Um Brasil mais afro: dados do Censo IBGE sobre religião

translate

arzh-CNenfrdeitjaptruesyi
iStock-936334648-1536x1024

Por EMERSON GIUMBELLI*

No dia 6 de junho, o IBGE finalmente divulgou os dados resultantes do Censo 2022-23 sobre religião. Pessoas de 10 anos ou mais responderam à pergunta “Qual sua religião ou culto?”

Os resultados foram os seguintes:

Católicos: 56,7%

Evangélicos: 26,9%

Espíritas: 1,8%

Umbanda e Candomblé: 1%

Tradições indígenas: 0,1%

Outras religiosidades: 4%

Sem religião: 9,3%

Não sabe/sem declaração: 0,2%

O número de católicos continua em queda, passando de 65,1% em 2010 para 56,7% em 2022. Em 6 estados e mais o Distrito Federal, os católicos somam menos 50% da população. É uma grande mudança histórica, em um país em que décadas atrás o número de católicos ultrapassava os 90%.

O número de evangélicos mostrou crescimento, passando de 21,6% em 2010 para 26,9% em 2022. Trata-se de outra grande mudança histórica, considerando que evangélicos em 1980 eram 6,5% da população. Segundo os dados do último Censo, em 244 municípios brasileiros, evangélicos estão adiante dos católicos nas estatísticas.

Os números de católicos e evangélicos reiteram as tendências das últimas décadas, mas é importante notar que os ritmos de decréscimo e aumento se atenuaram. No caso dos evangélicos, algumas estimativas apontavam um patamar de 30%, o que não se confirmou. Isso torna mais longínquo ou menos provável o cenário de um Brasil de maioria evangélica.

Também cresceu o número dos “sem religião”, embora o aumento tenha sido de apenas 1,4 ponto percentual: de 7,9% para 9,3%. Já o de espíritas (em sua maioria kardecistas), decresceu 0,3 ponto percentual.

Os resultados divulgados pelo IBGE destacaram, pela primeira vez, a categoria “tradições indígenas” – aliás, em povos indígenas, a pergunta foi adaptada para cobrir devidamente suas religiosidades, ainda que católicos e evangélicos predominem.

Considerando as taxas de aumento, dois grupos, ainda não mencionados, se destacam no comparativo entre os dados de 2010 e o os de 2022. Primeiro, o de “outras religiosidades”, que passou de 2,7% para 4,0%, ou seja, um crescimento de 48% (esse número, no caso de evangélicos é de 24%; entre os “sem religião”, 18%). Segundo, o grupo de “candomblé e umbanda”, que compreende também outras religiões de matriz africana. No Censo de 2010, os adeptos desse grupo somavam apenas 0,3%; agora, chegaram a 1% – ou seja, um aumento de mais de 233%!

O Rio Grande do Sul manteve sua posição de estado com o maior índice de adeptos de religiões de matriz africana, que atinge 3,2% da população. Em 2010, eram 1,5%, um crescimento expressivo.

Portanto, justifica-se a manchete deste artigo. Outros aspectos dos dados sobre religião do IBGE poderão ser detalhados em novos comentários. Estamos falando de uma dimensão essencial para entendermos a sociedade brasileira.


*Emerson Giumbelli é professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Foto de capa: As influências africanas estão presentes desde a culinária até o folclore no Brasil / iStock/ Divulgação/Educa SC

Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia..

Gostou do texto? Tem críticas, correções ou complementações a fazer? Quer elogiar?

Deixe aqui o seu comentário.

Os comentários não representam a opinião da RED. A responsabilidade é do comentador.

Uma resposta

  1. Salve!
    E foi dada a largada para a temporada de boas leituras dos dados do censo sobre religião.

    Fico particularmente surpreso pelo decréscimo de autodeclaração de espíritas e com os sem religião sendo praticamente 1 a cada 10 brasileiros. A visibilidade afro-religiosa no RS segue sendo um caso à parte.

    Abraços

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress