Internacional

Os desafios dos e para os BRICS

Destaque

Os desafios dos e para os BRICS
RED

Por FLÁVIO AGUIAR* Além das duas principais guerras em curso, a na Ucrânia e a no Oriente Médio, durante a semana passada o noticiário e os comentários na mídia internacional ocuparam-se significativamente com a reunião de cúpula dos BRICS em Kazan, na Rússia, sob a presidência do governo de Moscou. Para além das declarações contidas no documento conjunto final, já esperadas, falando em paz, manifestando preocupações humanitárias sobre Gaza e a Cisjordânia, condenando a expansão regional do conflito no Oriente Médio por parte de Israel, sugerindo a construção de uma nova ordem econômica mundial, a reunião deixou como saldo algumas evidências muito significativas. A primeira é que a Rússia não está tão isolada quanto os Estados Unidos e seus aliados gostariam que estivesse. Aliás, ela pode estar isolada em relação aos países do “Ocidente ampliado”, mas fora deste círculo as sanções contra ela não encontram apoio. Pelo contrário, o restante do mundo ou as ignora, ou as condena, nem que seja como impróprias. A segunda é que cresceu bastante o interesse por parte de outros países em entrar ou se manter próximos ao grupo. Além dos quatro países fundadores do grupo, Brasil, Rússia, Índia e China, e da África do Sul que nele foi admitida em 2010, os BRICS agora incluem como membros plenos ou convidados nesta qualidade, mais 5 países: Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e o Irã. E há dezenas de países interessados em ingressar ou se associar ao grupo, com destaque para a Turquia, que é membro da OTAN, organização que apóia a Ucrânia contra a Rússia, e da Sérvia, que também está se candidatando a entrar para a União Europeia, que tem a mesma posição da OTAN naquela guerra. A cúpula deste ano convidou mais 13 países a integrar o grupo na condição de Estados Parceiros, isto é, sem direito a veto nem voto:  Cuba, Bolívia, Nigéria, Uganda, Tailândia, Vietnã, Indonésia, Argélia, Bielorrússia (também chamada de Belarus), Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão e a já mencionada Turquia. Ficou também evidente a força da posição brasileira no grupo. Rússia e China manifestaram desejo de incluir a Venezuela no convite. O Brasil vetou e os demais países aceitaram este veto sem reclamação. A posição do governo brasileiro é controversa mesmo entre seus apoiadores. Muitos destes defendem que o Brasil deveria apoiar incondicionalmente  a entrada da Venezuela no grupo, O assessor da presidência brasileira, Celso Amorim, declarou que h9uve uma ruptura da confiança entre os dois governos. O fato é que Brasília e Caracas já vinham trocando farpas diplomáticas há algum tempo. O Brasil ainda não reconheceu a reeleição de Nicolás Maduro na presidência, alegando que as atas eleitorais não vieram a público, ao contrário do que ele prometera. E o Procurador Geral da Venezuela, Tarek William Saab, acusou o presidente Lula de “ser um agente da CIA, cooptado enquanto esteve preso”. O Ministério de Relações Exteriores venezuelano apressou-se a não endossar a acusação. Mas o Procurador Geral voltou à carga, dizendo que o presidente brasileiro forjara a versão de seu acidente doméstico como pretexto para não comparecer à cúpula. Para este articulista a questão é espinhosa e a tensão só será resolvida por gestos de reciprocidade diplomática. Ela envolve outros aspectos, como o fato do Brasil ter assumido a administração e a proteção da embaixada da Argentina em Caracas, depois que a relação entre esta e Buenos Aires entrou em colapso depois que o presidente Javier Milei ordenou a entrega de um avião venezuelano aos Estados Unidos. O interesse mundial pelo projeto dos BRICS cresceu muito desde que os Estados Unidos e seus aliados próximos, como a União Europeia, começaram a utilizar o sistema internacional de pagamentos e de manutenção das reservas financeiras em dólares norte-americanos para punir quem considerem adversários ou inimigos através de sanções econômicas, como no caso da Rússia. Esta teve reservas internacionais congeladas e reaplicadas no mercado financeiro pelos agentes que as detém, para seus dividendos servirem como garantia a empréstimos à sua inimiga, a Ucrânia. Antes desta decisão ser tomada, divulgou-se que chegou-se a considerar o confisco puro e simples das reservas russas. E como parte desta versão também se divulgou a de que quem impediu o confisco foi o FMI, alegando que este gesto provocaria um pânico sem limites no mercado internacional. De todo modo, a aplicação dos recursos na roleta financeira sem o consentimento de seu proprietário e seu uso como garantia de um empréstimo a terceiro não deixa de constituir um gesto pós-moderno de pirataria. A própria insegurança gerada pela guerra na Ucrânia e pelo conflito no Oriente Médio também contribuiu para acrescer o interesse pelos projetos dos BRICS. Um dos projetos centrais dos BRICS é a criação de um sistema paralelo, independente do dólar, para as transações internacionais dos países membros e outros interessados. Isto é um claro desafio à hegemonia financeira mundial dos Estados Unidos e de seus aliados próximos, mantida através da hegemonia do dólar como meio de pagamento desde a conferência de Bretton Woods, em 1944, que também criou o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Naquele tempo a garantia do dólar eram as reservas em ouro dos Estados Unidos. O governo Nixon, no começo dos anos setenta do século passado, aboliu a conversibilidade do dólar em ouro. A moeda norte-americana tornou-se “fiduciária”, no jargão financeiro, isto é, mantida tão somente pela confiança dos usuários na credibilidade de seu emissor. Ao mesmo tempo, a proposta de uma moeda nova como meio de pagamento internacional é um desafio para o próprio grupo dos BRICS, pois a criação de um tal sistema paralelo demanda uma engenharia financeira de grande monta e de longo prazo. Embora a hegemonia do dólar submeta o sistema financeiro aos Estados Unidos, que emite a moeda, e seus aliados próximos do Ocidente, ela garante uma certa estabilidade nas transações internacionais que, de outro modo, estariam sujeitas às inúmeras variações cambiais e demais intempéries das outras moedas nacionais. O sucesso deste projeto dos BRICS depende, portanto, da construção de um meio de pagamento alternativo, mesmo que seja inteiramente virtual, reconhecido por todos os interessados. Não teria sentido substituir a hegemonia do dólar pela de uma outra moeda nacional, como o renmimbi chinês, muitas vezes chamado pela nome de sua unidade, yuan, de pronúncia mais fácil. Lembro a moeda chinesa porque a China é, dentre os BRICS, a economia mais pujante. A criação, emissão e administração desta moeda ou meio de pagamento virtual, que não substituiria as moedas nacionais, mas correria paralelamente a elas, como faz o dólar norte-americano, caberia ao Banco dos BRICS, hoje presidido pela ex-presidenta Dilma Rousseff ou a um outro organismo especialmente criado para este fim. Dada a heterogeneidade dos países membros e/ou na mira dos BRICS, esta tarefa não será de fácil execução. Esta heterogeneidade é o ponto forte do projeto BRICS, apontando para um mundo de fato multipolar. Mas é também um complicador, exigindo, mais do que uma engenharia financeira, uma arquitetura política de grande sofisticação. Sem falar que certamente haverá resistências e possíveis retaliações por parte de quem detém a atual hegemonia, isto é, os Estados Unidos. A ver.   Uma versão menor deste artigo foi publicada na seção “O Mundo Agora”,   *Jornalista, analista político e escritor, é professor aposentado de literatura brasileira na USP. Autor, entre outros livros, de Crônicas do mundo ao revés (Boitempo). Foto: REUTERS/Maxim Shemetov/Pool/Proibida reprodução Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Politica

