Opinião

Folha de S.Paulo: Saco de Gatos ou de Estercos?

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Folha de S.Paulo: Saco de Gatos ou de Estercos?
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Po MARCELO AULER* Em 1980, quando ingressei na editoria de Educação da Folha de S.Paulo, o jornal era carinhosamente chamado de “Saco de Gatos”. Apelido conquistado por uma decisão editorial de abrir espaço para artigos de autores de correntes ideológicas diversas. Fruto da influência direta de Cláudio Abramo, com o respaldado do dono do jornal, Octávio Frias de Oliveira. Estávamos ainda sob o tacão da ditadura militar, no governo do último general-presidente, João Figueiredo. A sociedade, após 16 anos de ditadura, passava por uma ebulição. Ao longo di final dos anos 70, ressurgiu o movimento sindical renovado e forte; os estudantes se reorganizaram e voltaram às ruas; após muita luta, conquistou-se a Anistia em 1979; lutávamos pelo retorno das eleições diretas. A Folha então ousou publicar artigos variados, de autores diversos, independentemente de posicionamento ideológicos. Havia divergência no que era publicado, o que atraiu um maior número de leitores e maior prestígio ao jornal. Algo, porém, permeava os artigos: a defesa do Estado Democrático de Direito, ainda que vivêssemos sob um regime ditatorial. Não havia espaço para defesa dos ditadores ou das práticas ditatoriais, apesar do passado suspeito da Folha de apoio a ditadura militar e colaborar com a repressão política. Naquele momento a empresa vivia uma experiência de convivência pacífica, inclusive na redação, bem administrado pelo Sr. Frias. Desde a pressão dos militares provocando o afastamento de Abramo, por volta de 1977.   A redação passou a ter como diretor Boris Casoy, com um histórico que o ligava aos grupos de Caça aos Comunistas no tempo de estudante da Mackenzie, e por Odon Pereira, antigo quadro do Partidão. Ao mesmo tempo, porém, Frias criou uma “comissão de redação” que representava os jornalistas da casa, na sua grande maioria de esquerda, muitos deles admiradores/apoiadores do PT. Nos anos 80 Frias pai contou também com a ajuda do filho mais velho, Octávio Frias Filho, o Octavinho, que assumiu cargos na redação. Diretas Já, resultado do clima no jornal Através do diálogo com a comissão, da qual fiz parte, Frias buscava uma linha direta com o reportariado. Evitávamos queixas individuais ou sobre chefes; buscávamos ganhos coletivos. Mas com isso Frias mantinha-se informado do clima na redação, o coração do jornal. O que contribuía a favor do chamado custo/benefício do emprego. Trabalhava-se com satisfação naquela época. Tudo culminou na famosa adesão do jornal na Campanha das Diretas, em 1983/4. Ideia do jornalista Ricardo Kotscho que em um breve texto propôs que a Folha, sendo um “Saco de Gatos”, encampasse a luta aquela luta, já defendida pela maioria dos seus leitores. Novamente prevaleceu a visão empresarial de Frias. Mesmo com a oposição de Casoy, contrário ao engajamento em nome de uma suposta “imparcialidade”, o jornal embarcou na campanha e saiu dela mais respeitado ainda. Havia, porém, algo que permeava os artigos publicados: a qualidade dos textos, a honrabilidade e capacidade de seus autores e a defesa do Estado Democrático de Direito, ainda que vivêssemos sob um regime ditatorial. Todas essas lembranças ressurgiram ao se deparar com o espaço aberto pelo jornal para artigo de Jair Bolsonaro – “Aceitem a democracia”. Mesmo se conhecendo esse passado do jornal que acolheu textos de diferentes posicionamentos, não há como entender esse artigo como fruto daquele “Saco de Gatos” dos anos 80. Provavelmente, naquela época, esse texto não seria acolhido por reconhecidamente não representar o que realmente pensa e defende o seu autor. A Folha, que em dezembro de 2019 foi perseguida pelo então presidente Bolsonaro tal como denunciou – Bolsonaro cancela assinaturas da Folha no governo federal e ameaça anunciantes do jornal –, não tem como considerar o ex-presidente um democrata, Ela própria sentiu as perseguições. Dificilmente a publicação do artigo de alguém que pelo seu passado pode ser considerado um impostor, será visto como demonstração de imparcialidade do jornal. Mais provável ser visto como abertura de espaço para quem recentemente quis recusar a democracia, golpeando-a. Ou seja, o artigo não se encaixa naquele antigo “Saco de Gatos”. Está mais para “Saco de Esterco”. Aos leitores e seguidores do Blog – Agradecemos aos leitores e amigos que contribuem com nossa sobrevivência,  Nosso trabalho e nossas viagens dependem das contribuições de apoiadores em qualquer valor, em qualquer periodicidade. Para apoiar o Blog utilize a conta bancária ou o PIX expostos no quadro ao lado.     *Marcelo Auler é Jornalista. Foto de capa: IA Publicado originalmente no Blog do Marcelo Auler Repórter. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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13/11: a guerra santa dos manés em um país desconhecido

