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Daddy is home e as instituições brasileiras: ligações perigosas?

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Daddy is home e as instituições brasileiras: ligações perigosas?
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Por MARILIA VERÍSSIMO VERONESE* Na campanha eleitoral que elegeu D. Trump presidente dos Estados Unidos, foi vendida uma camiseta estampada com os dizeres daddy’s home (o papai está em casa) na frente da Casa Branca. Esta peça publicitária é digna de uma análise semiótica à lá Roland Barthes, que era craque em analisar imagens com legendas, a exemplo da que fez com o anúncio das “Massas Panzani”, famoso entre estudiosos do campo. Ao denotar Trump na Casa Branca chamando-o de papai, a peça eleitoral conota que um “pai protetor” estará em casa, presente para “proteger” seus “filhos” norte-americanos, evocando uma ideia patriarcal de proteção sob um líder carismático. A mensagem é problemática de várias formas, mas principalmente porque é falsa. É bom ter pais presentes em casa cuidando dos filhos (alô Congresso brasileiro, trabalhando em escala 6x1 nenhum pai [nem mãe], consegue estar em casa tempo suficiente!), só que esse pai simbólico sugerido pela propaganda eleitoral é na verdade um psicopata de extrema-direita, que veicula xenofobia, racismo e sexismo em cada palavra proferida. Negacionista, trambiqueiro, “já foi levado ao tribunal por enganar fornecedores, banqueiros e até sua família; não pagou impostos por anos; sua imobiliária foi fechada por crimes fiscais; se gabou de agarrar partes íntimas das mulheres; foi acusado de trair suas três esposas; foi acusado de má conduta sexual por duas dúzias de mulheres, sendo condenado civilmente por estupro; tentou se manter no poder com base em uma mentira descarada de fraude eleitoral.” (https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2024/10/23/ficha-criminal-de-trump-e-gigante-por-que-isso-nao-afeta-eleicao.htm?cmpid=copiaecola). Ou seja, um bilionário picareta que fascina multidões, em uma sociedade que cultua a riqueza e a ostentação como símbolos de mérito pessoal. Populista de extrema-direita, Trump inventa um “povo americano” como massa homogênea, que ele saberia reconduzir à grandeza e à prosperidade. Nada de pai honesto e protetor, mas sim um homem desonesto e violento, perigoso e autoritário. Foi escolhido por alguma maioria popular e significativa maioria no colégio eleitoral, estando legitimado em seu programa absurdo (o sistema eleitoral dos EUA é uma maluquice que não representa necessariamente a maioria, diga-se de passagem; mas desta feita, representou). E os/as eleitores/as têm agência, caros e caras leitoras. Ou seja, deram um recado, o de que realmente desejam ser governados por este indivíduo, que é também um negacionista climático e científico. As pessoas parecem achar que truculência, masculinidade violenta e extrema riqueza (mesmo que adquirida com métodos ilícitos) combinadas são sinal de mérito e potencial solução dos problemas de uma nação, gerando “ordem”. Só que... não! Geram é mais desordem, confusão, violência, segregação e problemas. Até aí nada de novo, não é? Mas o que isso tem a ver com as nossas instituições? Explico o título deste texto: vou relacionar a eleição no império americano em declínio (que escolheu seu novo imperador contando entrar em ascenso novamente) com o crime ocorrido no aeroporto de Guarulhos e as nossas instituições políticas e de segurança pública. O “empresário” executado aqui, Antonio Gritzbach, era um trambiqueiro muito rico, chamado de empresário porque não diferenciamos empresários sérios de trambiqueiros endinheirados. Se ganham muito dinheiro, serão bajulados e escaparão da lei, podendo até virem a ser votados e eleitos com expressiva votação, dada a admiração que provocam por aí... para encarcerar em massa, castigar e massacrar, só os pobres e favelados, em sua maioria negros. O chão-de-fábrica do crime. A batalha discursiva simplista e dicotômica fica entre prender em massa ou soltar bandidos de baixa letalidade, o que resulta em uma direita política que ganha o debate público com a tola falácia de que “a esquerda defende bandido”. Ora, justamente por não defender, a esquerda prefere que não alimentemos o crime organizado com mais e mais bandidos, que é o resultado da falida política de encarceramento em massa. Muito melhor seria investir em ressocialização dos que cometem delitos de baixa gravidade e em inteligência policial, em investigação séria. Isso porque já foi demonstrado que truculência, mortes na periferia e encher as prisões de meninos por causa de 40 gramas de maconha, tratando-os com crueldade, faz com que eles sejam imediatamente recrutados pelas facções criminosas, engordando suas fileiras. As facções dominam as prisões, por um misto de incompetência e corrupção policial e jurídica das nossas instituições. Prender gente pobre que pouco risco oferece à sociedade lhes fornece farta mão de obra e expansão dos “negócios”. Tarcísio de Freitas apregoa estar resolvendo os problemas de São Paulo tirando as câmeras da farda da polícia militar, dando-lhes licença para matar o chão-de-fábrica do crime, enquanto os delatores premiados são assassinados à luz do dia no aeroporto internacional de Guarulhos, em clara queima de arquivo entre poderosos. Ou