Eleição: Lições e Desafios

Destaque

Eleição: Lições e Desafios
RED

Por LISZI VIEIRA* 1 – As questões locais predominaram sobre as questões nacionais, o que não é surpresa. A soma de abstenções, nulos e brancos ultrapassou o primeiro colocado. 2 – As emendas parlamentares para fortalecer os governos municipais teve grande peso. A maioria dos prefeitos se reelegeu, cerca de 80%. Isso significa que os prefeitos reeleitos vão apoiar os atuais parlamentares, contribuindo para a provável pouca renovação de parlamentares no próximo Congresso, a ser mantido esse sistema. 3 – A esquerda e a extrema direita perderam. Ganhou a direita fisiológica que apoia qualquer Governo em troca de vantagens. 4 – Os partidos de direita hoje no Governo – chamados Centrão – não apoiaram Lula em 2022 e nada garante que vão apoiá-lo em 2026. 5 – O governador Tarcísio, de SP, saiu fortalecido para ser o candidato da direita em 2026. Imprensado entre Tarcísio, de um lado, e Marçal, de outro, Bolsonaro se enfraqueceu. Seus candidatos venceram apenas em duas das nove capitais que disputaram no segundo turno. Seu enfraquecimento pode contribuir para sua prisão, se o processo judicial for mesmo para frente. 6 – Acho que, salvo engano, no Estado de São Paulo a esquerda nunca conseguiu maioria. Nem Getúlio Vargas conseguiu entrar em São Paulo. Mas a esquerda venceu três vezes na capital com Erundina, Marta e Haddad. A boa performance de Lula na capital em 2022 se deve mais a seu carisma, e não a um avanço da esquerda. Boulos conquistou os mesmos 40% que obteve em 2020 contra Bruno Covas. Ou seja, Marta não ajudou em nada e a entrevista com Marçal também não. Parece que o PT se enfraqueceu na periferia. 7 – A direita sempre dominou os tradicionais meios de comunicação (rádio, TV, imprensa) e a extrema direita predomina agora nas comunicações por meio virtual, nas chamadas redes sociais. Isso ajuda a explicar porque a rejeição à esquerda continua ou mesmo aumenta. 8 – O problema não é só de comunicação. O discurso tradicional da esquerda envelheceu, e a atitude de não radicalizar para não assustar parece encontrar seus limites. Boulos repetiu Lula e no máximo conseguiu os mesmos votos do que na eleição anterior. A esquerda abandonou suas propostas e projetos, se aproximou do centro, fez alianças com a direita em nome da governabilidade, e está perdendo apoio. 9 – Em alguns lugares, como Porto Alegre, a maioria preferiu a inundação ao PT, cuja candidata é associada aos direitos humanos – visto no meio popular como defesa de bandido – e a temas rejeitados como aborto, sexualidade e drogas. A esquerda perdeu a guerra cultural, e não só em Porto Alegre. 10 – O atual modelo de aliança com a direita (Centrão) para garantir a governabilidade traz enormes riscos e mostrou na eleição sua fragilidade. O presidente Lula pode dobrar a aposta, abrindo mais espaço para o Centrão – principalmente o PSD de Kassab, o maior vencedor das eleições municipais – ou experimentar outro modelo, já que o atual não parece promissor. 11 – Esse outro modelo necessariamente passaria pela mobilização popular, o que não significa necessariamente mobilização de rua, mas retorno às bases, o que pode ser feito de diversas maneiras, tanto presencial como por meio digital, onde reina a extrema direita. Há momentos em que a presença pessoal nas bases e a mobilização de rua são necessários, mas é bom não esquecer que a principal rua do século XXI é a internet. 12 - O conteúdo do discurso precisa mudar. Culpar o bode expiatório do “identitarismo” não vai resolver nada. A sociedade mudou, e os partidos de esquerda estão perplexos entre retomar o discurso antigo de luta de classes – que não encontra mais eco na maioria dos trabalhadores – e fazer alianças com a direita para barrar a extrema direita. Encontrar um discurso anticapitalista, com base nas atuais relações sociais e econômicas, travar a batalha cultural nas bases e apontar para uma utopia capaz de dar esperanças, eis o desafio.   *Liszt Vieira é integrante da Coordenação Política e Conselho Editorial do Fórum 21 e do Conselho Consultivo da Associação Alternativa Terrazul. Foi Coordenador do Fórum Global da Conferência Rio 92, secretário de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro (2002) e presidente do Jardim Botânico fluminense (2003 a 2013). É sociólogo e professor aposentado pela PUC-RIO. Foto: Emmanuel Dunand / AFP Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.    

Politica

Os seis recados que saíram das urnas nestas eleições municipais

Destaque

Os seis recados que saíram das urnas nestas eleições municipais
RED

Por RODRIGO PEREZ* Depois da divulgação dos resultados oficiais da eleição, tem início uma nova fase da disputa. Vencedores e perdedores começam a interpretar a realidade que foi representada pelo voto. Autocrítica, depressão coletiva, cantos de vitória muitas vezes exagerados, lavagem pública de roupa suja. Estamos vendo de tudo, à direita e à esquerda. Meu objetivo neste texto é destacar aqueles que me parecem ser os seis principais recados que os eleitores dos mais de 5.500 municípios brasileiros deram à classe política. 1°) Depois de ter sido praticamente varrido do mapa político do país em dois ciclos eleitorais (de 2016 a 2022), o centro político foi efetivamente reconstruído. O arquiteto da reconstrução tem nome e sobrenome: Gilberto Kassab, o principal estrategista em ação no tabuleiro do jogo político brasileiro. Kassab está apostando no cansaço da sociedade em relação à constante agitação ideológica que há anos movimenta as disputas políticas no país. A intuição me parece correta. Entre todas as capitais, somente Cuiabá e, principalmente, Fortaleza espelharam a polarização que pautou as eleições presidenciais de 2022. Nas outras capitais e nas cidades de pequeno e médio porte, a disputa esteve mais pautada em questões locais, cotidianas, do que exatamente em critérios ideológicos, apesar de a rejeição à Maria do Rosário, em Porto Alegre, e a Guilherme Boulos, em São Paulo, não ter outra explicação a não ser o veto ideológico.   2°) As contundentes derrotas de Rosário e Boulos reforçam a percepção de que, nesta quadra histórica, as portas do poder executivo parecem fechadas às lideranças muito identificadas com partidos políticos e movimentos sociais de esquerda, com a exceção de Lula, é claro. Penso que os nomes mais emblemáticos da esquerda deveriam se empenhar nas disputas legislativas, enquanto nas corridas pelo poder executivo, o campo progressista precisará caminhar um tantinho para o centro, e aqui têm destaque as figuras de João Campos e Eduardo Paes, que estão entre os principais vencedores destas eleições. Aquilo que Campos e Paes fizeram, respectivamente, no Recife e no Rio de Janeiro está na escala do impressionante e deveria ser cuidadosamente estudado.   3°) A “esquerda puro sangue” deveria se esforçar em apresentar um projeto disruptivo para a sociedade que consiga rivalizar com a ruptura proposta pela extrema direita, fundada no signo do combate à corrupção. O horizonte disruptivo hoje apresentado pela esquerda está baseado em performances escatológicas no campo do comportamento, o que acaba sendo um suicídio político pois confronta a moralidade hegemônica na sociedade. A radicalização deveria ser performarda em temas de interesse coletivo, como jornada de trabalho 4 X 3, salário-mínimo de 4.000 reais, sem tributação, transporte público gratuito, como vem fazendo o vereador eleito Rick Azevedo, o mais votado do PSOL no Rio de Janeiro. Basear o discurso político nas teses identitárias só interessa à extrema direita, cujo identitarismo é socialmente dominante.   4°) A quantidade enorme de prefeitos reeleitos (80%) é explicada pelo oceano de dinheiro que foi derramado nos municípios através das emendas parlamentares. Instaura-se, assim, um ciclo que se retroalimenta: os parlamentares investem recursos para eleger seus aliados nos municípios e dois anos mais tarde esses aliados retribuem o favor, ajudando nas eleições legislativas. Em 2026, o resultado das eleições municipais, portanto, tende a interferir mais nas eleições legislativas do que propriamente nas eleições presidenciais. Durante a Primeira República, vimos a “política dos governadores”, com protagonismos dos executivos estaduais. Depois da redemocratização, vimos o “presidencialismo de coalizão”, com o executivo nacional dando as cartas do jogo político. Agora, estamos vendo o “parlamentarismo orçamentário paroquial”, com o Congresso Nacional sendo o mais forte entre os poderes da República. A constituição de 1988 não regula mais o contrato social e político brasileiro.   5°) No campo da direita radical, importantes movimentações podem ser observadas. Nem de longe, Jair Bolsonaro se mostrou o trunfo eleitoral que prometia ser. Os bolsonaristas estão comemorando os quase 20 milhões de votos que o PL conseguiu, mas cabe questionar qual o tamanho desse eleitorado é efetivamente ideológico e qual parte foi conquistada pela máquina municipal, tão influente nas cidades de pequeno e médio porte. A resposta para o questionamento está sendo disputada dentro do PL, onde as relações entre Waldemar da Costa Neto e Jair Bolsonaro estão longe de serem harmônicas. Como se não bastassem os problemas internos ao seu partido, o ex-presidente viu sua autoridade ser desafiada nas eleições de São Paulo por dois aspirantes a herdeiros. Primeiro, Pablo Marçal tomou para si a semântica da ruptura, que cada vez mais colará menos em Jair Bolsonaro, conforme ele vai sendo identificado com as forças políticas tradicionais. Em seguida, Tarcísio de Freitas desobedeceu a orientação do suposto líder e manteve seu empenho na defesa da candidatura de Ricardo Nunes, o que mostrou ser uma aposta bem-sucedida. Bolsonaro sequer estava no palanque da vitória de Ricardo Nunes.   6) Já o presidente Lula arcou com o ônus da derrota de Boulos em São Paulo. Por mais que a esquerda tente dourar a pílula, esse revés foi impactante, quase humilhante. Com 58 milhões de reais investidos, Boulos manteve-se no mesmo patamar de 2020. Não conseguiu avançar nada, e ainda precisou lidar com dois episódios, no mínimo, desconfortáveis: a linguagem neutra no hino nacional e a "entrevista de emprego" com Pablo Marçal. Os eventos já estão registrados no anedotário político nacional e, certamente, provocarão desgaste à esquerda em geral e a Boulos em particular durante algum tempo. Para o governo, fica o desafio de aumentar sua margem de aprovação ao longo dos próximos dois anos, para que seja possível chegar em 2026 com alguma segurança.   *Historiador e professor universitário Foto: José Cruz/Arquivo/Agência Brasil Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.      

