Não existe consciência de classe sem a consciência do problema racial

De ALEXANDRE CRUZ*

Hoje pela manhã em Porto Alegre, tempo instável, um pouco de frio, mas há um tema quente para escrever na capital gaúcha. É o racismo nosso de cada dia, como gosta de afirmar o meu amigo jornalista Eduardo Prestes, que mora em São Paulo. Simplesmente pensei em deixar um título e o silêncio da página em branco. O som do silêncio traz desconforto. Neste assunto sobre o racismo que o cantor nacional e internacional, dono de uma voz potente, o Seu Jorge, sofreu no Grêmio Náutico União, seria uma provocação para um ato de reflexão.

Gostaria de lembrar personalidades negras gaúchas que engrandecem o nosso Estado, dentre eles: Oliveira Silveira (precursor do 20 de novembro em oposição a data de 13 de maio), Alceu Collares, (primeiro governador negro no Rio Grande do Sul), Deise Nunes (primeira miss Brasil negra), Lupicínio Rodrigues (um grande músico e compositor), o jogador Tesourinha (considerado o maior craque futebolista da década de 40), Osuanlele Okizi Erupê, (que no nosso país adotou o nome de Custódio Joaquim de Almeida – o Principe de Ajudá – que veio do continente africano e viveu com a sua corte no Bairro Cidade Baixa, na década de 20). Foi ele que assentou o ‘Barah’ no Mercado Público em Porto Alegre.

Este racismo nosso de cada dia nos leva ao caminho sobre a herança da escravidão. Não é suficiente a repercussão nacional sobre o episódio que sucedeu com um cantor negro famoso, ator do grande filme ‘Marighela’, sem realizar um verdadeiro debate sobre a escravidão e o racismo sob o ponto de vista da economia política. Não é suficiente a indignação publicada nas redes sociais sem uma defesa contundente das políticas públicas, onde o capitalismo substitui o racismo oficial por pagamento de salários mais baixos para trabalhadores e trabalhadoras que pertencem a grupos minoritários. O controle econômico e social é um instrumento importante do efeito do racismo.

O combate ao racismo não pode ser considerado como uma parte lateral. Não existe consciência de classe sem a consciência do problema racial, como afirmou o professor Silvio Almeida no livro ‘Racismo Estrutural’. É fundamental a eleição do Lula perante o líder da extrema direita que empodera uma parte dos sócios do Grêmio Náutico União a reproduzir gestos e gritos de macaco e realizar xingamentos ao Seu Jorge.

Votar no líder petista é símbolo de atitude, luta e resistência a esse racismo histórico que segue no seio da sociedade brasileira. E o Lula deve estar ciente, junto do núcleo do poder, que os negros vão cobrar espaço no governo, pois nada mais eficaz que, além do lugar de fala, lugar de espaço onde possamos adotar políticas para reduzir a desigualdade social com a consciência do problema racial!


*Jornalista.

Imagem em Pixabay.

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