Programação cultural de 24 de abril a 2 de maio

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Por LÉA MARIA AARÃO REIS*

* O programa é não esquecer e não calar sobre a guerra genocida que prossegue exterminando a população palestina na Faixa de Gaza: forças de Israel bombardearam e despejaram mais bombas na região, até o último dia 18 deste mês, que aquelas que caíram em Londres, Dresden e Hamburgo juntos, durante a segunda guerra mundial (The New Yorker).

* Em rara entrevista, o Papa Francisco, falecido nesta semana, reafirmou seu compromisso com o povo palestino, que há um ano e meio sofre com a violência perpetrada pelo Estado de Israel. “Ligo todas as noites para a paróquia de Gaza, às 19h”, disse o Papa criticando a “globalização da indiferença”, que impede a humanidade de se conectar com o sofrimento alheio. Francisco ligou durante 563 noites para a paróquia de Gaza para escutar sacerdotes, médicos, agentes humanitários, homens, mulheres e crianças.

* O livro mais recente publicado sobre o Papa Francisco é El loco de Dios en el fin del mundo, do espanhol (ateu) Javier Cercas, membro da Real Academia Espanhola. Cercas o acompanhou em várias viagens, escolhido pelo próprio Papa como um acompanhante. Os premiados livros deste autor foram traduzidos para mais de 30 idiomas. (Ed. Random House/2025).

* Notícia de cinco dias atrás, 20/04: há um ano o Dr. Adnan Al-Bursh, cirurgião e chefe do Departamento de Ortopedia do Hospital Al-Shifa, em Gaza, foi torturado e estuprado até a morte na prisão israelense de Ofer, quatro meses após ter sido sequestrado pelo exército israelense do Hospital Al-Awda, no norte de Gaza, onde estava de serviço.

* Outro médico sequestrado e isolado em prisão de Israel desde dezembro último, é o Dr. Abu Safiya, diretor do Hospital Kamal Adwan. Em Paris, onde o médico é muito conhecido e estimado pelos colegas, até hoje se fazem manifestações de ruas, denunciando o caso. No Brasil: onde estão os médicos brasileiros que mantêm escandaloso silêncio sobre as condições físicas do colega, que é diabético?

* Frases do Papa Francisco: ”Quem sou eu para julgar?”. Sobre a diversidade: “A globalização da indiferença nos tirou a capacidade de chorar”. Sobre o materialismo: ”A economia deve estar a serviço das pessoas, não o contrário”. E aos economistas jovens: “Os pobres não podem esperar”.

* O presidente Lula sobre o Papa Francisco: “Ele sempre se colocou ao lado daqueles que mais precisam: os pobres, os refugiados, os jovens, os idosos e as vítimas das guerras e de todas as formas de preconceito”.

* O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, nas redes sociais: “Lamentamos profundamente o falecimento do inesquecível Papa Francisco. As demonstrações de afeto e cordial proximidade que ele transmitiu aos nossos compatriotas sempre foram retribuídas pelos cubanos”.

* Denúncia da ONG francesa Médicos Sem Fronteiras segundo a coordenadora de emergência dessa organização na Faixa de Gaza, Amande Bazerolle: “O enclave se tornou uma vala comum para os palestinos e para todos aqueles que chegam para ajudá-los”. O ministro da Defesa Israel Katz diz que sua política é ”exercer pressão máxima contra o Hamas”. Segundo a MSF, os estoques de alimentos, água potável, combustíveis e medicamentos estão esgotados. “Assistimos, em tempo real, à destruição e ao deslocamento forçado de toda a população de Gaza”, declarou Bazerolle.

* A conhecida jornalista e fotógrafa palestina Fatma Hassouna, cuja história é tema do documentário Put Your Soul On Your Hand And Walk, (Coloque Sua Alma em Sua Mão e Ande), selecionado para Cannes 2025, foi morta por Israel em Gaza. Fatma e nove membros de sua família foram vítimas de um ataque aéreo, no último dia 16, após 24 horas de chegar a ela o resultado de Cannes, segundo informação da Associação do Cinema Independente para a sua Difusão, a ACID. O doc estava – ou ainda está? – programado para exibição em Cannes de 14 a 23 de maio. Sua direção é da iraniana Sepideh Farsi.

* A cidade do Rio de Janeiro acaba de receber da Unesco o título de Capital Mundial do Livro 2025. É a primeira vez que uma cidade de língua portuguesa é agraciada com o título.

* Um programão: o curso on-line e gratuito organizado pela Diretoria de Formação Política da Fundação Perseu Abramo, Revisitando a História do Brasil: Debates e Embates, com curadoria da professora Duce Pandolfi. O curso é uma viagem através dos 500 anos da trajetória do país, desde o período colonial escravista até debates atuais sobre democracia e autoritarismo. Inscrições no site (clique aqui). As aulas iniciais já se encontram disponíveis no site de EAD.