Politica

Haddad e o FMI

Destaque

Haddad e o FMI
RED

Por PAULO KLIASS*   As relações econômicas e financeiras formais entre o Brasil e o Fundo Monetário Internacional (FMI) sempre foram marcadas por algum grau de conflito e tensão. Afinal, apesar da motivação das negociações ser o ingresso de recursos externos para auxiliar a situação do balanço de pagamentos de nosso País, em geral os governos apresentavam divergência com relação às condições impostas pelas diferentes equipes do Fundo. A primeira operação ocorreu em 1954, com a assinatura de um empréstimo para o governo presidido por Getúlio Vargas. Tratava-se de um aval concedido pelo FMI a um empréstimo, no valor de US$ 300 milhões, oferecido pelo Eximbank dos Estados Unidos ao governo brasileiro. Porém, 5 anos depois, em 1959, Juscelino Kubitschek rompe o acordo com a instituição multilateral em função dos compromissos assumidos em seu Plano de Metas. Tendo em vista a necessidade de promover uma flexibilização no rigor fiscal imposto pelo FMI, o Presidente decide sair da austeridade para conseguir espaço orçamentário para projetos como a construção da nova capital em Brasília e outras medidas envolvendo despesas públicas elevadas, além de investimento estatal direto. A relação só voltaria se normalizar após o golpe militar de 1964 e a consequente implementação de uma política econômica de natureza ortodoxa e conservadora. Entre 1965 e 1972 são assinados e renovados anualmente acordos classificados como “stand by”, cuja intenção era auxiliar em eventuais problemas de balanço de pagamentos. No entanto, como os governos da ditadura cívico-militar ofereciam benesses e atratividade ao capital internacional, tais acordos operavam mais como uma garantia de expectativas, uma vez que o fluxo de recursos externos não parava de crescer no período.   Brasil e FMI: décadas de tensão. A situação muda de figura a partir do final da década de 1970 com a crise do petróleo na esfera internacional. Logo na sequência tem início uma fase de grandes dificuldades nas contas externa dos países do chamado Terceiro Mundo – a chamada crise da dívida. Em 1982, durante a gestão de Delfim Neto como o superministro da área econômica do último governo dos generais, o Brasil assina um acordo com o Fundo para assegurar o ingresso de recursos externos para cumprir as obrigações com os credores. Delfim teria assinado 6 cartas de intenção com o organismo e nunca cumpriu com as cláusulas ali constantes. Foram diversos anos de dificuldades em honrar os compromissos constantes nas cláusulas dos títulos de endividamento. É desta época a frase que ficou famosa proferida pelo Ministro, quando afirmou que “dívida pública não se paga, dívida se rola”. Com o início da transição política para superar a fase ditatorial, o governo Sarney promove algumas importantes na área econômica. Dentre elas estava a formalização da moratória da dívida externa em 1987. Na sequência, com a eleição de Collor de Mello para a Presidência da República, as sucessivas equipes de economia buscam um acordo com o FMI entre 1990 e 1992, mas não obtêm resultado. Com o fracasso de tais negociações, a situação só volta a se “normalizar” no final do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (FHC). O Ministro da Fazenda Pedro Malan logra assinar um acordo com o Fundo em 1998, por meio do qual o Brasil recebe um total de US$ 41,5 bilhões. O problema são as contrapartidas impostas pelo Fundo. Como sempre, trata-se da exigência de implementação das orientações previstas no Consenso de Washington, tais como a privatização de empresas estatais, a liberalização geral da economia e a imposição de regras rígidas de austeridade fiscal. Boa parte de tais iniciativas já estavam em curso desde a posse de Collor de Melo em 1990, mas FHC acelera em 1998 a venda do sistema público de telecomunicações e de energia elétrica. Além disso, o seu governo encaminha um projeto de lei ao Congresso Nacional que se converte na Lei de Responsabilidade Fiscal, a Lei Complementar nº 101 de 2000.   FMI e as recomendações conservadoras. Com a posse de Lula em 2003, houve uma melhoria sensível nas contas externas brasileiras. Com isso, em 2005 o País quitou sua divida junto ao Fundo e em 2009 avançou ainda mais, comprando U$10 bi em bônus da instituição e tornando-se, pela primeira vez na História, credor do FMI. Apesar da falta de exigência formal de uma política econômica seguindo as regras da ortodoxia conservadora, a duplinha Antonio Palocci no Ministério da Fazenda e Henrique Meirelles no Banco Central (BC) mantiveram a essência do austericídio, com rigor fiscal de índices de superávit primário até então inéditos e taxas de juros também rolando na estratosfera. Durante os 14 anos em que o Partido dos Trabalhadores esteve no governo federal, a presença do FMI sempre passou ao largo do debate e da subserviência explícita ao organismo. A