Por CARLOS EDUARDO BELLINI BORENSTEIN*
A conquista do Oscar de melhor filme internacional pelo filme brasileiro “Ainda Estou Aqui” representa um feito histórico de grandes proporções. A emblemática conquista fortalece o cinema e a cultura nacional, após a arte ser permanentemente atacada pela extrema-direita nos últimos anos.
“Ainda Estou Aqui” é também uma resposta a tentativa de revisionismo da ditadura civil-militar. Nos últimos anos, os segmentos alinhados com o autoritarismo brasileiro buscaram construir uma narrativa “alternativa” para relativizar os Anos de Chumbo.
Sem radicalismo, o filme de Walter Salles, que tem Fernanda Torres como protagonista, através de sua consagração internacional, conseguiu mostrar ao mundo o impacto do regime autoritário na vida das famílias brasileiras. Por mais óbvio que isso possa parecer, o fato de as gerações mais novas não terem vivido a ditadura, além de serem turbinadas com a narrativa revisionista, faz com que o encontro com o nosso passado seja um desafio permanente para que não seja esquecido.
Construído a partir do livro “Ainda Estou Aqui”, de Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado federal Rubens Paiva, torturado e assassinado pela ditadura, e de Eunice Paiva, o filme de Walter Salles consagrou simbolicamente a luta por justiça da família Paiva, conhecida apenas parcialmente pelas gerações mais novas.
Através do filme – e também do livro – as gerações mais novas estão tendo acesso à luta de mulheres como Eunice Paiva contra a ditadura militar. Também conheceram a luta empreendida por parte da sociedade, mesmo à custa da própria vida, em favor da democracia.
Ao reavivar o assassinato de Rubens Paiva e a luta de Eunice Paiva por Justiça, o cinema nacional reascendeu o debate do caso. Assim, o filme “Ainda Estou Aqui” deixa a mensagem que a luta contra a ditadura transcende gerações. Através de uma comunicação leve e persuasiva conseguiu reafirmar a luta pela democracia e o orgulho nacional. Segundo pesquisa do instituto IPEC divulgada na semana passada, 70% dos entrevistados afirmaram que sentiram “muito orgulho/orgulho” de ser brasileiro em função do filme.
Esse sentimento de orgulho despertado por “Ainda Estou Aqui” mostra que é possível o campo progressista disputar os símbolos nacionais, que nos últimos anos foram apropriados pela extrema-direita. Não por acaso, nas horas seguintes à conquista do Oscar, os segmentos autoritários foram colocados na defensiva, optando pelo silêncio.
*Carlos Eduardo Bellini Borenstein, Doutorando em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Bacharel em Ciência política (ULBRA-RS). Especialista em Ciência Política (UFRGS). Tem MBA em Marketing Político (Universidade Cândido Mendes).
Foto de capa: Ainda Estou Aqui”, uma emblemática conquista nacional
Respostas de 2
Excelente comentario!
Muito bom, uma grande conquista e um alerta do que foi e do que tentaram repetir no 08/01/23. Este também merece um documentário.