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13/11: a guerra santa dos manés em um país desconhecido
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POR FABIO DAL MOLIN* Francisco, como milhares de outros brasileiros que seguem respirando, hoje habita “o país desconhecido” verde e amarelo chamado Brasil. “Tomados pela agitação destes tempos de guerra, informados unilateralmente, sem distanciamento, das grandes mudanças que já se realizaram ou que começam a se realizar, e sem previsão quanto ao futuro que está tomando forma, nós mesmos duvidamos do significado das impressões que nos assolam e do valor dos julgamentos que formamos. Parece-nos que jamais um acontecimento destruiu tanto os bens preciosos comuns à humanidade, confundiu tantas das mais lúcidas inteligências, rebaixou tão radicalmente o que era elevado. A própria ciência perdeu sua desapaixonada imparcialidade; seus servidores, profundamente exasperados, procuram extrair-lhe armas para oferecer uma contribuição na luta contra o inimigo. O antropólogo tem de declarar o adversário inferior e degenerado, o psiquiatra tem de nele anunciar o diagnóstico de perturbação mental ou anímica. Mas é provável que sintamos o mal deste tempo de maneira desmedidamente intensa e não tenhamos o direito de compará-lo com o mal de outras épocas que não vivenciamos. O indivíduo que não tenha se tornado ele mesmo um combatente e, portanto, uma ínfima partícula do gigantesco maquinário de guerra sente-se confuso em sua orientação e inibido em sua capacidade de realização. Penso que para ele será bem-vinda qualquer pequena indicação que ao menos lhe facilite situar-se em seu próprio íntimo. Entre os fatores responsáveis pela miséria anímica daqueles que ficaram em casa, e cuja superação lhes coloca tarefas tão difíceis, há dois que gostaria de destacar e de abordar neste trecho: a desilusão que esta guerra provocou e a modificação de nossa perspectiva em relação à morte, que ela – como todas as outras guerras – nos impôs.” Freud, Sigmund.  1915 “Algumas considerações contemporâneas sobre a guerra e a morte” em Cultura, sociedade, religião: O mal-estar na cultura e outros escritos (Portuguese Edition) (p. 77). Autêntica Editora. Edição do Kindle. Em 1999 o papel que hoje é cumprido pelas redes sociais era exercido pelas correntes de correio eletrônico, e ali foram realizados os primeiros experimentos de disseminação de notícias falsas, mas que eram interpretadas como verdadeiras por um forte laço social e afetivo, Uma grande amiga e colega, brilhante intelectual e amante dos animais estava ao meu lado em um laboratório de informática da universidade e lançou um ultimato: “Fabio, vou te enviar um abaixo assinado sobre uma coisa muito grave e TU VAI ASSINAR”. O abaixo assinado continha uma mensagem de alerta sobre um site chamado “Bonsai kitten’, que seria um laboratório onde gatos eram enclausurados em  recipientes de vidro que impediam seu crescimento e eram alimentados com dieta liquida através de tubos. Na época a internet era bastante restrita e, principalmente para os iniciantes, tinha um status de verdade, ainda mais se as mensagens eram compartilhadas por amigos “confiáveis”.  Também sensibilizado e impactado com as imagens dos gatinhos imprensados mas imbuído do espírito científico ( na época eu estava mergulhado na internet e tinha o conceito de rede como objeto de pesquisa) fui visitar o site e cheguei em uma sessão de links. As páginas da web na época tinham sessões com indicações de links,  e na página dos “Bonsai Kitten” os links levavam a sites de pornografia. Era a prova de que tratava-se de uma corrente falsa, SPAM< ou o que hoje chamamos de fake news, Outra corrente que ficou famosa era a que dizia para olhar embaixo das caixas de leite, onde havia um numero de 1 a 6. A informação é que as empresas recolhiam o leite com validade vencia e o repasteurizavam, e  o numero representava quantas vezes isso acontecia. A difusão da mensagem foi tão bem sucedida que a tetrapak colocou em seu site e nas gôndolas dos supermercados um alerta para a falsidade da notícia e que o numero dizia respeito a bobina do papelão. Outra mensagem comum era o alerta de vírus, “Um vírus mortal acaba com todos seus arquivos”.   