CORRESPONDENTE POLÍTICO: A Influência Evangélica na Política Brasileira

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Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã

Logo depois do anúncio do resultado do Censo sobre o aumento da presença das pessoas de religião evangélica no Brasil, o demógrafo José Eustáquio Alves deu uma entrevista para a Folha de São Paulo na qual reviu uma previsão que tinha feito antes de que os cidadãos que professam essa crença seriam maioria no Brasil até 2032. Apesar do crescimento, os evangélicos não são a religião predominante no país. E, segundo Eustáquio, diante dos novos dados se isso acontecer será somente depois de 2050. Segundo o Censo, os de denominação religiosa evangélica no Brasil são hoje 26,9%. Católicos ainda são a maioria. O crescimento evangélico experimentou um ritmo menor do que se esperava. E a explicação pode estar na política.

Apetite

O próprio José Eustáquio dá a pista. O forte apetite do projeto político de algumas dessas igrejas de matriz evangélica, especialmente as neopentecostais, pode ter assustado parte da população que em algum momento se inclinou pela conversão religiosa.

Paz

Quem busca uma religião em princípio quer encontrar nela conforto e paz espiritual. E o grito político que muitas vezes se vê nada tem de paz ou conforto. É agressivo. E muitas vezes não exatamente religioso. Caso dos atos de Silas Malafaia em favor de Jair Bolsonaro.

Projeto é conquistar os “Sete Montes”

Para alguns, Michelle seria a “opção evangélica” | Foto: Alan Santos/PR

Esse projeto político evangélico está relacionado com a chamada Teologia do Domínio. Ou dos Sete Montes. Ela foi sugerida pela primeira vez por um pastor presbiteriano dos Estados Unidos chamado Rousas John Rushdoony. Segundo ela, ao longo do tempo, o cristão perdeu na Terra o domínio sobre “Sete Montes”: família, religião, educação, mídia, lazer, negócios e governo. E precisa reconquistá-los antes do retorno de Jesus Cristo à Terra. Nos anos de 1970, tais ideias passaram a ser incorporadas ao ideário do Partido Republicano nos EUA. E é por esse caminho que entraram no Brasil no processo de crescimento por aqui da extrema-direita.

Bolsonaro

Embora se declare católico, Jair Bolsonaro foi batizado nas águas do rio Jordão pelo pastor Everaldo Dias, que chegou a ser preso em 2020 no mesmo processo que levou à cassação do ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel por desvios de recursos na pandemia.

Conservador

Por ser conservador nos costumes, o projeto político relacionado aos “Sete Montes” acaba se inclinando para a direita. E busca muitas vezes atalhos com quem não professa a religião no caminho pretendido do “Monte” da política. Foi o caso com Bolsonaro.

Hábitos

Os palavrões e as piadas de conotação sexual de Bolsonaro não são exatamente o perfil de um evangélico. Mas, como ele era o nome à direita possível em 2018, o projeto dos “Sete Montes” aderiu a ele. Nesse sentido, Michelle, evangélica, teve na eleição papel importante.

Revés

É por onde alguns imaginam que Michelle possa vir agora a ser a opção. Mas o Censo agora mostra que a pressa nesse projeto possa ter experimentado um revés. O crescimento evangélico menor que o esperado pode significar que, para muitos, miraram no “Monte” errado.


*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.

Publicado originalmente no Correio da Manhã.

Foto de capa:  Malafaia faz atos de apoio a Bolsonaro | Isac Nóbrega/PR

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Uma resposta

  1. Realmente o crescimento dos evangélicos no Brasil fica cada vez mais claro, mas acredito que os líderes maiores dessas igrejas estejam tomando um caminho errado na escolha política partidária, que é abraçando a extrema direita, que a cada dia deixa mais claro ser a favor de medidas antidemocráticas e de retiradas de direitos da população mais pobre e as pessoas já passaram a perceber. Com isso muitos não querem acompanhar esses líderes nem na política e nem em suas igrejas.
    Espero que, realmente, o povo dê um basta nesse tipo de lideranças!

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