Por JORGE ALBERTO BENITZ*
O Ruy Carlos Ostermann mais do que seus outros, também talentosos companheiros do Sala de Redação, representou o fim de uma era diferenciada de alta qualidade na crônica esportiva. Depois da geração dele, pode- se parafrasear o vaticínio de Ulysses Guimarães acerca do futuro da Câmara Federal quando inquirido sobre a qualidade da que ele presidia “Espere a próxima”; isto é, o grupo que sucedeu aquele elenco do Sala de Redação, onde pontificava Ruy Carlos Ostermann, não só é um “banguzinho”, que, no máximo, poderia a aspirar ser banco no plantel que era formado por ele, Lauro Quadros, Paulo Santana, Kenny Braga, Wianey Carlet e, eventualmente, o Guerrinha – Este foi o Sala de Redação do meu tempo. Sei que houve outras formações anteriores também de alta qualidade com Candido Norberto, Oswaldo Rolla (Foguinho), Cid Pinheiro Cabral –, como virou uma zorra total onde o que mais se destaca e protagoniza são os comerciais, com Pedro Ernesto virado um “garoto propaganda” de patrocinadoras.
E não foi só na crônica esportiva que ele, Ruy Carlos Ostermann, despontava. Seu programa as quatro da tarde divulgando eventos culturais e literários eram um dos poucos espaços em que se respirava cultura. Quando ele se aposentou o referido programa foi extinto e substituído por mais uma programação chinfrim, sem nenhum compromisso com a inteligência e cultura.
Portanto, esta degradação da programação do grupo RBS, começou naquela época, com a troca dos mais talentosos e com salários mais altos, com a pejotização dos que permaneceram. Processo que chegou ao auge da vulgaridade e baixo nível agora com a adoção de um modelo tik tok, como apregoou o “Publisher” Nelson Sirotsky, com a demissão dos colunistas que não rezavam pela cartilha neoliberal e/ou bolsonarista. Pode- se arguir que as demissões atenderam um processo de reestruturação face a transformação ocorrida devido à concorrência com o mundo virtual que redundou em perda significativa de leitores. Em grande parte, a reengenharia que redundou em demissões em massa teve como causa este rearranjo estrutural para sobreviver. Só que se aproveitou este momento para uma guinada ideológica onde se demitiu quem não se adequava ao novo modelito neoliberal e mesmo bolsonarista.
Certa feita escrevi um ensaio sobre o Sala de Redação, que foi lido no programa, que gerou inclusive ameaças meio de brincadeira meio de verdade do Wianey Carlet que indagou se poderia me processar. Ensaio que foi elogiado pelo Juca Kfoury. Neste ensaio, fiquei mais do lado do Paulo Santana que defendia o futebol arte em contraponto ao Ruy que era adepto do futebol força, futebol competição, representado principalmente pela escola argentina. Também, critiquei o estilo conciliador dele que sempre se alinhava com a CBF.
Hoje, independente destas críticas que mantenho, percebo que meu olhar míope não captava os méritos e a grandeza de seu atuação jornalística e política que conseguia manter uma arquitetura republicana e civilizada em um ambiente hostil e refratário. Tão hostil e refratário que assim que puderam, com o fim de carreira desta geração talentosa, não deixaram pedra sob pedra deste modelo de crônica esportiva que floresceu graças ao empenho de condutores de programas futebolísticos como o Ruy Carlos Ostermann
*Jorge Alberto Benitz poeta de Internet.
lustração de capa: Ruy Carlos Ostermann | Anderson Fetter/ Agencia RBS