A mensagem continha um alerta de pânico mas também o alivio das instruções para excluir o vírus passo a passo. No último passo chegávamos a um arquivo que tinha a forma de um ursinho,  que deveria ser deletado. A maioria dos usuários seguida as instruções fielmente, e o inusitado formato do arquivo era a prova de que seria mesmo um vírus, apesar de ser um arquivo de sistema que levava o computador a uma pane. Aqui está a gênese de todos os problemas contemporâneos das redes sociais e das fake news: o vírus não é um programa, mas o próprio usuário, e sua crença na realidade virtual, afinal, o que não é virtual? A minha hipótese é que a genealogia do Brasil atual está nessas aparentemente inocentes mensagens que eram compartilhadas por listas de mails que se espalhavam em progressão geométrica.  Alguns anos depois surgiram o que chamamos hoje de redes sociais cujo percursor foi o Orkut, uma plataforma que iniciou com a sedução de ser um clube internacional de debates seleto, onde as pessoas entravam apenas se eram convidadas pelos membros (ainda que ninguém se perguntasse como os primeiros entraram). O Orkut foi a grande Àgora mundial, onde a humanidade pode se conectar, encontrar parentes, amigos de infância, compartilhar lembranças do tempo do colégio, ou encontrar acolhimento em esquisitices (tipo a famosa comunidade “eu não saio do meu quarto”). No futebol  o Orkut foi revolucionário. Na minha experiência pessoal, o Inter sofreu uma das maiores injustiças de sua história no campeonato brasileiro de 2005,  e  na época a comunidade de colorados tinha mais de 100,000 membros que se comportavam como uma imensa torcida em um estádio e todas as emoções  da injustiça de 2005 a glória da Libertadores e do mundial de 2006 explodiram como bombas atômicas e chegaram a criar uma chapa que elegeu membros ao conselho do clube. O Orkut abriu suas portas e, de comunidade de nerds  passou a ser a primeira experiência das pessoas com a internet. Sempre sob o comando e protagonismo de empresas privadas de tecnologia que providenciaram a evolução das redes telefônicas para os cabos de fibra ótica e redes sem fio e dos pesados computadores pessoais para os notebooks, tablets e smartphones, a grande massa de afetos e representações humanas que existia no mundo real foi amplificada no mundo digital em uma verdadeira revolução semelhante ao processo de êxodo rural  e urbanização da revolução industrial do século XIX, porém em uma velocidade milhares de vezes maior. Sigmund Freud, desde os primórdios da psicanálise deparou-se com o problema da realidade virtual, que era chamada de realidade psíquica, que basicamente era forjada pelo embaralhamento dos afetos e representações. As experiências com hipnotismo demonstravam a possibilidade de evocar e vivenciar experiências do passado com tintas de realidade, mas também foi possível perceber que em nossa vida psíquica somos capazes de produzir memórias falsas, lembranças encobridoras, que eram uma forma de tamponar a angústia das fantasias insuportáveis de amor ou ódio. O método psicanalítico deslocou o eixo da medicina baseada em evidências concretas do corpo para uma possibilidade de usar a linguagem e da escuta para poder transformar e ressignificar a própria realidade psíquica. Hoje é mais do que evidente o caráter virtual da experiência da realidade, afinal, ao longo de mais de 20 anos estamos nos relacionando com amigos e familiares, companheiros de partido e clube de futebol, atendemos pacientes, através de minúsculas telas. O mundo que hoje conhecemos passou, de uma maneira quase imperceptível, por uma nova revolução copernicana. No início da internet nosso ponto de vista era de uma realidade concreta que tinha como instrumento a realidade virtual. Retomando o evento das caixas de leite, naquela época eu fui ao supermercado e vi uma senhora nas gôndolas de leite verificando os números embaixo das caixas.  