Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
No fundo, nada do que disse o advogado Carlos Almeida Castro, o Kakay, na sua carta aberta a respeito do terceiro governo Lula é novidade na Esplanada dos Ministérios. São coisas que já há algum tempo vêm sendo repetidas por diversos aliados do governo. Mas em conversas veladas. Kakay é o primeiro a explicitar isso. De uma maneira bem mais suave, o ex-chefe de Gabinete de Lula em seu primeiro governo, Gilberto Carvalho, aponta também para os problemas em uma entrevista ao Brasil 247, na qual afirma que o governo precisa reorganizar suas bases populares para ampliar suas chances para 2026. O grande problema apontado por Kakay está relacionada a mudanças profundas quanto a quem hoje está no entorno de Lula.
Turmas
É algo, inclusive, já analisado antes neste Correio Político. Há uma disputa entre antigos e novos aliados do presidente. Grupos que, nos bastidores, foram batizados de “Turma de São Bernardo” e “Turma de Curitiba”. Antes, prevalecia a Turma de São Bernardo.
Diferenças
A “Turma de São Bernardo” seria formada por aqueles que acompanham Lula desde a origem do PT, quando ele era o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Por ter convivido com um Lula menos poderoso, teria mais coragem para contrapô-lo.
Turma de Curitiba idolatra o presidente
Turma de Curitiba aproximou-se na prisão | Foto: Ricardo Stuckert
A “Turma de Curitiba” é formada por aqueles que mais se aproximaram de Lula durante os 580 dias em que ele esteve preso na sede da Polícia Federal na capital do Paraná. Foram solidários em um dos momentos mais difíceis vividos pelo hoje presidente. Lula tinha ficado viúvo de Marisa Letícia pouco tempo antes. Perdeu seu neto, Artur. Lula teria desenvolvido uma dívida de gratidão com aqueles que mais se aproximaram dele naqueles momentos. Em um caso específico, mais do que gratidão. Foi em 2018 que Lula começou a namorar sua atual esposa, Janja. E não há dúvida do quanto ela foi um esteio importante para ele.
Ídolo
Para além de Janja, no entanto, o que caracterizaria o novo grupo é ter se aproximado já do Lula que foi “o mais presidente mais popular da história” (são deles os maiores índices de popularidade de um presidente). Conheceram um Lula que aprenderam a idolatrar.
Infalível
Como idolatram, têm maior dificuldade em reconhecer e apontar eventuais falhas. Por mais, porém, que Lula seja um incontestável fenômeno político, é humano. Erra, como todo mundo. Qualquer análise no Palácio aponta erros de outros, não de Lula.
Base
As diferenças entre as turmas tornam menos coesa a base mais próxima de Lula. Em um governo que mostrou necessidade de ser uma coalizão ainda mais ampla que os anteriores. O restante da base, o chamado Centrão, está com Lula apenas por conta de seus interesses.
PSD
Como exemplo, o PSD negocia a adesão dos três governadores do PSDB: Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), Raquel Lyra (Pernambuco) e Eduardo Riedel (Mato Grosso do Sul). Por que querem se aproximar do governo? Talvez não. O PSD vai para onde o vento sopra.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Turma de São Bernardo: com Lula desde os primórdios | Sindicato dos Metalúrgicos do ABC