Por ANGELO CAVALCANTE*
Uma política monetária que estabelece, que impõe e manda para uma patuleia desinformada e supersticiosa uma taxa básica de juros a 15% nem é uma política monetária.
Isso é, em dizer foulcaultiano , uma biopolítica; nos dias que correm, chamam de necropolitica. E sem arrodeios ou retóricas acadêmicas é do que se trata!
Olha… isso é um “money-duto” que suga, que mama praticamente metade do produto brasileiro, das riquezas nacionais e feitas, é claro, a muitas mãos.
Essa geringonça realiza das mais fantásticas e instantâneas migrações de tais valores para meia mão de bancos e acionistas e que “investem” seus capitais nesse negócio de curto prazo de nome “Brasil”.
O termo “meia mão” não é casualidade!
De fato, é um oligopólio de pessoas que cabe, que pode ser contado nos dedos das mãos. Isso já é problema de soberania e, de fato, o principal gargalo para nossa democracia vesga, manca e gaga.
Deixa eu dizer de forma bem ligeira e breve…
…É mais ou menos assim… Quando você compra um celular naquela loja “…lu”, quando você abastece seu carro se utilizando de um “escorpião” de nome cartão de crédito ou quando procede o parcelamento de qualquer coisa… Veja só… De vinte a trinta por cento de tudo o que você pagar vai para essa “meia mão”.
É o atravessador perfeito!
O ente não fala, não se pronuncia, não aparece, não contesta ou agradece… Obedece a protocolos info-mecânicos-digitais e, desse modo, se converte no principal agente econômico de toda a nossa dura e penosa realidade econômica.
Seu peso, sua força e inteligência são maiores do que o que se faz no comércio, nas indústrias, na agricultura e bem maior e mais importante do que a arrogância antipática dos barões do “agro”.
Dessa forma, o atravessador perfeito está em todos os níveis, setores e estratos da multi-economia brasileira e sua lástima é que interrompe ciclos e circuitos econômicos porque descapitaliza, esvazia amplas cadeias de produção, faz definhar e gera espécie de “anemia econômica” para todo o resto.
Por que?
Porque se converte em um sumidouro continental de recursos públicos ou privados de maneira a converter estados nacionais em miudezas simbólicas e desimportantes.
Tudo assentado em uma dinâmica de anti-valor! Sim… Houve um tempo em que os ganhos, sobretudo, as remunerações de patrões e empresários se justificavam única e exclusivamente apartir da produção real.
Que saudade chorosa e apaixonada desse longínquo mundo com sentido econômico!
Veio esse universo paralelo do anti-valor e cá estamos nas espumas ralas e rareadas de uma economia que faz deseconomias; de um tipo de produção que promove improduções, de atividades que conformam passividades econômicas e trágica e melancolicamente viramos isso!
Por fim, a desgraça maior dessa lógica é o descolamento pleno e que essa fatia especulativa logrou realizar quando, em definitivo, se apartou da própria economia real.
Aí… Aí a Caixa de Pandora fora aberta e todos os diabos e correlatos foram liberados!
Repara…
É lucro sem produção; ganho objetivo sem o equivalente e correspondente na feitura de bens e serviços; é a mais fabulosa modernose tecnoprodutiva e que expulsa bilhões de trabalhadores mundo afora do mundo do trabalho; são trabalhadores sem salários, famílias sem consumo e demandas sem pessoas.
Nem Satanás e sua horda de espectros conseguiria elaborar algo tão maligno.
Com alguma sorte, teremos o inferno… O que se achega, se avizinha com catinga e fedor de morte e muito sofrimento no mundo da economia não tem nome.
*Angelo Cavalcante_ – Economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Itumbiara.
Foto de capa: Reprodução