Por ADROALDO QUINTELA*
Tomamos café da manhã no Albergue Ponte Ferreira por conta do isolamento do povoado. Um pouco antes das 7h30 Raquel, Bernardo, Felipe, José e Adroaldo estavam com o pé na estrada. Na primeira hora a caminhada foi super tranquila. Depois começou a chover torrencialmente. Apesar do frio e da forte neblina a nossa peregrinação se desenvolveu num ritmo tranquilo. Na verdade cada pessoa caminha de acordo com suas expectativas. O legal desse grupo que se formou ao longo do Caminho Primitivo – iremos juntos até Santiago de Compostela – é que as motivações pessoais são muito semelhantes. Ninguém quer ser campeão de nada. Mas, vivenciar os detalhes que surgem ao longo dos trechos percorridos. Também demos uma parada técnica para um lanche comunitário com as comidas que levamos. Esses espanhóis são super legais. Sinto apoio e generosidade fantásticos. Bernardo, Felipe e José trabalharam juntos e são amigos há 38 anos. Estão apodrntados. Em 2024 fizeram o caminho Francês. A catalã Raquel e o brasileiro Adroaldo foram incorporados por afinidade. Conversando com Bernardo falei que o grupo praticava a comunhão no sentido mais primordial do termo. Comungavamos do trajeto, da escolha dos albergues, da divisão das despesas e dos bindes com vinho branco ou tinto. Chegamos em Melide antes das 13h00. Melide tem uma característica especial. É o ponto de convergência entre o Caminho Primitivo e o Caminho Francês. Sentimos a diferença com relação à quantidade de pessoas nas ruas, restaurantes bares e mercados. Enquanto no Caminho primitivo circulavam umas 80 pessoas, no Caminho Francês este número deve aumentar em escala geométrica.
Fomos recebidos por uma banda de música. Melide está em festa neste fim de semana. Assistimos ao desfile de bonecos gigantes, banda com gaita de fole (influência dos Celtas) e mascarados, quando íamos comer o Polvo à Galega mais querido da cidade.
Melide é uma cidade com pouco mais de 10 mil habitantes, que abriga o cruzeiro mais antigo da Galicia.
Estamos a menos de 50 km de Santigo de Compostela. A intenção é cumprir mais duas etapas e chegar na segunda-feira. Como o relevo do terreno é mais amigável do que no Principado das Astúrias. temos convicção de que esta meta será alcançada sem muito esforço físico. É importante frisar que o mais relevante da caminhada é a imersão física, mental e espiritual. O Adroaldo Quintela que partiu de Oviedo em 29/4/2025, já não é o mesmo. A curva de aprendizagem, o amor próprio, a confiança em seus limites e possibilidades e a renúncia ao ego são incomensuráveis.




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.*Adroaldo Quintela é Economista.Diretor-Executivo do Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste (IDESNE) Fundador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED).
Foto de capa e demais fotos: Adroaldo Quintela