Ex-diretor da Abin diz que SSP-DF tinha informação sobre ataques violentos

Saulo Moura da Cunha, ex-diretor adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), prestou depoimento nessa quinta-feira (26) na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Ele era o responsável pela Abin durante os atos do dia 8 de janeiro e afirmou que a inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) tinha informações antes dos acontecimentos, inclusive repassadas por ele.

Questionado pelo presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), sobre a versão apresentada por bolsonaristas de que o ex-ministro Gonçalves Dias teria falsificado relatórios, o ex-GSI disse: “Não estou falando em falsificação. Eu estou falando que o general G. Dias determinou que a planilha que fosse apresentada contivesse apenas os contatos institucionais”.

O presidente da CPI também questionou o depoente sobre quais as informações que foram recebidas pela Abin na semana que antecedeu os ataques de 8 de janeiro. Segundo Cunha, na primeira semana de 2023 a Abin recebeu 33 alertas de inteligência e teriam sido inseridos em grupos do qual faziam parte representantes da SSP-DF.

“Quero ressaltar que a operação de inteligência era do GDF. A Abin estava colaborando do ponto de vista da inteligência estratégica”, afirmou Cunha. Segundo ele, no dia 7 de janeiro já havia a informação de que haviam mais de 100 ônibus no DF e na manhã do dia 8 já se tinha a confirmação de que essas pessoas estavam se preparando para um confronto com preparação de contra-medidas como máscara de vinagres no acampamento golpista.

“Na nossa visão ali deixa claro que já havia uma intenção de que pelo menos houvesse manifestações violentas “, narrou o ex-diretor da Abin, acrescentando que essas informações eram colocadas nas células de inteligência e segurança públicas, que também eram abastecidas com informações dos agentes da SSP-DF. “Há uma conversa intensa neste grupo. Uma série de alertas nesse grupo que deixavam claro ali que a inteligência estava acompanhando os eventos”, acrescentou o depoente.

O deputado Fábio Félix (PSOL) destacou que há uma tentativa de jogar responsabilidades da segurança pública do DF, que é financiada pelo fundo constitucional, para agências federais como a Abin. Félix questionou o ex-diretor da Abin se os representantes da segurança do DF, dentre eles a ex-subsecretária de Inteligência da SSP-DF Marília Ferreira Alencar, estavam integrados nesse sistema de compartilhamento de inteligência.

“No sábado (7 de janeiro) de manhã, como já tínhamos indícios de ações violentas, eu pedi ao meu adjunto que fizesse contato com a doutora Marília e passasse para ela”, contou Cunha, destacando que a ex-subsecretária de Inteligência do DF interagiu com o adjunto.

“É importante que fique registrado aqui que a Marília tinha informações de inteligência da Abin para subsidiar a Secretaria de Segurança Pública. Portanto, o governo do Distrito Federal tinha informações de inteligência e cai por terra a tese do governador que teve um apagão naquele dia” , analisou Fábio Félix.

Já o deputado Gabriel Magno (PT) destacou as investigações sobre o uso irregular de um programa de geolocalização de celulares pela ABIN para monitorar ilegalmente políticos, jornalistas, servidores públicos e juízes durante o governo de Jair Bolsonaro. “Nós estamos vendo agora a arapongagem, a espionagem, a perseguição contra brasileiros que foi instrumento desse aparelhamento nocivo que o bolsonarismo fez”, observou Magno.

O depoente alegou nas diversas vezes que foi questionado de que não possuia informações sobre possível utilização do programa de espionagem. Ele argumentou que quando foi nomeado para chefiar a Abin, a ferramenta já não era mais utilizada e não soube dizer quem seriam os possíveis responsáveis pela aquisição da ferramenta. No entanto, ele confirmou que tinha conhecimento de que havia uma “correição” em sigilo para apurar os fatos.


Foto: Rinaldo Morelli/Agência CLDF

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