Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
A inesperada rota de fuga do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para os Estados Unidos pegou mesmo os políticos de oposição de surpresa. Pelas conversas ouvidas na terça-feira (18) no Congresso, fez cair algumas fichas de que pode haver uma enorme distância entre o desejo e a realidade com relação às chances reais de aprovação do projeto de anistia ou algum outro caminho para trazer o ex-presidente Jair Bolsonaro de volta ao páreo. Em um dia, Eduardo Bolsonaro era o virtual presidente da Comissão de Relações Exteriores. No outro dia, torna-se uma espécie de refugiado nos EUA. Sinal de que, por aqui, as chances, mesmo as políticas, parecem ir minguando. Apega-se, então, a uma possibilidade de pressão externa.
Anistia
Na avaliação de um experimentado senador, propositalmente a oposição mistura dois sentimentos diferentes. Haveria, sim, uma maioria que considera que algumas das penas contra aqueles que depredaram os prédios da República no 8/01 teriam sido excessivas.
Bolsonaro
Mas daí a considerar que essa maioria estaria disposta a anistiar o ex-presidente Jair Bolsonaro como comandante de uma tentativa de golpe haveria uma grande diferença. O que pode unir uma grande quantidade de partidos é discutir uma dosimetria das penas.
O que os partidos ganhariam recolocando Bolsonaro?
Tarcísio: provável alternativa a Bolsonaro | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Com relação específica a Bolsonaro, parece, na verdade, prevalecer mais a posição do Republicanos. Como conceder anistia a alguém que, a essa altura, nem foi condenado? No dia 25 de março, inicia-se um julgamento preliminar, que irá admitir ou não a denúncia feita pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet. Muito provavemente, a 1a Turma irá aceitar a denúncia por unanimidade. Mas somente aí Bolsonaro se tornará réu. Além da questão jurídica, uma outra questão política: por que os partidos além do PL se associariam para recolocá-lo no páreo? Mesmo os de direita, se sairá justamente dali uma alternativa para 2026?
Republicanos
O caso do Republicanos é o mais óbvio. A alternativa mais evidente a Bolsonaro é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Mas se Tarcísio sair para a Presidência, o nome cotado para o governo passa a ser o do prefeito Ricardo Nunes. Por que, então, o MDB apoiaria a anistia?
PSD
Talvez o apoio de Bolsonaro fosse importante para Tarcísio caso ele dispute a reeleição. Mas ele perde sem esse apoio? No mesmo xadrez estaria o PSD. Gilberto Kassab imagina a possibilidade de ser o candidato a vice-governador. Ganha colado a Bolsonaro?
Kassab
Vale à pena para Kassab contribuir em manter na incerteza o quadro de 2026, com Bolsonaro? Especialmente quando tem no partido também nomes ligados ao governo. Rodrigo Pacheco, por exemplo, cogita disputar o governo de Minas Gerais com o apoio de Lula.
Caiado
Cálculo parecido parece envolver o União Brasil. Que coloca como alternativa o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Se Caiado tem pouca chance sem Bolsonaro no páreo, chance nenhuma teria na situação oposta. São situações que aumentam a incerteza sobre a anistia.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Refúgio de Eduardo: sinal de que a ficha caiu | Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Uma resposta
Só sei q chegou a vez de Tarcisio ,n tem jeito