seja, a licença para matar e a desumanização dos agentes de segurança pública causam é mais desordem, e não mais ordem. Mais risco e menos segurança. Quem defende essa falida política de mais e mais prisões, de polícia mais e mais violenta e letal, é na verdade quem gosta de bandido. O PCC já matou juízes, políticos, ex-integrantes... essa dinâmica faz alguns pesquisadores do tema dizerem que já somos um narcoestado. Nas últimas quatro décadas, estivemos alimentando as facções criminosas com milhares e milhares de “peões” para o crime organizado. Elas cresceram, beneficiando agentes públicos e privados que lucram com o ilícito, enquanto escapam da lei. O mercado ilegal cresceu muito, absorvendo os delinquentes, virando-os em operadores ativos em todas as instâncias da sociedade, um exército disponível e facilmente substituível. Essa desordem social reflete-se nas instituições, criando um quadro muito confuso e capitalizado pela extrema-direita, pois é mesmo difícil de interpretar. Já não se sabe mais em quais membros do poder judiciário acreditar ou confiar; portanto, as pessoas vão confiar em quem os seus afetos e emoções ditarem, não tendo repertório intelectual para discernir. Não acessando fontes confiáveis como pesquisadores/as sérios e independentes, tendem a buscar aqueles que são recomendados por políticos “pais protetores fortes e truculentos a favor da família” ou pastores exercendo o mesmo papel, produzindo e alimentando afetos intensos, medos e ódios. Viram como voltamos ao Trump papai-está-em-casa? Pois, como dizem os portugueses. Esse é o meu ponto. Há conexões, ligações perigosas entre o lá e o cá. Tudo temperado com uma dose altíssima de ideologia patriarcal, ao sul e ao norte. Meu argumento é que esse caos institucional, esse modelo caro e ineficiente na política de segurança pública favorece os discursos radicalizados da extrema-direita. A (in)segurança pública no Brasil consome bilhões de recursos públicos e o quadro só piora. Como diz o professor Gabriel Feltran (pesquisador do tema e autor do livro Irmãos: Uma história do PCC) o CV antes não entrava no comércio internacional de drogas, o que o PCC passou a fazer em larga escala, gerando milhões (lembram da cocaína no avião presidencial do mandatário anterior? Tem “gente graúda” envolvida, como se sabe). Os caras se misturaram com as milícias, entraram na política e... o resto é a história recente do nosso país. Quase um milhão de pessoas presas no Brasil, mais 5 milhões de ex-presidiários, a quem se somam suas famílias e comunidades... é muita gente vivendo sob controle territorial armado de facções e milícias. Essa tragédia é produzida e mantida pelo modelo de Segurança caro, corrupto e que não funciona, mas que é ferozmente defendido por quem dele se beneficia, ou por quem é engambelado por discursos de “eu não defendo bandido, tem de prender ou matar todos”. Olha, se você vota por manter a fúria encarceradora, desculpe, mas defende bandido sim. Ajudou a criar primeiro o CV, depois o PCC e muitos outros grupos criminosos, que diversificaram seus “negócios” e ampliaram seu alcance político, social e econômico. O dinheiro do tráfico de cocaína é o que estava na conta de bitcoin do “empresário” executado, ainda conforme o referido pesquisador. Há 4 PMs afastados, suspeitos de terem facilitado o assassinato. Ligações perigosas entre polícias, militares, políticos à direita e bilionários... Todos esses bilhões servem também para financiar a dominação ideológica, a difusão de ideologias conservadoras ou reacionárias, patriarcais, sempre em busca de voltar a um suposto passado idílico que só existe em suas mentes doentias. O mundo sempre esteve em transformação, a novidade é essa estapafúrdia união entre bandidos, bilionários, donos de plataformas/redes sociais, políticos, pastores e padres reacionários e empresários do crime que ostentam luxo e riquezas. Sem esquecer os “influenciadores”, claro; e há quem ocupe alguns desses papéis conjuntamente. Leio agora, antes de fechar este texto, que o imperador-papai-recém-eleito já contratou Elon Musk - o controlador do algoritmo que faz cabeças e transforma mentiras em verdades - para um cargo em seu futuro governo. Pronto. A ferida narcísica do masculino que se acha vítima num mundo em transformação vai agora ser lambida com muitos bilhões e muita engambelação cultural "anti-woke". Não sabe o que é? Aguarde meu próximo texto: vamos falar um pouco mais sobre isso, como pedia o Dr. Freud. Até lá!   *Marilia Veríssimo Veronese é  Doutora em Psicologia Social, professora e pesquisadora. Ilustração de capa: Reprodução Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Terror em Porto Alegre:  da violência da ficção ao concreto

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Terror em Porto Alegre: da violência da ficção ao concreto
