Por SILVANA CONTI*
Quero expressar toda minha solidariedade e apoio as lutas das mulheres palestinas que sofrem com as guerras, com os assassinatos, torturas e desaparecimentos de seus filhos(as) e familiares.
Destaco também minha solidariedade e militância na luta antirracista, onde as companheiras negras continuam enfrentando e sofrendo cotidianamente a guerra do racismo institucional e estrutural, infelizmente também perdendo seus filhos/as com o genocídio da juventude negra.
Quero também saudar Eunice Paiva e a atriz Fernanda Torres que representou brilhantemente a Eunice. Elas representam milhares de mulheres que perderam seus familiares para o crime cruel da ditadura.
Somos nós mulheres e de forma mais cruel as companheiras negras quem sofrem na pele com toda esta situação tenebrosa que vivemos, onde levantamos mais cedo e dormimos mais tarde todos os dias, temos tripla jornada de trabalho, continuamos com salários menores que os homens. Somos aquelas que sofremos múltiplas violências, tanto no âmbito privado, quanto nos espaços públicos.
O mundo vive um momento de profundas redefinições em sua ordem, com a busca da unipolaridade estadunidense e a imposição do neoliberalismo.
O acirramento da luta de classes se apresenta na fase mais aguda da crise estrutural do capitalismo, tendo a barbárie, a misoginia, o racismo estrutural e a violência institucional como regra na organização do Estado.
É muito importante destacarmos que o Estado, o capitalismo, a misoginia e o racismo estão estruturalmente relacionados. As formas sociais de mercado, propriedade privada, dinheiro, finanças, liberdade e igualdade são moldadas para garantir o controle da sociedade nas mãos do grupo dominante.
O capitalismo neoliberal acentua desigualdades e precariza o trabalho.
A histórica desigualdade sobre as mulheres trabalhadoras já era desfavorável, principalmente pós golpe de 2016, e com a profunda crise desencadeada pela Covid-19, o desemprego entre elas se agravou e trouxe ainda mais dificuldades objetivas de sobrevivência.
Os resultados do Censo Demográfico 2022 apontam que o Brasil tem 6,0 milhões de mulheres a mais do que homens. A população brasileira é composta por cerca de 104,5 milhões de mulheres e 98,5 milhões de homens, o que, respectivamente, corresponde a 51,5% e 48,5% da população residente no país.
Em 2022, 92,1 milhões de brasileiros (45,3% do total) se declararam pardos, ante 88,3 milhões de brancos (43,5%).
São quase 47 milhões de mulheres pardas, que, somadas às mulheres pretas, totalizam mais de 57 milhões de mulheres negras.
Segundo dados do DIEESE (Boletim Especial 8 de março de 2025: Mulher chefia mais domicílios, mas segue com menos direitos e oportunidades no trabalho Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), os bons resultados do mercado de trabalho, devido ao crescimento de 3,5% do PIB, estão expressos na criação de 1,7 milhão de empregos com carteira, na queda do desemprego e no aumento recorde da massa salarial.
Apesar desse cenário positivo, as desigualdades entre mulheres e homens no mercado de trabalho permanecem inabaláveis. As mulheres continuam com as maiores taxas de desemprego, os menores salários e ainda acumulam tarefas domésticas, incluindo atividades relacionadas aos cuidados de outras pessoas, atribuição que muitas ainda realizam além dos limites dos próprios lares, como trabalho remunerado.
Duas lutas históricas das/os comunistas:
A Lei de Igualdade Salarial entre Homens e Mulheres (Lei 14.611/2023) foi promulgada em novembro de 2023, mas os efeitos só começaram a aparecer em 2024, com a divulgação do primeiro Relatório de Transparência Salarial, obrigatório para empresas com 100 ou mais empregados.
A jornada semanal de trabalho remunerado masculina excede a feminina em 4,3 horas, enquanto a jornada de trabalhos não remunerada feminina supera a masculina em quase 10 horas. Em um ano, as mulheres gastam 499 horas (ou, 21 dias) a mais do que os homens em afazeres domésticos. Fica evidente a necessidade de políticas públicas voltadas para a redistribuição dos trabalhos domésticos não remunerados, como, por exemplo, a extensão da licença-paternidade e a ampliação da oferta de creches públicas.
A deputada federal Daiana Santos (PCdoB), protocolou o PL 67/2025 que prevê a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e garante dois diais consecutivos de descanso remunerado.
Trabalhadoras/es brasileiras/os têm jornadas mais longas do que em países como Canadá (32H), Alemanha (34H), Reino Unido (36h), e Argentina (37h). Este projeto de lei, é fundamental para todas e todos trabalhadoras/es, mas um grande avanço para a vida das mulheres que vivem sobrecarregadas, com cansaço extremo, vivendo sem tempo para a família, para cuidar da sua saúde física e mental, sem tempo de sonhar, amar e ser feliz.
Embora, o povo brasileiro tenha lutado e segue lutando pela construção de uma nação democrática, livre, soberana, desenvolvida e justa, estamos distantes disso.
De acordo com Sueli Carneiro (2019, p. 56), “A mulher negra não participa do processo produtivo em igualdade de condições com homens brancos, negros, amarelos, e mulheres brancas e amarelas”. Situa-se, assim, na base da hierarquia social; por esse motivo penalizada tanto em relação a oportunidades, quanto à mobilidade na estrutura ocupacional.
Para Collins (2019) uma das dimensões da opressão de mulheres negras é a forma específica com que o trabalho dessas mulheres é historicamente explorado para a construção e manutenção do capitalismo. A autora traz que a interseccionalidade é, ao mesmo tempo, um conceito analítico de “projeto de conhecimento” e um instrumento de luta política, no combate às opressões múltiplas e imbricadas, com vistas à emancipação.
Segundo Valadares (2007), é necessário compreendermos que a necessidade da luta contra a opressão de gênero se insere na luta contra todos os elos de opressão e pela conquista de uma sociedade radicalmente nova, sem discriminação de gênero, de raça e de classe.
Sem dúvidas: “A vida presta, e AINDA ESTAMOS AQUI.”
Sem anistia!
Ditadura nunca mais!
Referências
CARNEIRO, Sueli. Escritos de Uma Vida. São Paulo: Pólen, 2019.
COLLINS, Patrícia Hill. Pensamento Feminista Negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. Tradução Jamille Pinheiro Dias. São Paulo: Boitempo, 2019.
VALADARES, Loreta. As faces do feminismo. São Paulo. Ed. Anita,2007
*Silvana Conti é Presidenta do PCdoB/Porto Alegre, mestra em Políticas Sociais, militante lésbica – feminista, militante da luta antirracista.
Foto de capa: @paocomovers e tcheva_leo
Respostas de 5
Uau! Expressou o q sinto!
Excelente texto.
Abrangente, histórico, informativo…
Parabéns á Silvana Conti. Militante respeitada e referência para todos nós.
Maria Cristina F Santos
Vice Presidente da Frente Negra Gaúcha-FNG.
Lamentável essa pátria de câmeras. Ridículo Oscar f GeoPolítica dos EUA perdidos e falidos. O produtor da globo diz q o filme e drama familiar e a esquerda boiola engole pede bis. Nem a família protestou. Esquerda politicamente demente quinta coluna. Assim nem precisa direita. Me admiro vocês caírem nessa. É phoda
Que bom!
Um escrito dessa magnitude, formulado, por uma mulher de esquerda, comprometida com a luta social, com a disputa de classe e sobretudo com a luta das mulheres.
Axé!!??
Excelente. Acrescenta e expande outras abordagens.
Pergunto-me por que nada muda?