existência de um estoque significativo de reservas cambiais e a manutenção de uma recorrente folga na Balança Comercial deixaram para um segundo plano a necessidade de eventual ajuda para solucionar eventuais problemas nas contas externas. Em 2003, elas estavam em US$ 39 bi. Em 2007 superam a marca dos US$ 100 bi. Em 2008, atingem US$ 200 bi. Em 2011, as reservas atingem e superam os US$ 300 bi. Atualmente estão na faixa de US$ 370 bi. Ocorre que o “golpeachment” praticado contra Dilma Roussef e a posterior eleição de Bolsonaro em 2018 institucionalizaram o conservadorismo na política econômica de forma escancarada. Sem nenhuma pressão formal do FMI, os governos recuperaram a pauta da privatização das estatais, da redução do Estado à sua dimensão mínima e do aprofundamento da pauta da austeridade fiscal.   Lula 3.0 e a esperança de mudança. No entanto, as esperanças depositadas na eleição de Lula para um terceiro mandato em 2022 começaram a se verem frustradas com a indicação de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda. O que se assistiu desde então foi a retomada da agenda conservadora de austeridade, com a troca do Teto de Gastos de Temer pelo Novo Arcabouço Fiscal (NAF). Com isso, manteve-se a essência da estratégia de redução do peso do Estado na economia e a preparação para que parte dos serviços públicos, das políticas públicas e da infraestrutura sejam assumidos pelo capital privado. Nesse contexto de aproximação com os interesses do financismo local e global, Fernando Haddad acaba por incorporar de forma plena a pauta do povo da finança. A manutenção da austeridade fiscal como ponto essencial da política econômica termina por comprometer toda a capacidade de recuperação do protagonismo do Estado. O Ministro da Fazenda busca se apresentar como representante do bom mocismo junto aos representantes do financismo e se concentra em obter bons resultados fiscais. Isso se concretiza, por exemplo, na obsessão em zerar o déficit fiscal primário em 2024. Mas o aspecto recente mais impressionante foi a aceitação e a concordância passiva de Haddad com as orientações do FMI. O Fundo apresentou um novo relatório a respeito da situação da economia brasileira e realizou algumas projeções para os próximos períodos. Como era de se esperar, as conclusões apontam para uma suposta “explosão” da dívida pública brasileira. Esse é um dos principais argumentos em favor de um endurecimento ainda maior no controle dos gastos governamentais.   Haddad: conversão ao conservadorismo neoliberal. O documento do FMI faz coro às manifestações dos escribas do sistema financeiro nos grandes meios de comunicação: o governo estaria sendo conivente com o retorno ao espírito da “gastança generalizada”, uma vez que ele não se compromete seriamente com o rigor necessário na condução da política fiscal. Haddad assume esse sentimento de culpa e declara: (…) “Estamos agora tendo que repensar essa estratégia para fortalecer o arcabouço fiscal. Mas do ponto de vista fiscal, eu penso que o fortalecimento do arcabouço fiscal é o remédio mais adequado para o momento que estamos vivendo” (…)   Além disso, o Ministro avança em suas afirmações, cedendo às pressões para aprofundar ainda mais o extremismo fiscal. Indagado a respeito da suposta incapacidade em atingir as metas este ano e nos próximos exercícios, ele deixa aberta possibilidade de um maior rigor nas regras previstas atualmente no NAF. O dispositivo que se converteu na Lei Complementar 200 estabelece a obrigatoriedade de que as despesas só possam crescer a 70% do ritmo de elevação das receitas. Como existem algumas garantias constitucionais para saúde e educação, além do compromisso de Lula com a valorização do salário mínimo acima da inflação, é possível que as metas austerizadas não sejam efetivamente cumpridas. Mas o Ministro, ao invés de defender a maioria da sociedade brasileira contra os intentos do financismo, termina por concordar com o diagnóstico conservador e sugere um aprofundamento ainda mais severo dos mecanismos de contenção. Segundo ele, o diferencial entre despesas e receitas poderia ser ainda mais elevado. Uma loucura!   (…) “é necessário manter os gastos entre 50% e 70% da receita para retomar a uma posição de equilíbrio” (…) Se Lula quiser efetivamente cumprir com suas promessas de campanha e com a es exigências de um País que precisa romper o círculo vicioso da pobreza e da desigualdade, é fundamental sair da camisa de força imposta pela austeridade fiscal. Não faz sentido um governo presidido pelo Partido dos Trabalhadores somar esforços junto ao FMI para completar a imposição da pauta neoliberal em nossas terras.   *Paulo Kliass é doutor em economia e membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental do governo federal. Foto: Reuters/ Arnd Wiegmann/ Direitos Reservados As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

