STF inicia oitivas de testemunhas em processo que investiga tentativa de golpe articulada por Bolsonaro

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Jair Bolsonaro com o então comandante Freire Gomes em 2022 - Gabriela Biló - 25.ago.22/Folhapress
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Da REDAÇÃO, com informações da Carta Capital

O Supremo Tribunal Federal (STF) dá início nesta segunda-feira (19) a uma nova e decisiva fase na investigação sobre a suposta tentativa de golpe de Estado envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados civis e militares. A partir de hoje, serão ouvidas mais de 80 testemunhas listadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelas defesas dos acusados — em um movimento que pode aprofundar o desgaste político do bolsonarismo e reforçar as evidências de que houve articulação concreta para romper com a ordem democrática.

O primeiro nome a prestar depoimento é o general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, convocado pela PGR e que, segundo seu próprio relato à Polícia Federal, participou de reuniões em que Bolsonaro e o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, apresentaram minutas de decretos com teor golpista. A confirmação de que os documentos foram discutidos no alto comando das Forças Armadas reforça a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, e indica que a cúpula militar foi pressionada — mas resistiu — a aderir a um plano de ruptura institucional.

Freire Gomes, segundo o termo de depoimento, deixou claro aos interlocutores que o Exército não apoiaria qualquer tentativa de subversão da Constituição. Esse posicionamento é politicamente significativo, pois evidencia que, mesmo com forte influência bolsonarista em setores das Forças Armadas, não houve consenso interno para validar o uso da força como instrumento de permanência no poder.

Outros nomes ouvidos nesta primeira fase também têm relevância estratégica no contexto da apuração: o ex-comandante da Aeronáutica Carlos Almeida Baptista Junior, o engenheiro Éder Balbino — apontado como peça-chave na tentativa de deslegitimar o sistema eleitoral — e ex-integrantes da estrutura de inteligência do Ministério da Justiça e da PRF.

As oitivas também lançam luz sobre o papel do chamado “núcleo político” bolsonarista na estruturação da tentativa de golpe. Ibaneis Rocha (MDB), governador do Distrito Federal, chegou a ser listado pela PGR, mas será ouvido apenas como testemunha de defesa do ex-ministro Anderson Torres, evidenciando a complexidade dos vínculos entre atores políticos e operacionais.

Nos dias seguintes, serão ouvidos nomes centrais do bolsonarismo e das estruturas de segurança institucional, como o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin, e o general Braga Netto, que foi candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022. A expectativa do STF é que os depoimentos revelem com mais clareza a existência de uma engrenagem coordenada para desestabilizar o processo democrático.

A partir de 30 de maio, ganham destaque os depoimentos das testemunhas de defesa de Bolsonaro. Entre os convocados estão o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde, e o senador Rogério Marinho (PL-RN). O agendamento dessas oitivas, todas previstas ainda para o primeiro semestre, sinaliza o avanço da investigação rumo ao núcleo mais político e ideológico da coalizão bolsonarista.

Linha do tempo da trama golpista: do fim das eleições à investigação no STF

Outubro de 2022
Eleições presidenciais: Lula (PT) vence Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno. Inicia-se uma série de manifestações golpistas em frente a quartéis por parte de apoiadores do então presidente.

Novembro de 2022
Relatório do PL sobre urnas eletrônicas: Partido de Bolsonaro questiona a lisura do processo eleitoral com base em relatório assinado por Éder Balbino, o “gênio de Uberlândia”. O TSE rejeita a ação e multa a coligação de Bolsonaro por litigância de má-fé.

Dezembro de 2022
Diplomação de Lula: Mesmo com protestos e ameaças, Lula é diplomado presidente eleito. O clima de tensão se intensifica.

4 de janeiro de 2023
Invasão ao sistema do CNJ: Hacker Walter Delgatti Neto insere mandados de soltura e de prisão falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão, incluindo uma ordem de prisão contra Alexandre de Moraes.

8 de janeiro de 2023
Ataques aos Três Poderes: Bolsonaristas invadem e depredam as sedes do STF, Congresso e Palácio do Planalto em Brasília. O episódio acelera investigações sobre articulações golpistas.

Agosto de 2023
Delgatti é preso: Em depoimento, confessa ter invadido sistemas judiciais a pedido de Carla Zambelli e afirma ter participado de reuniões com Bolsonaro para discutir ataques ao sistema eleitoral.

Fevereiro de 2024
Delação de Mauro Cid: Ex-ajudante de ordens entrega minuta golpista à PF e relata reunião entre Bolsonaro e chefes militares para discutir decreto que permitiria uma intervenção.

Maio e Junho de 2025
Audiência de testemunhas no STF: Mais de 80 testemunhas são convocadas. Entre os primeiros a depor estão generais, ex-ministros, técnicos da Abin e nomes do alto escalão do bolsonarismo.

Foto da capa: Jair Bolsonaro com o então comandante Freire Gomes em 2022 – Gabriela Biló – 25.ago.22/Folhapress

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