Por ANGELO CAVALCANTE*
Já é consenso entre especialistas o reconhecimento do ambiente catastrófico e que as modernas sociedades industriais levaram o planeta e as vidas humanas e não-humanas.
O que se vive é destacadamente espantoso em matéria de degradação!
Para mero e vago dispositivo de comparação, vejam só… o asteroide que dizimou com os dinossauros há milhões de anos pretéritos é ” fichinha ” perto do que o mundo industrial, com destaque para o macro-campo da atividade petrolífera fez e faz com o globo, seus conteúdos e manifestações vivas.
O planeta, já todo sujo, degradado e carbonizado, assiste a notável e irreversível derretimento de suas geleiras, por consequência, se tem a alteração visível e facilmente comprovada dos níveis de grandes rios, mares e oceanos.
Essa mesma alteração gera as objetivas condições físico-químicas e que garantem velocidade, intensidade, além da acidez, nos ventos e em suas correntes.
Ora, uma brisa que cruza ilhotas japonesas vira um tornado apocalíptico na costa oeste dos Estados Unidos ou a variação ascendente de clima na Austrália chega no Brasil em uma força abrasiva tal que, no automático, desliga todo o sistema elétrico do sul/sudeste.
Vivemos um inferno ambiental e desse quadro sulpita uma enormidade de doenças; gripes tropicais viram pandemias globais, animais são tomados e infestados de pragas e doenças e seus corpos, como expressão e dinâmica do próprio metabolismo, liquidificam e sintetizam novas e renovadas formas de moléstias.
A vida urbana, sobretudo, no terceiro mundo, na periferia global, é grave erro; os imensos conglomerados urbanos ou suburbanos do planeta, ao estilo das regiões de Acra, em Gana, viraram amontoados humanos com quinze ou vinte milhões de pessoas; falta água, drenagem, assepsia e moradia adequada.
Esse plasma sócio-urbano vil e degenerado gera e regera mais degeneração humana e do humano.
O mesmo se dá para os “bolsões” de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília ou Salvador. Os estados nacionais, trespassados pelo “rolo compressor” do neoliberalismo se vêem capados e impossibilitados de efetivas intervenções nesse cenário de aberto extermínio da espécie humana.
Para conter levantes, rebeliões ou processos revolucionários mobilizados, motorizados por condições materiais de vida absolutamente medonhas e repulsivas, o Estado disponibiliza, é claro, o maior aparato policial e militar contra incontáveis populações de pobres, miseráveis e desvalidos de todo o tempo humano sobre essa rocha planetária e que chamamos de Terra.
É a solução possível!
Finalmente, não há governo para o caos profundo e intraduzível em que estamos enfiados. O caminho é a incurável extinção.
Nesse bojo, nessa configuração e nessa circunscrição histórica, o mundo da economia é absolutamente central na culpa, no crime e no extermínio global e que flui perene e sem frenagens.
Nesses termos, tudo, as concepções predominantes de economistas são fundamentais para esse buraco escuro e quente em que nos achamos.
Não se esqueçam… Economia, sobretudo, a economia do capital é, em si, um crime! O absurdo acontece, principalmente dentro do debate econômico, dentro da compreensão de crescimento e desenvolvimento e que as escolas econômicas predominantes impuseram ao mundo.
Na Geografia há a clássica obra de Yves Lacoste e que diz que a ” Geografia serve, antes, para fazer guerra! “; pois nesse parafraseio, afirmo sem qualquer medo de errar… A Economia, ahhhh… ” A ciência econômica serve, bem antes, para exterminar com todo – TODO! – o espécime humano “.
Agora… Reparem…
A ciência econômica é conflagrada e, nos seus intestinos, disputa conceitos, compreensões, formas de entendimento, cérebros, sensibilidades e militância; é nesse estágio que se eleva, por exemplo, a economia política da economia social e solidária.
Essa nova modalidade de economia e que de “nova” não tem nada, se apresenta para, primeiro, sensibilizar as pessoas de que “outra economia é possível”; em seguida, em que pese o ” boom ” tecnológico a engolfar nossas vidas, o trabalho humano ainda é central em qualquer processo produtivo.
O trabalho aqui se destaca como forma social única e possível na relação com a própria natureza; em outros termos, entender economia é, por princípio, compreender da natureza, do seu mundo e do trabalho humano no permanente e interminável processo de transformação dessa natureza e, por conseguinte, da própria natureza do homem, do humano.
Nas linhas e raias da economia solidária o debate ecológico é, por conseguinte, definitivo; essa é percepção de que vivemos em ecossistemas finitos, delicados e frágeis; nesse paralelo, um crescimento infinito, como propugnam as bocas fetidas e ferinas de economistas liberais, é alucinação, loucura ou, o mais provável, um convite para um suicídio coletivo e continental.
E finalmente, o genial conceito da autogestão se afirma como a outra coluna desse edifício teórico e que sustenta o debate da economia solidária. Linhas gerais, a economia do futuro não admite hierarquias, não há patrão ou empregado e todos são igualmente responsáveis pelos fazeres produtivos dos negócios econômicos.
Como isso é possível? Aliás, é possível?
Sim… Não é que haja um conjunto de práticas e exercícios educacionais para tratar da autogestão; a autogestão é, em todo o seu corpo teórico e formativo, a educação nova, renovada, superior e afinada e estabelecida com as melhores aspirações do ser humano na busca por si.
Em síntese, não há educação para a autogestão; autogestão é a educação.
Bom… Sem mais…
A economia social, ainda que pequena, localizada e ignorada, é a resposta serena, objetiva e possível para mitigar o horror econômico e ambiental em que estamos postos.
É nesse sentido que a Universidade Estadual de Goiás tem um papel decisivo e em favor do seu povo goiano; o primeiro do seu papel é reafirmar seu compromisso com o Cerrado, não por menos, esse tipo ecológico singular, único e que nos fez e pariu e; em seguida, reconhecer, por meio de estudos, formações e iniciativas das mais diversas, de que a economia social, ambiental e dos povos cerradeiros ( cf. Prof. Dr. Marcelo Mendonça ) é a economia do Cerrado.
Finalmente, cabe o desafio épico e histórico para essa Instituição: reafirmar a vida, a existência harmônica, integrada e futurista por meio de uma economia de justiça, igualdade e muita sensibilidade ecológica. Eis o coração pulsante e amoroso da economia solidária.
*Angelo Cavalcante_ – Economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Itumbiara.
Foto de capa: Emerson Dias/NCom
Respostas de 2
MARAVILHOSO!! A ÚNICA saída para o caos capitalista (que não tem NADA de caótico, ao contrário, é profundamente convicto e objetivado) é o ser humano, i.e., a VIDA EM SI, porque o ser humano que tem a luz, a convicção e a CORAGEM de mudar, também é o que sente, e SABE, que é parte inalienável da Natureza, do Universo, da Vida. E que se o caminho não for esse, não há outro possível. Parabéns pelo artigo!
Assunto muito pertinente. Precisamos tomar atitudes mesmo sabendo que é nadar contra a correnteza!