Por J. CARLOS DE ASSIS*
Os que têm acompanhado meus últimos artigos sabem o que são. Aos que ainda não têm acompanhado peço paciência para que saibam agora. Em síntese, trata-se da integração do Capitalismo na forma de Sociedade Anônima com o Socialismo na forma de trabalho cooperativo. Em termos marxistas ou hegelianos, seria uma nova etapa da História em nível superior!
A pedra angular desse sistema são os Arranjos Produtivos Locais, Regionais ou Vocacionais. Os primeiros são a articulação de trabalhadores ou de unidades produtivas em empreendimentos lucrativos comuns; os segundos replicam esse modelo, só que em nível regional; finalmente, os Vocacionais referem-se à união de empreendedoristas individuais.
Os mais comuns são APLs e APRs agrícolas para produção alimentar, existentes em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Nos Estados Unidos, são conhecidos como clusters industriais e de serviços – o mais famoso deles sendo o APL do Vale do Silício, que se tornaria o berço da megaindustria de informática mundial.
O Arranjo Produtivo implica a organização de uma Sociedade Anônima para geri-lo, e o controle do capital dessa Sociedade pelos trabalhadores que são sócios dele, junto com outros eventuais investidores individuais ou coletivos. Portanto, inverte a relação social existente no Capitalismo que é o controle do Trabalho pelo Capital.
É preconceito achar que trabalhadores não podem ser controladores, administradores ou gerenciadores dos Arranjos. De fato, eles já fazem isso como empregados remunerados ou sócios individuais que obtêm renda na forma de dividendos. Sua integração num APL apenas aumenta suas oportunidades de ganhos e de melhoria de vida.
Do ponto de vista da eficiência e da produtividade, um Arranjo é muito superior a uma empresa capitalista ou estatal comum. É que as pessoas trabalham com maior empenho quando trabalham para si mesmas e com maior liberdade. Sua renda reflete rigorosamente o trabalho realizado de forma individual, medido cientificamente.
Arranjos Produtivos Locais ou Regionais são núcleos de territórios mais vastos onde se realizam atividades econômicas similares que podem ser integradas numa Economia Circular. Isso aumenta consideravelmente a produtividade e eficiência do empreendimento, além de colaborar de forma considerável para a redução da poluição ambiental.
Já os Arranjos Vocacionais são os que melhor se aplicam a áreas urbanas, principalmente as periféricas, onde vivem empreendedores no mercado informal com vocações similares, mesmo distantes entre si, os quais podem, porém, ser conectados pela internet. Por exemplo, sapateiros, cabeleireiras, costureiras, esteticistas etc.
Na realidade, Arranjos Produtivos de todos os tipos devem ser conectados interna e externamente pela internet, a fim de organizarem atividades sociais e culturais comuns e terem acesso às tecnologias mais atualizadas no País e no mundo. Outro fator importante é a reserva de lucro, nas apurações dos resultados, para aplicação no desenvolvimento tecnológico do empreendimento.
Destaquei em artigos anteriores a conveniência de transformar as universidades públicas, inclusive as federais, em Arranjos Produtivos. Isso deve ser acentuado porque libertaria o ensino e a pesquisa em nível superior das restrições fiscais orçamentárias que atualmente estrangulam o Estado Social em favor do rentismo improdutivo.
Cada universidade transformada em APL (S.A.) poderia exercer grande influência na organização de outros Arranjos em seu entorno, oferecendo assessoria e consultoria. Gradualmente, parte cada vez maior do território nacional seria ocupada por Arranjos de diferentes tipos, inclusive os Vocacionais, estes nas periferias e favelas metropolitanas.
Nesse ritmo, a realidade nacional iria mudando rumo ao Sociocapitalismo, fortemente ancorada nos APLs. Com maiores oportunidades de renda para trabalhadores e investidores não rentistas, alcançaríamos uma sociedade mais justa e igualitária, com menor concentração de renda e de riqueza. É possível até mesmo visualizar uma melhora nas condições de segurança do País, com menor violência, tendo em vista a estrutura básica cooperativa da sociedade.
Os Arranjos poderiam ser caracterizados por especialidades. Os Arranjos Produtivos Local e Regional seriam destinados especialmente às atividades agrícola, industrial, agroindustrial e comercial, destinadas aos mercados interno e internacional; os Arranjos Vocacionais atenderiam sobretudo à demanda de bens e serviços de consumo popular. Junto com o aumento esperado na produção de comida no APL agrícola, daria grande contribuição ao controle do custo de vida.
Aos Arranjos Produtivos Universitários caberia promover o desenvolvimento científico e tecnológico do País, em colaboração com instituições similares estrangeiras. Esses Arranjos seriam autossustentáveis em função de sua própria capacidade científica de elaborar projetos, criar patentes, prestar assessorias e consultorias técnicas a outras empresas, desenvolver tecnologias novas.
*J. Carlos de Assis é jornalista, economista, doutor em Engenharia de Produção, professor aposentado de Economia Política da UEPB, e atualmente economista chefe do Grupo Videirainvest-Agroviva e editor chefe do jornal online “Tribuna da Imprensa”, a ser relançado brevemente.
Foto de capa: Reprodução
Respostas de 3
Muito Interessante e dialoga com o Nosso Núcleo, Casa Verde Limão e Cachoeirinha (bairros da periferia de São Paulo). Inova na criação da SA dos arranjos.
Achei ótimo e esclarecedor. Parabéns
Parece tendência do que já ocorre nos ambientes econômico e social; é fase do Capitalismo em fragmentação regido pelo capital financeiro do qual dificilmente nos livramos.