Em editorial contundente publicado nesta terça-feira (30), o jornal O Estado de S. Paulo defendeu a cassação imediata do mandato do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O texto compara a atuação do parlamentar à de seu pai, Jair Bolsonaro, e afirma que, assim como o ex-presidente foi poupado pela Câmara em 2000, Eduardo não pode continuar a ser protegido por uma “inércia corporativista”.
O editorial lista uma série de ações recentes do deputado que, segundo o jornal, atentam contra as instituições democráticas brasileiras. Entre elas, o apoio ao tarifaço imposto pelos EUA contra o Brasil e uma live com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ameaças a um delegado da Polícia Federal.
Abaixo, o editorial na íntegra:
Eduardo Bolsonaro tem de ser cassado
Por atuar deliberadamente para prejudicar o Brasil, o deputado não pode continuar como parlamentar. Que a Câmara não repita com ele o erro que cometeu há 25 anos, ao deixar impune o pai dele
Por Notas & Informações | 30/07/2025 | 03h00
Diante das barbaridades protagonizadas pelo então deputado federal Jair Bolsonaro, este jornal pediu a sua cassação em janeiro de 2000, classificando-o pelo que ele era – um dejeto da democracia, alguém desqualificado que se servia das mesmas liberdades democráticas que sempre desejou eliminar. Passados pouco mais de 25 anos, é preciso dizer o mesmo sobre seu filho Eduardo Bolsonaro. Por atuar deliberada e sistematicamente para prejudicar o Brasil, em nome dos interesses particulares de sua família, Eduardo Bolsonaro precisa ter cassado seu mandato de deputado federal. Trata-se da única reação cabível por parte de uma democracia digna do nome.
Eduardo já fez de tudo, mas não há afronta à democracia que não possa ser superada por outra maior. Não lhe pareceu suficiente, por exemplo, regozijar-se do lobby que fez junto ao governo dos EUA como forma de pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a desistir dos processos contra seu pai, tornando-se responsável, em grande medida, pelo tarifaço convertido em chantagem explícita do presidente americano, Donald Trump, contra o Brasil e a favor de Jair Bolsonaro. Também não lhe bastou arvorar-se em negociador diplomático e pedir sanções contra autoridades brasileiras, entre as quais os presidentes da Câmara e do Senado, o ministro do STF Alexandre de Moraes e o presidente Lula da Silva. Era preciso, como fez o pai durante as décadas que passou no Congresso, enxovalhar a instituição parlamentar que ele mesmo integra: nesta semana, o deputado admitiu na caradura que está sabotando o esforço da comitiva de senadores brasileiros que viajou aos EUA para tentar abrir algum canal de diálogo com o Congresso e o governo americanos a fim de evitar as tarifas impostas por Trump.
Dias antes, reclamou dos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do Paraná, Ratinho Junior (PSD), por se pronunciarem sobre o tarifaço sem mencionar o que realmente importa para os Bolsonaros – a liberdade de Jair Bolsonaro. Ainda acusou Tarcísio de tê-lo desrespeitado por dialogar com empresários paulistas e com o encarregado de negócios dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, para discutir a crise. Segundo a cartilha bolsonarista, qualquer ação que se afaste da defesa direta da impunidade para o ex-presidente e outros golpistas equivale a uma declaração de guerra.
A lista de suas imposturas também envolveu uma live nas redes sociais, na qual o irascível “Zero Três” não só manteve o diapasão alto nos ataques ao STF como recorreu a uma intimidação de fazer corar vítimas de gângsteres, milicianos e contraventores do gênero. Ao mencionar a Polícia Federal e citar o delegado responsável pelos principais inquéritos contra Bolsonaro, subiu alguns graus do “jus sperniandi” de quem se enxerga um injustiçado para fazer ameaça explícita: “Vai lá, cachorrinho da Polícia Federal que tá me assistindo, deixa eu saber não”, avisou. “Se eu ficar sabendo quem é você, eu vou me mexer aqui. Pergunta ao tal delegado Fábio Alvarez Shor (que investigou Bolsonaro em diversos inquéritos) se ele conhece a gente”. Um assombro.
Com o prazo expirado da licença que o deputado tirou para sabotar o Brasil em solo americano, e sem planos imediatos de retornar ao País, esperava-se que ele renunciasse ao mandato que os paulistas infelizmente lhe deram. Nos últimos dias, difundiu-se na imprensa a possibilidade de a Câmara adotar o mesmo artifício usado no caso do deputado Chiquinho Brazão, réu pelo assassinato da vereadora carioca Marielle Franco: deixar que as faltas às sessões cumprissem a função da perda do mandato. Será um erro gravíssimo. A fim de cuidar da própria imagem, não bastará ao Legislativo federal recorrer a essa solução. Afinal, Eduardo Bolsonaro passou dos limites e merece não a inércia corporativista da Casa, mas uma punição dura, real e imediata.
Há 25 anos, quando poupou o então deputado Jair Bolsonaro, a Câmara escolheu desmoralizar-se. Que não repita esse erro agora com Eduardo Bolsonaro.
Imagem da capa gerada por IA ChatGPT a partir de Foto de Wilton Junior/Estadão
Abaixo, a foto original.

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cassação, Eduardo Bolsonaro, editorial Estadão, Jair Bolsonaro, STF, Câmara dos Deputados, ameaça, chantagem internacional





Respostas de 4
Essa foto/desenho era pra ser do Eduardo Bolsonaro? Pq parece o Lula? E com esse boné ainda!!
É claro que poupar o Coiso foi um erro da Câmara. Erro maior ainda foi o Estadão não citar isso por 25 anos. Foi defender essa direita de araque contra representantes da “esquerda” no mínimo mais responsáveis que seus candidatos.
Estadão = imperdoável.
É assim que uma imprensa livre devem se comportar: formar e informar. Parabéns, por este editorial!
O Estadão desesperado por ver que quanto mais o tempo passa, mais a reeleição de Lula em primeiro turno se torna inevitável…