Por EDELBERTO BEHS*
Tem gente que não gostou da conquista do Oscar de melhor filme estrangeiro para “Eu Ainda Estou Aqui”. Em nota pública, do dia 3 de março, o Instituto Brasil pela Liberdade diz que não se trata apenas de um filme; “é um símbolo do avanço silencioso de uma máquina ideológica que sufoca a diversidade de ideias e erode a autonomia individual”.
O filme, continua o Instituto, é uma obra que, “sob o verniz de arte cinematográfica, carrega em seu cerne uma clara agenda de propaganda comunista”. E surge o conceito mágico: comunista. Como? Uma mulher corajosa, que junta os filhos e diz “vamos sorrir”, valorizando a família, se torna agente da ideologia comunista?
O Brasil nunca foi comunista e esteve longe de um dia vir a ser. Mas vira e mexe, esse fantasma aparece na história por terras tupiniquins. Basta a elite se ver ameaçada de perder privilégios que o comunismo aparece como problema que deve ser extirpado. Taxar as grandes fortunas é coisa de comunista…
Até mesmo no Brasil Império, quando o comunismo não passava de teoria, o deputado liberal Antônio Alves de Sousa Carvalho, contrário à abolição, argumentava que a libertação dos escravos era a “naturalização do comunismo”. As reformas de base – agrária, educacional, política, tributária – do governo João Goulart foram combatidas pela classe que manda no país – banqueiros, fazendeiros, mídia… – sob o argumento de que o país caminhava para o comunismo.
Sessenta anos depois, a reforma tributária caminha pelos trâmites do Congresso. Mesmo hoje, defender a reforma agrária é galgar à pecha de “comunista”. Mal sabem esses detratores que estadunidenses promoveram uma reforma agrária no Japão derrotado na II Guerra Mundial. Sob o comando do general Douglas MacArthur – esse grande comunista – um terço da área agrícola do país foi desapropriada entre abril de 1947 e dezembro de 1948.
Pois agora, em 2025, temos um filme que mostra ações de um regime opressor no Brasil dos anos 60, que, para o Instituto Brasil Pela Liberdade, não passa de ficção. Um filme que sufoca a liberdade de ideias. “Lamentamos não só o prêmio, mas o que ele solidifica no Brasil: um futuro em que a arte, outrora refúgio da alma humana, se curva aos ditames de um regime que não tolera dissenso”.
A qual país com tal regime intolerante o Instituto está se reportando? Será aquele presidido por um capitão, todo-poderoso num cercadinho, que mandava calar a boca quando questionado? Ou que decretou 1.108 sigilos de cem anos durante o seu governo? Ou que cancelou a compra de vacinas para combater a covid?
“Obras como essa, longe de representar um resgate da verdade, contribuem para a falsificação da história brasileira, um processo nefasto que se perpetua há mais de 60 anos”. Se depender do Instituto, a gloriosa nem existiu Enquanto isso, o Brasil vibra com a conquista do Oscar, vibração que o Instituto prefere deletar.
Em outra nota, o Instituto Brasil pela Liberdade repudia à decisão do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, de adquirir e desapropriar o imóvel que foi utilizado nas gravações de “Ainda estamos aqui” para convertê-lo na chamada “Casa do Cinema Brasileiro”.
“Rejeitamos a ideia de um espaço dedicado à memória de uma narrativa cinematográfica, marcada por distorções históricas e ideológicas, como é o caso de ‘Ainda Estou Aqui’, possa ser elevado à símbolo nacional.
O Instituto contestou, ainda, o “aparelhamento das instituições, sobretudo das universidades” que pintam um retrato deturpado da nossa história, fabricando heróis e ocultando a verdade.
As Universidades, que fique claro, não cultuam mitos nem golpistas.
*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).
Foto de capa: Agência Brasil
Respostas de 2
Só não gostei do uso equivocado em “Brasil tupiniquim”, onde o adjetivo a nosso país parece trazê-lo para uma ideia equivocada de SUBDESENVOLVIDO. Até porque os indígenas em nosso país estão muito mais para “comunistas” do que para extremistas de direita. E nesse caso, o termo “tupiniquim” na realidade nos poria a nos, Brasil de esquerda, em um plano de muito maior desenvolvimento e senso de Estado do que o motivo pelo qual foi usado no texto.
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