Alfabetizar insetos: metáfora de um sistema perdido

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Por EDELBERTO BEHS*

Atraídas por um pote de açúcar, doces e outras guloseimas, consegui captar um grupo de baratas e formigas na sala da minha casa. Acomodei-as numa caixa de papelão bem fechada para que não pudessem fugir e tratei de alimentá-las com a glicose de cada dia.

Minha mãe ficou possessa.

– Que maluquice é essa de capturar formigas e baratas aqui em casa?

– Mãe, eu explico: Quero domesticá-las.

– Mas isso é uma doidice total. Estás fazendo um experimento para a faculdade?

– Não, mãe, é iniciativa minha. Quero que aprendam a escrever.

– O quê? Achas que vais conseguir que elas saiam por aí escrevendo textos, colunas, artigos, editoriais?

– É o que pretendo, para o bem da História. Se não conseguirem escrever, que pelo menos consigam falar!

– O que é que a História tem a ver com a alfabetização de formigas e baratas?

– Veja bem, mãe. Dá uma olhada no Planeta Terra. O mundo está cheio de armas. Já tivemos até presidente que queria armar a população. É uma confusão completa. O ser humano não aprendeu nada em milhares de anos de existência. Não sabe conviver, não sabe ser parceiro, colaborador. É a Rússia invadindo a Ucrânia; é a Ucrânia devolvendo o ataque com drones; é o Exército Israelense acabando com a população de Gaza, civis inclusive; o Irã respondendo com bombas lançadas sobre Tel Aviv; é guerra no Sudão, no Congo, na região do Sahel, no Iêmen, na Síria. O Trump querendo anexar a Groelândia e o Canal do Panamá; a Europa, berço de grandes pensadores, se armando; o primeiro-ministro inglês dizendo que seu país está pronto para a guerra. É guerra e guerra. Me parece que são mais de 60 conflitos armados no momento.  

– Tá, e daí, baratas e formigas vão salvar o mundo?

– Não é isso, mãe. Baratas e formigas são insetos resistentes. Se der uma hecatombe nuclear, elas conseguem sobreviver. Os malucos no poder podem, hoje, acabar com a raça humana. Veja quantos detêm a bomba atômica! Além dos Estados Unidos, a Rússia tem, a Índia tem, a China tem, a Coreia do Norte, Israel e sabe-se lá quem mais. Dependendo os contendores, pode ser bomba atômica daqui e bomba atômica dali. Não sei se a América do Sul, onde nenhum país tem esse tipo de arma, se safa numa guerra mundial, que está no horizonte.

– E o papel das baratas e das formigas, qual será?

– Alfabetizadas e sobreviventes, elas poderão dar continuidade à história, ou melhor, à história de quem passou pela bomba atômica, se é que vai sobrar algum humano. Então, nada de borrifar veneno pela casa. Nada de spray mata insetos!

– Tudo isso é uma loucura, filho.

– Mas mais louco que o meu empenho em alfabetizar baratas e formigas é a ganância e a soberba de governantes do mundo. E o pior: muitos deles são eleitos, enganam o eleitor com mentiras deslavadas. Lembra do Trump dizendo, na campanha eleitoral, que imigrantes estavam comendo carne de cachorros, caçados nas cidades? E o capitão, aqui no Brasil, não disse que o PT estava distribuindo kit gay e mamadeira de piroca nas escolas? Eleito, não recolheu nenhum kit gay ou mamadeira simplesmente porque não existiam.

– Pois só pra ver, mãe, tem gente que acredita nisso. Acreditas?


*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).

Foto de capa: IA

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