Internacional

O bloqueio contra Cuba tem que acabar

Destaque

O bloqueio contra Cuba tem que acabar
RED

Por JOSÉ DIRCEU* São 64 anos de embargo, que virou bloqueio por envolver outros países. Cuba tem dificuldade de acesso a crédito e de comprar insumos A repercussão do bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos a Cuba é tão avassaladora que, se o embargo fosse suspenso, em nove meses de operações comerciais cotidianas seriam gerados recursos para acabar com o déficit habitacional no país, que precisa construir 467 mil moradias ao custo de US$ 3,9 bilhões. Oito meses de embargo equivaleriam a recursos suficientes para garantir a compra de 14 mil ônibus e 12.200  carros e micro-ônibus, necessários para modernizar o transporte público do país, que usa veículos velhos e em número insuficiente que precisam ser substituídos. Mais um exemplo: apenas 38 horas sem bloqueio garantiriam os US$ 21,78 milhões que Cuba está investindo este ano em educação. Estes exemplos, publicados em um suplemento especial do jornal cubano Granma, procuram chamar a atenção dos demais países para o impacto do bloqueio na economia cubana, que enfrenta grandes dificuldades nos últimos anos, especialmente após o governo Trump ter retomado, em 2019, as medidas restritivas – e algumas foram até ampliadas – em relação ao comércio e viagens que tinham sido abrandadas no governo Obama. Há uma redução na atividade econômica, com queda na produção industrial e de alimentos. Em função desse cenário de retração econômica e bloqueio, o país enfrenta escassez de itens essenciais, como energia, medicamentos e alimentos. A partir de19 de outubro, o país voltou a viver apagões, quando sua maior usina de energia foi desligada deixando 10 milhões de pessoas no escuro. O sistema foi reativado mas novas quedas se sucederam em função das deficiências no sistema de manutenção pelas dificuldades de compra de peças de reposição decorrentes do bloqueio econômico que também cria barreiras intransponíveis ao acesso ao crédito e à compra de petróleo, só possível graças à solidariedade de países como Rússia e Venezuela. Para contornar a crie energética e substituir a atual matriz, baseada no petróleo, por um modelo sustentado em fontes renováveis, a China doou a Cuba uma usina solar, no valor de 107 milhões de euros, que deverá ser seguida de doações de outras usinas. Na área de medicamentos, faltam 51% das 651 linhas que compõem o Quadro Básico de Medicamentos do Sistema Nacional de Saúde. O protocolo nacional está organizado para garantir um estoque de 120 dias para cobrir a demanda do país, mas a cobertura foi reduzida para 30 dias. Como consequência, o mercado informal entrou em ação, elevando os preços dos remédios que não podem ser pagos pela maioria da população. Mas faltam medicamentos em Cuba não apenas porque o país está sem divisas. Também há escassez de alguns fármacos, como a toxina botulínica, entre outros, porque são produzidos por laboratórios estadunidenses que não podem vender para Cuba, um país que já produziu 13 vacinas, entre elas uma contra a Covid-19 cuja efetividade foi comprovada. E que tem excelência em áreas da biotecnologia. É bem verdade que nem todos os problemas da ilha são decorrentes do embargo econômico dos Estados Unidos, que começou logo depois da revolução cubana, em outubro de 1960, envolvendo todo tipo de exportação/importação, à exceção de alimentos e remédios. Em 1962, as exceções foram incluídas. Para Cuba e muitos países que defendem a suspensão do bloqueio econômico contra a ilha, o que os Estados Unidos impuseram e impõem à Cuba não é um embargo porque não se limita à suspensão do comércio bilateral entre os dois países. As medidas são de tal ordem que acabam por prejudicar os laços econômicos e comerciais de Cuba com vários países do mundo. Há vários relatos de autoridades cubanas sobre as limitações enfrentadas pelo país para ter acesso a créditos, para atrair capital, para realizar pagamentos e para cobrar por produtos e serviços. E há reflexos até sobre o turista que