Cid conecta arquitetura do golpe ao 8/01

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Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã

Há um detalhe importante nas 852 páginas do documento que contém a delação do ex-ajudante de Ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. O trecho ajuda a demolir o argumento que vem sendo usado por aliados de Bolsonaro de que as investigações não apontariam uma conexão entre a arquitetura do golpe e as invasões e depredações dos prédios da República no 8 de janeiro de 2023. Ele na verdade se refere ao dia 12 de dezembro de 2022, data da diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente eleito no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nesse dia, houve uma primeira tentativa de rebelião violenta. Tentou-se invadir a sede da Polícia Federal, automóveis e outros veículos foram incendiados.

Manifestantes

Pois Cid afirma que Bolsonaro abrigou no Palácio da Alvorada três manifestantes, para que não fossem presos. Esse detalhe agride a ideia de um ato espontâneo, à revelia. E mostra o aparelho de Estado usado para esconder pessoas que poderiam ter cometido crime.

Jantar

Segundo Cid, Bolsonaro estaria preocupado que os humoristas Bismark Fugazza e Paulo Souza e o blogueiro Oswaldo Eustáquio acabassem presos na quebradeira. Os três jantaram no Alvorada. E um carro da Presidência transportou Eustáquio do Alvorada até seu hotel.

Segundo Gonet, uma “trama conspiratória armada”

Violência visava ambiente para intervenção | Foto: Joedson Alves/Agência Brasil


Portanto, depois que o pau quebrou na Asa Norte de Brasília no primeiro ensaio do que houve no 8 de janeiro, três manifestantes, com medo de ser presos, jantaram com Bolsonaro no Alvorada, que é um aparelho de Estado. E pelo menos um deles voltou para seu hotel em um automóvel oficial do governo. Diz ainda Mauro Cid nesse trecho que eles, integrantes do canal Hipócritas, entendiam que os “CACs” (sigla para Caçadores, Atiradores e Colecionadores de Armas) “apoiariam o ex-presidente em uma tomada de decisão, como uma tropa civil em caso de um golpe”. Se tal conversa houve, fica absolutamente cristalino o que Bolsonaro cogitava.

Trama

São detalhes que vão construindo a trama. Para tentar reduzir a denúncia, a oposição vem afirmando que ela se baseia unicamente na delação de Mauro Cid, sem maiores provas. Não é bem assim. Nem tudo nas 852 páginas são relatos de Cid. Ali, há vários documentos.

Documentos

Nas 272 páginas da sua denúncia, Gonet cita diversos documentos obtidos após a delação de Cid. São conversas de whatsapp, as “minutas do golpe”, etc. Há toda uma construção descrita para a criação de ambiente político que justificasse uma intervenção militar.

Jurista e padre

Diz Mauro Cid que o assessor internacional, Felipe Martins, levou a Bolsonaro um jurista e um padre para a discussão da tal minuta do golpe. As investigações depois identificaram que o jurista seria Amauri Feres Saad e o padre José Eduardo de Oliveira.

“Doideira”

Mauro Cid divide os conselheiros de Bolsonaro em três grupos. Um mais legalista. Outro mediano, e finalmente o mais radical. O grupo mais moderado, do qual faria parte o e o comandante do Exército, Freire Gomes, temia que Bolsonaro assinasse uma “doideira”.


*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade

Publicado originalmente no Correio da Manhã.

Foto de capa: No dia da diplomação de Lula, primeiros atos violentos | Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agênci

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