Programação cultural de 6 a 13 de junho

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Por LÉA MARIA AARÃO REIS*

*O programa é falar, falar, falar. Palavras, palavras, palavras. Mas antes as palavras do que a hipocrisia e o silêncio vergonhoso de governos e mídias corporativas, temerosos de perderem grandes verbas de publicidade e patrocínios dos grupos financeiros e econômicos controlados por sionistas. Alguns estados europeus, como a Espanha – o mais decisivo de todos, ao cortar relações de negócios com Israel –, e Irlanda, Suécia e Holanda continuam procurando pressionar a União Europeia na condenação do genocídio e limpeza étnica de Gaza. Afinal, a pressão interna e as manifestações de protesto nas ruas, pedindo boicote, são quase todas organizadas por multidões de jovens. São eleitores, afinal de contas.

*Ehud Olmert, ex-primeiro-ministro israelense, lembrado pelo presidente Lula esta semana, disse: “O que estamos fazendo em Gaza é uma guerra de extermínio, um indiscriminado, cruel e criminoso assassinato de civis; e, sim, Israel está cometendo crimes de guerra”.

*“Os palestinos, entregues a si mesmos, usados, abusados, humilhados e tiranizados, feridos e assassinados, se transformam definitivamente em novos judeus”, escreve o professor da Universidade Federal Fluminense/UFF, Daniel Aarão Reis, no artigo Os novos judeus, site A Terra É Redonda.

*O programa é assistir e conhecer o curta-metragem Os mortos resistirão para sempre. “Em tempos de repúdio ao holocausto dos palestinos em Gaza, é imprescindível somar nossa indignação por todos os meios. Um deles é assistir a Os mortos resistirão para sempre, de Carlos Adriano, na Mostra Ecofalante de Cinema, em São Paulo, 07/06, às 17h, no Centro Cultural São Paulo.” Esta apresentação é do crítico Carlos Alberto Mattos. “O filme começa com imagens aéreas de pessoas palestinas sendo explodidas por bombas numa estrada de Gaza. Outras imagens excruciantes vão aparecer nos 27 minutos do filme; crianças gravemente feridas e adultos gritando desesperadamente contra o silêncio do mundo”, segundo Edgar Morin, que aparece falando sobre essa tragédia (saiba mais aqui).

*O médico palestino Hamdi Al-Najjar morreu em decorrência dos ferimentos sofridos durante o bombardeio israelense à casa da sua família, no sul de Khan Younis. Sua morte ocorreu dias depois do mesmo ataque ter matado nove de seus dez filhos. Sua companheira, médica pediatra Alaa Al-Najjar, acabara de sair de casa para retornar ao seu plantão no Hospital Nasser quando o míssil israelense o atingiu, momentos depois da sua volta para casa. O ataque aéreo matou seus nove filhos: Yahya, Rakan, Raslan, Gubran, Eve, Revan, Sadin, Luqman e Sidra. Apenas uma criança, Adam, sobreviveu e continua hospitalizado devido aos ferimentos.

*A Dra. Alaa Al-Najjar precisou identificar os corpos carbonizados dos seus filhos no mesmo hospital onde trata os feridos de Gaza. Pergunta: vamos tolerar até que ponto essas atrocidades? (CAPJPO).

*“Todo povo tem direito, mas não a qualquer custo”, diz o emérito professor e filósofo francês Etienne Balibar, da Universidade de Kingston.

*“As telas estão destruindo a infância”, alerta Jonathan Haidt, autor do best-seller A geração ansiosa, em recente congresso no Rio de Janeiro. “Os telefones celulares estão tornando os alunos mais burros. Suas notas vêm caindo. (…) As telas estão destruindo a infância e o futuro das crianças.” Uma das conclusões de Haidt: “A infância baseada em brincadeiras ao ar livre foi substituída por uma infância confinada em ambientes controlados e hiperconectados”.

*Outro programa é refletir sobre o non sense que acomete os Estados Unidos. Por exemplo, um dos diktats mais recentes de Donald Trump: tarifar 100% todos os filmes produzidos fora dos Estados Unidos e exibidos no seu país. O atual presidente afirma que Hollywood e outras regiões dos EUA estão sendo “devastadas” pelos filmes estrangeiros.

*O decreto pode causar sérios impactos sobre a economia e a indústria do entretenimento norte-americano, ou seja, sobre Hollywood. O império cinematográfico, com sede em Los Angeles, já vinha enfraquecido não só pelo atual boom da produção de filmes de todas as partes do mundo, como também pela recente devastação produzida pelas queimadas, incêndios e pela seca que atingiram em cheio, meses atrás, os bairros de Palisades e de Hollywood, em Los Angeles.

