Por SÉRGIO ARAÚJO*
Quando dois negociadores experientes se reúnem para conversar a tendência é uma só: dali vai sair negócio. Ainda mais se trazem consigo a expertise política de cinco mandatos presidenciais, no caso três de Lula e dois de Trump. Foi o que aconteceu no último domingo na Malásia, para regozijo dos verdadeiros patriotas.
Nessas reuniões de pauta econômica, a informalidade fica do lado de fora, na antessala, restringindo-se a um breve aperto de mão para registro fotográfico. No mais, o que impera é o enxadrismo institucional e a esgrima diplomática. Por isto, questões domésticas, de interesse localizado, como as de âmbito partidário ou eleitoral, são evitadas com o máximo de zelo.
Com foco determinado nas questões comerciais, dentre elas as tarifas de exportação, agendas envolvendo a prisão de Jair Bolsonaro e as sanções impostas a autoridades brasileiras ficaram restritas a questionamentos da imprensa e sem que houvesse as respostas polêmicas por muitos desejadas.
E essa é a questão do momento. Esperar que um encontro envolvendo mandatários de duas maiores economias do planeta pudesse tratar de interesses subalternos é mais do que ingenuidade, é devaneio. Prevaleceu, como era esperado, a maturidade política, o interesse geopolítico, o respeito à soberania e, principalmente, o interesse maior dos seus povos.
Por tudo isso, podemos classificar o encontro Lula-Trump como um marco importante para a busca do fortalecimento da democracia e uma derrota expressiva para as aspirações golpistas dos extremistas da direita brasileira.
Não, os EUA não irão bombardear barcos na baia da Guanabara. Não, Trump não vai exigir a anistia de Bolsonaro. Pelo contrário, disse que “Bolsonaro não é assunto de sua conta” e que para ele a prisão de Lula não passou de perseguição política.
Resta provado, portanto, que o êxito da reunião não se deu apenas pela obediência à liturgia dos cargos, ou por ter pintado uma química, ou por Lula ser o cara, como disseram Trump e Obama, mas pelo respeito por aquele que conquistou a admiração internacional pela sua história e por suas realizações em defesa da democracia, das causas populares e dos direitos humanos.
Por tudo isso, é inadmissível e incompreensível o destaque que a grande imprensa tem dado às manifestações estapafúrdias e mal-intencionadas de figuras insignificantes e suspeitas, refugiadas em território norte-americano, como Eduardo Bolsonaro, Paulo Figueiredo e Allan dos Santos. Dar-lhes uma importância que não possuem é subestimar a gravidade do momento político e menosprezar a inteligência dos brasileiros.
No que a opinião comprometida deles contribui positivamente para o país? Que contraponto qualificado eles representam? Nada, absolutamente nada. São apenas e tão somente mercadores dos próprios interesses, intermediários de negócios obscuros, fraudadores da ingenuidade dos desinformados e estimuladores do ódio dos saudosistas da ditadura militar.
Num momento em que as instituições brasileiras estão sendo colocadas à prova e em que as pesquisas de opinião apontam queda substancial das suas credibilidades, a imprensa, tida por muitos como o quarto poder, precisa adequar-se à nova realidade e fazer valer, de fato, os princípios pétreos que a regem, quais sejam, a busca da verdade, a veracidade e a precisão das informações.
Não é hora do sensacionalismo, do quanto pior melhor. Para isso basta as redes sociais e suas fake news.
*Sérgio Araújo é Jornalista e Publicitário.
Foto de capa: Agência Brasil – EBC




