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Reflexões de uma Comunista – Novembro 2024
RED
Por SILVANA CONTI*
Escrevi este desabafo - poema ao longo do tempo nas lutas. Compartilho neste novembro, acreditando que nosso campo político precisa construir cada vez mais a unidade na luta, com pautas da classe trabalhadora que dialoguem com as necessidades concretas e objetivas para melhorar a vida do povo.
Precisamos estar juntas/os e do lado certo do leito da luta.
Viva a classe trabalhadora!
“A fome, o desemprego, a insegurança alimentar, a violência, têm cara, cor e gênero em nosso país.
Às vezes grito, empurro a porta com força, choro baixinho e bem alto, mas não me conformo, sigo sempre na luta.
Tantas perguntas que não querem calar!
Meu peito, meus pensamentos, meus sonhos, se misturam no concreto e pelo ar.
Racismo mata e machuca!
Machismo destrói e inculca que somos mercadorias, objetos, abjetas, reféns da hipocrisia, da sociedade e do capital.
A opressão de classe continua implacável, injusta, abominável marca que divide os “bons” e os “maus”.
Qual a medida da dignidade?
Porque uns tem palácios e muitos(as) não tem pão?
Binarismo selvagem que tira a dignidade, o chão, mata os sonhos e as vontades, capitalismo cruel.
Racismo disfarçado...
LGBTfobia velada, que encaixota, suspende, prende mentes e corações dentro de armários, dentro de prisões.
Tantas perguntas, tantas mentiras, tantas misérias, tantas histórias mal contadas.
Os navios negreiros não transportaram escravas/os, e sim mulheres e homens cheias/os de ciência, cultura, criatividade que foram arrancadas/os, roubadas/os do seu continente, e escravizadas/os.
O ministério das humanidades adverte:
Os direitos sexuais e reprodutivos fazem bem à saúde.
“Respeitem meus cabelos, brancos/as”.
O armário traz sofrimento, mas quem está lá também precisa ser respeitado/a.
Quem é racista: Assuma! Reveja seus conceitos e ações.
Machistas de plantão: Sempre é tempo de se recuperar desta doença terminal.
Por fim, ou para começar:
Precisamos de unidade na luta para avançar!
A escala de trabalho 6×1 carrega marcas de classe, gênero e raça, afetando especialmente as trabalhadoras em condições mais precárias e com remunerações mais baixas, são mulheres negras e periféricas.
Essas mulheres, ainda são sobrecarregadas com o trabalho doméstico e de cuidado familiar, são privadas de descanso, qualificação profissional, lazer, educação e autocuidado, o direto de sonhar lhes é negado.
Capitalismo – desumano e cruel!
Vamos jogar os preconceitos fora!
Vamos unir nossas bandeiras!
Vamos ampliar nossas fronteiras!
Quem sabe, cantamos a mesma música?
Quem sabe, damos um grito de liberdade?
Quem sabe a luta pelo socialismo se torna a bandeira da nossa unidade!
Vamos ocupar as ruas, as redes, das periferias ao centro!
Bora transformar e construir junto com o povo!
Como dizia nosso grande camarada João Amazonas:
“Tendo a unidade como bandeira da esperança, e a chave da nossa vitória.”
Algumas reflexões sobre o trabalho e o papel do Estado
xO trabalho como categoria que funda o ser social está presente em qualquer sociedade, porém, o que vai alterar não é a base ontológica dele, mas a forma que se configura em cada sociedade ao longo da história.
O trabalho em Marx, apresenta uma dúplice determinação: é trabalho útil concreto, destinado a atender as necessidades humanas e trabalho abstrato, inerente à sociedade capitalista, em que predomina o valor de troca, destinado à acumulação e reprodução de capital.
Historicamente, as mudanças na base material e organizacional dos processos de produção requisitaram também mudanças no papel do Estado, visando regular as relações sociais e garantir a legitimação do capital. Claro que isso se deu a partir do momento em que a luta da classe trabalhadora por melhores condições de vida e de trabalho colocou em evidência a dimensão política da questão social, ao requisitar do Estado medidas de proteção social conformadas através dos direitos sociais.
Os contextos da sociedade capitalista que vivemos vão imprimir ao Estado diversas funções e características distintas, por vezes ampliando e suprimindo suas intervenções.
O Estado é um fenômeno especificamente capitalista, garantidor, de um lado, das trocas de mercadorias; por outro lado, da exploração da força de trabalho na condição assalariada. Um terceiro, essencial para as relações capital e trabalho. De modo que o Estado não surge com a conotação negativa de repressão, mas sim afirmativa de constituição social, ainda que necessária seja a repressão para a harmonização das forças inerentes à circulação mercantil e produtiva.
Sob a égide do neoliberalismo, as estratégias do grande capital não se limitaram às reformas de natureza econômica. As restrições sociopolíticas abarcaram, na mesma proporção, a reforma do aparelho estatal e sua relação com a sociedade.
Assim, se a inserção no mundo do trabalho já não garante a universalidade do acesso às políticas de proteção social a todos os(as) trabalhadores(as) assalariados(as), nos últimos anos após 2016, a conjuntura só piorou.
No cenário atual, mesmo compreendendo a correlação de forças do Congresso Nacional, e a correlação de forças do governo federal, a possibilidade dos cortes no seguro-desemprego e multa por demissão sem justa causa, além de considerar a redução de outros benefícios como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), um grande equívoco.
A pauta do ajuste fiscal é um motivo de desconfiança, desgaste e diminuição de direitos de um povo tão sofrido e sem esperança. Toda retirada de direitos é um impacto negativo na vida do povo brasileiro, os direitos sociais são investimentos, e não gastos que podem ser cortados.
Sabíamos que as eleições de 2024 seriam a antessala de 2026, portanto, a frente ampla ganha importância ainda maior. Impõe-se reforçar a aliança com a centro-direita, neutralizar a direita e prosseguir isolando a extrema-direita para derrotá-la, sem que isso implique rebaixar o papel decisivo da esquerda e do conjunto do campo democrático e progressista, condição para a frente ampla ter sustentação e condução consequente, com apoio e mobilização do povo.
Nos encontramos na luta.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Ricardo. O Sentido do Trabalho. São Paulo: Boitempo, 1999.
MARX, Karl. A origem do capital: a acumulação primitiva. São Paulo: Ed. Global, 1989.
WERNECK, Jurema. Racismo Institucional, uma abordagem conceitual. Geledés - Instituto da Mulher Negra, 2013.
*Silvana Conti é Presidenta do PCdoB/Porto Alegre, mestra em Políticas Sociais, militante lésbica - feminista, militante da luta antirracista.
Foto de capa: Cris Leite
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