Da REDAÇÃO*
O professor Evandro Menezes de Carvalho, da FGV Direito Rio e coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China, participou de uma live promovida pelo Instituto Sul-americano para a Cooperação e Gestão Estratégica de Políticas Públicas. No encontro, ele compartilhou uma visão aprofundada sobre a governança chinesa, destacando seus aspectos culturais, históricos e políticos.
A China como “nação-família” e Estado étnico
Para Carvalho, compreender a China exige entender o país como uma “nação-família” ou “estado-família”, baseado majoritariamente na etnia Han, que representa cerca de 95% da população. Ele descreve a China como um “estado étnico” — ou uma “grande família Han” —, ainda que o discurso oficial seja de um estado multiétnico.
Governança com características socialistas
Evandro apresentou a política das “Duas Combinações”, que une o marxismo-leninismo à tradição cultural chinesa. No entanto, propôs inverter essa lógica: em vez de um “socialismo com características chinesas”, seria mais coerente pensar em uma governança chinesa com características socialistas, onde a cultura vem antes da ideologia.
A linha de massas: participação popular no governo
Um dos pilares do sistema político chinês, segundo Carvalho, é a “linha de massas”, um princípio maoísta essencial à governança. Trata-se de um ciclo participativo:
- O Estado escuta o povo;
- Leva as demandas ao Partido Comunista;
- Implementa soluções;
- Retorna à população para avaliar os resultados.
Contrastes entre Brasil e China
Ao comparar o Brasil com a China, o professor afirmou que, enquanto no país asiático a violência estatal contra o povo representa um alto custo político, no Brasil a elite atua como uma “força de ocupação” contra a própria população.
Segundo ele, a governança chinesa exige a confiança do povo, que é sustentada por meritocracia — como concursos públicos e exames para entrada no Partido — e pela entrega de resultados concretos.
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República Popular versus democracia ocidental
Carvalho destacou que a Constituição da China define o país como um Estado socialista sob ditadura popular. No entanto, ele alerta que o conceito de “ditadura”, nesse contexto, deve ser compreendido com sofisticação histórica e cultural, sem uma leitura literal.
O poder não é hereditário: meritocracia e disputa interna
Na China, não existe direito divino ou sucessão hereditária. Os principais cargos de poder são disputados politicamente, e não herdados por laços familiares — ao contrário de regimes autoritários clássicos.
Prestação de contas e soberania popular
Por fim, Carvalho ressaltou que o sistema exige prestação de contas à população. Órgãos como o Supremo Tribunal Popular e a Procuradoria Suprema Popular entregam relatórios anuais à Assembleia Popular Nacional, órgão legislativo soberano.
Conclusão
Evandro Menezes de Carvalho oferece uma leitura crítica e culturalmente contextualizada da governança chinesa, indo além das abordagens ocidentais tradicionais. Ao entender como o sistema político chinês opera a partir da cultura e da escuta popular, abre-se espaço para um debate mais sofisticado e menos ideológico sobre o papel da China no cenário global.
Foto de capa: Reprodução
Uma resposta
Excelente y concreto analisis