Resolvi alertá-la da armadilha e ela reagiu com revolta “ isso é verdade, eu vi na internet”. A digitalização do mundo, para além de todas as vantagens, representou também uma possibilidade inédita na história do mundo, a da manipulação da própria realidade, composta de afetos e representações.  Para que o paradigma heliocêntrico e a representação da Terra como geóide fossem considerados verdade foram necessários séculos de pesquisa e aparelhos científicos e tecnológicos. Tal paradigma hoje é considerado uma invenção globalista por uma parcela cada vez maior da população, assim como os Beatles tornaram-se os músicos mais influentes e ricos do mundo através da composição de obras imortais e hoje uma pessoa pode ter 40 milhões de seguidores comendo salgadinhos no Tik Tok. È claro que a manipulação da realidade e da fantasia para usos econômicos e políticos não é nenhuma novidade na história humana. Quem assistiu a série Vikings percebeu que, para que aqueles corajosos guerreiros empreendessem viagens oceânicas em barcos diminutos ou entrassem em batalhas nas quais certamente iriam morrer era necessária a criação de um suporte simbólico e afetivo, representado pela morte gloriosa em batalha ser recompensada pelo direito de sentar à mesa no grande saguão de Odin, o Valhalla. Da mesma forma os cavaleiros cruzados lançaram-se na guerra santa, e seus opositores Mouros também acreditavam que a verdadeira vida estava após a morte. Em 1915, sob os horrores da Primeira Guerra Mundial Freud escreveu “Considerações contemporâneas sobre a guerra e a morte” e ali faz uma consideração fundamental: a morte não é uma experiência vivida, ela existe apenas como morte do outro, ou seja, como representação. Freud era um leitor de Shakespeare e tal formulação encontra ressonância em Hamlet, no famoso monólogo “Se o receio de alguma coisa após a morte, “–Essa região desconhecida cujas raias Jamais viajante algum atravessou de volta – Não nos pusesse a voar para outros, não sabidos?” A vida cotidiana é a verdadeira realidade, enquanto a morte pode ser qualquer coisa: céu, inferno, glória, virgens... Porém a revolução digital representou uma confusão em massa sobre o que é a realidade e o que é a representação e também das possibilidades cibernéticas infinitas de trânsito e manipulação de ambos os universos, já trabalhada aqui em outro texto. Todos aqui sabem que a ascensão meteórica de um obscuro deputado se deveu a uma onda cibernética avassaladora, especialmente pelo advento de uma plataforma chamada “Whatsapp”, que representou a perfeita interface entre as redes sociais e a intimidade grupal e familiar. A partir do vácuo do poder deixado pelo impeachment de Dilma Roussef e o governo de Michel Temer, os seguidores de Jair Bolsonaro, em sua imensa maioria homens de classe média desempregados ou desesperançosos começaram a formar grupos organizados onde tinham acesso direto ao chamado “mito” que lhes enviava mensagens diretamente. A ação política, que hoje pelas vias institucionais não representa ninguém, está isolada da massa proletária e apenas conectada a ela por eleições, passou a ter relevância quando esses homens passaram a organizar recepções calorosas a Bolsonaro em aeroportos, invadiam perfis nas redes sociais com ofensas, intimidações e ameaças. Com a velocidade típica da grande massa ciborgue digitalizada, o espírito de transformação social que outrora pertencia a esquerda agora movimentava uma grande massa de motoristas de Uber, taxistas, pipoqueiros, aposentados que a partir dos governos do PT  viram nas políticas afirmativas antirracistas, feministas, LGBTQIA+APN ganharem corpo e os empurrarem para a turma do fundo sob a insígnia de machistas, racistas, homofóbicos. Como diz Freud em “A psicologia das massas e a análise do Eu”, a identificação com o traço de um líder (que pode ser uma ideia, um partido, um Mito) gera laços afetivos superficiais, porém de grande capacidade de disseminação e contaminação que formam grupos  cujos laços são tão intensos que os tornam vulneráveis a sugestão e a hipnose coletiva. Assim no mundo contemporâneo, as massas Freudianas se convertem em redes cibernéticas virtuais  onde a subjetividade pode ser facilmente hackeada e manipulada, a ponto de gerar uma realidade alternativa. Durante a pandemia o Governo Bolsonaro investiu como nunca no fortalecimento desses laços, ao reforçar a ideia de que o mundo todo estava errado e que o Mito foi o único a desafiar o sistema. O mantra de que a economia era mais importante que a vida simplesmente é uma