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POR FABIO DAL MOLIN* “Existe uma criatura perfeitamente inofensiva, quando ela passa diante dos seus olhos, você mal a percebe e imediatamente volta a esquecê-la. Mas assim que ela,de algum modo, invisivelmente chega aos seus ouvidos, começa a se expandir, eclode e conhecem-se os casos em que ela penetrou no cérebro e floresceu ali devastadoramente, como os pneumococos em cães que penetram através do focinho... essa criatura é o seu Próximo”.  Rainer Maria Rilke    Cena 1 Uma mulher para em um antigo posto de gasolina na beira da estrada e chama pelo frentista, que repentinamente surge expulsando um sujeito vestido de palhaço, que havia espalhado fezes pelo banheiro. É noite de Halloween e o palhaço veste uma fantasia simples e pobre, e carrega um saco preto de lixo.  Após abastecer a mulher retorna ao posto e depara-se com o palhaço serrando a cabeça do frentista. Há sangue por todo lado. Cena 2  Sequência do filme anterior O mesmo palhaço da cena anterior captura duas mulheres que são amigas e as conhece em uma pizzaria na noite de Halloween, onde fora expulso pelo atendente por ter espalhado fezes pelo banheiro. Uma delas é amarrada a uma cadeira. Há algo pendurado com um lençol cobrindo. O palhaço remove o lençol e revela a amiga nua pendurada de cabeça para baixo. Diante dos olhos da outra, usa uma serra de açougueiro para serrar a mulher viva ao meio, com muito sangue. Na cena seguinte o assassino tira uma “selfie” com o corpo dividido Cena 3 O cinema Baltimore foi construído em 1931 em art deco e possuía uma imensa tela curva, e sua capacidade era para 2000 pessoas, e possuía um salão de baile, que anos depois foi transformada em outro cinema, o Bristol, Nos anos 70  foi feita uma divisão em mais salas. Os cinemas eram localizados na avenida Oswaldo Aranha, local de intensa vida noturna e centro cultural de Porto Alegre, frequentado por músicos, poetas, cineastas e pela intelectualidade na época em que não existiam Shopping Centers e Blockbusters e os cinemas de Porto Alegre eram todos de calçada e baratos. No Baltimore vi grandes filmes como “The Doors”, “Adeus minha concubina” e “O Jardim Secreto”.  O cinema fechou em 2000 e foi demolido em 2003. Na segunda metade da década de 2010 foi construído um imenso prédio branco e envidraçado  da empresa Melnick Even,  Cena 4  Nos anos 90 o Coentro Comercial Nova Olaria foi construído no Bairro Cidade Baixa, outro polo de cultura, intelectualidade e vida noturna de Porto Alegre, e dentro dele funcionava o Cine Guion, cuja proposta era exibir filmes fora do circuito de blockbusters. Nos sábados meu programa preferido era ir ao cinema, depois comprar a trilha sonora na lojinha bonita com cheiro de café e ir tomar um chopp, Ali assisti a estreia de Pulp Ficcion, Cinema Paradiso ( um dia fui na loja e a trilha tocava a todo volume e me fez chorar), incontáveis filmes do Almodovar... Além do cinema e dos bares o Nova Olaria era um ponto de encontro da população LGBTQI A+APN Hoje tudo foi demolido e foram construídas três imensas torres da empresa Goldstein,  totalmente incompatíveis com as casas e prédios antigos do Bairro Cidade Baixa,  A pergunta que eu faço para o-a leitor-a parece estranha, mas é  um importante analisador de nossa esfera pública atual: quais cenas são mais violentas,  1 e 2 e 3 e 4?  E qual a diferença entre elas?   As duas primeiras são ficção pertencem ao cinema de terror , e são da sequència de filmes “Terrifier” que me foram indicadas pelo algoritmo do Facebook, cuja chamada dizia que  a terceira parte continha cenas que fizeram os espectadores sair do cinema com náusea. Como possuo uma vasta pesquisa sobre psicanálise em cinema e ultraviolência  e recentemente publiquei um artigo  sobre o filme mais violento de todos os tempos, resolvi conferir. Na plataforma Amazon  há três filmes. O primeiro é de 2013 e possui todos os elementos estruturais dos filmes de terror antigos e contemporâneos: palhaço assassino, fita de vídeo noite de halloween, muita gosma vermelha , escatologia, gritos, postos de gasolina vazios e carros que não pegam As duas sequências mantém o ritmo, e é no segundo filme que a mulher é serrada ao meio em uma cena aparentemente brutal porém afinadíssima semioticamente, pois contém um dos elementos estruturais do cinema de horror: a ideia de que o elemento sexual amplifica a náusea e a repulsa do espectador. O fato de o assassino desnudar a vítima e iniciar seu suplício pelos órgãos genitais  atinge camadas  onde as pulsões são indiferenciadas  e sexo e violência extrema estão amalgamados. Então saímos do impacto violento e visual e passamos a pensar no cineasta e sua equipe querendo nos divertir e nos transmitir algo. Entramos no estúdio, nas locações e no trabalho que dá produzir a magia da ilusão. As cenas mais violentas de “Terrifier’ estão dentro de uma fita de VHS, ou seja, são um metafilme, o filme dentro do filme. O cineasta lança mão desse recurso e também do exagero do sangue e da escatologia  para dialogar com o espectador e dizer “mesmo que você tenha nojo, morra de medo e queira fugir do cinema, isso é filme”. Isso também se explicita no  personagem  principal, o palhaço pobre e rejeitado que se chama “Art”, que é caracterizado como um Clown, ridículo, infantil, trapalhão, que oscila entre a brutalidade e a doçura, além de flertar com o realismo fantástico, pois é capaz de ressuscitar e sabe que está dentro de um filme. O nome “Art” jamais é pronunciado no filme,  não o sabemos até ler os créditos, assim como a  própria arte é algo que irrompe sentidos, provoca impacto, e sua racionalização é a posteriori, na palavra do criador. A violência explícita  é apresentada no cinema como  Zizek (2014) chama de violência subjetiva, que escandaliza o espectador e o confronta com outras categorias que o filósofo mesmo chama de violência