Adão e Eva não receberam um manual de preservação da espécie

Por EDELBERTO BEHS*

A evolução da humanidade, desde os seus primórdios a-históricos, deu-se em boa medida, até alcançar o século XXI, à base do empirismo, da experiência, na captação do mundo externo pelos sentidos, através da prática. Assim, a pedra foi transformada num instrumento cortante, usado como martelo, também como arma.  Na vivência cotidiana dos antepassados as descobertas foram criando materialidade, como o surgimento do fogo e a invenção da roda.

Mas como foi que constataram que para a continuação da espécie humana era preciso ter descendência? E que era pela cópula que filhos e filhas seriam gerados? Dispersos pelo jardim do Éden, não consta que Adão e Eva tivessem recebido do Criador um manual de conduta humana, de continuidade e preservação da espécie. Receberam, sim, a única ordem foi a proibição de comerem frutas da árvore do conhecimento do bem e do mal.

Adão viu a Eva, nua antes da queda, com o corpo coberto por folhas depois da enganação da serpente – o que seria, segundo o Papa Francisco, a primeira fake news da humanidade – e teve uma ereção. Deve ter pensado: “O que é isso? O que está acontecendo comigo? O que faço agora?” Talvez Eva, recorrendo à percepção feminina, tenha se juntado ao corpo de Adão e explicado o que e como se faz. E fizeram, para gaudio da espécie! A cada dia passaram a brincar de pega-pega que terminava num enrosco sobre uma gramínea ou sob o tronco de uma árvore do paraíso.

Mas tiveram outras surpresas. Com o passar do tempo, a barriga da Eva dava sinais de crescimento. O que será que ela tinha ingerido para chegar nesse estágio? O tempo passava e o ventre ficava cada vez maior. Até chegar o momento do parto. E agora Adão, o que fazer? Que cordão é aquele que vem junto com quem está saindo do útero da Eva? Como separá-los? É preciso cortar, mas como?

Depois, que figura mais berrona, chorona, a Eva leva ao colo? E por que chora? Sente alguma dor, algum desconforto depois de deixar um lugar seguro, quentinho, habitado por nove meses e nascer para o desconhecido? Ou será fome? E alimentá-lo com o quê? Não dá para alimentar essa criatura que sequer dentadura tem com frutas, ervas, carnes… Só com líquido. Água resolve? Como foi que Eva descobriu que trazia leite no peito e que seria o alimento ideal para o recém-nascido?

Esse mundo dos primórdios não foi nada fácil. Nossos antepassados tiveram que fazer algumas descobertas para dar continuidade à espécie, o que nem sabiam como isso aconteceria, para encontrar um berço, um canto que pudesse ser chamado de lar, protegido de feras, cobras, mosquitos e outros insetos!

Será que foi assim mesmo ou estou elucubrando?

*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).

Foto de capa: IA