emulação ao fato de a morte ser uma mera representação, afinal, racionalmente podemos querer nos isolar, vacinar e temer a morte. Mas no mundo real nosso maior medo é o desemprego e os boletos a pagar. Em alguns momentos da pandemia a realidade do mundo Bolsonarista parecia absoluta e inexorável, e o “inimigo externo”, a esquerda, o comunismo, parecia ter virado o bicho papão da infância, e seu retorno ao poder seria um evento mitológico equivalente ao apocalipse. Porém Lula, o maior bandido, foi libertado, e voltou triunfante ao Palácio do Planalto. E aqui chegamos a triste história de “Tiu França”, um homem de 45 anos morador da pacata Rio do Sul , Santa Catarina, que, ao contrário do que a Globonews insiste em professar, não é um “lobo solitário”. No mundo digitalizado de hoje não há mais pessoas solitárias, todos nós estamos conectados e somos movidos pelas ondas do oceano digital. “Tiu França” é um avatar que tentou explodir o aeroporto de Brasília, invadiu o Congresso Nacional e fez cocô em uma mesa, quebrou relógios e depredou obras de arte. Naquele dia 13 de novembro, da mesma forma que os Jihadistas islâmicos e dos Vikings, a realidade vivida do divórcio, do desemprego, do comunismo e dos 98 votos que recebeu na sua eleição para governador, tudo isso virou ficção. A verdadeira realidade é a morte gloriosa onde Alexandre de Moraes seria morto, Lula preso e o Mito retornaria triunfante ao Planalto. Assim Francisco Wanderley Luiz, de cuja morte ridícula cheguei a rir como membro da massa opositora, mas hoje choro, porque sei que ele já foi criança, filho,  colega de colégio, já teve sonhos, acreditou que a política brasileira se resolveria com a explosão de bombas caseiras feitas com fogos de artifício  cuja pólvora acenderia milagrosamente em um dia 13 de rara chuva no deserto de  Brasília. Francisco, como milhares de outros brasileiros que seguem respirando, hoje habita “o país desconhecido” verde e amarelo chamado Brasil, Publicado originalmente em Revista Fórum. *Fabio Dal Molin, psicólogo, psicanalista, doutor em sociologia, professor da FURG e pós-doutorando do Programa de Pós-graduação em Psicanálise, Clínica e Cultura da UFRGS. Foto de capa: Reprodução  Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.          

Violência

São negras 85% das crianças e adolescentes mortas por armas de fogo no país, afirma relatório

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São negras 85% das crianças e adolescentes mortas por armas de fogo no país, afirma relatório
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O Relatório Violência e Racismo – o papel da arma de fogo na desigualdade racial, elaborado pelo Instituto Sou da Paz e divulgado hoje dá conta de que as armas de fogo permanecem como instrumento utilizado na grande maioria dos homicídios registrados no país, sendo que mais de 90% das vítimas são homens e mais de 70% são pessoas negras. Entre crianças e adolescentes de 10 a 19 anos, 85% são pessoas negras. Considerando que os homens são historicamente o grupo mais afetado pela violência armada (94% do total das vítimas em 2020) e com forte desigualdade racial (81% dos homens mortos por esse meio são negros), o relatório priorizou a análise dos homicídios na população masculina com recorte de raça nas regiões metropolitanas brasileiras. De 2012 a 2020, quase 338 mil homens negros foram assassinados no Brasil e, destes, mais de 254 mil foram vítimas de armas de fogo (75%). Essa proporção é ainda maior em Regiões Metropolitanas (cerca de 80%) do que fora delas (em torno de 71%). Nota-se que a participação da arma de fogo na morte de homens não negros diminuiu nos últimos 3 anos, especialmente nas RMs, enquanto no caso dos homens negros essa proporção voltou a crescer em 2020 em ambas as regiões. Entre 2012 e 2017 o aumento da taxa de homicídios no país decorreu sobretudo do agravamento da violência armada contra homens negros. Em 2020 os homicídios voltaram a crescer no país refletindo novamente o aumento mais acentuado da vitimização de homens negros. Nas RMs, a taxa de mortalidade por arma de fogo cresceu 10% entre os homens negros enquanto entre os não negros manteve-se a tendência de redução observada nos últimos anos. Assim, em 2020, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes foi 3,5 vezes maior para os homens negros do que para os não negros. Essa discrepância é significativa ao longo de todo período analisado e, a partir de 2016, apresentou uma tendência de recrudescimento em desfavor à população negra, a despeito da redução expressiva no número de casos após 2017. Para ter acesso ao relatório completo, acesse aqui. VIOLÊNCIA ARMADA E RACISMO O PAPEL DA ARMA DE FOGO NA DESIGUALDADE RACIAL 2ª EDIÇÃO Foto da capa: Brasil de Fato Paraná - Giorgia Prates

