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Os Lobos Solidários

Os Lobos Solidários

Geral por RED
20/11/2024 08:30 • Atualizado em 19/11/2024 17:02
Os Lobos Solidários

Por LINCOLN PENNA*

Não houve erro no título. O ato inconcluso do cidadão que resultou em sua morte derivou de uma manifestação de fanatismo coletivo embora individualizado. Não é a primeira nem será a última vez que indivíduos tragados por discursos antidemocráticos acabam se enfileirando e se imolando, quando uma dada situação os impede de realizar a vontade de seus autores intelectuais, como da mesma forma aderem incontinentemente a toda e qualquer convocação para ações que combinam a delinquência com o terrorismo assumido e necessariamente antidemocrático.

O perigo é que esses gestos tresloucados dentro de uma visão racional estão de tal maneira incorporados por essas pessoas no cometimento de crimes não importa a natureza deles, que agem como se estivessem dando satisfação aos seus verdadeiros responsáveis, geralmente longe desses cenários para não se comprometerem. Esses que instigam atos dessa natureza têm desapreço aos ritos normativos da democracia política. Ao incentivarem atitudes e iniciativas, mesmo isoladamente, pretendem criar um ambiente propício para as suas aventuras, convencidos de que serão seguidos cegamente pela legião de fanatizados como eles.

O problema para governos que observam a defesa dos valores democráticos é a inação diante de situações como a que aconteceu dias atrás na capital da República, cuja ação de um presumível lobo solitário na verdade tem muito mais a ver com a ação de um dos muitos lobos solidários bem ou mal organizados
Não dá mais para tolerar aqueles que transformam adversários políticos e ideológicos em inimigos da pátria, como se esta fosse de propriedade exclusiva de quem visa adotá-las para chama-la de sua, e desse modo sequestrá-la para os seus propósitos insanos, mas muito bem orquestrados na perspectiva da instalação de um governo arbitrário e negacionista dos valores civilizatórios.

Nunca é demais lembrar que nações cultas e de tradições civilizatórias foram vítimas de pregações continuadas de um radicalismo extremado que resultou na implantação do fascismo em suas variadas formas de execução. O Brasil não está isento dessa possibilidade, a menos que desde já tenhamos como nação minimamente consciente e a despeito da enorme desigualdade construída historicamente condições para evitar retrocessos que podem alcançar um vir-a-ser absolutamente indesejável por parte da cidadania democrática da qual se espera pronta resposta a essas ameaças.

Diante do discurso em prol da família, da propriedade privada e de uma falsa tradição liberal, o que se esconde por trás dessas palavras é o pavor daqueles que têm usufruído do trabalho alheio para se manterem donos do poder à revelia dos legítimos interesses do povo. Se é assim, que se denuncie a hipocrisia dos que tem se valido dos cultos religiosos para enganar os extratos mais humildes e vulneráveis dos cidadãos brasileiros, permanentemente iludidos pelas promessas jamais alcançadas. E que elas venham pelos esforços dos que merecem ter uma vida melhor, mais digna e capaz de usufruir, finalmente, a felicidade enquanto vivem.

Que se apure o fato de Brasília e se avance na investigação dos que instigaram, financiaram e, enfim, promoveram os atos do dia 8 de janeiro do ano de 2023, pois o desfecho tanto nas esferas criminais quanto na esfera política precisa andar mais rapidamente antes que tenhamos de enfrentar novos percalços para uma democracia que precisa ser plenamente restaurada e ampliada faz algum tempo.

 

*Lincoln Penna É Doutor em História Social; Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (MODECON); Vice-presidente do IBEP (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos).

Foto de capa: Reprodução 

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