visita Cuba. Os Estados Unidos passaram, em anos recentes, a dificultar o visto de entrada para europeus e canadenses que tenham carimbo do governo cubano em seu passaporte. Os efeitos da pandemia, somados às dificuldades econômicas enfrentadas por Cuba, levaram a uma queda de 44% entre os anos 2019 e 2023 no número de visitantes internacionais procedentes dos sete principais países da União Europeia: em 2019, 730 mil turistas oriundos desses países viajaram a Cuba; em 2023, o número caiu para 324 mil. A manutenção dos hotéis e pousadas de Cuba na relação de Alojamentos Proibidos do Departamento de Estado dos EUA e na Lista das Entidades Cubanas com Restrições não ajuda a melhorar a situação.   Medidas necessárias O presidente de Cuba, Miguel Diaz-Canel Bermúdez, comemorou a solidariedade de vários países à ilha contra o embargo econômico dos Estados Unidos, durante a Assembleia Geral da ONU, realizada no final de setembro, em Nova York. Sua expectativa é que, mais uma vez, talvez no final deste mês, a ONU vote, pela 32a vez, resolução condenando o bloqueio de Cuba. Desde 1992, quando a resolução foi aprovada pela primeira vez, só os Estados Unidos e Israel votaram contra. A cada ano, torna-se mais urgente suspender o bloqueio econômico, que impede o desenvolvimento de Cuba, limita suas possibilidades de parcerias com outros países, afasta investimentos. Não há dúvida de que se trata de um bloqueio criminoso, que afeta todo o povo cubano. Do ponto de vista legal, a maioria das mudanças necessárias para levantar o bloqueio contra Cuba depende de medidas a serem adotadas pelo presidente dos Estados Unidos. Entre elas, destaco: 1. Tirar Cuba da lista de estados patrocinadores de terrorismo, que é elaborada pelo Departamento de Estado. No governo Obama,  em 2015, Cuba saiu da lista e foi reincluída por Trump, em 2021. 2. Suspender a política de perseguição financeira contra Cuba, incluindo a relacionada com a venda de combustível ao país. 3. Alterar o limite de 10% de componentes estadunidenses nos bens que Cuba pode importar de qualquer país do mundo. 4. Instruir os representantes dos EUA nas instituições financeiras internacionais para que não bloqueiem a concessão de crédito e outras facilidades financeiras a Cuba. 5. Possibilitar a entidades cubanas, incluindo bancos e empresas, abrir contas em bancos nos EUA. 6. Autorizar a importação, pelos EUA, de qualquer produto, fabricado ou derivado de produtos cultivados, produzidos ou manufaturados em Cuba por empresas estatais (níquel, açúcar, tabaco, rum e outros). 7. Permitir a exportação a Cuba de insumos e equipamentos médicos que possam ser utilizados na fabricação de produtos biotecnológicos cubanos; e de matéria-prima para a produção de medicamentos. 8. Flexibilizar a política de licenças para a inversão de companhias estadunidenses em Cuba. 9. Permitir formas mais amplas de colaboração, comercialização e administração de medicamentos e produtos biomédicos de origem cubana, por exemplo, através de inversões diretas de companhias estadunidenses e empresas mistas. 10. Autorizar cidadãos estadunidenses a receber tratamento médico em Cuba. Certamente, avançar nesse elenco de propostas depende da evolução da negociação entre os dois países em um momento em que o mundo enfrenta dois sérios conflitos – Israel e a guerra no Oriente Médio, e a guerra entre Ucrânia/Otan e Rússia –, e os Estados Unidos estão envolvidos em eleições presidenciais. Mas é inexorável que esse bloqueio termine. Ele já dura 64 anos. Todos os países, a exceção dos Estados Unidos e de Israel, que é seu satélite, são contra. A pressão internacional vai acabar contando. E Cuba é resiliente. Seu povo é resiliente. A frase do presidente Diaz-Canel resume esse espírito: “Um dia vamos superar o bloqueio. Quantos serão capazes de fazê-lo?”.   *José Dirceu é ex-ministro-chefe da Casa Civil, ex-deputado federal e ex-deputado estadual pelo estado de São Paulo Publucado originalmente em Metrópoles. Foto: Divulgação Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

