Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Na última quinta-feira (18), nem houve reunião de líderes na Câmara. Mais tarde, se incluiu na pauta o pedido de urgência para o projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda. Fora isso, a semana deverá ser esvaziada, por conta das festas de São João. E daí, a tendência é que já se comece a encerrar o primeiro semestre legislativo. Pode ser que antes haja sessão do Congresso para votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Depois, será o recesso, e tudo só volta em agosto. Para o cientista político Isaac Jordão, que acompanha de perto o Congresso, se tudo já foi bem difícil para o governo no primeiro semestre, a tendência é que seja pior no segundo. “Em 2024, se desfez um equilíbrio que até então havia entre governo e Congresso”, diz ele.
Vitória
A ampliação da isenção do Imposto de Renda, se aprovada, será uma importante vitória para o governo. Mas pode ser o único fôlego. A discussão da LDO tende a ser de novo complicada, já que os parlamentares reclamam que o governo não está liberando as emendas.
Derrotas
“Especialmente no final deste semestre, o governo vem sofrendo muitas derrotas”, avalia Isaac Jordão. E a razão pode ser o início do cálculo eleitoral para 2026. “É o momento de dificultar o jogo. Porque, no ano que vem, com as eleições, a tendência é tudo parar”.
Motta tem sido fator imponderável
Haddad preferia Arthur Lira | Foto: Lula Marques/Agência Brasil
Antes de tirar uma folga, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reclamou do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Disse que, sob o comando dele, tem sido mais difícil mapear e prever as reações dos deputados. Seu antecessor, Arthur Lira (PP-AL), seria um negociador mais duro. Mas quando fechava um acordo, tinha mais capacidade de cumprir. Negociadora política, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, tratou de contradizer Haddad. Jordão observa que, há sim, uma diferença entre Lira e Motta. “Motta ainda não conseguiu se desvincular de Lira e [do presidente do Republicanos] Marcus Pereira, mas não deve ser subestimado”.
Experiente
“Motta pode ser novo, mas não é inexperiente”, observa o cientista político. De fato, o presidente da Câmara tem somente 35 anos. Mas já está em seu quarto mandato. “Não creio que os eventuais problemas no momento aconteçam exatamente por falta de comando”, avalia Jordão.
Declínio
Para Isaac Jordão, foi-se observando um declínio ano a ano na relação do governo no Congresso. No primeiro ano, o governo atropelou a pauta, desde a PEC da Transição até a aprovação da PEC da Reforma Tributária. Em 2024, a dificuldade aumentou, mas a pauta avançou.
Campanha
Agora, tudo tornou-se mais difícil. “Porque a verdade é que agora o Congresso já está em campanha”, observa Isaac Jordão. E com Lula em uma perspectiva de baixa. Assim, um Congresso mais conservador, que apoia por conveniência, cria dificuldades de olho em alternativas.
CPMI
Um fator deverá fustigar ainda mais o governo no segundo semestre: a CPMI do INSS. Mas Isaac Jordão alerta: Lula não é um amador. “Com todas as dificuldades, o governo está fazendo caixa para liberar emendas no semestre que vem e em 2026”, observa o cientista político.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Motta não tem dado vida fácil ao governo | Ricardo Stuckert/PR