O DIA DA VERGONHA

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Manifestantes invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto.

POR SOLON SALDANHA*

Bolsonaro é a nova saúva. Ou a gente acaba com ela, ou ela acaba com o Brasil. É uma praga, uma erva daninha, um vírus, uma doença. Quem por ele foi infectado segue contaminando o corpo da Nação. Não se pode mais ser tolerante, basta de boa vontade, nada de panos quentes, jamais anistia. O que ocorreu neste domingo em Brasília envergonha nosso país e nossa gente. Uma minoria terrorista não pode ter força para paralisar os Três Poderes. O grupo de vândalos que tomou o centro do poder na capital federal, a imensa maioria deles recebendo patrocínio para agir assim, precisa ser identificado, responsabilizado e punido de modo exemplar. Mais do que isso: especialmente empresários e políticos que estão por trás, incentivando, têm que sentir o rigor da lei, indenizando todas os danos causados e perdendo direitos políticos, além de fazer companhia ao que foram paus-mandados, na prisão.

Também foi deprimente, vergonhosa e inadmissível a omissão das forças de segurança do Distrito Federal. Ao invés de agirem, preventivamente e depois reprimindo os atos terroristas, os policiais militares do DF foram vistos conduzindo os “manifestantes” até a Praça dos Três Poderes. E deixaram que os palácios fossem invadidos e depredados, causando um enorme prejuízo ao patrimônio público e outro maior à democracia. Os falsos patriotas, que costumam usar nossa bandeira, mas acham normal bater continência para outras, tiveram acesso facilitado. Eles foram de modo inacreditável até mesmo escoltados em alguns trechos. O que remete a outros atos recentes, como a queima de ônibus e automóveis que ocorreu na noite de 12 de dezembro, após a diplomação de Lula e Alckmin. Também foram de uma displicência notável naquela ocasião. E sequer se surpreenderam, quando uma bomba foi encontrada em um caminhão-tanque, dias depois.

Importante salientar que o governador eleito do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, do MDB – recebeu 50,3% dos votos em primeiro turno –, é um bolsonarista de primeiro momento, raiz mesmo. E o homem que dele recebeu a incumbência de ser o Secretário de Segurança Pública do DF é Anderson Gustavo Torres, filiado ao União Brasil – atual partido do ex-juiz Sérgio Moro –, que assumiu depois de também ter sido Ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro. Aliás, inacreditavelmente Torres está nos EUA, curtindo umas férias apenas uma semana depois dos novos governos terem tomado posse. Ou seja, oportunamente não estava na cidade quando a barbárie dela tomou conta, no dia de ontem. Formado em direito, ele estudou na Escola Superior de Guerra, onde realizou o Curso Superior de Inteligência Estratégica.

O presidente Lula estava no interior de São Paulo. Visitava Araraquara para prestar solidariedade e apoio à população atingida por fortes chuvas que causaram inclusive mortes. De lá mesmo tomou a providência de decretar intervenção na segurança pública do Distrito Federal. Depois disso o efetivo policial aumentou, como que por encanto. Talvez aqueles que antes foram filmados bebendo água de coco e fazendo selfies com as invasões ocorrendo ao fundo, tenham sido substituídos. Ou, quem sabe, acharam melhor iniciarem o seu trabalho. Até o final da noite, pelo menos três centenas de detenções tinham ocorrido. E dezenas de ônibus foram apreendidos, o que torna muito fácil identificar quem pagou pelo transporte, que foi disponibilizado gratuitamente para a turba.

Existe a impressão digital de Bolsonaro em tudo o que ocorreu ontem. Pior: seus dez dedos deixaram marcas indiscutíveis, indeléveis. Mesmo a sua fuga foi parte do teatro armado. Ele, mais ainda do que Torres, não poderia ficar no Brasil. Melhor o álibi da distância, a manipulação de fatos e pessoas, como marionetes. A ação previsível de todo aquele que conhece de perto o crime organizado. Os “adoradores de Tio Sam”, que entendem que tudo o que vem de lá é um bom exemplo, aproveitaram a invasão do Capitólio, que na sexta-feira completou dois anos, para aqui também mostrar todo o seu ódio à democracia. Em uma idêntica não aceitação do resultado das urnas, a extrema-direita brasileira entende como normal não esperar por novo pleito, mas exigir que o anterior não tenha sua validade reconhecida, que a ordem pública venha abaixo, que militares assumam função que não é sua constitucionalmente.

Que 8 de janeiro passe a ser conhecido como o Dia da Vergonha. Mas aqueles que perpetraram a destruição que as imagens estão mostrando não sentirão isso, porque lhes falta tudo, inclusive senso crítico. Quem sabe alguns anos de “recolhimento forçado” não lhes sejam oportunidade para outra vez enxergarem o mundo real.

 

Acesse o blog Virtualidades, de Solon Saldanha: virtualidades.blog/


*Solon Saldanha é jornalista (PUCRS), especialista em Comunicação e Política (Unisc) e mestre em Letras (Uniritter)

 

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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