Por CARLOS EDUARDO BELLINI BORENSTEIN*
Na reunião ministerial ocorrida nesta segunda-feira (20) o presidente Lula (PT) deu a largada para a sucessão do próximo ano ao afirmar que “2026 já começou”. No discurso de Lula foi possível perceber três pilares da estratégia eleitoral do governo: 1) a defesa da democracia e o combate à extrema-direita; 2) a redução da inflação, principalmente dos alimentos; e 3) a conexão com a nova realidade do mercado de trabalho.
Ao recordar a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, o presidente sinalizou que a defesa da democracia e o combate à extrema-direita serão um pilar central da estratégia eleitoral do governo para 2026. Em seu discurso, Lula afirmou que “precisamos dizer em alto e bom som, queremos eleger governo para continuar processo democrático do país, não queremos entregar esse país de volta ao neofascismo, neonazismo, autoritarismo”.
Um dos desafios de Lula é reeditar a pluralidade de forças políticas que garantiu sua vitória nas eleições de 2022. Apesar da presença de partidos como o Republicanos, PP, União Brasil, MDB e PSD na Esplanada dos Ministérios, a frente ampla em defesa da democracia de 2022 teve curta duração no governo Lula 3 em função do enraizamento da polarização na sociedade brasileira. As últimas pesquisas de avaliação do governo mostram uma divisão entre aprovação e desaprovação há mais de um ano.
A atração do centro e de parte da direita democrática será decisiva em 2026, pois é a reconstrução da frente ampla que garantirá o isolamento da extrema-direita. Mesmo derrotado em 2022, o bolsonarismo permanece forte na sociedade, sendo um forte adversário.
Entretanto, somente a defesa da democracia parece ser insuficiente para garantir a reeleição do presidente Lula. Não por acaso, na reunião ministerial desta semana, Lula cobrou uma redução do preço dos alimentos.
Lula inclusive ensaiou um slogan para a segunda metade do governo: “se a gente trabalhou união e reconstrução, agora a gente vai ter que trabalhar outra coisa importante: reconstrução, união e comida barata na mesa do trabalhador, porque os alimentos estão caros na mesa do trabalhador”.
Dados divulgados no início de janeiro pelo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontaram que a inflação de alimentos atingiu 8,23% no ano passado. Assim, para que a bandeira da defesa da democracia tenha apelo eleitoral, é necessária uma redução da inflação, principalmente dos alimentos.
Os preços elevados impactam negativamente não apenas a base social lulista, composta majoritariamente por segmentos da população com renda mensal de até dois salários mínimos, mas também as classes médias – com renda de mais de dois a cinco salários.
Sobre a importância da inflação para a percepção da população em relação à situação da economia, vale menção a recente análise do cientista político Steven Levitsky, da Universidade de Harvard. Em entrevista concedida à BBC, o autor do clássico “Como as democracias morrem” afirmou que nas eleições norte-americanas de 2024 os eleitores decidiram que “o preço dos ovos importa mais do que a invasão do Capitólio”, optaram por mudança e votaram contra o governo.
Assim, caso os preços dos alimentos permaneçam elevados nos dois próximos anos, a narrativa da defesa da democracia e do enfrentamento à extrema-direita, assim como ocorreu na eleição norte-americana do ano passado, pode ser insuficiente.
Outro pilar da estratégia lulista – talvez o mais complexo deles – envolve a compreensão, principalmente por parte dos setores mais ortodoxos de esquerda, em relação às transformações que estão ocorrendo no mercado de trabalho.
Na reunião ministerial, Lula alertou que “é importante que a gente compreenda que o povo com que estamos trabalhando hoje não é o povo dos anos 1980, que queria ter emprego em fábrica com carteira assinada. É um povo que está virando empreendedor e precisamos aprender a trabalhar com essa nova formação do povo brasileiro”.
A defesa da democracia, que envolve a reconstrução da frente ampla para isolar a extrema-direita, a redução da inflação e a conexão com o “novo” mundo do trabalho são três pilares que necessitam andar juntos.
*Carlos Eduardo Bellini Borenstein
Doutorando em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Bacharel em Ciência política (ULBRA-RS). Especialista em Ciência Política (UFRGS). Tem MBA em Marketing Político (Universidade Cândido Mendes).
Foto de capa: Valter Campanato/Agência Brasil
Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democraca.