simbólica ou sistêmica, pois denunciam que o cinema é apenas arte, ficção e roteiro, enquanto os extermínios e atrocidades de uma guerra de genocídio com interesses econômicos e políticos constituem a própria e assombrosa realidade. Em  “Violência”  (2014) o autor esloveno lança uma afirmação polêmica “Gandhi foi mais violento que Hitler” e Hitler não foi suficientemente violento, fazendo uma distinção importantíssima para este estudo: violência é diferente de terror sanguinário. Para Zizek, : a violência subjetiva é somente a “parte mais visível de um triunvirato que inclui também dois tipos objetivos de violência”, uma violência que surge como um semblante, uma imagem aterrorizante pré simbolizada, como quando experimentamos uma cena de ultraviolência no cinema.. Impressa no muro estruturante da linguagem humana, no grande Outro do social, há uma violência “simbólica” encarnada nos sujeitos e seus enunciados e essa violência não está em ação apenas nos casos explícitos de provocação e de relações de dominação social que nossas formas de discursividades corriqueiras reproduzem: há uma forma ainda mais fundamental de violência que pertence ao arcabouço das coordenadas simbólicas enclausuradas à imposição de um certo universo de sentido.No mundo do imperceptível, naquilo que o personagem Dupin  do conto “A carta roubada” de Poe atenta quando refere-se a brincadeira de buscar palavras em um mapa e não encontrá-las por estarem “muito a vista” que é o que chamamos de  violência “sistêmica”, que consiste nas consequências hediondas do funcionamento mecânico de nossos sistemas econômico e político.  “A questão é que as violências subjetiva e objetiva não podem ser percebidas do mesmo ponto de vista: a violência subjetiva é experimentada enquanto tal contra o pano de fundo de um grau zero de não violência. É percebida como uma perturbação do estado de coisas “normal” e pacífico. Contudo, a violência objetiva é precisamente aquela inerente a esse estado “normal” de coisas. A violência objetiva é uma violência invisível, uma vez que é precisamente ela que sustenta a normalidade do nível zero contra a qual percebemos algo como subjetivamente violento. Assim, a violência sistêmica é de certo modo algo como a célebre “matéria escura” da física, a contrapartida de uma violência subjetiva (demasiado) visível. Pode ser invisível, mas é preciso levá-la em consideração se quisermos elucidar o que parecerá de outra forma explosões “irracionais” de violência subjetiva” Zizek,  2014 p.17.  A violência sanguinária pode aumentar ou diminuir a "olhos vistos" ou de acordo com a cobertura jornalística conveniente, a violência política, econômica e simbólica é mais passível ao esfumaçamento ideológico da negação ou denegação.  Isso nos leva à passagem das cenas 1 e 2, que representam a violência NO cinema, onde diante de nossos olhos acontece o horror, mas por trás das câmeras tudo é “Art”  para as cenas 3 e 4 , nas quais a violência é cometida contra os cinemas, ou contra a cidade. Qualquer pessoa que passar diante das imensas torres da Goldstein na Cidade Baixa dificilmente sentirá náusea ou horror, ainda que os trabalhadores da construção civil sejam mal pagos e com contratos precários, ou que a empresa seja uma das maiores doadoras da campanha de Sebastião Melo, cuja negligência comprovada permitiu que  boa parte da população de Porto Alegre ficasse sem água e perdesse tudo nas enchentes de maio de 2024. Também é difícil sentir medo da permissividade da prefeitura em autorizar a derrubada de árvores e o aumento do índice construtivo, que leva ao aquecimento local e global, ao maior consumo de energia pelo uso de ar condicionado e a saturação do sistema de esgotos e do trânsito, afinal, onde havia um estacionamento, um cinema e algumas casas agora há três torres de 13 andares. E isso está acontecendo por toda a cidade. Diante das telas do cinema é insuportável presenciar uma mulher ser serrada ao meio, ainda que saibamos que é uma boneca de silicone com muita  meleca que simula sangue, mas o fato de 700 mil brasileiros e brasileiras  terem morrido de COVID por omissão direta do Governo Bolsonaro, principal apoiador de Melo vira só um número, Assim como as centenas de gaúchos mortos  na enchente, e os milhões que foram obrigados a sair de seus lares ou perderam seu sustento, agora são passado. É também violenta a imposição do concreto e dos prédios na cidade sem o consentimento de seus moradores, sem pedir licença, através de conchavos políticos e lobby. O filme “Terrifier” e suas sequências tem início, meio e fim, e poderá ser visto e revisto nos cinemas e plataformas por muitos anos. As vítimas de Art reviverão a cada ciclo, afinal, nunca morreram. O horror nauseante de uma cena dura poucos segundos e é intercalado com a certeza de que tudo é falso.  O terror do mundo real vai durar para sempre. Mas 70 por cento dos meus conterrâneos são indiferentes.   *Fabio Dal Molin, psicólogo, psicanalista, doutor em sociologia, professor da FURG e pós-doutorando do Programa de Pós-graduação em Psicanálise, Clínica e Cultura da UFRGS. Foto de capa: JOÃO MATTOS/JC Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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Estivemos à beira de mais uma ditadura?

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Estivemos à beira de mais uma ditadura?
