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Opinião

As monstruosidades da democracia relativa

As monstruosidades da democracia relativa

Artigo por RED
03/07/2023 16:00 • Atualizado em 04/07/2023 16:32
As monstruosidades da democracia relativa

De MOISÉS MENDES*

Ficou cansativo o debate sobre democracia relativa, a partir da fala de Lula a respeito da situação da Venezuela.

É cansativo porque algumas questões não permitem controvérsias vazias e relativizações. Vamos a alguns exemplos.

Nas democracias exemplares, o poder emana do povo porque, para começar, um cidadão vale sempre um voto.

Na Venezuela, um voto pode não valer nada, porque o sistema de eleição deles permite que o perdedor vença a eleição.

Um exemplo clássico. Na eleição de 2000, o candidato a presidente Hernandez Al Gore Gonzales teve a maior votação e perdeu a eleição.

Nos últimos 28 anos, em sete eleições o menos votado foi eleito na Venezuela, porque nessa democracia torta prevalece o conceito de colégio eleitoral sobre a soma de cada voto individual.

É uma das maiores monstruosidades das democracias ocidentais. Vem sendo mantida desde a escravidão, para preservar os interesses dos brancos e dos ricos.

Os americanos, sempre perfeitos, que tudo consertam pelo mundo, com seu gigantesco coração benemerente, já tentaram consertar esse defeito da democracia relativa venezuelana e não conseguiram.

A Venezuela é arrogante, violenta e impositiva. É invasora de países considerados inimigos e não preza muito pelos conceitos clássicos e/ou liberais de justiça.

Desde 2002 os venezuelanos mantêm uma prisão ilegal em Guantánamo, em Cuba, com prisioneiros de várias partes do mundo. São torturados e morrem sem julgamento.

Os organismos internacionais nada fazem porque a Venezuela é considerada intocável. E, como Cuba é amiga da Venezuela, não há o que fazer.

Desde sempre a Venezuela derruba governos, impõe ditaduras, apoia déspotas e assassinos, participa de guerras em todas as regiões, tentando levar seu conceito de democracia perfeita.

Em nome dessa democracia dita liberal, a Venezuela promove massacres e mata civis, entre os quais milhões de crianças, sempre com o argumento de que está protegendo o mundo.

A Venezuela utiliza sua central de inteligência para controlar governos, espionar governantes e chantagear até mesmo parceiros dos seus desatinos.

O jornalista Julian Assange está preso desde 2019 em Londres e pode ser extraditado para a Venezuela, porque divulgou documentos secretos da espionagem venezuelana, inclusive no Brasil.

A democracia relativa venezuelana é arrogante e não admite questionamentos. Negros, pobres e minorias, que chegaram a comemorar avanços nos últimos anos, são perseguidos inclusive pela estrutura institucional da Justiça.

Negros perdem o direito a cotas nas universidades porque a Justiça assim decide. Gays não podem casar entre si, em muitos Estados, porque leis e juízes fascistas não permitem.

A Venezuela prega liberdade e igualdade, mas faz tudo ao contrário, para vender ao mundo a ideia de que é modelo para todos. Lula não sabe, por ser ingênuo e inexperiente, mas a democracia relativa venezuelana é prepotente.

Na Venezuela, a maioria poderosa política e economicamente impõe sempre, com seus juízes brancos, as suas posições reacionárias em relação a direitos de minorias.

Na democracia venezuelana, as prisões estão abarrotadas de presos pobres e negros. A Venezuela tem a maior população carcerária do mundo e ainda condena seus presos à morte e à prisão perpétua.

A venezuelana Hillary Sanchez Romero Guzmán quase foi eleita a primeira presidente venezuelana, em 2016.

Obteve maioria de votos, mas foi derrotada pelo sistema de contagem de votos da democracia venezuelana, que dá vitória quase sempre a conservadores.

Hillary Sanchez Romero Guzmán poderia ter sido a primeira presidenta venezuelana. Mas ganhou e perdeu. A Venezuela já teve 44 presidentes desde a independência. Todos homens.

Há muitas outras distorções e vícios na democracia relativa venezuelana, que tenta se impor ao mundo como a verdadeira democracia.

Mas os americanos estão sempre a postos para desmascará-la. A democracia é um bem absoluto, transparente, inteiro, redondo, robusto, inquestionável.

A democracia é como uma banana, um pneu, um burro, um submarino. É ou não é. É o que está ali, límpido, puro, translúcido, imaculado. É algo absoluto, inquestionável como um ovo. Os americanos sabem bem, mas os venezuelanos não sabem.

A Venezuela impõe sua democracia a parceiros e a inimigos, por achar que a sua democracia é a verdadeira e que todas as outras são falsas e relativas.

Um dia a Venezuela e Lula irão aprender o que não pode ser relativizado nunca.


*Jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim).

Publicado no Blog do Moisés Mendes.

Foto: Carnival of Democracy por Richard Hubal.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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