclusive, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que depôs na tarde de terça-feira (10). Nesse sentido, chamou a atenção que Moraes tenha permitido que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de Ordens da Bolsonaro, tenha procurado amenizar as coisas que viu e de que participou, chegando a dizer que achava mais semelhante a “conversa de bar” do que uma trama golpista.
Pouco importa
Para um advogado que acompanha o julgamento de perto, isso importa pouco. “Mauro Cid foi suave na forma e duro no conteúdo”, comentou o advogado ao Correio Político. O que importa é que Mauro Cid confirmou no seu depoimento tudo o que dissera na delação.
Denúncia
Se tudo o que Mauro Cid disse e que serviu de base para as investigações feitas pela Polícia Federal e se tudo isso depois amparou a denúncia feita pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, esse é o ponto: tudo o que sustenta a acusação por enquanto se confirma.
Consequências “para todos, inclusive para ele próprio”
Moraes: condução tranquila do inquérito | Foto: Antonio Augusto/STF
Na avaliação desse advogado, Mauro Cid preparou um testemunho “cuidadoso, bem preparado e com consequências”. E completa: “Consequências para todos, inclusive para ele próprio”. Para todos, especialmente para o general Walter Braga Netto, que ele aponta de fato como o núcleo de tudo o que foi discutido, e para Jair Bolsonaro. O general candidato a vice de Bolsonaro é apontado por Mauro Cid como o núcleo mesmo da trama, fazendo contatos com os militantes, para quem, inclusive, repassou dinheiro. E Bolsonaro porque ele afirma que ele, de fato, tomou conhecimento das coisas, especialmente a chamada “minuta do golpe”.
Celular
“Para ele” é uma pergunta na qual Vilardi questiona se ele em algum dos momentos em que esteve preso usou aparelho celular e perfil nas redes sociais de terceiros. E aponta para a hipótese do uso de um perfil da mulher de Cid, Gabriela. Vilardi teria essa informação.
Quebra
Esse pode ser um trunfo da defesa de Bolsonaro no futuro. Se isso aconteceu, Mauro Cid quebrou seu acordo com a Justiça. É possível que tenha sido assim que ele repassou comentários que depois foram parar numa reportagem de capa da revista Veja.
Bolsonaro
Bolsonaro depôs na tarde de terça. Respondeu de forma longa às perguntas. E acabou admitindo que passou pelas suas mãos, de fato, numa “tela”, segundo ele, a “minuta do golpe”. Ele nega ter feito modificações no texto, mas não nega que tenha discutido a proposta.
Heleno
Mesmo tomando o cuidado de só responder ao seu advogado, o general Augusto Heleno pode ter se complicado. Ele foi advertido várias vezes para responder de forma lacônica. Não fez isso. E disse coisas como: “Não havia oportunidade [de questionar as urnas eletrônicas]”.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa:Importaria pouco amenização de Cid | Ton Molina/STF