Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
O deputado Glauber Braga (Psol-RJ) tem a expectativa de que o seu pedido de cassação venha a ser analisado pelo plenário da Câmara na primeira semana de julho. Até lá, Glauber cumpre uma caravana por todos os estados brasileiros em busca de solidariedade. Só faltam agora três estados para visitar. Glauber estará em Goiás, São Paulo e concluirá a caravana em seu estado de origem, o Rio de Janeiro, no dia 26 de junho. A estratégia é considerada importante para ampliar o grau de conhecimento sobre a sua situação. Mas não é a principal tática. Desde que parou em abril a greve de fome que fazia, Glauber articula principalmente sua situação internamente. E sua estratégia é focar no ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL).
Pessoal
O plano de Glauber é fazer convencer seus colegas que o problema ali se tornou pessoal. Seu processo de cassação foi uma articulação de Lira para se livrar de alguém que se tornou forte adversário. Nessa tática, o deputado do Psol deixou de lado a questão do orçamento.
Emendas
Nas conversas com os demais parlamentares e partidos, o pedido foi que Glauber parasse de atacar tanto as emendas parlamentares. Ele ainda menciona a necessidade de transparência e o fim do orçamento secreto. Mas sem criminalizar as emendas.
Motta pede a Glauber que fique “tranquilo”
Desde que parou a greve de fome, Glauber tem conversado seguidamente com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que sempre lhe pede o mesmo: “Fique tranquilo”. Isso não quer dizer necessariamente ficar “tranquilo” no sentido de que se possa garantir a sua absolvição. Mas ficar “tranquilo” no sentido de não cair em provocações. E não jogar contra o interesse dos demais. Glauber mesmo usa emendas, discutindo a destinação de forma participativa. Os demais argumentam que nem toda emenda é ruim, e que os municípios dependem delas. Glauber, então, só tem batido no orçamento secreto.
PSD
Com isso, as informações são de que o deputado vem angariando mais apoios. Já contaria, por exemplo, com os votos dos 45 deputados do PSD. E teria também a maioria do MDB. Além do apoio do próprio Psol, PT e demais partidos do campo da esquerda.
Absolvição
Como o Conselho de Ética aprovou o relatório pedindo a cassação, não há a essa altura espaço para negociar uma pena alternativa, uma punição mais branda. Indo o processo a plenário, a posição dos deputados só poderá ser dizer sim ou não sobre a perda do mandato.
Zambelli
Há um outro fator sendo analisado: Carla Zambelli. O plenário precisa também se debruçar sobre a perda do seu mandato, conforme determinou o STF. Há uma expectativa de que Motta possa vir a adiar tudo, para não ter também que analisar Zambelli.
Lira
Se Glauber conseguir evitar que o processo avance até o final do próximo semestre, ele acredita que nada se votaria no ano que vem, por ser ano eleitoral. E quanto a Lira? Há uma avaliação de que fora do comando da Câmara, perdeu a força que tinha. Rei morto, rei posto.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Glauber: menos ataques ao orçamento como tática | Lula Marques/Agência Brasil