Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Embora por definição uma Comissão Parlamentar de Inquérito seja no Congresso um instrumento da minoria, em condições normais de temperatura e pressão o governo quase sempre a controla. É considerado um instrumento da minoria, porque não é necessário o apoio de mais da metade. Mas, depois, a composição é proporcional. Assim, um governo, quando tem base organizada, consegue mantê-la sob o controle. Mas esse é o ponto. Quando a base do governo não está organizada, a oposição consegue produzir um grande estrago. Há vários exemplos. O mais clássico a CPI do PC. O então presidente Fernando Collor não conseguiu evitar que ela produzisse uma apuração que foi tão forte que levou ao seu impeachment.
Covid
O mesmo aconteceu na CPI da Covid. A base do ex-presidente Jair Bolsonaro não teve a menor condição de evitar que a oposição conduzisse ali as investigações. Tentou em vão, por exemplo, incluir na apuração a compra de respiradores pelo Consórcio Nordeste.
Consórcio
Não porque não houvesse o que apurar. A história dos respiradores comprados e não entregues ainda hoje fustiga o ministro da Casa Civil, Rui Costa, que à época, no governo da Bahia, presidia o consórcio. Mas a oposição gritava e o comando da CPI fazia ouvidos moucos.
Governo agora irá conduzir a apuração?
Frei Chico: alvo que a oposição visa perseguir | Foto: Fundação Perseu Abramo
A oposição vislumbra agora reproduzir essa situação no segundo semestre quando for instalada a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que irá investigar as fraudes no INSS. Enquanto pôde, o governo tratou de evitar que a CPMI fosse instalada. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), ganhou o máximo de tempo. Mas, afinal, leu o pedido de instalação. Já no fim do primeiro semestre. Depois, no entanto, a história poderá ser outra. É no que aposta o líder da Oposição na Câmara, Luciano Zucco (PL-RS). “Essa será uma CPI diferente de todas as outras”, disse ele ao Correio Político. A diferença está nas vítimas: milhões de aposentados.
Mais simples
“É uma CPI que envolve o povo mais simples, mais vulnerável”, avalia Zucco. “Não adianta tentar abafar, porque essa CPI já está na boca do povo”. É nesse ponto que a oposição aposta no desgaste. Ela pode atingir o governo em uma das suas principais bases de apoio.
Chapa branca
Zucco faz um alerta: uma CPI “chapa branca”, feita para proteger culpados, será um erro irreparável. “Quem aceitar ser titular dessa CPMI tem que saber: o Brasil inteiro vai estar assistindo. Não pode haver blindagem. Não pode ter investigação seletiva”.
Irmão do Lula
Zucco já adianta um possível alvo político: o irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido como Frei Chico. Não há indicação de envolvimento dele, mas há do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindinap), do qual ele é diretor.
“Proteção”
“O sindicato do irmão do presidente Lula, o Sindinap, até agora, sequer foi incluído no escopo da investigação. Tem gente sendo protegida, sim”, diz Zucco. A oposição apresenta as suas armas. O Correio Político tentou falar com o lado do governo. Não conseguiu.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Zucco: tática de abalar base importante do governo |Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados