Por ADROALDO QUINTELA*
Oviedo, capital das Astúrias, em 28 de abril de 2025 Precisava comprar um par de bastões para dar início à peregrinação no Caminho Primitivo de Santiago.
Eram 10h00 da manhã. As lojas fecharam. Pequenos supermercados, também. Sinaleiras não funcionavam. Do nada, ressurgiram guardas de trânsito com apitos para disciplinar o vai-e-vem de veículos e pessoas.
No único supermercado aberto próximo à minha hospedagem, percebi diversas pessoas saindo com pacotes de água mineral de 1,5 litros e sacolas cheias.
Caiu a ficha. Houve um apagão na maior cidade das Astúrias? É costumeiro?
Resolvo entrar no mercado para comprar água, frutas, chocolate puro e barras de cereais para a caminhada no dia seguinte.
Felizmente o mercado tinha gerador para balanças e caixas. Todavia, os refrigeradores estavam desligados e havia controle para compra de lacticínios, carnes, embutidos e alimentos congelados.
Ouço duas amigas conversando. Fico atento ao bate-papo. O “black-out” atingiu a Espanha e Portugal. Não havia previsão de volta à normalidade.
Fiz as compras, paguei e retornei ao
o apart-hotel.
Na sequência zapeei a Internet para saber as causas e extensão do apagão. Ainda não existia previsão da retomada da energia.
Desci e voltei à rua. Encontrei alguns restaurantes abertos. Entrei no que achei mais simpático. Pedi o menu do dia. Ofereciam vinho branco resfriado. Maravilha!
Examino as mensagens no whatsapp. Minha amiga Mirian, residente em Madri, revelou-se preocupada comigo porque o trânsito no centro da cidade era caótico, na manhã e início da tarde.
Respondi que estava em Oviedo. A cidade domingou na segunda-feira, por conta do apagão.
Depois do almoço andei pelo centro, a fim de conhecer e fotografar os locais que mais apreciava. Poucas pessoas na rua e lojas fechadas. Não consegui comprar os bastões. Caraca!
Retornei ao apart-hotel às 19h30. Subi as escadas até o apartamento 213.
Retomei as pesquisas de notícias na Internet. Havia previsão do retorno da energia às 20h00. Mas ninguém (governo e empresa distribuidora de energia) prestava informações suficientes sobre as causas do extenso e demorado black-out na rede elétrica).
O telefone toca. Era Mirian informando que Madri estava iluminada. Respondi que a iluminação de Oviedo era proveniente da luz do sol primaveril, quando todas as luzes do apartamento acenderam. Acrescentei: “Eureka! Habemos energia em Oviedo”.
Acordei cedo na terça-feira para organizar a mochila e me preparar para o início do sonho: andar a pé com fé nos 319 km do duro, histórico e esplêndido Caminho Primitivo (o primeiro) até Santiago de Compostela. Mega desafio a ser trilhado e superado superado em 14 dias.
Ontem, 24 de maio, enquanto conversava ao telefone com minha comadre, veio ao lume o apagão em Madri.
Stella é engenheira e trabalhou no setor elétrico, inclusive na Aneel. Sabia que em 2011, escrevi um artigo comparando a Matriz Energética do Brasil com a União Europeia, publicado em livro do Ipea.
Chegamos ao consenso. A Europa parou no tempo em várias áreas. É um continente em relativa decadência. Está patinando em Distribuição e Segurança Energética.
No Brasil não ocorreria algo semelhante. O sistema brasileiro de geração e distribuição “não é uma brastemp”, mas é eficiente e eficaz.
A ONS gerencia bem o sistema. Se cai uma torre ou estação em uma região, o fenômeno não se propaga para outras regiões. Encontra-se emergencialmente preparado para suprir a região afetada, enquanto as empresas locais executam a reparação na rede de distribuição e/ou de consumo.
Enfim, no tema de Segurança Energética a Europa precisa aprender com o Brasil. Estamos “anos luz” na frente de países como Espanha, França, Holanda, Itália e Portugal, dentre outros países da Europa.
É tempo de superar a síndrome de vira lata de país colonizado. Nossa Matriz Energética é mais limpa do que a Europeia. Nosso Sistema de Geração e Distribuição é bem melhor em termos de eficiência, eficácia e integridade.
.*Adroaldo Quintela é Economista.Diretor-Executivo do Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste (IDESNE) Fundador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED).
Foto de capa: Istok
Respostas de 2
Bem interessante. Espero que seja verdade.
Belo artigo, Adrô. A Europa pode até vir a aprender conosco como interligar as redes elétricas e operá-las com a competência que temos, mas carece de três itens básicos que temos de sobra: terra, água e sol. E não tem como nos alcançar nesses quesitos.