Por EDELBERTO BEHS*
Somente nas Olimpíadas de Londres, em 2012, pela primeira vez mulheres puderam competir em todas as modalidades, inclusive no boxe. O feminismo muito contribuiu para o crescimento da participação de mulheres em competições de alto rendimento. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, 48,8% do número de atletas no quadro de competidores foram mulheres,
A consatatação é da professora mestra Júlia Fernanda Lemos Backes, dos doutores Maurício Barth e Gustavo Roese, docentes da Universidade Feevale, de Novo Hamburgo, que publicaram o artigo “Do campo esportivo ao científico: apontamentos sobre a participação feminina nas olimpíadas”, na revista digital Coisas do Gênero, editada pelas Faculdades EST, de São Leopoldo.
Embora Atenas homenageasse a deusa Athena na primeira olimpíada realizada na cidade, em 766 a.C., as mulheres estavam excluídas dos jogos, pois não eram consideradas cidadãs, tanto como participantes quanto como espectadoras. “Assim, o esporte impregnou-se, de forma geral, com as concepções sociais de masculinidade, como virilidade, resistência e velocidade”, atesta o pesquisador Simões Rubio, citado pelos autores do texto para a revista.
Mesmo em 1896, com o renascimento dos Jogos Olímpicos da era moderna, as mulheres tiveram sua participação mais uma vez barrada por conta de sua capacidade física. A ideologia vitoriana apresentava, então, as mulheres como sendo fortes no âmbito moral e espiritual, “mas física e intelectualmente débeis… mulheres e práticas esportivas não eram compatíveis, pois o esporte as afastava de seu destino como mães. A finalidade do exercício para elas devia ser educativa e terapêutica”, anota a pesquisadora Carla Garcia.
Apenas na segunda edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, reunida em 1900, em Paris, a participação de mulheres foi finalmente admitida em duas modalidades: golfe e tênis. Doze anos depois, nos jogos de Estocolmo, a natação feminina foi incluída. Jogadoras de basquete participaram pela primeira vez de uma olimpíada nos jogos de Montreal, no Canadá, em 1976, 40 anos depois da modalidade valer para atletas masculinos; Jogos de Atlanta, em 1996, tiveram pela primeira vez mulheres no futebol, o ciclismo, nos Jogos de Los Angeles, em 1984, e luta livre nos Jogos de Atenas, em 2004, embora a modalidade existisse para homens desde os Jogos de Antuérpia, em 1920!
Essa trajetória de lentas conquistas da participação feminina em modalidades esportivas dos Jogos Olímpicos mostra o preconceito e delimitações impostas à figura feminina no que toca à prática de esportes. Além de ser um forte componente na construção de identidades e de pertencimento nacional, o esporte é entendido, tanto pela Sociologia como a Antropologia, como um dos grandes fenômenos socioculturais do século XXI, arrolam os pesquisadores.
Autores do texto para a revista constatam que o universo esportivo é “um espaço de opressão feminina, mas transformou-se, também, em um espaço de lutas e contestações”.
*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).
Foto de capa: KAI PFAFFENBACH (REUTERS)
Respostas de 3
Eu gostaria de ver debates nos comentários. Ou seja, poder ler e interagir com os demais comentaristas não só deste mas de todos os artigos.
Pedro, o debate entre leitores é possível por aqui.
Data: 24/Fev/2025.
Muito bem colocado os termos do Esporte e da inclusão das mulheres. Temos que cuidar quando nos esportes em geral, principalmente nos esportes femininos há inclusão de atletas chamados de TRANS, porque precisariam disputar igualitariamente cada qual dentro de sua categoria biológica para não ter desigualdade competitiva. Não podemos é, em nome de um conceito do Olimpismo (Carta de Piérre de Coubertin) válido como a INCLUSÃO, causar uma DESIGUALDADE competitiva o que nos remeteria a um outro problema maior ainda que seria a PREVISIBILIDADE dos resultados, o que impactaria até mesmo a “bolsa de apostas” informal dos Esportes o que traria influência também nos Patrocinadores. Uma longa discussão, sem contar na questão inerente do Doping que se faz presente nas competições de alto nível e que com a inclusão de atletas TRANS fragiliza muito os protocolos ANTIDOPING. Uma discussão acadêmica importante para estes temas.