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Por MANUEL DOMINGOS NETO* Estaremos sempre, enquanto persistir a síndrome pós-Guerra do Paraguai. Homens armados se veem superiores aos desarmados. Se bem treinados, maior a sensação de superioridade. Enfileirados, uniformizados e afastados da convivência social, imaginam-se capazes de tudo. Pretendem-se gloriosos e subjugam os que lhes sustentam. Para o poder político, comandá-los é tarefa obrigatória. Ou comanda ou é submetido. Os ânimos nos quartéis estão acirrados? O clima é de apreensão sobre os desdobramentos das investigações. Há profundo mal-estar com a saraivada de denúncias e críticas desabonadoras. Corporações têm instinto de defesa: percebendo-se atacadas, tendem a se unir, não a se fragmentar. Ocorrerão tentativas de intimidar a Justiça e o Comandante Supremo das Forças Armadas. É preciso enquadrar os oficiais da ativa e da reserva que extrapolem. Comandantes que não enquadrem os ativistas explícitos, estarão prevaricando. Pode haver reações violentas? Não creio. Sabem que perderão. Os militares aprenderam a planejar, a agir por “aproximações sucessivas”. Certamente, há pressões internas, mas nada que arranhe a cadeia de comando. As corporações respeitarão a Justiça? Vejamos como será o processo judicial. A Justiça tende a contemporizar. O “diálogo” desmoralizaria a Justiça e o poder político. Militar é preparado para obedecer, não para dialogar. Se não sentir firmeza na autoridade, buscará submetê-la. O inquérito da PF atinge todos os responsáveis? De forma alguma. Até agora, atingiu criminosos notórios, o que representa um grande feito. Villas Bôas, incentivador de baderneiros, ficou fora da lista. Comandantes de unidades que agasalharam golpistas em suas calçadas tem contas a prestar. Os que discursaram nos quartéis, nem se fale. Aguardemos o andamento do processo. Se o STF se intimidar, a porta do inferno continuará aberta. O prosseguimento das investigações mostrará os comandantes de unidades militares que prevaricaram ao permitir acampamentos de sediciosos financiados por políticos e empresários, que também devem contas à Justiça. Não proponho o aprisionamento de milhares de oficiais. Mas a análise das responsabilidades corporativas é imprescindível. Essa não é apenas tarefa da Justiça, mas do Parlamento e do Executivo, que só agirão pressionados pelo movimento democrático. Por que Braga Netto, Heleno, Paulo Sérgio e Garnier não foram presos? Não sei. Criminalistas sugerem que as autoridades agiram sem açodamento. A prudência pode ser imprudente. Esse caso é eminentemente político, não jurídico. Mexe com os pilares da República. O STF não conseguirá posar de “neutro” depois de, intimidado pelo twitter de um comandante golpista, ter prendido o maior líder do Brasil e fraudado uma eleição presidencial. O STF tem que defender o sistema democrático determinado pela Constituição. Como afastar as corporações da política? Cabe promover uma reforma militar, uma mudança nas estruturas orgânicas e funcionais das Forças Armadas. Implicaria passar em revista toda a aparelhagem de força do Estado, inclusive as polícias. É obra grandiosa, dificílima, mas indispensável à democracia e à proteção do Brasil contra inimigos estrangeiros. Requer alterações na Constituição e novas concepções de Defesa Nacional e Segurança Pública. O militar tem que conter o inimigo estrangeiro e a polícia tem que lidar com a cidadania. Lula errou ao não promover oficiais mais novos? O erro não foi esse. Não há clivagens geracionais significativas. Os mais modernos não se distinguem claramente dos mais antigos. O erro foi não assumir posição de comando, como manda a Constituição, e não respeitar a “verità effettuale”, como dizia Maquiavel. Em matéria de promoções e nomeações, o Comandante dobrou-se aos comandados. Não sinalizou autoridade. Será necessária uma reforma no ensino militar? Essa proposta é demasiado vaga. Não leva em conta as engrenagens específicas do ensino militar, que não é um profissional formado essencialmente em sala de aula, como nas universidades. Não basta que leia bons livros, amplie sua erudição, desenvolva sua capacidade reflexiva... A proposta de mudança dos currículos só faz irritar os comandantes. A formação do militar cabe ao militar, como a formação do médico cabe ao médico. Como o militar é formado? Entoando canções, praticando ordem unida, padronizando gestos, automatizando reações, uniformizando impulsos, celebrando efemérides, reverenciando símbolos, admirando lendas, cultivando o espírito de corpo... É inócua a proposta de revisão dos currículos militares. Mais importante seria suprimir obsoletismos dispendiosos, como os colégios militares, que alimentam o recrutamento endógeno. O fundamental, o indispensável, é mudar a concepção de Defesa Nacional. Em que consistiria essa mudança? Em primeiro lugar, na distinção constitucional da função militar. Forças Armadas devem servir para combater o inimigo externo. A Constituição precisa proibir que empunhem armas contra quem lhe sustenta, o povo brasileiro. Não cabe ao militar manter Lei e Ordem. Isso deve ficar com outras instituições. A coesão dos brasileiros é o ponto central de uma Defesa respeitável. A expressão “Exército de Caxias” é deletéria. Caxias se fez reprimindo brasileiros. Comemorações da tentativa golpista de 1935 e do golpe de 1964 só contribuem para desunir os brasileiros. A autonomia na produção de armas, equipamentos e prestação de serviços é outro fundamento de uma nova concepção de Defesa. Exército dependente de fornecedor estrangeiro torna-se satélite do fabricante. Vende a alma ao diabo. A indústria de Defesa deve ser desenvolvida em parceria com os vizinhos. A integração sul-americana é outra pilastra da Defesa do Brasil. Essas mudanças são viáveis? Se não acreditarmos em sua viabilidade, desistiremos da construção de um país democrático, soberano e desenvolvido. São viáveis, desde que orientadas por programa político consistente e respaldado pela sociedade. Nenhuma outra política