Por MARCIA BARBOSA e OSVALDO MORAES*
Desde o começo do século XXI Porto Alegre tem sido afetada por emergências climáticas. São ventos, chuvas e secas acima da média do que observamos nas décadas anteriores. Emergências climáticas têm sido anunciadas em todo o planeta como consequência das mudanças climáticas provocadas pela industrialização e modo de vista consumista que inaugura no século XIX e acelera no século XXI.
Mas, o que torna uma emergência climática um desastre climático? Desastres são a soma da emergência climática mais o risco quase uma equação matemática da qual nós físicos gostamos tanto: desastre=emergência+riscos. Em um mundo ideal a maneira de frear os desastres seria eliminar as emergências climáticas, ou seja, pisar no freio das mudanças climáticas. Mas isto é tarefa de gincana, pois requer transformar a forma como a sociedade mundial compreende o desenvolvimento, sua economia e sua forma de trocas. Transformar uma sociedade urge, mas não irá acontecer imediatamente, portanto emergências climáticas continuarão ocorrendo em um futuro próximo.
Será que temos que simplesmente nos conformar com o desastre? Apesar da luta contra mudanças climáticas ser uma batalha coletiva e de longo prazo, a curto prazo podemos atenuar os desastres através do controle de riscos, o segundo elemento da equação desastre=emergência+riscos. Gestão de riscos é estar preparado para o que vem por aí. É colocar rede nas janelas e protetor nas tomadas quando se tem uma criança pequena em casa, é colocar pára-raios e sinalizador em edifícios de muitos andares.
Desde a enchente de maio de 2024, se nossa sociedade fosse prudente, teria implementado um sistema de gestão de riscos. Teria construído casas, centros comunitários, estradas e pontes resilientes para as próximas cheias. Garantiria o reflorestamento com plantas nativas, implantando regras mais rígidas sobre o uso das margens dos rios, e prepararia o campo e as cidades para a seca. Formaria nossos professores e professoras para ensinar sobre mudanças climáticas e como agir diante de emergências climáticas, com a defesa civil preparada para novas enchentes, ventos e secas. Se os governos fossem prudentes veremos a implementação de um centro de monitoramento meteorológico e climático para alertas mais eficientes.
Infelizmente, o que vimos foi uma reconstrução ‘copia e cola’, sem preparo para o futuro e com descaso ao reconstruir com base no conhecimento. O Rio Grande do Sul urge pela criação de um Centro de Gestão de Riscos Climáticos e Ambientais para coordenar nosso preparo para o futuro. E o futuro é agora.
*Marcia Barbosa é Professora do Instituto de Física da UFRGS.
*Osvaldo Moraes é Diretor do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Foto de capa: Reprodução
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