Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Aos poucos, as diversas federações e algumas fusões entre partidos vão construindo na prática a necessária reforma partidária, que há muito se ensaia e nunca foi feita. Depois da federação entre União Brasil e o PP, a Federação Progressista, agora avança e começa a amadurecer uma federação entre o MDB e o Republicanos. O Republicanos também conversa com o partido que vai resultar da fusão entre PSDB e Podemos. Todas essas conversas serão importantes para o jogo eleitoral de 2026. Unidos em federação, os partidos passam a agir como se fossem um só. Precisam seguir as mesmas orientações: se uma federação apoiar determinado candidato à Presidência, essa união terá que se refletir nos arranjos nos estados.
Planos
Tudo isso vai produzindo um enxugamento. E pode produzir novas inclinações eleitorais. No caso da união de MDB e Republicanos, pode colocar os emedebistas nos planos do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Fortalece a aposta.
Candidato
Tarcísio ainda calcula qual o melhor passo para ele: tentar novamente o governo de São Paulo ou arriscar uma candidatura à Presidência. Tudo dependerá da evolução do jogo daqui até 2026. Tarcísio só tentará a Presidência se sentir que tem realmente chance de vitória.
Centro-direita tende a ficar fragmentada primeiro
Federação fortalece possibilidade de Nunes | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Na avaliação de um político do Centrão que acompanha os movimentos, todas essas uniões poderão ter como efeito a fragmentação da centro-direita no primeiro turno da eleição. A não ser, talvez, se o ex-presidente Jair Bolsonaro refazer a sua condição de inelegibilidade, o que vai ficando cada dia mais improvável. Pelo contrário, a tendência é Bolsonaro ser condenado na ação penal sobre a tentativa de golpe de Estado. Todos esses grupos tendem a não se aglutinar numa única aposta no primeiro turno. Por um lado, pode ser uma boa notícia para Lula. A fragmentação deve produzir um segundo turno, de alguém com ele.
MDB
Por outro lado, Lula perde cada vez mais a condição de ter esses partidos do centro ao seu lado. Mesmo alguns nomes muito ligados ao governo Lula apoiam a federação com o Republicanos. Um caso, por exemplo, é o ministro dos Transportes, Renan Filho.
Para onde?
Unido a um partido que tem hoje um nome forte como alternativa a Lula, esses emedebistas aliados conseguirão demover essa candidatura? O pai de Renan Filho, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), revelou que o partido chegou a ter conversas com União/PP.
Acertos
Em lugares onde os acertos do MDB tendem mais à direita, a federação com o Republicanos vai ajudar também. No DF, por exemplo, os partidos já estiveram unidos para eleger em 2022 o governador Ibaneis Rocha (MDB). Ficará mais fácil unirem-se de novo em 2026.
São Paulo
Em São Paulo, se Tarcísio disputar a eleição, contará com o MDB. Se for para a Presidência, Republicanos e MDB estarão juntos em torno de uma provável candidatura do prefeito Ricardo Nunes, do MDB. A federação, enfim, tem tudo para ser novo desafio para Lula.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Tarcísio e Baleia: federação une planos dos dois | Divulgação/MDB