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Consciência Negra:  o Brasil Só Será Justo Quando For Verdadeiramente Multirracial

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Consciência Negra: o Brasil Só Será Justo Quando For Verdadeiramente Multirracial
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Por ALEXANDRE CRUZ* A Semana da Consciência Negra é mais do que uma data no calendário: é um marco de resistência, memória e celebração de uma das principais matrizes que moldaram a identidade brasileira. celebrado em 20 de novembro, é oficialmente um feriado nacional em homenagem a Zumbi dos Palmares, ícone da luta contra a escravidão e símbolo da liberdade e da dignidade do povo negro. Mas a importância dessa data vai além do reconhecimento formal; ela nos convida a revisitar nossa história e a construir um futuro mais justo e igualitário.  É uma oportunidade para o Brasil, enquanto nação, refletir sobre os pilares culturais, sociais e econômicos erguidos pelo povo negro, mas também para confrontar as desigualdades e o racismo estrutural que ainda ferem nossa sociedade. O Dia da Consciência Negra foi idealizado pelo poeta, professor, pesquisador e militante negro Oliveira Silveira. Em 1971, durante uma reunião do Grupo Palmares, em Porto Alegre, Silveira propôs que o 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, fosse escolhido como símbolo da luta negra. Essa escolha não foi apenas uma homenagem a Zumbi, mas também uma forma de romper com a narrativa oficial que até então celebrava o 13 de maio, data da assinatura da Lei Áurea. Oliveira e os demais integrantes do Grupo Palmares entenderam que a abolição oficial, por si só, não representava a emancipação real do povo negro. O papel de Oliveira Silveira e do Grupo Palmares foi crucial para resgatar a memória e a história de resistência negra no Brasil. Sua proposta deu início a um movimento que, anos depois, culminaria no reconhecimento oficial da data como um momento de reflexão nacional. No Rio Grande do Sul, em 1987, Joaquim Moncks, então deputado estadual pelo PMDB, propôs e instituiu o Dia Estadual da Consciência Negra. Esse gesto foi importante ao formalizar a data no âmbito político estadual, mas deve ser entendido como uma continuidade e amplificação da luta iniciada pelos militantes negros. Moncks, portanto, não foi visionário na criação da ideia, mas atuou como um articulador político que deu visibilidade legislativa a um movimento já consolidado pela militância negra. A escolha do 20 de novembro não é fortuita. A data homenageia Zumbi dos Palmares, símbolo maior da resistência contra a escravidão. Zumbi personifica a luta pela liberdade, pela dignidade e pela igualdade. Reconhecer essa data como feriado nacional é, portanto, um ato de afirmação da nossa história real, aquela que carrega tanto as cicatrizes do passado escravocrata quanto a força de um povo que, mesmo diante das adversidades, construiu e continua a construir este país. A cultura negra pulsa em cada esquina do Brasil: no samba, no candomblé, no maracatu, no jongo, na culinária, na moda, na linguagem e na arte contemporânea. Tudo isso são legados que devemos celebrar com orgulho, mas também com responsabilidade. Afinal, reconhecer a cultura negra sem discutir as disparidades ainda existentes é abraçar apenas parte da causa. No contexto da Semana da Consciência Negra, é fundamental destacar a relevância da agricultura familiar, especialmente nas comunidades quilombolas, que são fundamentais para a preservação das tradições culturais e para a resistência histórica. A agricultura familiar, praticada por essas comunidades, não só garante a segurança alimentar, mas também promove a autonomia econômica e o fortalecimento da identidade negra, contribuindo para a valorização da cultura afro-brasileira. Este modelo de produção é um símbolo de luta, preservação de saberes ancestrais e um caminho para o reconhecimento das conquistas e das dificuldades enfrentadas pelos negros no Brasil. Além disso, é crucial reconhecer as políticas públicas