pública pode ser mais complexa e abrangente do que a de Defesa. Sua transversalidade é absoluta. Afeta toda a máquina pública e a sociedade. Não cabe ao militar defini-la, como tem acontecido, em prejuízo da soberania popular. Os “kids pretos” devem acabar? É sandice pretender acabar com forças especiais. Seria reduzir a capacidade operacional das corporações. Militares preparados para atuar em situações extremas são indispensáveis. Todos os exércitos precisam de contingentes para agir instantaneamente contra agressores por meio de expedientes variados, inclusive o envenenamento de chefes. Obviamente, cabe mantê-los sob estrito controle, assim como o conjunto das instituições militares. A autonomia corporativa é fundamental, mas com limites claros, senão o militar endoidece e se proclama “poder moderador”. O uso de forças especiais contra brasileiros é covardia inominável. A cultura militar brasileira é assentada na ideia do enfrentamento de “inimigo interno”. Foi desenvolvida para garantir a Lei e a Ordem, não para eliminar agressor estrangeiro. Cabe rever o recrutamento obrigatório e a manutenção de centenas de unidades militares espalhadas pelo território brasileiro. São dispendiosas e servem apenas para o controle da sociedade. Como melhorar as relações civis-militares? Essa expressão “relação civis-militares” é criação estadunidense visando melhorar o acatamento dos militares no meio civil. Pressupõe o entrosamento amigável e esconde a necessária subordinação do militar ao civil. Mas é preciso atenuar a radicalidade da dicotomia civil-militar. O civil deve participar da Defesa Nacional. A tal “família militar”, composta de milhões de brasileiros, sente-se agredida quando seus integrantes são vistos como criminosos. A maioria dos membros dessa família não se envolve em roubalheiras e ações tresloucadas. É gente preocupada com a sobrevivência, tem suas aspirações de classe média, preocupam-se com a educação dos filhos. Portanto, sofre com a degradação da imagem do militar. Para o bem da democracia, é preciso evitar agressões gratuitas ao militar, um agente indispensável ao Estado. O importante é impulsionar responsavelmente o debate sobre o que fazer com o militar. Múcio deve ser demitido? José Múcio cumpre bem o papel que o Presidente lhe designou, de porta-voz das corporações. Caso Lula assuma o comando supremo das Forças Armadas, dispensará Múcio. Por que as primeiras prisões foram anunciadas durante o G20? Jânio de Freitas sugeriu que foi por medo. Se ele tiver razão, a repressão ao golpismo estará muito mal conduzida.   *Manuel Domingos Neto é Doutor em História pela Universidade de Paris, escreveu O que fazer com o militar – Anotações para uma nova Defesa Nacional. Foto de capa: Wikimedia Commons Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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A Operação Punhal Verde Amarelo e A Noite dos Longos Punhais

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A Operação Punhal Verde Amarelo e A Noite dos Longos Punhais
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Por LISZT VIEIRA* A tentativa frustrada de golpe militar liderada por Bolsonaro e os generais Braga Netto, Augusto Heleno, Mario Fernandes e outros, levava o nome de “Punhal Verde Amarelo”. Na gíria militar, a palavra “Punhal” é usada metaforicamente para evocar matança, massacre. A inspiração veio da Alemanha nazista. A Noite dos Longos Punhais ou a Noite das Facas Longas (em alemão Nacht der langen Messer) foi uma ação de expurgo interno no partido nazista que aconteceu na Alemanha na noite do dia 30 de junho para 1 de julho de 1934, quando a facção de Adolf Hitler do Partido Nazista realizou uma série de execuções políticas. A Noite dos Longos Punhais foi o nome dado a essa ação de expurgo com o objetivo de eliminar os chefes e as tropas da organização conhecida como SA, a Tropa de Assalto dos nazistas, que tinha com principal líder Ernst Röhm. A partir daí, os nazistas começaram a prender e eliminar adversários e até mesmo pessoas que apenas se recusavam a aderir, delatadas por vizinhos. Assim, os militares brasileiros, ao usarem o título fortemente simbólico do golpe militar que então se preparava - e que acabou frustrado, entre outras razões, pela oposição do presidente Biden – já indicavam que o objetivo era fazer um massacre que não ia se limitar ao assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Alckmin e do Ministro do STF Alexandre de Moraes. Se o título da Operação Punhal Verde Amarelo se inspirou na Noite dos Longos Punhais, na versão brasileira o objetivo era estabelecer uma ditadura militar que iria provocar um banho de sangue, no estilo do governo Pinochet após o golpe no Chile em 11 de setembro de 1973. Se os golpistas não forem todos presos, vão se rearticular e tentar um novo golpe, desta vez com apoio de Trump, o novo presidente dos EUA, já que Biden não apoiou o golpe e até mesmo barrou a tentativa que estava em curso. Nesse caso, se o golpe for dado com sucesso, vão matar e prender um monte de gente. Lembremos que o presidente Allende recebeu o conselho do general Pratts para prender os militares golpistas. Tentou dialogar e o general Pinochet, Comandante do Exército, considerado leal, liderou o golpe militar que ensanguentou o Chile e instalou uma ditadura fascista. Não pode haver acordo nem anistia para os golpistas. Não pode haver liberdade para os inimigos da liberdade. Ou a democracia se defende com energia, ou acabará engolida pela ditadura, e a civilização pela barbárie.   *Liszt Vieira é integrante da Coordenação Política e Conselho Editorial do Fórum 21 e do Conselho Consultivo da Associação Alternativa Terrazul. Foi Coordenador do Fórum Global da Conferência Rio 92, secretário de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro (2002) e presidente do Jardim Botânico fluminense (2003 a 2013). É sociólogo e professor aposentado pela PUC-RIO. Foto de capa: IA Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Para você, para mim, para todos nós!

