Liberdade de imprensa sob pressão econômica

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Por EDELBERTO BEHS*

Pela primeira vez, desde a invenção dos tipos móveis, a prática do jornalismo tornou-se “difícil” em escala global. Em 160 países dos 180 analisados pelo Índice Mundial de Liberdade de Imprensa da organização Repórteres Sem Fronteira (RSF) a mídia não consegue alcançar estabilidade financeira. “A mídia hoje está presa entre a garantia de sua independência e sua sobrevivência econômica”, conclui o documento.

O enfraquecimento econômico da mídia e abusos físicos contra jornalistas são duas das principais ameaças à liberdade de imprensa. A concentração de propriedade, pressão de anunciantes ou financiadores, restrição de ajudas públicas, veículos “chapa branca” (atrelados ao poder) empobrecem o exercício profissional ético e isento. O documento indica que 34 países tiveram meios de comunicação de massa fechados no ano passado, o que levou ao exílio de jornalistas, como foi o caso da Nicarágua na região das Américas, onde as pressões econômicas se somam às pressões políticas.

Até mesmo nos Estados Unidos, vastas regiões estão se transformando em desertos de informação. O jornalismo local, informa o documento da RSF, está pagando um preço alto pela recessão econômica. O segundo mandato do presidente Donald Trump amplifica o problema, “com a exploração de motivos econômicos falaciosos como forma de colocar a imprensa sob controle”, como a interrupção de financiamentos de diversas redações da Agência dos Estados Unidos para a Mídia Global, incluindo aí a Voz da América e a Rádio Europa Livre.

Afora isso, as empresas de comunicação e comunicadores enfrentam o domínio das plataformas virtuais, como a GAFAM (Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft), na distribuição de informações. O gasto total com publicidade em plataformas sociais, informa a RSF, atingiu 247,3 bilhões de dólares (em torno de 1,4 trilhão de reais) em 2024, um aumento de 14% comparado ao ano de 2023.

Esse panorama fica expresso num quadro em que as condições para o exercício do jornalismo se tornam difíceis e complicados “ou mesmo muito graves em metade dos países do mundo e satisfatórias em menos de um em cada quatro países”, como é a situação de 22 dos 28 países das Américas, que registram declínio em seus indicadores econômico. Até mesmo na Europa, a situação deteriora-se em Portugal, na Croácia e no Kosovo.

No levantamento do Índice Mundial, a Noruega é o único país a ter uma boa situação em todos os cinco indicadores do ranking, aparecendo em primeiro lugar pelo nono ano consecutivo na listagem da RSF, seguido, em 2025, pela Estônia, Holanda e Suécia. Depois do governo Bolsonaro, o Brasil subiu no ranking alcançando, agora, a 63ª posição.



*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).

Foto de capa:  FENAJ: https://fenaj.org.br/contra-a-censura-do-youtube-em-defesa-da-liberdade-de-expressao/

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