do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e outras iniciativas que, por meio de programas como o Programa Brasil Quilombola e o Pronaf Quilombola, têm garantido o acesso a crédito e assistência técnica às comunidades quilombolas, apoiando o fortalecimento da agricultura familiar e a preservação de seus modos de vida. Essas ações representam um importante avanço na luta por direitos e na promoção da igualdade racial, reconhecendo a especificidade e a importância dessas comunidades para o desenvolvimento sustentável do país. Hoje, os índices de desigualdade deixam claro que o Brasil precisa de mais do que palavras. A maior parte da população negra ainda vive nos estratos mais baixos de renda e acesso a oportunidades. É essa realidade que faz da Semana da Consciência Negra um espaço para debates urgentes: sobre cotas, reparação histórica, políticas de inclusão e o enfrentamento do racismo em todas as suas formas. No entanto, é fundamental pontuar que nem mesmo em todos os setores progressistas a pauta da consciência racial recebe o protagonismo que merece. Há quem, no campo da esquerda, trate a pauta identitária como secundária, quase como uma distração diante de agendas consideradas "mais universais". Essa visão é profundamente equivocada e, como diria a filósofa Nancy Fraser, reflete uma falsa dicotomia entre redistribuição e reconhecimento. Fraser argumenta que justiça social não se sustenta sem que ambos os pilares sejam tratados de forma interdependente. Negar a centralidade das lutas identitárias é, no fundo, uma forma de ser identitário ao inverso, promovendo uma visão antidentitária que invisibiliza desigualdades concretas em nome de um suposto "universalismo" que apenas perpetua privilégios. Uma democracia plena é, necessariamente, uma democracia multirracial. Não há como alcançar igualdade substantiva ignorando que as hierarquias raciais moldaram – e continuam a moldar – as estruturas de poder e opressão no Brasil. Relegar as questões raciais a um papel secundário equivale a legitimar o status quo de um país onde ser negro ainda significa, muitas vezes, ser tratado como cidadão de segunda classe. Que o Dia da Consciência Negra não seja apenas uma pausa para lembrar, mas um convite para agir. Que cada brasileiro, independentemente de sua cor, reconheça que a luta por igualdade racial não é um compromisso de poucos, mas um projeto de todos. Uma democracia verdadeira não teme sua pluralidade; ela a abraça e a celebra. Portanto, que esta data continue a ecoar a força de Zumbi, a visão de Oliveira Silveira e a coragem de cada homem e mulher negra que resistiu e resistirá, até que o Brasil seja, de fato, uma terra de justiça, respeito e oportunidades para todos.   *Alexandre Cruz é jornalista político. Foto de capa: Divulgação/Reprodução Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Os Lobos Solidários

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Os Lobos Solidários
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Por LINCOLN PENNA* Não houve erro no título. O ato inconcluso do cidadão que resultou em sua morte derivou de uma manifestação de fanatismo coletivo embora individualizado. Não é a primeira nem será a última vez que indivíduos tragados por discursos antidemocráticos acabam se enfileirando e se imolando, quando uma dada situação os impede de realizar a vontade de seus autores intelectuais, como da mesma forma aderem incontinentemente a toda e qualquer convocação para ações que combinam a delinquência com o terrorismo assumido e necessariamente antidemocrático. O perigo é que esses gestos tresloucados dentro de uma visão racional estão de tal maneira incorporados por essas pessoas no cometimento de crimes não importa a natureza deles, que agem como se estivessem dando satisfação aos seus verdadeiros responsáveis, geralmente longe desses cenários para não se comprometerem. Esses que instigam atos dessa natureza têm desapreço aos ritos normativos da democracia política. Ao incentivarem atitudes e iniciativas, mesmo isoladamente, pretendem criar um ambiente propício para as suas aventuras, convencidos de que serão seguidos cegamente pela legião de fanatizados como eles. O problema para governos que observam a defesa dos valores democráticos é a inação diante de situações como a que aconteceu dias atrás na capital da República, cuja ação de um presumível lobo solitário na verdade tem muito mais a ver com a ação de um dos muitos lobos