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Para você, para mim, para todos nós!
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Por ANGELO CAVALCANTE* Erra feio, bem feio quem pensa que o acontecido em Brasília com os indiciamentos de Bolsonaro e de todo seu staff golpista por comprovado atentado ao estado democrático de direito se limita a lutas e refregas pelo poder central do país. Bem mais... Muito mais que isso! Vamos partir do óbvio e mais substantivo! Estou a tratar do mais correto e pertinente e que, justamente, é o magistral texto/relatório e primorosamente produzido pela Polícia Federal do Brasil, aliás, das maiores e melhores polícias do mundo. Pois sim... O Relatório apresentado é um libelo, um primor, um ornamento fino, irretocável e da mais elevada qualidade e precisão. Por sinal, digo e afirmo que esse Relatório deve mesmo é ser emoldurado e posto na sala-de-estar de todos os democratas do país. É que o " quase poema " do Relatório soube combinar uma descrição sumamente técnica com um adensado claro, coeso e incontestável de dados e informações onde o mais estúpido dos homens não pode não compreender. Tudo com linguagem clara, óbvia e, em seu geral, de rasgado domínio público. Bom... A malta golpista, mais do que esquadrinhar um golpe, logrou desenvolver um esquema de morte com metodologia de guerra muito bem definida; era, digamos assim, espécie de "máquina criminal" operando adequada e coerentemente com começo, meio e fim. Isso, e o que chamo de "Método anti-Brasil", se utilizava, reparem bem, de técnicas e dispositivos próprios e específicos de exércitos regulares a envolver a toma e o domínio de territórios, a constituição de ampla base de dados a envolver o cotidiano, os usos e costumes do "inimigo", passando pelo estudo minucioso das defesas do adversário até a utilização de práticas assumidamente terroristas como a explosão de carros, residências, prédios e pessoas. Isso é o bolsonarismo em sua fase mais elaborada, carnal e escancarada. É morte! Pois bem... O momento posterior ao que estava dado no script do golpe era precisamente o que se utiliza no jargão militar como sendo "ações de normalidade". Explico... Depois que o Presidente da República estivesse morto, o vice-presidente igualmente eliminado e o presidente do TSE, o crème de la crème, do ódio bolsonarista, o ministro Alexandre de Moraes, devidamente executado, visando impedir ebulições de resistências país afora, milicos e gendarmes de todos os tamanhos, padrões e coturnos partiriam contra os ditos "inimigos internos ". Agora, atrevidamente, lhes lanço uma questão: sabem quem são os "inimigos internos"? Conseguem imaginar? Confabular algo a respeito? Que dizem? Eu digo sem nenhum medo de errar... ...Os "inimigos internos" são os legalistas, os democratas; são todos os brasileiros e brasileiras que exigem o cumprimento da Constituição; os " inimigos" são todos os que se opõem ao ódio do fascismo, são os que defendem justiça, igualdade, liberdade e direitos humanos. São todas e todos que corajosamente dizem que um homem não pode ser torturado nos fundos de uma delegacia porque roubou uma maçã, um pote de margarina ou dois quilos de arroz de qualidade "C". Meu caro... Minha cara... Os " inimigos internos " sou eu, é você, é o padre do meu bairro e que, a cada homilia feita, condena a fome, o analfabetismo e a violência policial; o " inimigo " somos nós, os professores e que não param de denunciar as desgraças sociais advindas de sociedades abissalmente assimétricas, feito a goiana e a brasileira. Os "inimigos" são todas e todos que não admitem a miséria e a injustiça como desígnio divino, como coisa natural ou como ociosidade e incuúria surgida de 3/4 dos brasileiros. Por fim... Acredite... ...Essa, mais essa tentativa de golpe, veio e foi formatada, sobretudo, para nós, os povos do "chão", da base social, do mundo do trabalho, de onde, não por menos, as subversões, resistências e revoluções mais urgentes e necessárias surgem. Até cito profícua conversa com o Professor Glauber Xavier (ECO/UEG), aliás, um excelente analista político, e que tive na noite de ontem, 6ª feira, acerca de mais essa intentona onde o arremate da conversa foi: "... O golpe, ora, ora... O golpe foi para você, para mim, para nós!". Viva a República! A luta segue porque, como nos ensina o icônico corso Antônio Gramsci, não por menos morto pelo fascismo de Benito Mussolini: "A cadela do fascismo está sempre no cio!". E essa desgraça é pródiga em parir!   * Angelo Cavalcante é Economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Itumbiara. Ilustração de capa: Reprodução Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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Os Militares no Brasil

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Os Militares no Brasil