Politica

CORREIO POLÍTICO | Insatisfação do PT com Padilha já era anterior

Destaque

CORREIO POLÍTICO | Insatisfação do PT com Padilha já era anterior
RED

RUDOLFO LAGO* do Correio da Manhã Brasília Era feriado na administração, o Dia do Servidor Público. O PT fazia a reunião da Executiva para um balanço do desempenho do partido no segundo turno. A reunião apresentava números que marcavam o que o partido avaliava como o "início de uma recuperação do PT" depois da grande crise iniciada em 2016 no processo que levou à cassação de Dilma Roussef, à prisão de Luiz Inácio Lula da Silva e aos demais desdobramentos da Lava Jato. Os dados apresentam avanços nas eleições municipais em comparação com o desempenho petista em 2020. Pouco depois dessa apresentação ser feita, chegou aos celulares dos presentes a informação sobre as declarações que o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, acabara de fazer. Rebaixamento Ao contrário da visão que a apresentação mostrara, Alexandre Padilha declarava no Palácio do Planalto que o PT "continuava no Z4", o grupo de rebaixamento. A grita foi geral. E acabou ensejando uma dura resposta pública da presidente do partido, Gleisi Hoffmann. Resposta Antes da reunião da Executiva, Gleisi estivera no Planalto, com Lula e Padillha, também para uma avaliação do desempenho do partido. "Convidei-o para vir aqui, mas ele não pode, o que é triste. Como ele disse de forma pública, faço uma resposta de forma pública", disse. Ministro foi na direção oposta ao partido Para Gleisi, números mostrariam recuperação do PT | Foto: Joédson Alves/Agência Brasil O que especialmente irritou os presentes na reunião da Executiva é que não deveria vir de um ministro filiado ao partido, que cuida da articulação política, um reforço na linha de interpretar que o PT tinha se saído mal. Argumentos na direção contrária tinham acabado de ser lançados na reunião. O quadro apresentado mostra avanços na comparação com a eleição de 2020. O PT elegeu mais prefeitos (252 agora contra 183); fez mais vices (290 contra 206); mais vereadores (3.129 contra 2.663); um prefeito de capital (Fortaleza, não tinha feito nenhum em 2020); cinco prefeitos em cidades com mais de 200 mil habitantes (antes quatro). Processo Na visão do PT, então, se deveria considerar que a eleição de Lula em 2022 era ainda um início de processo de recuperação, e não algo que já recolocasse o partido nos mesmos patamares de antes. Num jogo bem mais complexo. Assim, julgava que Padilha em nada ajudou. Queixas Internamente, o que se comenta é que a reação a Padilha não foi um episódio isolado, pelo que disse agora. Mas uma insatisfação que já vinha há tempos. A bancada do PT reclama que ele, na articulação, privilegiaria mais os outros partidos integrantes do governo. Feitos "O governo não faz a disputa política dos seus feitos", chegou a dizer Gleisi. Ou seja, não alardearia a propriedade dos seus próprios programas. E esse não seria exatamente um problema de comunicação, mas de estratégia política, na sua relação com os demais atores do jogo. Orçamento Um jogo que fica mais complicado com o poder que o Congresso ganhou na questão orçamentária. As verbas dependem menos do governo. E as que dependem, os ministérios na área de infraestrutura estão com outros partidos. Quem poderia ajudar a equilibrar? Padilha. *Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade Artigo originalmente publicado no Correio da Manhã / Brasília Foto: Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil | Já há algum tempo o PT não dá bom dia a Padilha | Foto: Fabio Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Mostrando 6 de 5025 resultados
Carregar mais