*Crianças e exílio: memórias de infâncias marcadas pela ditadura militar, de Dominga Menezes, é o volume com depoimentos inéditos de 46 pessoas traumatizadas quando crianças, vivendo fora do Brasil – na Suécia, em Cuba, Chile, França, Moçambique e outros países –, acompanhando os pais que precisaram deixar o Brasil durante a ditadura civil-militar de 1964. O livro foi lançado esta semana, na Associação Cultural José Martí, no Rio de Janeiro. Estiveram presentes à tarde de autógrafos alguns dos protagonistas que moram no Rio (Da Carta Editora).

*“Nós somos os Estados Unidos da Amnésia”, disse no passado o saudoso escritor e ativista político norte-americano Gore Vidal. “Não aprendemos nada com a história.” Esta sua frase foi resgatada no episódio da série que trata da guerra do Vietnã, Ponto de virada, da Netflix. Nele, são lembrados os erros cometidos por governos estadunidenses montados na sua arrogância e prepotência.

*Programa para o Brasil, um país que envelhece rapidamente. Refletir sobre a franqueza da atriz Catherine Deneuve: “Envelhecer incomoda. Os homens sentem menos que as mulheres porque a velhice é menos visível neles – e o físico não importa tanto. Mas os homens sofrem, mesmo assim; todo mundo sofre. Ver que as forças vão acabando, sentir que a energia vai sumindo. Como uma marca que se altera lentamente; uma mancha que surge aos poucos. O importante é manter a cabeça: a racionalidade”.

*Comemorando o mês do Dia Internacional do Meio Ambiente, o Canal Brasil vem exibindo filmes sobre a questão ambiental até o dia 6, às 18 horas. No dia 05 foi Seca, de Maria Augusta Ramos, retratando o dia-a-dia de famílias da região do sertão pernambucano em meio à ausência da água. Dia 06, Raoni, uma amizade improvável, de Jean-Pierre Dutilleux, história da amizade de 50 anos entre o cacique Kaiapó Raoni, do norte do Mato Grosso, e o cineasta belga Jean-Pierre Dutilleux. Direção de Estevão Ciavatta.

*Lançado em 1974 e censurado pela ditadura militar, Iracema – uma transa amazônica retorna aos cinemas a partir do dia 24 de julho, em versão restaurada. O filme é um alerta, ainda atual, denunciando com imagens reais os efeitos da ocupação violenta da Amazônia. Meio século depois, Iracema ainda provoca reflexão sobre a degradação ambiental, a exploração de corpos e de territórios e a fragilidade das políticas socioambientais no Brasil. Um clássico obrigatório, dirigido por Jorge Bodanzky e Orlando Senna.

*Outro filme brasileiro na rota dos grandes festivais de cinema, de Davi Pretto, o mesmo diretor de Continente, exibido no Festival de Sitges, na Espanha. Futuro, futuro é uma ficção científica ambientada em tempos passados, em Porto Alegre. O filme estará no tradicional Festival Internacional de Karlovy Vary, na República Tcheca.

*Cinismo e falência da crítica, de Vladimir Safatle, em nova e oportuna edição, foi lançado na Alemanha no início deste ano, e está nas livrarias brasileiras em um “momento de ressurgência global do fascismo”, como observa o autor. O livro procura descrever a libido da personalidade autoritária contemporânea e a generalização do cinismo como modo de organização psíquica. “Quinze anos depois, o mínimo que se pode dizer é que o livro não estava de todo errado. A comicidade das novas figuras autoritárias do poder é uma chave para entender como o fascismo realmente funciona”, escreve o filósofo. Cinismo e falência da crítica é distribuído na Alemanha, Suíça e Áustria pela editora Tentare Verlag, e a tradução é de Stephan Gregory. Aqui, a editora é a Boitempo.

*Outra sugestão de leitura mais do que oportuna é o volume O 8 de janeiro que o Brasil não viu, de Ricardo Cappelli, ex-interventor federal na segurança do Distrito Federal após o dia em que a baderna golpista tomou conta da esplanada de Brasília, e atual presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. O autor, formado em Jornalismo, relata as tensões daquele momento entre os chefes militares; o instante em que a PM ficou cara a cara com o exército; as discussões entre os generais Julio de Arruda, ex-chefe do exército, e o então comandante da tropa, general Gustavo Dutra; a “falta de disposição de Ibaneis Rocha”; e outros bastidores da situação limite daquele dia. Lançamento do livro neste domingo, dia 8/6, na Livraria Travessa de Brasília, no Casa Park, às 19 horas (Ed. Intrínseca).

*Um programa importante é atualizar a vacina contra a covid, disponível para idosas e idosos com mais de 70 anos, nas clínicas da família do SUS desde o último dia 2. A chegada das doses destinadas a outros grupos prioritários será informada.

*Sugestões para o fim de semana: assistir ao belo filme de Paul Schrader, Oh! Canadá, em cartaz nos cinemas, e solidariedade aos estudantes cubanos que precisam de meios para continuar pagando os altos preços da assinatura da sua internet diária.


*Léa Maria Aarão Reis é jornalista.

lustração de capa: Marcos Diniz

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