Mercado de Carbono: Entre Poluidores e Preservadores

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Por RODRIGO R. BARBOSA*

As mudanças climáticas se tornaram o eixo dominante do debate ambiental internacional, com instituições multilaterais como a ONU mobilizando milhares de especialistas em torno da responsabilidade humana sobre o aquecimento global. Há, sem dúvida, fundamentos científicos nessa abordagem, mas há também um desconforto crescente — especialmente entre quem vive com os pés na terra — com a rigidez das narrativas, o elitismo das soluções e a absoluta ausência de coragem prática por parte dos grandes emissores.

Como bem provocou o ambientalista inglês James Lovelock, criador da Teoria de Gaia, em sua fase mais crítica da vida:

“A Terra vai sobreviver a qualquer interferência humana. Quem pode se extinguir é a própria humanidade. A Terra não precisa de ajuda. O homem sim, que deve ter mais entendimento sobre sua fragilidade e cuidar mais do rio onde bebe água, toma banho, abastece seu gado e rega sua agricultura.”

O problema, portanto, não é salvar o planeta em si — é salvar a viabilidade da vida humana em equilíbrio com ele. E isso exige mais do que promessas; exige ações objetivas, proporcionalidade nas responsabilidades e justiça climática de verdade.

Enquanto países como o Brasil, Congo, Indonésia, Peru e outros grandes sequestradores naturais de carbono, com cobertura florestal e biomas ricos, são cobrados por cada hectare de floresta que perdem, as nações que mais poluem seguem sem contrapartidas claras. Segundo dados do Global Carbon Project (2023), a China lidera as emissões globais com mais de 11 bilhões de toneladas de CO₂ por ano. Se considerarmos o preço médio da tonelada de carbono no mercado internacional entre US$ 20 e US$ 30, o custo para compensar esse passivo climático ultrapassaria US$ 292 bilhões por ano.

Os Estados Unidos, segundo maior emissor mundial, com cerca de 4,5 bilhões de toneladas de CO₂, deveriam investir mais de US$ 112 bilhões anuais apenas para zerar suas emissões líquidas com compensações ambientais. Estima-se em US$ 1,75 trilhão o investimento anual para o equilíbrio verde perfeito.

Enquanto isso, países que oferecem serviços ecossistêmicos — como o Brasil, que possui extensas florestas e práticas agrícolas de sequestro de carbono capazes de reabsorver até 250 milhões de toneladas de CO₂ por ano — são credores ambientais, mesmo sem que essa conta seja reconhecida formalmente.

O paradoxo está exposto: quem mais destrói paga menos; quem mais preserva, recebe quase nada. Isso precisa mudar.

Independentemente do debate sobre as causas exatas das mudanças climáticas — se provocadas majoritariamente pela ação humana, por ciclos naturais ou pela soma dos dois — o que importa agora é encarar suas consequências. E nesse ponto, não há neutralidade possível.

Desastres climáticos extremos estão se tornando mais frequentes e impactantes: enchentes, secas severas, eventos meteorológicos fora de padrão. Não importa se o alerta vem da ciência institucionalizada ou do produtor que sente a mudança no solo e no céu — os sinais estão aí.

se há consequências, tem que haver prevenção. Essa é uma responsabilidade coletiva, mas com pesos desiguais: o Estado precisa ter políticas públicas eficazes; a sociedade, mecanismos de cobrança e engajamento. Os grandes emissores e os grandes sequestradores de carbono — ou seja, os poluidores e os produtores de verde — devem assumir protagonismo.

É essa lógica que precisa ser consolidada: quem provoca desequilíbrio tem que compensar, e quem garante equilíbrio deve ser valorizado. O resto é distração.

O mercado de crédito de carbono, embora promissor, ainda está imerso em zonas cinzentas e fragilidades institucionais. Emissões em duplicidade, créditos de origem duvidosa e ausência de padrões globais confiáveis ainda comprometem sua integridade. Enquanto isso, multiplicam-se os relatórios, selos e consultorias — mas não se vê um só doutor da ONU disposto a assumir um trecho de concessão ferroviária verde com polos de produção agroindustrial sustentável entre as gares instaladas, ou outros inúmeros projetos ESG capazes de gerar equilíbrio e prosperidade, que poderiam ter profissionais qualificados os dirigindo. Falta coragem.

Não se trata de negar a ciência, mas de reconectar o discurso ambiental com a realidade dos territórios. Quem vive no campo sabe o quanto o clima mudou, mas também sabe que cuidar da terra exige ação, não reuniões. O Brasil, como provedor de equilíbrio climático, não pode continuar exportando oxigênio de graça e comprando produtos industrializados de países que consomem seus recursos sem devolver valor algum.

Está na hora de invertermos a lógica: quem polui, paga; quem preserva, recebe. Sem floreios.

VAMOS FAZER O BRASIL GRANDE DE VEZ.


*Rodrigo Rocha Barbosa é empresário e articulador de projetos de desenvolvimento territorial. Sócio da VideiraInvest e conselheiro da Tribuna da Imprensa, atua com foco em sustentabilidade produtiva, inovação local e apoio a produtores rurais.

Foto de capa: Reprodução

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