* Outro grande programa, leitura de feriados e fim de semana: o volume O velho lobo do mar, lançado pelo capixaba Maciel de Aguiar, esta semana, no Centro Cultural Triplex Vermelho, em Vitória, Espírito Santo. O livro conta a fascinante história de um marinheiro brasileiro, nas décadas de 1930/40, que mergulhava para a marinha norte americana, durante a Segunda Guerra Mundial, armando e desarmando minas submarinas. Nas noites de confraternização com outros marinheiros ele gostava de contar que enfrentava ferozes tubarões “chutando ou batendo com uma madeira na ponta de seus bicos; e eles fugiam com medo”. Em 1936, em um cabaré de Habana Vieja, conheceu o escritor Ernest Hemingway, de quem se tornou amigo. Um dia, os dois ouviram um velho pescador contar que havia pescado um monumental peixe e o matou após dois dias de uma luta tenaz, amarrando-o ao barco. Anos depois, a história originou o célebre O velho e o mar, publicado por Ernest Hemingway em 1952. Detalhe: mais adiante, ambos foram acometidos pelas mesmas doenças — hipertensão, depressão e diabetes, morando a milhares de quilômetros de distância um do outro, e não se falando mais, há décadas. Ambos morreram, no mesmo dia e no mesmo mês, ”tomando a mesma decisão de precipitar o fim de suas vidas”, como escreve o autor (Ed. Memorial Editora).

* Mais de 150 produções de 25 países participam, até o dia 30, do 34º Festival Curta Cinema, no cinema Estação Net Botafogo. O público poderá assistir a mais recente safra de curtas do cinema independente e experimental que já foram mostrados em Rotterdam, no Festival de Berlim, Oberhausen e no Visions Du Reél. Nesta edição, além da masterclass de direção com o cineasta e artista visual Gabriel Mascaro e da oficina de documentário com o cineasta Victor Lopes, haverá laboratório de projetos, debates e sessões para escolas públicas. Programação no site (clique aqui).

* O documentário Minha Terra Estrangeira, de João Moreira Salles, Louise Botkay e do coletivo indígena Lakapoy, estreou este mês no 30º Festival É Tudo Verdade, na sala do Estação Net Botafogo. O filme acompanha o líder indígena Almir Suruí e sua filha, a ativista Txai Suruí, e mostra o povo indígena como expatriados do Brasil. Mais este trabalho cinematográfico vem de Rondônia retratando a vida de duas gerações: aquela que viu de perto o sofrimento trazido pelo colonialismo, e a seguinte que, atualmente, precisa lutar para continuar defendendo os direitos do seu povo na Amazônia.

* Ainda sobre o tema indígena: o livro de João Moreira Salles, Arrabalde: Em busca da Amazônia, de 2022, é uma análise da ocupação da Amazônia desde os anos 60. O autor denuncia a falta de afeto e a curiosidade que marcaram a exploração da floresta reduzida à lógica das economias extrativistas. Arrabalde é sobre o presente e as possibilidades de futuro da Amazônia (Ed. Companhia das Letras).

* Esta semana, a população em situação de rua foi incluída no programa Minha Casa, Minha Vida. Detalhes da iniciativa serão definidos em portaria interministerial prometida para as próximas semanas com o objetivo de atender à urgente demanda por moradia digna para esse grupo extremamente vulnerável. Trinta por cento das unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida serão reservadas para essa população. O programa é ver, aguardar, cobrar e constatar os resultados positivos da portaria.

* Volume Representações Espaciais na Educação Infantil, de autoria de Paula Strina Julisz, será lançado no próximo dia 02 de maio. O livro pretende responder a perguntas como estas: Qual o papel do desenho no processo da educação infantil? Como elaborar práticas que estimulem a representação espacial? (Ed. Contexto)

* O programa é visitar a exposição Ausências Brasil, no Centro Cultural Maria Antonia, da USP. Nela, histórias do impacto da ditadura civil-militar de 1964 sobre doze famílias de mortos e desaparecidos políticos. Jovens presos e presas assassinados(as) ou desaparecidos(as), cujos restos mortais nunca foram encontrados. A mostra é montada com fotos das famílias completas, antes de 64, e de suas imagens atuais, com as ausências.

* Mais um programa de leitura relevante. “O trabalho que estrutura o capital desestrutura a humanidade. Em contrapartida, o trabalho que desestrutura o capital pode efetivamente reorganizar e emancipar a humanidade”. Esta é a síntese que faz Ricardo Antunes, autor do livro Os sentidos do trabalho, sobre o volume que lançou em 1999, leitura de referência nos estudos da Sociologia do Trabalho. Agora, o livro ganha edição comemorativa de 25 anos, com novos textos e nova capa. (Ed. Boitempo).

* O filme Lispectorante chega aos cinemas dia 8 de maio. A diretora é a pernambucana Renata Pinheiro, grande leitora da obra da Clarice Lispector, e a produção traz reflexões da escritora e narra a história de uma mulher madura que encontra nas ruínas da antiga casa de Clarice, no Recife, um chamado para a fantasia que será capaz de fazê-la encarar a dureza da vida como ela é.

* Notável e comovente o aumento de 283% nas visualizações de Conclave, na plataforma Prime Video, após a morte do Papa Francisco. O número de minutos assistidos na plataforma saltou de 1,8 milhão no dia 20 de abril para 6,9 milhões no dia seguinte. O filme também pode ser alugado ou comprado na Apple TV, Claro TV+, Amazon Video, Disney e Youtube.


Publicado originalmente no Fórum 21.

*Léa Maria Aarão Reis é jornalista.

lustração de capa: Marcos Diniz

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