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Por LINCOLN PENNA* Os militares estão de volta ao cenário político do país do qual nunca saíram mesmo depois do término do regime militar. E como das inúmeras vezes em que aparecem no centro das atenções de uma República que julgam lhes pertencer. Esse reaparecimento constante tem a ver com interesses próprios a essa crença de um regime cujo destino deve ser pautado de acordo com o que pensam sobre sua existência e os seus rumos. Formam uma casta. A denominação não lhes é impróprio, uma vez que tem muito a ver com dados que conferem essa identidade. Segundo pesquisa, junto a mais de dois mil aspirantes da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), sabe-se que mais de 50% dos seus integrantes fazem parte de famílias militares, de modo a conferir aos seus quadros uma forte componente de grupo quase fechado a transmitir valores aos seus descendentes e agregados, e com forte sentimento de pertencimento e de distinção em relação a quem não integra essas corporações. As várias intervenções militares na ordem pública do país decorreram desse instinto de preservação de uma vocação que eles se atribuíram segundo a qual o regime republicano lhes pertence e deve ser zelado. E nesse sentido, orientá-los cabe com primazia aos seus verdadeiros fundadores. Com isso, os golpes tentados e bem-sucedidos ao longo desses cento e trinta e cinco anos de República tiveram nos militares um papel mais do que saliente, diria decisivo para o bem ou o mal da nação brasileira. Por ocasião da instauração da República, pela via golpista, embora amparado por uma parcela da sociedade que admitia a mudança do regime, a corporação militar fundamentalmente representada pelo exército era radicalmente contrária às oligarquias que mandavam no país. Aderiram à adoção do republicanismo mais em conformidade com essa convicção do que pelo repúdio à monarquia e ao monarca de ocasião. E assim foi durante toda a Primeira República. Contudo, a partir da Segunda Guerra e especialmente com a criação da Escola Superior de Guerra (ESG) em 1948, moldada na sua similar norte-americana, a situação mudou significativamente. De apoiadores discretos a medidas restritivas aos já amplamente privilegiados, filhos da Velha Casa Grande, durante os anos de 1930, passaram a se tornar coadjuvantes das classes dominantes que trazem o DNA do patrimonialismo, e das taras da escravocracia modernizada e cúmplice do grande capital internacional, sempre em nome de uma doença incurável, o anticomunismo, impregnado nas escolas militares, isto é, reativos a mudanças estruturais tementes de seus efeitos. Não é, portanto, de se estranhar que passados sessenta anos do principal golpe capitaneado e assumido pelos militares, em 1964, estejam os militares de novo na ordem-do-dia. As novas oficialidades não têm ou não exibem qualquer compromisso com os destinos da nação brasileira. Adotam sim, a permanente manifestação de fidelidade com a orientação que definem que a ameaça à nação não parte de fora, mas de dentro; isto é, são os próprios brasileiros que devem ser vigiados para não cederem às ideologias “exóticas”. Logo, as nossas Forças Armadas se convertem em guardiões de uma ordem que atende a um sistema de poder que reprime as mais justas demandas do povo brasileiro. Nesses últimos dias temos tido evidências de que há pelo menos em conjecturas novas tentativas de intervenção extralegais, ainda que representadas por uma parcela dos militares e não por toda as corporações militares. Mas, sempre foi assim. Em nenhum dos movimentos golpistas em nossa história houve unanimidade nas forças militares, o que não impediu que parte delas agissem de forma antidemocrática. Logo, essas mais do que evidências provam que ainda estamos submetidos aos caprichos delirantes e criminosos dos agentes da subversão da democracia. A manutenção de uma orientação que se escuda em propósitos movidos pelos embates entre as grandes potências representadas no passado recente pela Guerra Fria e hoje realimentada pelo império norte-americano para frear os impulsos legítimos de países do Sul global, produziu um empobrecimento na qualificação da oficialidade. Essas novas gerações de oficiais enxergam mais o perigo das transformações no âmbito da realidade brasileira e voltadas para o atendimento das demandas nacionais, do que o crescimento de nossa subalternidade em relação a um Ocidente, que investe na manutenção de uma ordem mundial injusta. Além dessa questão vinculada à uma visão impregnada de valores que reforçam a "missão" garantidora da hipotética democracia há de acrescer a investida de uma falsa religiosidade com vistas a inocular nas massas mais desinformadas a ideia de que existe a ameaça de uma pregação voltada para a prática de um terrorismo antirreligioso estimulado pela esquerda. Essa pregação faz parte de uma estratégia de dominação junto às classes mais desassistidas existentes no país e mundo afora. Em face dessa situação, é preciso que se reformule radicalmente os currículos escolares em geral, especialmente, o das escolas militares, e ampliemos no mundo civil e militar a formação de cidadania, pois só conscientes de nosso papel de representação da nacionalidade é que poderemos evitar que conteúdos antinacionais venham tornem os nossos concidadãos em instrumentos a serviço de interesses que não são os nossos.   *Lincoln Penna É Doutor em História Social; Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (MODECON); Vice-presidente do IBEP (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos). Foto de capa: Antonio Cruz/Agência Brasil Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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