Basta

Por SÉRGIO ARAÚJO*

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,

quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

 Geraldo Vandré      

É chegada a hora dos brasileiros fazerem valer sua soberania, exigindo que os políticos exerçam de fato a representatividade que lhes foi outorgada, através do voto. Afinal, “se todo poder emana do povo e em seu nome será exercido”, é preciso que o corporativismo egoísta, que atualmente predomina nas casas legislativas, seja combatido e substituído por aqueles que realmente possuem vocação para o atendimento das necessidades das comunidades que representam.

Urge, portanto, um grito coletivo de irresignação. Um basta aos conchavos oportunistas, onde os interesses pessoais se sobrepõem aos do país e da coletividade. Provado está que os parlamentares só abdicam dos seus “ouvidos de moucos” quanto às vozes de indignação das ruas soam mais alto do que suas desfaçatezes. E, ainda, que suas visões distorcidas da realidade sejam clareadas pelas cobranças emanadas pelo tribunal implacável das redes sociais.

Não dá mais para assistirmos, inertes, os espetáculos dignos de um circo dos horrores, praticados nos plenários da Câmara e do Senado Federal. Gritos, ofensas e ameaças contra adversários viraram rotina. Uma baixaria de fazer corar monge de pedra. Do mesmo modo, é insuportável lidar com o cinismo com que os oposicionistas se relacionam com o poder Executivo, mas precisamente com o governo Lula.

A imensa maioria dos parlamentares da Câmara e do Senado votou contra o aumento do IOF, que impacta apenas os mais abastados e que permitiria dar seguimento aos projetos populares, que beneficiam as classes econômicas menos favorecidas. Mas não abrem mão das emendas parlamentares milionárias que usam sem nenhum critério e sem nenhuma transparência.

Há quem diga que tal procedimento não começou na atual legislatura, o que é verdade, mas isto nunca foi feito de forma tão explicita e tão desavergonhada. Certamente uma das explicações para esse descaramento está no fato de que, segundo levantamento realizado pelo deputado Rogério Correia (PT-MG), dos 594 parlamentares que compõem o Congresso Nacional, 273 são empresários e 160 são fazendeiros, o que corresponde a 72% do total. Para estes, política serve para ter poder e ganhar dinheiro, nunca para promover igualdade e justiça social.

Isto sem falar nos políticos profissionais, que nunca tiveram carteira de trabalho assinada e que sempre viveram do mandato, ou seja, do dinheiro público. A maioria subordinada aos interesses do poderio econômico. A família Bolsonaro é um exemplo.

Então algo precisa ser feito, antes que a ousadia se transforme em tragédia. Ilegalidade jamais poderá ser confundida com impunidade. O enfrentamento direto e destemido que certos parlamentares tem feito contra a Supremo Tribunal Federal, e as manifestações promovidas por radicais e extremistas conservadores, defendendo anistia para os golpistas do 8 de janeiro, mostram que a democracia continua sob ameaça.

Não é a toa que Bolsonaro esteja buscando candidatos para formar maioria no Congresso, especialmente no Senado, nas eleições do ano que vem. Ele não quer apenas livrar-se da prisão, mas, e principalmente, retornar à presidência da República para continuar sua saga predatória. Impedir esse retrocesso é o maior desafio dos democratas e deve ser o ponto central do pleito que se avizinha. Não será o bolsonarismo contra o lulismo, será o autoritarismo contra a democracia.

Chega de intrusos mal intencionados na política. Este deve ser o brado retumbante que deve ser ouvido nas ruas e ecoar nas urnas. Lembrem-se: maus políticos gostam é de propina e de rachadinha. Para estes, vontade popular só prevalece nos discursos enganosos de campanha. “Bela Ciao” para todos e todas.

*Sérgio Araújo é Jornalista e Publicitário.

Foto de capa: Papel com sinal basta ! — stock imagem, fotos sem royalties