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Opinião

Lembrar é mais do que um verbo

Lembrar é mais do que um verbo

Artigo por RED
17/04/2023 05:25 • Atualizado em 18/04/2023 17:09
Lembrar é mais do que um verbo

De ADELI SELL*

Diz o dicionário que LEMBRAR é VERBO: regular, transitivo direto e indireto e pronominal. Logo, a gente lembra alguma coisa, lembra-se de alguma coisa.

Mas aqui vamos para a História e para a Memória. Duas coisas raras, pouco presentes no Rio Grande do Sul.

Sua História, querem alguns, que apenas nos lembremos da “Revolução Farroupilha”, o que, na verdade, foi a Guerra dos Farrapos.

Outros se lembram da Guerra Civil de 1892-95, enquanto  alguns só se lembram de falar que foi a “Revolução Federalista”. E assim vai….

Quem mora em Porto Alegre é forçado a se lembrar de Caldre e Fião, pois tem uma linha de ônibus 255. Porém, ao perguntar, um passageiro dificilmente saberá quem foi ele…

Porto Alegre e São Leopoldo, onde residiu, honram sua Memória com denominações de vias públicas.

José Antônio do Vale Caldre e Fião foi médico, escritor e autor de A Divina Pastora. Foi também jornalista, teatrólogo e político. Seu livro teria sido o primeiro romance local e o segundo brasileiro. É de 1847. Ou seja, no ano que Porto Alegre comemorou 250 anos, o romance fez 185 anos. Bom momento de um debate literário. (Não houve).

Formou-se em Medicina em 1845, no Rio de Janeiro. Porto Alegre só veio a ter sua Faculdade de Medicina em 1898, quando ele já era falecido (1875). Viveu apenas 54 anos.

No Rio de Janeiro, por causa de seus ideais, Caldre e Fião foi perseguido e ameaçado. Razão pela qual voltou ao outro Rio, do Sul.

Foi na sua curta vida ativo também no Partenon Literário, fundado por ele com Apolinário Porto Alegre e outros, sendo seu primeiro presidente. Também foi deputado geral da Província.

Nos tempos no Rio, se engajou na luta contra a escravidão. Ali fundou O Filantropo, em defesa dos negros cativos,
sendo perseguido e tendo que vir a Porto Alegre e São Leopoldo para exercer a profissão.

Em sua chácara em São Leopoldo deu amparo a crianças negras, filhas de escravos, pois com a chamada Lei do Ventre livre, os donos dos escravos não queriam ter crianças com as negras escravizadas. Uma crueldade que Caldre e Fião entendeu e deu ajuda, com sua esposa. Não teve filhos.

Foi um lutador nos tempos do cólera-morbus que causava tanto medo e terror.

É um autor que mereceu estudos importantes de Flávio Loureiro Chaves e Carlos Reverbel, pois o A Divina Pastora só pôde ser reeditado porque um exemplar foi encontrado em Montevideo.

É também o autor de O Corsário.

Além de Caldre e Fião há outras personalidades locais que devem ser resgatadas, lembradas, enaltecidas já que a
historiografia local desdenhou e ainda há tentativas de apagamento e esquecimento.]

Dyonélio Machado, Josué Guimarães, só para citar dois escritores estão a merecer reedições de suas obras, como de
estudos acadêmicos.


*Escritor, professor e bacharel em Direito.

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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