solidários bem ou mal organizados Não dá mais para tolerar aqueles que transformam adversários políticos e ideológicos em inimigos da pátria, como se esta fosse de propriedade exclusiva de quem visa adotá-las para chama-la de sua, e desse modo sequestrá-la para os seus propósitos insanos, mas muito bem orquestrados na perspectiva da instalação de um governo arbitrário e negacionista dos valores civilizatórios. Nunca é demais lembrar que nações cultas e de tradições civilizatórias foram vítimas de pregações continuadas de um radicalismo extremado que resultou na implantação do fascismo em suas variadas formas de execução. O Brasil não está isento dessa possibilidade, a menos que desde já tenhamos como nação minimamente consciente e a despeito da enorme desigualdade construída historicamente condições para evitar retrocessos que podem alcançar um vir-a-ser absolutamente indesejável por parte da cidadania democrática da qual se espera pronta resposta a essas ameaças. Diante do discurso em prol da família, da propriedade privada e de uma falsa tradição liberal, o que se esconde por trás dessas palavras é o pavor daqueles que têm usufruído do trabalho alheio para se manterem donos do poder à revelia dos legítimos interesses do povo. Se é assim, que se denuncie a hipocrisia dos que tem se valido dos cultos religiosos para enganar os extratos mais humildes e vulneráveis dos cidadãos brasileiros, permanentemente iludidos pelas promessas jamais alcançadas. E que elas venham pelos esforços dos que merecem ter uma vida melhor, mais digna e capaz de usufruir, finalmente, a felicidade enquanto vivem. Que se apure o fato de Brasília e se avance na investigação dos que instigaram, financiaram e, enfim, promoveram os atos do dia 8 de janeiro do ano de 2023, pois o desfecho tanto nas esferas criminais quanto na esfera política precisa andar mais rapidamente antes que tenhamos de enfrentar novos percalços para uma democracia que precisa ser plenamente restaurada e ampliada faz algum tempo.   *Lincoln Penna É Doutor em História Social; Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (MODECON); Vice-presidente do IBEP (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos). Foto de capa: Reprodução  Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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6 x 1 Quem Paga?

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6 x 1 Quem Paga?
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Por ÂNGELO CAVALCANTE* O jornalista reacionário pergunta: "quem paga?"; o insultoso deputado de extrema direita também pergunta: "quem vai pagar?"; o empresário obeso e arrogante indaga: "mas quem vai custear isso?" e; até o ministro do trabalho se manifesta em previsível "quem paga?". Caros senhores... Ahhhh, se vocês soubessem! Pois eu, sem titubeio, lhes digo "quem paga"; quem paga por mais um dia de descanso será o mesmo ou serão os mesmos que pagam por todos os dias de trabalho, de muito trabalho, por todos os dias de produção; isso é pago com a energia do corpo, com o aprimoramento do juízo, dos sentidos e das forças individuais dos trabalhadores. Já ouviram falar dos TRABALHADORES ? Quem paga? Os trabalhadores, é claro, pagarão; como, por séculos e milênios, pagam os privilégios de quem, de forma cínica e acintosa, pergunta "quem paga?"; quem custeará serão os mesmos que pagam pela mais brutal e concentrada economia do mundo; são os que pagam por favelas e pelos condomínios de alto padrão; são os que mantêm ricaços em férias paradisíacas e contraditoriamente, bancam um oceano de pobres e miseráveis em vidas infames e vis. São os que mantêm empresas, indústrias, comércios e todas as formas produtivas; são os que garantem comércios miúdos, manufaturas e grandes pools empresariais. Quem paga? Os que perpetuamente pagaram exigem, sobretudo, nesse intenso tempo tecnológico, a alteração do escravismo escancarado de seis dias de trabalho por um único dia de descanso. Porque os trabalhadores querem o estudo, o lazer, o acesso à cultura, uma forma nova de encontro ou reencontro com as próprias famílias e, por óbvio, consigo mesmo. Pelo imediato fim do 6 x 1.   *Ângelo Cavalcante É economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Itumbiara Foto da capa: Créditos: Divulgação VAT - Movimento pelo fim da escala 6x1 Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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