Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Aos 34 segundos do vídeo postado na semana passada pelo PT para dizer que a distribuição da carga tributária brasileira é injusta, aparece um homem grisalho, vestindo um terno azul. Ele usa na lapela um broche dourado muito semelhante àqueles que são usados pelos deputados federais. Como não é comum que outras categorias de privilegiados também ostentem broches dourados na lapela, a provocação parece clara, ainda que não explícita. Depois da derrota acachapante sofrida na semana passada na aprovação do decreto legislativo que derrubou o decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), começou a se esboçar uma disputa entre os poderes.
Tom subiu
O vídeo atribuído ao PT foi compartilhado por ministros e outras autoridades. Inegavelmente, o tom das críticas subiu. Especialmente porque PT e governo avaliam que a estratégia está funcionando. Somente no Instagram do partido, o vídeo tem mais de 50 mil curtidas.
Novo vídeo
Um segundo vídeo foi postado na segunda-feira (30) e já tinha mais de 20 mil curtidas no Instagram do PT. No primeiro, onde aparece o suposto deputado, pessoas mais pobres carregam fardos maiores de impostos que os mais ricos, assinalando a injustiça tributária.
Segundo vídeo aponta esforço do governo
“Mão do governo” tirando fardo dos impostos | Foto: Reprodução/vídeo
O segundo vídeo, postado na segunda, mostra trabalhadores tentando sustentar um braço de uma balança no qual estão os fardos de impostos. Então, uma mão gigante vai retirando desse braço os fardos. Seria o esforço do governo para reduzir a carga tributária dos mais pobres. Em suas redes sociais, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, reforçou esse posicionamento, ao responder ao presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI). “É cobrar imposto de quem não paga, ou paga proporcionalmente pouquíssimo”, escreveu Gleisi. “Só alcançaremos o verdadeiro equilíbrio, fiscal e social, com justiça tributária”.
Disputa
Quem defende a intensificação da disputa avalia que a essa altura o descolamento do Centrão do governo Lula não irá mais reduzir. Com o cálculo já em 2026, a tendência é o grupo mais se aproximar da oposição, o que obrigaria o governo a demarcar suas diferenças.
Ponderação
Quem pondera alerta que isso poderá levar a uma total paralisação do governo daqui até as eleições do ano que vem. O grau de irritação do Congresso aumenta, a possibilidade de negociação diminui, e nada anda mais. O que pode acabar desgastando a imagem do governo.
Hauly
Um desses projetos que fica parado por essa falta de acordo é a reforma tributária. O segundo projeto de regulamentação travou completamente. E o principal padrinho da reforma, Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR), não esconde sua irritação com isso.
Propaganda
“Não é propaganda que vai reduzir imposto”, reagiu Hauly. “O vídeo é meio fake”, provoca. “Porque se centra numa medida pontual como se fosse uma solução definitiva para resolver o problema estrutural da injustiça tributária”. Para ele, a solução é a reforma.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Esse brochinho dourado é de deputado? | Reprodução/vídeo